1.A história de uma lista de 50 medidas para “encher” a chamada “agenda do crescimento” pode ter algo que se lhe diga...
2.Em primeiro lugar, não resisto à tentação de pensar que esta iniciativa das 50 medidas e da “agenda do crescimento”, atentas as suas características mediáticas, possa ter sido obra de alguma agência de comunicação, uma dessas maternidades de ideias fantásticas, pagas a peso de ouro...
3.Confesso que essa possibilidade me assusta, pois se assim for não iremos muito longe com esta “agenda do crescimento”...mal vai um País quando a estratégia de política económica tem de se submeter aos ditames de um mediatismo exacerbado, sendo para tal modelada por quem não tem a mais pequena ideia dos reais problemas da economia e de como devem ser enfrentados...
4.Acresce que uma das medidas apresentadas como mais emblemáticas – o fundo para financiamento dos despedimentos – arrisca-se a ser um nado-morto, rejeitada por todos os interessados no assunto e classificada até por um dos principais especialistas na matéria como uma ideia “surrealista”...
5.Ora na pretérita semana foi divulgado – mas rapidamente apagado da comunicação social – um relatório de Bruxelas em que Portugal era apontado como o País da U.E. com maiores atrasos de pagamento entre agentes económicos...
6.Tal situação era explicada sobretudo pelos atrasos de pagamento do Estado – o Estado Central, o Regional e o Autárquico, com todas as suas adjacências empresariais (os hospitais em grande destaque, ao certo)...
7.Quem acompanhe regularmente a actividade económica e conhece os problemas com que as empresas se defrontam, percebe bem as tremendas dificuldades que estes absurdos atrasos de pagamento causam à sua gestão financeira...
8.Este problema tem vindo a agravar-se com a dificílima conjuntura creditícia que se está vivendo, a qual tem sido ampliada pela conhecida dificuldade dos Bancos em obter “funding” externo...
9.Com volumes enormes a receber dos clientes – Estado à cabeça – e sem possibilidade de acesso a crédito ou só o conseguindo a taxas de juro quase proibitivas, as empresas, duma forma geral, vêem-se em extremas dificuldades para cumprir os seus compromissos financeiros...
10.Está a criar-se assim o conhecido fenómeno endémico da “bola de neve” na acumulação de atrasos de pagamento...porque não recebo e não tenho crédito bancário, não pago ou atraso o pagamento...
11.Atrevo-me pois a sugerir que se substituam as 50 medidas por uma só, esta sim verdadeiramente revolucionária: o Estado (os vários Estados) anuncia que vai emitir dívida para pagar, no prazo máximo de 90 a 120 dias, todas as dívidas às empresas...
12.Que grande agenda para o crescimento, com incalculáveis efeitos benéficos sobre a actividade e o emprego...
Que loucura de sugestão: Uma só medida?! Isso dava para 4 telejornais, no máximo. E ainda havia o risco de a medida ser consensual - vai-se a ver e se calhar até os comunistas e bloquistas concordavam. E depois não seria preciso os credores falarem com ninguém, nem telefonarem, nem convidarem para almoçar, nem - como dizer - olearem a máquina. Nã, Dr. Tavares Moreira, faça sugestões sim - mas viáveis.
ResponderEliminarUm verdadeiro terramoto, caro Dr. Tavares Moreira...
ResponderEliminarNo de 1755, era pregador em Lisboa, o padre Jesuíta Malagrida, a quem o Marquês de Pombal, incumbiu de escrever um livro, onde se indicavam as causas do terramoto, no qual o padre, muito ciente dos vícios da sociedade daquela época, apontou.
Numa pregação o padre voltou à carga, insinuando «Talvez agora já me acreditem, que isto foi castigo de Deus... Deus transformou Lisboa nas novas Sodoma e Gomorra, porque este é um povo de pecadores e promísquos, de meretrizes e de fornicadores, de invejosos e corruptos...»
O Marquês de Pombal não proferiu uma palavra, mas o Marquês de Algrete deu um passo à frente e afirmou, com um leve sorriso nos lábios:
Pode ser que tenha razão, padre Malagrida, pode ser... Mas Deus tem um estranho sentido de humor, não lhe parece? As igrejas foram quase todas destruídas, e no entanto, a rua das meretrizes, das prostitutas, pelo contrário, foi poupada. Vá-se lá saber porquê...
Parece-me, caro Dr. Tavares Moreiras, que os lusitanos vícios se mantêm, só espero que este terramoto, a fazer vítimas, que escolha as verdadeiras meretrizes e prostitutas da nossa política e da nossa economia...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarUma "lateralidade" a seu post.
