Uma lufada de trabalho para quem está inactivo e/ou uma oportunidade de acesso a uma remuneração, ainda que precaríssimas, para 30.000 pessoas que o INE está à procura para realizar o CENSOS 2011.
Embora as habilitações académicas mínimas estabelecidas correspondam ao 9º ano, a candidatura de 17 mil licenciados não pode constituir surpresa. Não só dispõem de habilitações muito para além do que a tarefa exige, como concorrem com candidatos menos qualificados.
Quando não há trabalho e não há dinheiro, os mais qualificados aceitam o que outros menos qualificados estariam em condições mais ajustadas de fazer. Uma distorção económica e social do mercado, ditada pela elevada taxa de desemprego e reduzidas oportunidades de trabalho.
Nunca me esqueço de uma rapariga que uma vez encontrei a fazer trabalho de limpeza de rua. Calhou cruzar-me com ela por causa do estacionamento do carro. Era nova, com um ar fresco, cabelo preso com um lenço, por sinal bem bonito, com a tristeza escondida por um sorriso sereno. Alguma coisa nela me dizia que o fato que vestia não lhe assentava bem. Não que limpar a rua não seja uma tarefa digna como tantas outras e, aliás, muito útil.
A rapariga era licenciada, precisava de sustento. Depois de muitos currículos enviados, entrevistas frustradas, outras tantas prometidas que nunca se realizaram, não teve outra alternativa que não fosse concorrer a trabalho menos qualificado. E conseguiu. Foi contratada temporariamente para fazer aquela tarefa, recebendo pouco mais que o salário mínimo.
Uma situação que dá que pensar, balançando entre o sentimentos de justiça e o sentimento de injustiça, sobre o que é e deveria ser a realidade ou talvez que esta deixou de ser o que era. E depois, o desaproveitamento colectivo do investimento feito na formação da rapariga, por ela própria, pela família e pelos nossos impostos, a desilusão que sofreu e as perspectivas pouco animadoras, a actuação da entidade patronal que fez tábua rasa das suas habilitações, etc.
Embora as habilitações académicas mínimas estabelecidas correspondam ao 9º ano, a candidatura de 17 mil licenciados não pode constituir surpresa. Não só dispõem de habilitações muito para além do que a tarefa exige, como concorrem com candidatos menos qualificados.
Quando não há trabalho e não há dinheiro, os mais qualificados aceitam o que outros menos qualificados estariam em condições mais ajustadas de fazer. Uma distorção económica e social do mercado, ditada pela elevada taxa de desemprego e reduzidas oportunidades de trabalho.
Nunca me esqueço de uma rapariga que uma vez encontrei a fazer trabalho de limpeza de rua. Calhou cruzar-me com ela por causa do estacionamento do carro. Era nova, com um ar fresco, cabelo preso com um lenço, por sinal bem bonito, com a tristeza escondida por um sorriso sereno. Alguma coisa nela me dizia que o fato que vestia não lhe assentava bem. Não que limpar a rua não seja uma tarefa digna como tantas outras e, aliás, muito útil.
A rapariga era licenciada, precisava de sustento. Depois de muitos currículos enviados, entrevistas frustradas, outras tantas prometidas que nunca se realizaram, não teve outra alternativa que não fosse concorrer a trabalho menos qualificado. E conseguiu. Foi contratada temporariamente para fazer aquela tarefa, recebendo pouco mais que o salário mínimo.
Uma situação que dá que pensar, balançando entre o sentimentos de justiça e o sentimento de injustiça, sobre o que é e deveria ser a realidade ou talvez que esta deixou de ser o que era. E depois, o desaproveitamento colectivo do investimento feito na formação da rapariga, por ela própria, pela família e pelos nossos impostos, a desilusão que sofreu e as perspectivas pouco animadoras, a actuação da entidade patronal que fez tábua rasa das suas habilitações, etc.
Quem sabe, a rapariga que varria, estaria mais habilitada para o trabalho na câmara que lhe pagava pouco mais que o ordenado mínimo, que alguns técnicos superiores que terão sido admitidos... por simpatia ou cor política.
