Khadaffi fugiu, Khadaffi fugiu, Alá é grande!, gritava um homem por cima de uma multidão em fúria que hasteava a bandeira monárquica na Líbia. Não se sabe se fugiu ou não para junto de Hugo Chávez, porque logo se seguem imagens do Bahrein, onde as multidões em fúria clama contra o rei, do Egipto já não se fala tanto, os militares aguentam enquanto podem, mas da Tunísia chegam barcos carregados que despejam milhares de pessoas na minúscula ilha italiana de Lampedusa. A Itália grita por ajuda, a Europa de colarinhos brancos diz que esperem um bocadinho que vão pensar o que fazer. Os jovens tunisinos são entrevistados no cais, gritam ao microfone “a revolução foi há um mês, já passou um mês e ainda não aconteceu nada, continuamos sem emprego, queremos trabalho na Europa”. Obama faz uns discursos estranhos, apela à coragem da revolta e apoia a luta pela liberdade mas o medo de não ter a certeza do que vai desencadear é bastante nítido. Yemen, Argélia, Jordânia, Irão, as imagens são sempre as mesmas e é preciso procurar os letreiros para saber o que é que aconteceu hoje, e onde.
O nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros falou de um movimento islâmico, muito agressivo, que virá por em causa o nosso modo de vida e os nossos valores ocidentais. Pareceu-me sinceramente preocupado. Outros dizem que não, leia-se Olivier Roy no Le Monde "Revolutions post-islamistes2 ou Eduardo Lourenço no Público de hoje ( "À Margem das revoluções islamistas..." p. 29) isso da Democracia como valor universal é a arrogância do Ocidente ou a “eterna vocação de converter” e que o “nosso” universalismo ficou à porta dos países árabes, vivemos de costas voltadas, fomos incrivelmente apanhados de surpresa e descobrimos que sabemos muito pouco deles, desses países que agora vimos a revoltar-se como um rastilho imparável e que só sabemos interpretar de acordo com a nossa experiência ou a nossa cultura ou religião. E com os nossos medos, que julgávamos bem defendidos pelas barreiras nos aeroportos, pelas leis da imigração, pelas ajudas ao desenvolvimento, sem reparar no fermento que fazia crescer a massa da revolta de milhões de pessoas, sobretudo jovens, que têm pressa de viver melhor. O tempo da política é lento, muito mais lento do que a net, os face book e as televisões, eles empurraram o tempo e a política ficou paralisada, não contava com isso e não encontra nos seus dicionários correspondência ao que ouve gritar no “mundo árabe”. E ao ver as imagens desfilar em catadupa nas televisões perguntamo-nos se a Europa não está há demasiado tempo sentada à secretária, a ler papéis e a fazer relatórios, a discutir pactos de competitividade e a medir orçamentos, enquanto o mundo se transforma radicalmente os preços do trigo, do algodão, do milho, do petróleo, do açúcar, do café, sobem em flecha, cavando ainda mais das ondas alterosas das revoltas indecifráveis.
O nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros falou de um movimento islâmico, muito agressivo, que virá por em causa o nosso modo de vida e os nossos valores ocidentais. Pareceu-me sinceramente preocupado. Outros dizem que não, leia-se Olivier Roy no Le Monde "Revolutions post-islamistes2 ou Eduardo Lourenço no Público de hoje ( "À Margem das revoluções islamistas..." p. 29) isso da Democracia como valor universal é a arrogância do Ocidente ou a “eterna vocação de converter” e que o “nosso” universalismo ficou à porta dos países árabes, vivemos de costas voltadas, fomos incrivelmente apanhados de surpresa e descobrimos que sabemos muito pouco deles, desses países que agora vimos a revoltar-se como um rastilho imparável e que só sabemos interpretar de acordo com a nossa experiência ou a nossa cultura ou religião. E com os nossos medos, que julgávamos bem defendidos pelas barreiras nos aeroportos, pelas leis da imigração, pelas ajudas ao desenvolvimento, sem reparar no fermento que fazia crescer a massa da revolta de milhões de pessoas, sobretudo jovens, que têm pressa de viver melhor. O tempo da política é lento, muito mais lento do que a net, os face book e as televisões, eles empurraram o tempo e a política ficou paralisada, não contava com isso e não encontra nos seus dicionários correspondência ao que ouve gritar no “mundo árabe”. E ao ver as imagens desfilar em catadupa nas televisões perguntamo-nos se a Europa não está há demasiado tempo sentada à secretária, a ler papéis e a fazer relatórios, a discutir pactos de competitividade e a medir orçamentos, enquanto o mundo se transforma radicalmente os preços do trigo, do algodão, do milho, do petróleo, do açúcar, do café, sobem em flecha, cavando ainda mais das ondas alterosas das revoltas indecifráveis.
