1.Segundo os DADOS PRELIMINARES hoje divulgados pelo INE, a balança comercial registou em 2010 um défice superior em € 416 milhões ao de 2009 (+2,1%), resultado de um aumento de 15,7% das exportações e de 10,5% das importações.
2.Apesar do agravamento do défice, não deixa de se salientar o dinamismo das exportações as quais, caso a procura interna tivesse sido menos estimulada (por despesa pública, bem entendido), poderiam provavelmente ter crescido um pouco mais e até permitido apurar um défice comercial (bem) inferior ao registado em 2009.
3.Mas não deixa de ser curioso notar que na encenação preparada para o denominado “congresso das exportações” tenha sido totalmente omitida a evolução global da balança comercial, e mencionado, exclusivamente, o crescimento das exportações, mais de 15%...
4.Esta forma de abordagem de um tema sério como é o do papel das exportações na economia portuguesa é típica de uma propaganda assente em secções da realidade, em grandes slogans, traduzindo uma forma bizarra de fazer política - salientando os aspectos positivos e omitindo radicalmente os negativos.
5.Numa operação cujo objectivo se traduzia na montagem de um cenário cor-de-rosa sobre as exportações, era pois imperativo omitir as importações - como se exportações e importações fossem realidades que nada têm a ver uma com a outra...
6.Obviamente não convinha, ao celebrar as exportações como suposta panaceia da economia, reconhecer que, apesar do seu crescimento, o desequilíbrio comercial acabou por aumentar, o que inevitavelmente se reflecte em acumulação de endividamento ao exterior maior do que o verificado no ano transacto...
7.Concretamente, o défice comercial de 2010 (DADOS PRELIMINARES, repete-se) cifrou-se em € 20.014 mil milhões, cerca de 11,5% do PIB, contra € 19.600 milhões em 2009.
8.Com base nestes dados e considerando que as demais componentes da balança corrente – serviços (positivo), rendimentos (negativo) e transferências unilaterais (positivo) – deverão quase compensar-se, o défice da balança de pagamentos correntes em 2010 ficaria entre 10,5% e 11% do PIB e o défice das transacções correntes, beneficiando das transferências de capital da EU, em torno de 10% do PIB.
9.É esta a dura realidade com que nos defrontamos e que não deveria ser escamoteada num “congresso das exportações” em que houvesse a preocupação de fazer política de forma séria...
10.Haveria que reconhecer, em suma, que há um trabalho muito árduo a realizar ao longo de anos, seguindo uma estratégia de longo prazo para a correcção estrutural dos desequilíbrios da economia...na qual uma redução drástica do peso dos gastos do Estado, tendo em vista libertar recursos financeiros agora tão escassos, reduzir a tributação e reforçar as condições de competitividade das empresas, constituiria uma componente “sine qua non”.
11.Mas isso seria muito pouco apelativo para um cenário que tinha de ser cor-de-rosa - ou ainda pior, seria aceitar um PRECONCEITO IDEOLÓGICO - e, como tal, não podia senão ficar esquecido...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarAcrescentaria apenas que o crescimento das exportações está alinhado com a média europeia, diferindo em poucas décimas. Infelizmente, e sem querer retirar valor ao esforço das empresas, isso pode querer dizer que a esmagadora maioria desse crescimento não é nem da nossa iniciativa, nem resulta de melhor ou mais competitiva oferta. O PM usou de palavras artísticas que, sem o comprometerem com uma mentira total, dão a entender que Portugal foi totalmente excepcional. Mas o que é chocante é a maneira como a comunicação social se limita a produzir eco, não do INE, mas do PM, que passa por porta-voz do INE (não devemos desprezar este pequeno pormenor, que não o é: isto é marca de quem não tem limites). Mesmo nos canais de tlevisão especializados em notícias parece haver falta de gente com dois minutos para abrir o documento e ver o que lá está, noticiando-o. O documento não poderia ser mais simples. Possivelmente há demasiada gente destacada para o problema do Liedson e a tragédia que o Sporting representa para a Europa. Finalmente, se a imagem que o PM passa de si mesmo correspondesse à realidade, teríamos de considerar que ele seria o tesouro que a Europa ainda não descobriu para a liderar.
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ResponderEliminarCaro Flahs Gordo,
ResponderEliminarTem razão, a forma servil, às vezes abjecta mesmo, como a comunicação social se presta a este serviço, enganado os pobres cidadãos em troca de umas míseras lentilhas, é um sinal da profunda doença que se abateu sobre este deafortunado País...
Caro Paulo,
Curisamente, a realização deste evento, isoladamente considerada e analisada no plano logístico das suas componentes de propaganda paga e de desperdício de consumíveis (multiplos), deve ter proporcionado um contributo, não totalmente despiciendo, para o desequilíbrio da balança comercial já em 2011!
Ironias do "congresso das exportações"...