ResponderEliminarQuem sabe...
Cara Margarida, licenciada, em quê? É que há cursos superiores que quem os tira só por uma grande ingenuidade poderá supôr que irá encontrar emprego na sua área de formação...
ResponderEliminarUm sinal de pobreza, dela e do nosso País, que não sabe como tirar proveito de tanto investimento em educação. Nós, os gregos, os espanhóis, os franceses, os tunisinos, os egípcios...
ResponderEliminarCaro Zuricher
ResponderEliminarEra uma licenciada num desses cursos de "ciências ocultas" como agora lhe chamam. Os licenciados das escolas mais prestigiadas normalmente conseguem colocação, até antes de acabarem os cursos. Mas já não é bem assim. Conheço jovens dessas escolas que não conseguem arranjar trabalho de acordo com os estudos que fizeram. Por isso, muitos deles estão a sair do País. São os melhores, os mais qualificados.
Se o desemprego é um grande flagelo, a fuga de jovens para o estrangeiro é uma tragédia para o nosso futuro.
Cara Margarida, virá assim tanto mal ao mundo por sair gente com esses cursos das "ciencias ocultas" como lhes chamou?
ResponderEliminarUma coisa é sair um engenheiro, um economista, um físico, enfim, profissões uteis e que permitem o desenvolvimento da sociedade. Profissões cuja falta obstaculiza o desenvolvimento e com a saída daqueles que as aprenderam criam-se vazios e faltas. Mas sair um licenciado em "animação social" (sim, existe...), antropologia, sociologia e outras que tais será minimamente grave? Existem a pontapés e o mercado não tem capacidade para os absorver, sendo que, de qualquer forma, o seu valor acrescentado para a economia e para o país é nulo ou quase isso não sendo de admirar que sejam tratados como indiferenciados.
O «brain drain» é realmente um problema de vários paises e muito tem sido escrito sobre esse tema ao longo dos anos. Mas será que esses cursos essencialmente inuteis entram na qualificação de «brain»?
Caro Zuricher
ResponderEliminarEm Portugal o mercado do ensino superior é muito estranho. A oferta e a procura das actividades económicas deveriam ter reflexo na oferta de formação universitária e na sua procura. Continuamos a ter cursos superiores que o mercado não absorve. Tenho dificuldade em perceber porque é que os estudantes optam por cursos que o mercado não precisa e não orientam as suas escolhas para cursos em que há procura e até défice de profissionais.
Falta de informação sobre o mercado, falta de orientação dos estudantes, sistema de "numerus clausus" perverso, inexistência de alternativas de formação profissional intermédia, lobby das ordens profissionais, desajustamento da oferta de ensino às reais capacidades e talentos dos estudantes?
Veja-se, por exemplo, o que se tem passado com o acesso aos cursos de medicina e a falta estrutural de médicos.
Há aqui "falhas de mercado" que deveriam ser superadas com regulação, seja disponibilizando informação relevante, seja criando os incentivos e os desincentivos adequados, etc. Haverá outros problemas, como por exemplo, a deficiente articulação entre as universidades e o mundo das empresas.
Quanto à rapariga teve o azar de fazer um curso de comunicação, penso que é assim que se chama. Teria cabeça para obter outra formação. Concorreu a outros cursos, para os quais teria talento e talvez mais saída profissional, mas não conseguiu.
Cara Margarida Corrêa de Aguiar,
ResponderEliminarNa minha análise superficial e altamente preconceituosa, julgo que uma percentagem não despiciente dos alunos do dito "Superior" estão lá porque:
1. Os paizinhos, que foram educados no "antigamente" e penaram para acabar a 4a classe, julgam que o seu filho também pode ser "dótore" como "antigamente" (mas como pouco ou nada percebem de Ensino, não entendem que uma licenciatura de 3 anos numa treta sociológica pouco ou nenhum valor tem). Mas o título e o canudo, esses ninguém lhes tirará ao filho, julgavam que era só para os "ricos" e para os bons alunos não?
