sexta-feira, 25 de março de 2011

Milhões em tempos de crise...


Em tempo de crise não seria, à primeira vista destituído de razão, pensar que também no jogo há contenção, com as pessoas a fazerem contas à vida, a pouparem naquilo que, à primeira vista, é supérfluo. Mas não, não é assim que as coisas se passam. Li que há estudos, nos EUA, que demonstram que em tempo de crise são as pessoas mais pobres que tendem a jogar mais, porque procuram no jogo a solução para problemas concretos.
Em tempo de crise, parece fazer sentido procurar as receitas do jogo. Quem joga procura o milagre da multiplicação dos milhões, quer ser milionário, quer gastar nem se sabe bem em quê, e quem recebe encontra no jogo uma fonte de receita preciosa para fazer face às crescentes necessidades de dinheiro.
Os nove países europeus que participam no Euromilhões decidiram passar a fazer dois sorteios por semana. Em plena crise, vamos ter um segundo sorteio do Euromilhões e novas regras que, segundo anunciado, visam incentivar mais jogo. É que os apostadores desejam maiores valores de jackpot e mais hipóteses de ganhar prémios. Atrás da vontade de ganhar vem mais jogo. Haverá mais prémios e mais receitas.
O novo sorteio vem satisfazer a febre dos jackpots que deixam as pessoas quase em estado de sítio nas sextas-feiras em que as bolas andam à roda. É que quando há jackpots as pessoas vão a correr apostar mais, não que haja mais hipóteses de serem contempladas, mas se a sorte lhes bater à porta ficam ainda mais milionárias. É assim que crescem as receitas do jogo.
Portugal é um campeão do Euromilhões, é o segundo país do grupo que mais gasta per/capita. E os jackpots têm ajudado. À frente está o Luxemburgo, talvez que a grande comunidade de portugueses aí residente contribua para este lugar.
Se considerarmos que as receitas do Euromilhões e dos outros jogos promovidos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa se destinam a financiar causas e objectivos sociais, o jogo acaba por ter uma função de redistribuição, com a particularidade de a origem dos fundos ser totalmente voluntária, ao contrário do que se passa com os impostos. É, portanto, um jogo “bondoso” à medida da “bondade” dos apostadores, embora muitos deles não tenha se quer consciência do bem que pode estar a fazer porque o que intressa, mesmo, é ser milionário.
O que se espera é que esta generosidade seja criteriosamente redistribuída pelo Estado e cuidadosamente gerida pelas entidades beneficiárias. Seria importante conhecermos periodicamente o valor social gerado pelas receitas distribuídas pelo jogo, não apenas do Euromilhões, mas do conjunto dos jogos sociais. Este é o lado do jogo que menos interessa aos jogadores. O que interessa, mesmo, é jogar e ser milionário...

10 comentários:

  1. Basta-me olhar, mesmo que de relance, para os ex-libris que acompanham os posts, para identificar imediatamente aqueles que são da sua autoria, cara Drª Margarida. São sempre imágens que suscitam carinho e causam boa disposição.
    Eu também jogo no euromilhões e também desejo ser milionário, ou seja, possuir muito dinheiro. O meu objectivo a atingir, não tem a ver com felicidade, pois já me considero feliz, tenho uma família que amo e que me ama e isso basta-me. Eu ambiciono ser muito rico, porque tenho projectos na área social, já muito bem delíneados na minha mente.
    Quando me saír o prémio, não pretendo adquirir carrões, nem casas em condomínios de luxo. Já tenho um carro utilitário que me transporta para onde preciso e tenho uma casa, num sítio maravilhoso, bastam-me-
    Mas tenho um luxo premeditado; quero comprar uma moto, uma Honda Gold Wing, ou uma Honda Pan European e fazer com ela, uma viagem pela Europa.
    Depois dessa viagem, pretendo adquirir um terreno que já tenho em vista, pedir uma reunião com o presidente da Câmara da Arruda dos Vinhos e apresentar-lhe o projecto de construcção de um lar-modelo, auto-sustentável e interactivo, que irá acolher para além de idosos, pessoas mais novas que possuam projectos de âmbito social, empresarial e outros.
    A ideia é, com o apoio das entidades oficiais e autárquicas, dinamizar e integrar uma sociedade básicamente rural, tornando-a mais solidária e sustentável.
    Vamos ver...

