O meu amigo Pinho Cardão telefonou-me esta tarde. Tinha o telemóvel repleto de chamadas não atendidas. Tinha-o colocado, ontem, no modo de silêncio, por causa das aulas. Tantas chamadas a um sábado? Não é normal. Comecei a corrê-las para saber o que é que se estava a passar. É raro receber belas chamadas, na maior parte dos casos são notícias ou situações nada agradáveis. Adoro não ter de ouvir o toque do telemóvel, porque quando o ouço sinto angústia, taquicardia, quase que poderia dizer que sofro de stresse pós traumático induzido por esta máquina. Eu bem tento mudar os toques, a fim de minimizar os efeitos negativos, mas em vão.
Uma das conversas que tive com o meu grande amigo, Pinho Cardão, prendeu-se com o facto de não escrever há algum tempo no blogue. Fiquei envergonhado, porque deveria ter explicado aos meus companheiros do Quarta República as razões deste interlúdio. Não o fiz, pelo que tenho de me penitenciar, assim como a todos os que me acompanharam ao longo dos tempos. Não considerem uma falta de respeito ou de consideração. Por vezes tenho necessidade de intervalar e de pensar. Continuo a escrever, embora não publique os meus textos. Talvez um dia destes retome a minha atividade bloguista e, se assim for, só poderá ser num sábado.
Em pequeno adorava os sábados, o meu dia da semana favorito, sobretudo da parte da tarde, porque de manhã ainda tinha de ir à escola. A perspetiva de uma tarde de brincadeira enchia a minha alma pequena de sol, sol que nunca faltava aos sábados, mesmo que fizesse chuva, situação perfeitamente desculpável, visto que era o momento em que as bruxas se penteavam. Agora, recordo que havia períodos em que cuidariam mais amiúde das suas fartas cabeleiras, mas o sol aparecia sempre e eu ficava extasiado a ver as gotas a caírem, lindas, pareciam pendentes de cristais, luminosas, coloridas, acabando o céu por coroar-se de encantadores arco-íris. Sempre aos sábados, claro. Nem abria a pasta. Comia numa sofreguidão louca e saía de casa a correr. Tinha de aproveitar o resto do dia para brincar sem a preocupação de fazer os deveres de casa. Um martírio que guardava, invariavelmente, para domingo, sempre à noite, e, claro, com a ajuda da mão da mãe, porque o sono e a angústia de levar nas mãos na segunda-feira de manhã obrigavam-me a choramingar e a pedir ajuda.
Esforço-me por não perder o encanto que sinto pelos sábados, mesmo que tenha de trabalhar, como é habitual. Se um dia deixar de sentir encanto nos sábados, não sei o que vai ser de mim, porque não gosto dos outros dias da semana, e, então, dos domingos, nem vale a pena falar. Não deveriam existir domingos, deveriam ser substituídos por segundos sábados, ou, então, deveriam intervalar entre dois dias normais um sábado. Em pequeno adiantei esta hipótese, um dia de trabalho e um dia de sábado, mesmo que tivesse de ir à escola da parte da manhã, porque teria a tarde por minha conta, e como era sábado haveria sempre sol da parte da tarde, mesmo que chovesse. Neste caso, ainda teria a possibilidade de correr até ao arco-íris na esperança de o apanhar. Quando via um à mão de semear, corria que nem um louco na sua direção, outras não, ia pé ante pé, mas o raio do arco-íris fugia sempre ou desaparecia. Safado. Uma grande ideia, pensava eu, a reformulação dos dias da semana, dia sim, dia não, um sábado.
Hoje é sábado, um sábado de sol precedido de angústia e repleto de temores, mas que, apesar de tudo, brilhou o suficiente para manter a alma quente e a esperança viva.
Ninguém deveria morrer aos sábados.
Em pequeno adorava os sábados, o meu dia da semana favorito, sobretudo da parte da tarde, porque de manhã ainda tinha de ir à escola. A perspetiva de uma tarde de brincadeira enchia a minha alma pequena de sol, sol que nunca faltava aos sábados, mesmo que fizesse chuva, situação perfeitamente desculpável, visto que era o momento em que as bruxas se penteavam. Agora, recordo que havia períodos em que cuidariam mais amiúde das suas fartas cabeleiras, mas o sol aparecia sempre e eu ficava extasiado a ver as gotas a caírem, lindas, pareciam pendentes de cristais, luminosas, coloridas, acabando o céu por coroar-se de encantadores arco-íris. Sempre aos sábados, claro. Nem abria a pasta. Comia numa sofreguidão louca e saía de casa a correr. Tinha de aproveitar o resto do dia para brincar sem a preocupação de fazer os deveres de casa. Um martírio que guardava, invariavelmente, para domingo, sempre à noite, e, claro, com a ajuda da mão da mãe, porque o sono e a angústia de levar nas mãos na segunda-feira de manhã obrigavam-me a choramingar e a pedir ajuda.
Esforço-me por não perder o encanto que sinto pelos sábados, mesmo que tenha de trabalhar, como é habitual. Se um dia deixar de sentir encanto nos sábados, não sei o que vai ser de mim, porque não gosto dos outros dias da semana, e, então, dos domingos, nem vale a pena falar. Não deveriam existir domingos, deveriam ser substituídos por segundos sábados, ou, então, deveriam intervalar entre dois dias normais um sábado. Em pequeno adiantei esta hipótese, um dia de trabalho e um dia de sábado, mesmo que tivesse de ir à escola da parte da manhã, porque teria a tarde por minha conta, e como era sábado haveria sempre sol da parte da tarde, mesmo que chovesse. Neste caso, ainda teria a possibilidade de correr até ao arco-íris na esperança de o apanhar. Quando via um à mão de semear, corria que nem um louco na sua direção, outras não, ia pé ante pé, mas o raio do arco-íris fugia sempre ou desaparecia. Safado. Uma grande ideia, pensava eu, a reformulação dos dias da semana, dia sim, dia não, um sábado.
