sexta-feira, 4 de março de 2011

A falácia da ajuda externa e suas insondáveis razões...

1.O discurso oficial enveredou, “ad nauseam”, pela repetição da garantia de que Portugal não precisa de ajuda externa, usada esta expressão no sentido que não carece da ajuda do Fundo Europeu de Estabilização e/ou do FMI...
2.Este discurso está em aberta contradição com outro discurso anterior, de há poucos meses e da mesma fonte oficial, em que se proclamava que Portugal não iria recorrer à ajuda externa a menos que as taxas de juro da dívida de longo prazo viessem a exceder o nível de 7%...
3.Pois bem, estamos há quase um mês com taxas de juro da dívida de longo prazo ( e agora tb de médio prazo) acima de 7% e os governantes resolveram esquecer completamente essa primeira posição, recusando a ideia da tal ajuda externa, a qualquer preço...
4.Tudo indica pois que esta “recusa” obstinada de ajuda externa se irá manter mesmo que as taxas de juro da dívida permaneçam por tempo indefinido acima de 7% ou mesmo de 8% ou, quem sabe, acima de...
5.Mas esta “recusa” de ajuda externa é “prima facie” uma falsa questão, uma redonda falácia, pois o País tem vindo desde há meses a beneficiar de uma enorme ajuda externa, concretamente do Banco Central Europeu (BCE)...
6.E a ajuda do BCE até é dupla:
(i)Financiando os bancos portugueses em escala muito significativa (qq coisa como 25% do PIB), AJUDANDO-OS a manter a “torneira” do crédito com um pequeno fio de água;
(ii)Adquirindo volumosos montantes de dívida pública portuguesa (muitos milhares de milhões de Euros) no mercado secundário, AJUDANDO a manter as respectivas taxas de juro a níveis que, apesar de elevados, são bem inferiores aos que o mercado exigiria sem intervenção...
7.Sem a preciosa AJUDA do BCE, aonde estaríamos nesta altura? Financeiramente asfixiados e economicamente estatelados, é óbvio, não teríamos resistido à pressão, prenhe de maldade, dos mercados...
8.Por consequência, dizer que não carecemos de ajuda externa é uma falácia por demais evidente, evidência não resiste a qualquer observador minimamente atento (com a "honrosa" excepção dos media de serviço)...
9.Mas, sendo certo que não poderemos viver nos próximos anos sem alguma forma de ajuda externa em grande escala, terá de haver outras razões por detrás desta recusa obstinada em relação a uma específica AJUDA externa – a do FEEF/FMI: será o sindroma das contas públicas da República Helénica?...Ou ainda outras, porventura mais insondáveis?...

7 comentários:

  1. Anónimo14:30

    Caro Tavares Moreira,

    Acho que com juros tão altos a questão nem é necessitar ou não necessitar de ajuda externa [declarada]. É simplesmente escolher o caminho optimizado ou deitar dinheiro fora, porque quanto a imagem extrena mais baixo é quase impossível. Mas li algures que só os juros em 2013 serão qualquer coisa à volta dos 5% do PIB. A ser assim ou semelhante, não percebo sequer como não necessitamos de ajuda imediata, a menos que alguém tenha um plano realista para em 2 anos colocar Portugal numa situação de tal modo superavitário que supere a diferença, o que parece um pouco difícil. Mas, se calhar, acima dos interesses de Portugal há outros mais pesados, de carácter mais pessoal.

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  2. Caro Flash Gordo,

    Não precisa esperar por 2013...
    Em 2011 a conta de juros - reflectida no défice da rubrica Rendimentos da Balança de Pagamentos - deverá superar 5% do PIB...
    E, pelo andar da carruagem, em 2013não andará longe de 6%...
    Esta realidade, acrescida da difícil compressibilidade do défice comercial, este superior a 10% do PIB, tornam a teoria da necessidade de desendividamento do País, que muito boa alma ainda cultiva, num sonho ireralizável...uma utopia insanável...

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  3. É a versão moderna do orgulhosamente...amparados!

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  4. Caro Tavares Moreira
    A "insondabilidade", detectada pelos analistas da realidade nacional, quanto aos motivos do comportamento do nosso governo faz-me lembrar o que, Carl Sagan, chamava o "efeito de Vénus".
    Permita-me que lhe recorde esse efeito. Antes das sondas descerem em Vénus, detectou-se a existência de elevadas concentrações de carbono na atmosfera do planeta. Assegurada a existência de carbono, não demorou muito tempo, aos cientistas e pseudo cientistas, imaginarem um planeta com uma atmosfera amigável com vida e até, imagine-se, com animais como os dinossauros.
    Quando as sondas aterraram em Vénus, descobriram que a pressão atmosférica era muito elevada, o ar irrespirável e as temperaturas demasiado elevadas. Vida, nem vê-la. Naturalmente que tinha carbono mas em quantidades muito elevadas.
    Foi como calcula, uma grande desilusão no entanto, os dados iniciais permitiam concluir ambas as hipoteses: a "imaginária" e a real.
    Serve o presente para aplicar (adaptando) como simil â situação descrita no seu post: dos dados que possuímos, pode-se concluir que os motivos são "insondáveis" mas, também permitem chegar à conclusão que é a boa e honesta ignorância atrelada à incompetência para o desempenho das funções.
    Cumprimentos
    joão

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  5. Cara Suzana,

    Tem piada a sua observação, orgulhosamente amparados é exactamente o estado da arte...
    E ai de nós se nos falta o amparo que tanto nos orgulha - nada mais nos poderá valer, nem o FMI...

    Caro João,

    É uma analogia interessante a que descreve no seu comentário com o efeito de Vénus...
    No nosso caso, as sondas do FMI devem ter-se já aproximado do território continental, nem precisando de chegar à componente insular, e o ambiente orçamental que detectaram terá sido tal que as ditas sondas emitiram intensos sinais vermelhos para Washington...
    Terá sido a informação secreta desses sinais que explica a obsessiva fobia dos governantes lusos a qq intervenção do FMI?

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  6. Caro Tavares Moreira
    Acho que sim.
    Interrogo-me sobre, o que, ( os "tais" do FMI), vão fazer quando, concluirem (após análise exaustiva dos dados recolhidos pelas sondas) que apenas "existe" ignorância?
    Cumprimentos
    joão

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  7. Caro João,

    Essa conclusão, de que existe apenas e só ignorância na origem dos extra-orçamentais, não será por demais seráfica?
    Não será necessária a colaboração, em outsourcing, da Bayer (desratização) e dos Tapetes Vitória (análise morfológica das bossas orçamentais do tapete e do respectivo conteúdo), para uma adequada limpeza das contas?

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