2. São mais 3/5 anos em que o alegre estudante, que pouco ou nada aprendeu até ao 12º, pode viver à conta dos pais/Estado, enquanto passeia os livros entre jantares de curso, praxes às novas caloiras, noitadas, online gaming, etc...O importante é que ele tenha acesso a um "direito"!
O Erasmus vem ainda potenciar mais a sensação de "boa vida", pois agora pode estar uns meses na borga lá fora (basta ver que poucos falam do que aprenderam em termos académicos, realçando sempre o aspecto "lúdico-social" da experiência).
Ambos contribuem para afogar muitas famílias em sérios problemas financeiros, num "investimento" cego que apenas cria falsas expectativas, que atrasa a entrada desses jovens no mercado de trabalho e os torna inadequados às necessidades da nossa economia. O efeito é duplamente negativo: consome recursos às famílias/Estado e reduz o número de pessoas formadas para as áreas que a economia necessita. Isto para não falar na parte psicológica de alguém ver defraudadas as suas (porventura à partida irrealistas e infundadas) aspirações profissionais.
É pouco mas não chega nem chegará para a sobrevivência de Portugal como um país independente. Não são só os diplomados que estão a sair. São todos os que têm capacidade de produzir e evoluir. Em Portugal ficarão os que não conseguem remuneração lá fora. Uns por serem mais velhos e outros por não terem as capacidades que os patrões estrangeiros exigem. Mesmo os que são funcionários públicos vão ter sérias dificuldades a curto prazo se o modo de funcionamento da sociedade portuguesa não mudar. Temos uma sociedade (educação, saúde, gestão pública, etc) orientada para a fraude e para o parasitismo do estado, entenda-se como estado os portugueses que produzem riqueza e pagam impostos. Os problemas de emprego não são exclusivos de Portugal, o comodismo, a mesquinhez e a vontade de continuar na mesma é que são típicos dos portugueses.
ResponderEliminarCaro Ruben Correia
ResponderEliminarOs seus comentários fizeram-me lembrar um post que escrevi aqui no 4R há uns anos atrás, que se mantém válido. Desculpe a transcrição:
"(...) É muito importante, obviamente, investirmos na formação universitária. Parece que – segundo rezam as estatísticas – não é ainda suficiente o número de profissionais com formação superior. É, portanto, necessário reforçar este número e é isso que temos andado a fazer, porém preocupados bem mais com a quantidade do que com a qualidade! É que, tal como as outras instituições de ensino, também a universidade está viciada e desacreditada, prevalecendo o objectivo da obtenção de um “canudo” que, diga-se em abono da verdade, com ou sem valor, não serve muitas vezes para nada.
Mas comecemos pelo início. Porque é que apenas 60% dos nossos jovens ultrapassam a barreira do 9º ano de escolaridade (obrigatória)? Têm sido apontadas várias causas, mas destacaria uma que me parece ter raízes mais profundas. Criou-se um complexo, post 25 de Abril, que afirma que somos todos iguais. Esta concepção igualitária veio perturbar profundamente as mentalidades. Esta igualdade tão apregoada deveria ter apenas e tão só que ver com as oportunidades de acesso que devem ser asseguradas a todos, independentemente da sua condição económica e social, já que ainda não está comprovado que todos tenhamos as mesmas aptidões, apetências e capacidades intelectuais.
Foi à luz deste princípio que se estabeleceu a primeira etapa que constitui o ensino obrigatório, “igual para todos”, sem liberdade de opções, o que nos dias de hoje e no nosso contexto actual, sociólogo e cultural, não faz qualquer sentido e é uma verdadeira aberração. Os alunos não querem e viram costas à escola. E porquê? Porque não gostam da escola. Não creio que a culpa seja dos professores, mas antes dos programas e porque o tipo de ensino que é ministrado não só não lhes diz rigorosamente nada como não lhes serve rigorosamente para nada. E é assim que, obrigados pelo sistema, uma grande parte dos alunos do insucesso e do abandono escolar, optam por não estudar, almejando livrarem-se do 9º ano de escolaridade, cuja única virtude será fazê-los esquecer e odiar a escola para sempre.