Conta-se que os povos primitivos costumavam atribuir poderes mágicos aos homens que, aparentemente, conseguiam "comandar" os elementos. No caso dos índios norte americanos e, não só, as danças tribais eram usadas para chamar, por exemplo, a chuva.
Temo que o nosso PM possa pensar que, por ter propalado as "50 medidas" os "mercados" se tenham acalmado.
Tomar a normal "acalmia" que se verifica nas bolsas, por motivo do fim de ano, como resultado das propalação das medidas é o mesmo que pensar que, por estarmos no olho do furacão a tempestade já terminou.
Quase que aposto que vamos ter mais "medidas" para acalmar os espíritos; como em qualquer candomblé, o importante é a fé que se tem ou o feitiço não é eficaz.
Cumprimentos
joão
Este Governo, especialmente o PM, para além de não terem a mínima noção do princípio fundamental que está por trás de uma "Análise ABC", parece ter tirado uma especialização avançada em governação incidente sobre a classe "C". Limitam-se a banhar o país numa diarreia legislativa que no seu óptimo resulta em coisa nenhuma, ou pior. Ainda há dias era noticiada uma medida emblemática que acabou por abranger cerca de 20 contribuintes! Mas no fundo o problema é que o país escolheu ter estabilidade governativa e cooperação estratégica com um governo neste patamar. Com uma aberração destas a única saída é rezar a Deus para que aconteça um milagre.
ResponderEliminarA medida preconizada, por demasiado simples e fácil* de aplicar, tem dois inconvenientes:
ResponderEliminara)Levaria a alguma retracção entre os habituais fornecedores.
Mau para o comércio habitual, que se veria com redução de encomendas (tive uma experiência do género, redução de custos mensais em 40%,sem queixas entre os habituais gastadores)
b)Levaria uma série de gente da máquina/sistema, a ter de ir para casa.
*Sem ofensa, antes pelo contrário.
50 medidas, em vez de 4 ou 5, diz bem do que esta gente tem na cabeça.
Se é que ainda têm cabeça (pensante)
Caro JMG,
ResponderEliminarEntendo o humor quase negro do seu comentário ao qual reconheço forte dose de realismo, infelizmente...
Mas sabe, os cidadãos que procuram ser cumpridores e que têm a noção de que o serviço público configura em 1º lugar a obrigação de procurar soluções sérias sérias e de real interesse para o País...não conhecem o primado da propaganda e dos vícios instalados, que tornam essas propostas irrealizáveis como diz...
Caro Bartolomeu,
Muito engraçada essa referência histórica ao terramoto de 1755 e às trocas de galhardetes entre o bom do padre Malagrida e o malandreco do Marquês do Alegrete...
Estaremos porventura numa situação algo similar, ainda gosaria de imaginar o que é que o dito Marquês do Alegrete diria desta "proposta" de resolução dos atrasos de pagamento que aqui deixei...
Caro João,
Certamente, esperam-nos mais pacotes de medidas e tb mais agendas para o crescimento...logo que estas 50 se mostrem mediaticamente gastas (admito que não seja necessário esperar muito), aí teremos mais um pacote...
E tantos outros se sucederão, em série avassaladora, até porque a duração mediática destes pacotes tende a encurtar-se à medida que a série avança na ordem...
Caro Flash Gordo,
A sua receita de recorrer à oração parece ter um razoável bem fundado...temo que não reste, com efeito, alternativa menos falível...
Caro Cmonteiro,
A medida preconizada não é simples nem fácil de aplicar...
é fácilmente enunciável, mas tem que se lhe diga, implicaria muit a coragem e, sobretudo, uma real vontade de vera economia funcionar em condições infinitamente mais sãs...
É bem capaz de induzir alguns dos "inconvenientes" que enuncia (não todos, certamente) mas, diga-me francamente: existe nesta altura alguma medida de ataque às imensas disfuncionalidades da economia que não provoque alguns contratempos, que tenha apenas efeitos favoráveis sem qualquer custo associado?
Mas isso...isso...era....dizer a verdade!! Ser honesto!! Transparente!!!
ResponderEliminarIsso era uma catástrofe!!!! Seria o maior ataque à democracia pluralista em que vivemos, um atentado ao estado social e de direito!!!