Hoje é sábado, um sábado de sol precedido de angústia e repleto de temores, mas que, apesar de tudo, brilhou o suficiente para manter a alma quente e a esperança viva.
Ninguém deveria morrer aos sábados.
Realmente, caro amigo, já estávamos preocupados e a sentir-lhe muito a falta! Ainda bem que é só um momento "virado para dentro", diz-nos a experiência que muitos e belos textos virão a seguir como produto dessa renovada reflexão. Este, sobre o sábado, já nos aguça o apetite. É bem verdade, os sábados são o melhor dia da semana, beneficiam da expectativa que fomos acumulando durante a semana e parece que tudo vai caber nesse dia. Desejo-lhe muitos sábados bem vividos, com a virtude de lhe trazerem também um renovado ânimo para gastar durante a semana a favor de tantos que o procuram para que os alivie dos seus males.Um abraço muito amigo.
ResponderEliminarTambém eu senti a falta dos seus textos, caro Prof. Apenas não ousei pronunciar-me.
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ResponderEliminarHoje tive o prazer de visitar um hospital, sujo por fora, sujo por dentro com algumas luzinhas luminosas de batas brancas.
ResponderEliminarNo mesmo hospital onde me fizeram pagar a taxa "tendencialmente" gratuita de 10€, acrescida do estacionamento de 7€ e de parte dos 20 € de medicamentos da farmácia hospitalar, a reverter para o tendencialmente gratuito e onde se cruza a miséria a que chegou Portugal, a uma senhora acamada muito velha, sózinha, o enfermeiro de balcão perguntava à velha senhora se queria que ele chamasse a ambulância e se tinha dinheiro para a pagar.
Ao que a senhora confusa, lá respondeu, a custo.
Quanto é? Trinta Euros respondeu o Enfermeiro, ao que a senhora fechou os olhos e não respondeu.
Lembrei-me então dos recibos verdes e da abstenção do PSD pelo travamento dos seus 29,6% sobre rendimentos de 1000€. Lembrei-me também da resposta de um iluminado e arrogante PSD, professor de línguas, e da sua frase: as leis podem se injustas mas são leis, num mundo imperfeito.
E mais não soube, mas pergunto-me que País é este, que tem o Mexia a dizer que merecia ganhar mais de 2.000.000 por ano à custa da nossa electricidade, enquanto nos hospitais velhos e velhas são abandonados ao azar de terem nascido vizinhos de tão grandes competentes Portugueses.
Não está na hora de voltar a nacionalizar EDP's e quejandas e correr com estes energumenos?
Pelos vistos o sentimento de falta é geral. E não me admira. Habituei-me - habituámo-nos - à companhia dos textos que o Professor Massano sempre quis partilhar connosco. É caso para dizer que estávamos mal habituados porque o prazer, se é dele ao escrever, é muito mais nosso ao ler.
ResponderEliminarCá continuo na expectativa de o voltar a encontrar os escritos do meu Amigo. Aos sábados. Aos domingos. Como às segundas, terças ou em qualquer outro dia da semana que lhe apeteça. Tem por aqui uns leitores ávidos do seu saber, da sua experiência, mas sobretudo da afectividade que se respira do que escreve.
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarDe vez em quando deixa-nos desamparados da sua companhia, mas desta vez foi tanto tempo! Não nos deixe angustiados com a sua ausência, volte depressa e não apenas aos sábados. Com amizade, um beijo.
O caro Dr. Tavares Moreira tinha toda a razão, ao supor que a ausência do nosso estimado Professor Massano Cardoso, se devia a estar a passar por um período sabático.
ResponderEliminarDiz-nos o caro Professor Massano que prefere o sabado a qualquer outro dia da semana, evocando gratos momentos da infância. Pudera. Também me recordo das tardes de sábado, preenchidas por longas futeboladas, ou então por matinés assistindo aos saudosos filmes com Josélito e Marisol, Bucha e Estica, Cantinflas, etc.
Esperemos então pelo regresso do nosso Caro Amigo e, se não puder ser antes, então que seja no sábado.
Caro Professor:
ResponderEliminarValeu a pena o telefonema, mesmo que fosse para ter o gosto e a honra de o Professor Massano fazer o favor de me chamar seu amigo, seu grande amigo. De facto, e desde que o conheci e convivemos durante três anos naquela bancada do PSD no Parlamento, onde por mero acaso, mas feliz coincidência se juntaram, sem qualquer conhecimento mútuo prévio, quase todos os autores do 4R,comecei a sentir uma profunda admiração pelo meu amigo, que se transformou em sincera amizade. Admiro-o pela verticalidade e inteireza das suas posições que as vicissitudes políticas ou partidárias não fazem mudar,pelo carácter, pela generosidade , pelo nobre sentimento da compaixão que resulta das suas palavras e dos seus textos. E admirava-o também pelo trabalho e seriedade que punha nas suas intervenções, dificilmente rebatíveis, por muito bem documentadas.
Por isso, os seus textos no 4R são um meio de contacto com o meu amigo e tenho sentido, todos temos sentido, falta deles.
O seu sábado tão bonito é sinal de regresso de uma ausência curta, mas que nos pareceu longa, longuíssima.
Por mim, caro Professor, obrigado pelas suas palavras. E desejo, mais do que nunca, que todos os dias sejam sábado!...