1.Um velho ditado português reza: “Quem não se sente, não é filho de boa gente”.
2.Admito que pela mente do Presidente da República reeleito no passado Domingo,tenha passado esse velho ditado, quando se referiu aos ataques pessoais, violentamente desprimorosos, a tocar a ofensa da honra e do bom nome, que lhe foram dirigidos durante a campanha (sobretudo) por três outros candidatos, M. Alegre, D. Moura e J. M. Coelho.
3.Classificar a referência de Cavaco Silva a esse tema, na noite de Domingo, como expressão de rancor, como faz hoje Mário Soares, parece-me claramente inapropriado. Expressão de mágoa e de indignação, por parte de quem se sente ofendido no seu bom nome, certamente, mas expressão de rancor não me parece o qualificativo adequado.
4.Cavaco Silva limitou-se a exprimir a sua enorme incomodidade face a uma “campanha de sujidade”, como lhe chamei em Post anterior - uma campanha que, visando incentivar à abstenção, procurou sujar o seu nome até aos limites do impossível, alimentada por fontes talvez facilmente detectáveis...
5.Campanha que, não tendo conseguido um grande sucesso, uma vez que dois dos seus agentes materiais sofreram pesados insucessos eleitorais (M. Alegre e D.Moura), a verdade é que terá atingido parte dos seus objectivos ao induzir muitos cidadãos para a abstenção.
6.O que se pode dizer desta intervenção de Cavaco Silva é que terá sido politicamente incorrecta. Seria mais convencional, na noite da vitória, esquecer esses atritos e enveredar apenas pela celebração do triunfo, com um discurso abrangente do tipo “tradicional”, politicamente correcto.
7.Mas Cavaco Silva não quis ir por aí e na minha opinião estava no seu pleno direito, pois “quem não se sente não é filho de boa gente”- e aquele era o momento de deixar essa palavra de especial indignação.
8.Poderei anotar que foi pena ter metido todos demais candidatos no “mesmo saco”, sendo certo que pelo menos um deles, Fernando Nobre, utilizou um discurso bem mais limpo, tendo resistido, quase sempre, à tentação de sujar o nome do seu adversário. Teria ficado bem a Cavaco Silva reconhecer pelo menos essa excepção, foi pena.
9.Dito isto, devo acrescentar que estou convencido que Mário Soares também é capaz de ter entendido a reacção quente de Cavaco Silva na noite da vitória...mas, tendo de dirigir uma crítica especialmente violenta a J. Sócrates, pelo apoio a M. Alegre a reboque do B. Esquerda (o que não teria lembrado ao diabo mas lembrou a JS...), seguiu a técnica de balancear essa crítica com uma referência acessória negativa para Cavaco Silva...quis ser politicamente correcto...
10.Técnica que neste caso resultou em cheio, sublinhe-se, pois os “media” acabaram por dar mais ênfase ao acessório que ao essencial...como é habitual, de resto...
No mais recente filme de Hoody Allen, intitulado "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos", é citada uma frase de Shakespeare «A vida é cheia de som e fúria e no fim não significa nada»
ResponderEliminarEu só condeno o Cavaco por não ter sido mais explícito. Se há coisa que devia acabar de uma vez é política feita com conversa mole de advogado. O Cavaco devia ter dito "este chamou-me isto por aquilo, aquele chamou-me isto porque..." e deveria ter colocado os nomes limpinhos. E incluído os jornais, claro. Teria conquistado alguns dos votos que não lhe foram dados.
ResponderEliminarTeve medo de ir longe demais. Foi pena.
O vencedor das eleições fez muito bem em dizer o que disse.
ResponderEliminarOs comentadores do regime não gostaram? Paciência. É a vida.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarOs tempos que correm são de mudança; o politicamente correcto está a desviar-se do seu eixo actual para um novo equilíbrio.
Só tempos de mudança explicam o discurso do Presidente (re)eleito. Em Portugal, a emoção, costuma preceder as grandes decisões e as grandes mudanças.
Aguardemos pois...
Cumprimentos
joão
Completamente de acordo, caro Tavares Moreira.Quem não se sente não é filho de boa gente. Era da conveniência dos autores da violenta campanha de difamação, que conduziu ao agravamento da abstenção, que se passasse um pano sobre tudo, à boa moda da hipocrisia política. Se Cavaco Silva fizesse de conta, no dia das eleições, estaria a fazer descer um manto de silêncio sobre o que aconteceu e qualquer abordagem posterior seria despropositada. Foi o sítio e o momento certo e devia isso aos seus eleitores. Como tanto insistiram muitos "comentadores" que agora coram de pudor perante a abordagem clara e directa do tema, foram esses ataques pessoais que "marcaram a campanha".Pelo menos eles não quiseram ouvir mais nada. Como bem diz o caro Tonibler, cabia ao candidato eleito falar nisso e falar bem claro.Para que oiçam.
ResponderEliminarCaro Drº Tavares Moreira,
ResponderEliminarPermita-me V. Exa. opinar o seguinte:
Que presidente agora eleito - presidente de todos os portugueses -, tem todo o direito à indignação, nisso suponho que todos estamos de acordo;
Que o presidente agora eleito tivesse feito um discurso realçando de forma crispada os vencidos, parece-me não só politicamente incorrecto, mas também a demonstração de insuficiente “magnanimidade” no momento da vitória, sob pena de exclusão da maioria dos cidadãos. Acredito que o presidente agora eleito não padece deste mal…
O presidente agora eleito fez menção a uma jornalista que o interpelou à chegada ao CCB que, naquelas circunstâncias, se fazem dois discursos; presumo eu: um de vitória e o outro de derrota. Qual seria o discurso de derrota!?
Discordo, portanto, que o provérbio -“só não se sente quem não é filho de boa gente”- tenha sido levado à letra…
Posto isto, quero lembrar mais uma vez que tem sido apanágio de todos os presidentes eleitos referirem nos seus discursos de vitória que a maioria que os elegeu se desfaz naquele momento. Nada mais sábio!…
PS: Onde se lê: presidente eleito é óbvio que queria dizer presidente reeleito. :)
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarElevada inspiração de filosofia política aquela que vejo ínsita no seu comentário, dificilmente acessível ao "comum dos mortais"...
Regista-se com muito apreço esse momento de inspiração...
Caro Tonibler,
Talvez tenha razão, talvez... até porque a fonte geradora de notícias que alimentaram a campanha de sujidade não seria assim tão difícil de detectar...
Qualquer vedor rural, munido da varinha mágica, era capaz de tocar muito perto (podendo até aproveitar para as compras de Natal)...
Caro Fartinho da Silva,
A sua opinião é respeitável, entendo apenas que exceptuar F. Nobre do alvo da declaração teria sido bem melhor...
Cara Suzana,
Certamente, considerando ainda que essa declaração ou era feita naquela ocasião ou perdia toda a oportunidade.
Caro jotaC,
Está no seu pleníssimo direito de discordar do entendimento que exprimi, mas continuo a pensar que a declaração do Presidente reeleito, com a ressalva que já deixei expressa (F. Nobre merecia um "waiver"), é perfeitamente aceitável como de justa indignação...
A tentativa de sujar o Candidato assumiu foros de uma violência inaudita, deve tê-lo ferido profundamente!
Eu sei bem, por experiência própria, o que significa ser vexado na praça pública sem qualquer fundamento ou justificação para além de velhacas ou miseráveis motivações persecutórias...
Quem não passa por essas situações tem muita dificuldade em avaliar o grau de incomodidade que se sofre!