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarO de Alegrete, sou incapaz de imaginar. O de Pombal, presto e lesto, substituiria nos cargos, os directores financeiros, sobretudo aqueles que metendo os pés pelas mãos, usam de malabarismos para gastar o dinheiro orçamentado como não devem, dando azo a situações de atraso nos pagamentos.
Até o meu merceeiro, caro Doutor, de lápis atras da orelha, sabe que para entrar mercadoria, tem de haver dinheiro em caixa e que o lucro dele, é a diferença entre o preço por que compra e o preço porque vende, após retirar os valores das quebras, dos impostos e das amortizações.
No entanto, no estado, proliferam gestores que... talvez pensem que pelo facto de o dinheiro "aparecer" certinho todos os anos, ha que dar largas a uns certos exercícios financeiros que lhes garantam a simpatia dos superiores... loucas fantasias, caro Doutor... loucas fantasias.
A sua tirada irónica é bem capaz de ser um juízo de elevado valor acrescentado, caro Tonibler...
ResponderEliminarChegamos a um lamentável ponto ou estado em que os exercícios de honestidade política, as tentativas sérias de enfrentar os problemas (maxime económicos) do País são ab initio rotuladas de impróprios para consumo, sujeitando-se a elevadas coimas da ASAE...
O mais curioso é que tampouco se aceita que os problemas sejam correctamente diagnosticados, quanto mais resolvidos!
Por este caminho vamos mesmo para o "cano do esgoto" e nem é necessária a "ajuda" das agências de comunicação para lá chegar...
Caro Bartolomeu,
Mas o "seu" merceeiro não goza da reputação de sujeito ultrapassado? Que não soube aproveitar as virtudes do sobreendividamento nem os benefícios das novas tecnologias?
O homem não soube aproveitar as "novas oportunidades" que este período de desenvolvimento vibrante do País lhe poderia ter proporcionado...
E até poderia ter-se diplomado em Mercearia Técnica por uma das mais conceituadas Universidades deste período aureo...
Quando o merceeiro é, por natureza trapaceiro, caro Dr.Tavares Moreira, pensa sempre que vai iludir com sucesso o cliente, desdenhando de toda e qualquer "nova oportunidade" que lhe seja dada. A dúvida está em se saber se o cliente vai ter olho fino para mudar de merceeiro...
ResponderEliminarNa minha modesta perspectiva, caro Bartolomeu, o cliente (quantos?!) já dispos de tempo mais do que suficiente para se aperceber das trapaças que o "seu" Merceeiro lhe preparou...
ResponderEliminarMas admito que ainda queira apreciar (ou precise de) mais algumas, que não tardarão a entrar-lhe no bolso...e com que sofreguidão!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminar"Eles" conseguiram trafulhar um estudo da OCDE que serve de "benchmark" das políticas educativas mundiais e, com isso, dar cabo (ainda mais) do pouco que se vai aprendendo sobre o sistema educativo.
Esconder dívida??? Isso é para meninos...
Mas esse "trabalho" de revalorização do estudo da OCDE, "trabalho" de elevado mérito como o meu Amigo reconhece (rotulando-o de trafulhice), não foi motivo de enorme regozijo entre as hostes da vanguarda iluminada que nos ajuda a percorrer a via para a insolvência?
ResponderEliminarE esse regozijo não foi extensivo a outros sectores altamente esclarecidos da vida nacional?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarTudo o que possa servir de justificação para se catar mais uns dinheirinhos ao pessoal é motivo de regozijo por TODOS os sectores altamente esclarecidos. E se de alguma forma (manifesta incompetência de alguém) algum resultado não é tão positivo, então é porque não estão a catar o dinheiro suficiente e é preciso "investir" mais. Sustentado em plano multidisciplinares integrados de visão holística, claro, de preferência enquadrados em quatro paredes, sustentados por três pilares (nada é verdadeiramente credível se não for sustentado em 3 pilares!) e baseado em duas bases.
Veja lá se alguém se mexeu para fazer um inquérito parlamentar à estatística do estudo da OCDE? Para o acidente de Camarate, sim, é sempre de confiar que diligentes deputados consigam passados 30 anos encontrar os indícios que todos os outros não encontraram. Agora uma coisa que possa por em causa o gasto público? Livra...
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEssa figura dos "planos multidisciplinares integrados de visão holística" deixa-me definitivamente arrasado...
O meu Amigo enveredou por uma argumentação Hi-Fi que manifestamente nos arrasta para uma exigente indagação escatológica...
Os sectores altamente esclarecidos que se precatem, se é que ainda têm tempo para isso, é que vem aí o dia do Juízo...