A segunda etapa do ensino, já mais selectiva, visa o 12º ano de escolaridade, repetindo-se aqui os mesmos erros, já que muitos dos alunos que o frequentam não o fariam caso pudessem escolher “outra coisa”. E a injustiça é tanto mais flagrante, quanto estigmatiza aqueles que não podem ou não querem o tipo de ensino “imposto” e impede outros de progredirem normalmente no seu estudo, já que as aulas são colectivas. Culpam-se, por fim, os professores que se limitam, afinal, a maior parte das vezes, a cumprir as políticas do Ministério da Educação.
Devemos proporcionar a todos os jovens, de forma arrojada, sem medos nem complexos, o conhecimento de que necessitam para crescerem e se realizarem, através de um ensino diversificado e de qualidade que os alunos poderão frequentar a partir do 5º ano de escolaridade. É neste nível que – antes de atingirem o 9º ano de escolaridade – os alunos devem ser ajudados e orientados no sentido de lhes ser fornecido um projecto escolar e profissional, de acordo com as suas aptidões, apetências e capacidades intelectuais. É nesta fase que é útil explorar entre dois caminhos distintos: a via universitária e a via técnico-profissional. Esta é uma prática do sistema educativo de alguns países europeus, que por sinal apresentam taxas baixas de insucesso escolar.
Os alunos não ficarão traumatizados, antes pelo contrário, ficarão felizes e realizados e muito gratos – e o País também – por lhes ser dada a possibilidade de uma escolha efectiva e séria de oportunidades. É aqui que a igualdade de oportunidades encontra a sua melhor forma de concretização. A ideia que se instalou de que só há igualdade num País de “doutores” deu um péssimo resultado! Um erro que origina as piores das desigualdades!"
Cara Maria
ResponderEliminarTem toda a pertinência lembrar que estão a sair de Portugal todos aqueles que querem trabalhar, como diz "produzir e evoluir". Há realmente uma condição de necessidade, porque a reduzida taxa de emprego e a elevada taxa de desemprego estão a deixar muitos portugueses numa situação económica e financeira muito difícil, se não desesperada. Mas há muitos portugueses, em particular das gerações mais novas, que querem ir embora porque não acreditam num futuro próspero aqui.
Precisamos de mudar de vida, de acabar com o facilitismo e repor os valores do trabalho, esforço e mérito. Fala-se muito da desalavancagem financeira, mas ninguém parece querer falar da necessidade de "alavancarmos" (no bom sentido) os princípios e valores tradicionais que nos últimos anos foram banidos. Vivemos uma crise de valores, uma crise de cultura e uma crise de comportamentos.
Caro Bartolomeu
Quem sabe! Mas que há algo de profundamente errado, há!
Não podia estar mais de acordo. Pena que a política oficial continue a ser a da fraude e da ilusão.
ResponderEliminarO que é, a meu ver, criminoso, pois apenas através da Escola, transmissora efectiva de conhecimento, quer teórico quer prático (e não a treta socializante que pouco mais é que um jardim-infantil com aprendizagem opcional para adolescentes, que sai imensamente cara!) o indivíduo pode potenciar as suas capacidades e ascender economica e socialmente através do seu mérito, de forma justa e digna, para benefício de toda a sociedade.
Na sua ausência, os "elevadores" sociais passam a ser a cunha, o chico-espertismo, o oportunismo, a lealdade canina a um partido, o que apenas promove e favorece os indivíduos sem moral nem escrúpulos (e basta ver onde estão, até a primeiro-ministro chegam!).
Caro Ruben Correia
ResponderEliminarTenho para mim que precisamos de restaurar o mérito. É no mérito que reside o fazer bem e fazer melhor. Este é o caminho que temos que seguir. Mas, justamente, num momento em que mais precisamos de o fazer, em todos os sectores, incluindo o sector público, a medida dos cortes salariais e da suspensão da avaliação do desempenho, só vem desajudar. É uma medida anti-gestão, que leva a julgar as pessoas por aquilo que elas ganham e não por aquilo que elas produzem.