Sem ter os números completos, porque nos foram sonegados pela informação televisiva, foi exactamente o que pensei ao ouvir a notícia – dada com o uma boa notícia – da evolução da nossa balança comercial. Na primeira informação até só se falou no aumento das exportações. Pensei logo: “E como terão evoluído as importações?”. Depois ouvi falar das duas variações, mas sem números absolutos, pelo que a notícia ainda parecia ser boa, já que o aumento das exportações superava (em percentagem) o das importações. Não sou tão burro que não tivesse logo pensado que os 10,5% das importações deveriam ser em valor absoluto bem maiores que os 15,7% das exportações. Vejo agora que tinha razão. Bem haja pela informação disponibilizada. Estou farto da manipulação da comunicação social em que todos os canais de TV se limitam a ser oficiosos sem qualquer sentido crítico sobre a notícia que veiculam.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarTenho tentado fornecer os dados mais elementares sobre a distribuiçao internacional das nossas vendas.
A intenção é apenas demonstrar que, para o nosso tamanho e para paíese equivalentes a importância do mercado externo é baixa; estamos (curiosamente) mais próximos de uma França e Itália, do que de uma Dinamarca, Holanda ou Austria.
Como muito bem anota neste seu post, não podemos "ler" a balança de um modo enviesado, isto é, focalizando nas exportações. Os motivos estão expressos e implícitos no seu post.
Na medida em que estamos numa fase bipolar, as exportações são, agora, a menina dos olhos do governo.
Convinha recordar, neste momento, algumas coisas importantes:
a) Foi o actual PR que, pela primeira vez e há mais de ano e meio, apontou as exportações como uma das prioridades políticas; como bons jacobinos, o governo apropriou-se e, neste momento, assumiu, por usucapião, a propriedade do tema. É pena que seja tarde, a más horas e atabalhoadamente.
b) Estamos no euro e uma das "pequenas" consequências é que vale mais 35% que o US$; ora esta é a moeda internacional. Quando exportamos para fora do espaço euro, somos, apenas por existirmos 35% mais caros que outros países não europeus. Por isso, diversificar mercados é importante mas, tem um limte e, pode, em certas circunstâncias não valer a pena o esforço. Se é importante diversificar, ainda mais importante é tentar manter a nossa quota de mercado onde ganhamos o pão: U.E e Angola; ora, nos últimos dez anos, temos vindo a perder quota de mercado na U.E; não podemos, por causa da nossa proverbial bipolaridade "esqueçer" os mercados tradicionais.
c) Explorando as "virtualidades" do seu post, era importante que os portugueses compreendessem que o mercado "externo" ganha-se também, no mercado "interno"; uma política activa e legal de apoio à substituição de algumas importações; trata-se de uma via essencial e um contributo indespensável para sairmos da "enrascada" em que nos metemos; não basta perorar por "usar" nacional, é necessário dar as condições para que possa existir oferta em quantidade necessária.
É essencial que se perceba que o importante é a balança, não apenas, um dos braços da mesma. (Eu sei que este governo não consegue elaborar cenários complexos mas, já que se gasta tanto em imagem não vinha mal ao mundo, gastar algum em substância).
d) Sobre este último evento e, acrescentando o que afirma, não é o primeiro congresso; há mais de 20 anos que se deixaram de realizar. Está atrasado, devia ter sido realizado há três anos atrás; (poupava-se alguns eventos pirotécnicos); devia ser o ponto de partida e um evento mensal e limitado por sectores: todos ao molhe e fé em Deus, não costuma dar resultados para além do "bem estar" de estarmos juntos e conversarmos.
Infelizmente, temo que tenha sido mais uma das muitas "raves" que este governo, ao cabo de seis anos, sabe organizar tão bem, como só a experiência e bons profissionais conseguem.....
Cumprimentos
O que tem mais graça nisto tudo é o pensamento de que o governo possa ter alguma coisa a ver com vendas quando a única coisa que faz é compras.
ResponderEliminarMas também, depois de ontem ter ouvido a ministra da educação a fazer contas em que tem 2 mil mios de euros de overheads e a oposição ficou calada, acho que o governo se pode orgulhar de muito mais coisas, desde a minha higiene íntima ao crescimento dos cardumes de bacalhau no Mar do Norte.
Caro Freire de Andrade,
ResponderEliminarTal como já salientei em comentário anterior, o que mais espanta neste episódio não é o estilo propagandístico oficial - esse já damos de barato - mas antes a extrema docilidade com que a comunicação social se acomoda a estas operações...
Até parece que são eles quem mais beneficia com a fantástica linha de crédito para apoio das exportações...
Caro João,
Tem toda a razão, ao lembrar que foi o PR quem em primeiro lugar (entre órgãos de soberania, é certo...) chamou a atenção para a prioridade que as exportações deveriam merecer no plando das políticas - isso numa altura em que o Governo ainda se dedicava, de uma forma assaz convicta é justo reconhecer, à promoção das importações...
Caro Tonibler,
O seu incomparável humor, caustico, tem sempre um alto valor acrescentado no processo de caracterização da cena política, há que reconhecer!