Pois, cara Drª. Suzana, o mal desta velha europa, é adiar, aquilo que já por muitas vezes adiou, sempre convencida que adiando, é a forma de resolver o problema. Acho que o receio evidenciado pelo Sr. Ministro Luis Amado, é mais que lógico, dado que, toda a europa sabe da existência desse forte movimento islâmico que tem como objectivo, reconquistar a posse dos territórios, sobretudo na península ibérica, que já lhes pertenceram.
ResponderEliminarE não creio que a NATO se vá opor a essa jihad do "crescente", quando chegar a hora da reconquista.
O que ha a fazer, não é enviar dinheiro, nem apoio militar. O que ha a fazer é levar tecnologia e formar e transformar, afinal uma sequência daquilo em que Portugal já foi pioneiro e porque é conhecido em todo o mundo.
Neste momento, a europa sabe perfeitamente que Portugal e Espanha, são os países na mira dos islâmicos. A Alemanha, julga que está protegida e que militarmente pode controlar qualquer invasão do seu território, a França, convence-se que, desde que controle a sua costa mediterrânica, também não irá ter problemas de maior. Mas enganam-se, porque, se deixam os árabes entrar na península, das duas uma... ou dinamitam os Alpes (porque já não podem contar com Saramago para riscar o chão)ou ficam cercados, porque do lado de lá já eles estão, mais os Afegãos, ou eles já se esqueceram das promessas BinLádianas?
Esta gente imperialista come muito queijo... suísso!
Cara Dra. Suzana Toscano:
ResponderEliminarParece que sim! A revolução em curso no médio oriente poderá constituir uma forte ameaça para a nossa zona de conforto, e tudo, suponho, por culpa da globalização e das novas tecnologias omnipresentes aqui e nas montanhas do Afeganistão, por culpa da comunicação via satélite, por culpa da internet que partilha de forma democratizada informação, por culpa das redes sociais e do seu efeito massificador sob as pessoas, a tal ponto que há dias um cidadão egípcio registou o seu primeiro filho com o nome de Facebook Jamal Ibrahim, por culpa da auto-estrada que Bill Gates sonhou e fez…
Claro que é desejável para bem da humanidade que todos aqueles povos (há muitos anos a sofrer tiranias de toda a ordem), lutem contra os seus opressores, que reivindiquem melhor vida e justiça social; isso é inquestionável!. O que parece questionável é se o modelo de vida do mundo ocidental suportará nas sua economia o impacto colateral daquelas reivindicações…
Parabéns pelo conteúdo do post e particularmente pelo título escolhido...
Caro Jóta Cê, pessoalmente, deixo a internet e a globalização, fora deste jogo. Primeiro, porque o mundo árabe soube aderir e tirar partido dessa "auto-estrada" da comunicação e informação, segundo, porque só não se globalizaram, apesar do radicalismo religioso e da existência de uma República Árabe Unida, porque existe a par de tudo isso, um enorme fosso a separar muito ricos de muito pobres.
ResponderEliminarÉ esse fosso que a Europa precisa de aplanar, recorrendo a uma política de estabilidade, com base em projectos de desenvolvimento industrial e agrícula de sustentabilidade.
Repare, dentro da comunidade islâmica, existem facções que são pró ocidente e outras mais radicais, cujo objectivo é simplesmente o de destruir tudo o que não seja islam. Estes radicais são minoritários, contudo, são aqueles que pela força, obrigam os moderados a engrossar as suas fileiras, mas são também aqueles que a europa teima em querer comprar. Não percebem os líderes europeus que aquelas... pessoas, não se vendem. Num mundo que pretende ser civilizado e pacífico, ha que optar em certas ocasiões pela força, por forma a erradicar um mal, impossível de compatibilizar.
A Europa, morreu em 1918 e em 1945 e em 1974 com o final da descolonização.
ResponderEliminarComo há muito perdi a fé (religiosa), e jamais acreditei no processo europeu em curso (PEC, por acaso), não vejo caso para grandes surpresas na Europa.
E no seu declinio acentuado.
Quanto ao Norte de África, é cedo para tirar conclusões.
Excepto que todos os mussolinos arriscam a ser pendurados um dia numa parede.
E quanto ás democracias dos ricos (em Portugal com as EP´s e similares), que se cuidem.
Abem do Regime.
Não é nada cedo, caro Bmonteiro. Por se achar ser sempre cedo para fazer aquilo que ha muito devia ter sido feito, é que, tanto cá dentro como lá fora, andam todos "ó tio - ó tio" de calças na mão e a rogar a todos os santinhos para que os gajos não assaltem o penedo de Gibraltar.
ResponderEliminarImagine o que será se os bacanos resolvem entrar todos ao mesmo tempo por Tarifa, Cádiz, Tavira, Faro, Albufeira, etc.
Eu, já ando a arrebanhar pedras do meu quintal e metê-las todas em montinhos.
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarEstou estupefacto com a abrangência do seu comentário!.. :)))
No entanto sei que não é fácil tocar ao mesmo tempo em áreas tão diversas como a religião, a economia, as ciências sociais, os nacionalismos etc., sem que se corra o risco de logo no primeiro parágrafo trocarmos as mãos!...
Suzana
ResponderEliminarA Europa está mergulhada em crises que não param de a surpreender, se bem que não esteja nas suas mãos controlar ou evitar as "revoluções" que estão a deflagrar nos mais diversos domínios. São crises que colocam em crise a própria existência da Europa como a conhecemos.
Não lhe bastando a crise de governação e a crise de valores e a crise financeira, económica e social, o envelhecimento demográfico, o poderio financeiro e económico da China e das potências económicas mundiais emergentes, agora é o alastrar da revolução do Egipto de Mubarak à Líbia de Kadafi com consequências ainda impossíveis de avaliar. São consequências económicas – a subida do petróleo e a redução do grau de abertura da economia - e de segurança, designadamente a emigração de populações em fuga para a Europa, de proporções desconhecidas. "As revoltas indecifráveis" vêm adensar os tempos de risco e de incerteza da Europa e das democracias ocidentais.
Cara Dra. Susana Toscano,
ResponderEliminarNão resisto em participar. De facto, as novas conquistas trouxeram à humanidade novas e nunca imaginadas perspectivas… acontece, porém, que estas perspectivas parecem, por agora, estar abertas apenas a uma minoria, mesmo que evidentes à maioria que, por sua vez, as deseja atingir no mais curto espaço de tempo. Consequentemente, retirou-se do vocabulário a palavra ‘amanhã’, imediatamente substituída por ‘hoje’. Cá está, na minha opinião, a principal causa e fundamento da revolta. As rápidas mutações que caracterizam o mundo actual, científicas, tecnológicas, sociais e políticas, trouxeram consigo imprevistas soluções de descontinuidade no desenvolvimento dos indivíduos e das comunidades, contribuindo decisivamente para criar perigosas situações de tensão. Neste quadro, é muito difícil distinguir o que é válido do que não é… como referiu, as revoltas tornaram-se indecifráveis e temo, perante o que disse, que demolidoras, ou seja, muito distantes de qualquer ideal democrático no seu sentido verdadeiro. ‘Amanhã’ saberemos.
...No seguimento do meu raciocínio, ontem, dia 26 de Fevereiro, uma reportagem na SIC Notícias abordava precisamente o papel das redes sociais nos acontecimentos do médio Oriente, dizendo que a revolução se planeava nas redes sociais, twitter e facebook, e se executava nas praças públicas...
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