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  2. Caro bartolomeu, já estou a torcer para que lhe saia o Euromilhões e possa realizar os seus sonhos!O 4r cá fica à espera das boas notícias e haverá muitos velhinhos a sonhar com um lar em condições, como as que propõe.Boa sorte, era bem empregue!
    Margarida, tentar a sorte é um desafio às forças do mal, assim uma espécie de esconjuro e também um sinal de que não se desiste, por muito irracional que seja é um sinal de luta ir gastar os poucos tostoões numa tentativa que ilumine a descrença no êxito organizado pela razão. Não jogo em nada mas tenho que reconhecer que admiro esses crentes quando os vejo nas filas para entregar o boletim, além da sua capacidade de se disporem a sofrer desilusão atrás de desilusão e ilusõa atrás de ilusão. É um fenómeno e o facto dos portugueses acreditarem mais nessa sorte do que na que lhes calharia pelas vias "formais" é bem significativo...

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  3. Cara Drª Suzana, agradeço-lhe a manifesta positividade do comentário que me dedica e, quando a altura for chegada, conto também com o apoio e conselhos da tertúlia Quarta Repúblicana.

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  4. Caro Bartolomeu
    Obrigada pelas suas carinhosas palavras. De vez em quando faz bem abrir a janela para entrar ar fresco! Um Pato Donald em pose vitoriosa agradou-me.
    Os prémios dos milhões só saem a alguns e duvido que quem os recebe tenha em geral planos para os utilizar, dado que o "bem" (e o "mal" também) acontece sempre aos outros.
    Mas o Caro Bartolomeu tendo um plano tão meritório e amadurecido, desculpe a franqueza, não deve esperar pela sorte de um jackpot. Deve, sim, ir para a frente e procurar parceiros para essa realização. O que faz falta são boas ideias e vontade de as concretizar. Por isso, Caro Bartolomeu, se me permite um conselho, aproveite a riqueza da felicidade que já ganhou e não espere por ser milionário do euromilhões.

    Suzana
    Jogar, nem que para tal se vão os últimos tostões do mealheiro, numa fila à chuva, ao frio e ao vento para comprar os números mágicos, é uma esperança e alivia os problemas reais. Assim, se vai encanando a perna à rã ou, como diz o povo, tristezas não pagam dívidas...

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  5. Retribuo os agradecimentos, pelas suas palavras incentivadoras, cara Drª. Margarida.
    Sabe, ao longo dos meus 55 anos de vida, sempre porjectei mas nunca apressei os acontecimentos, a sua sucessão aconteceu sempre da forma e no tempo que lhes foi devido. E, estou confiante que este tempo projectado, chegará também. Se assim for, cá estarei prontinho para lhes dar andamento.
    ;)
    Tenho imaginado um outro projecto de menor dimensão estructural, mas que me parece de muito interesse e que, sem querer abusar da sua paciência, lhe vou dar nota.
    A ideia surgiu-me ha um par de anos, da seguinte experiência: O meu sogro construiu no sotão da moradia onde habita, uma pista de comboios eléctricos da "Marklin".
    Foi uma colecção que começou quando o meu cunhado nasceu, já passaram 40 anos. A pista compõe-se de vários modelos de máquinas e carroagens, comboios de passageiros e de mercadorias, estações passagens de nível, pontes túneis, casas, etc. O meu sogro, com a sua imensa paciência, montou e ampliou ao longo dos anos, construindo uma verdadeira vila típica da Suiça, que parece ganhar vida, quando as luzinhas dos candeeiros e dos edifícios se acendem e os comboios se iluminam e ganham movimento. Quando os meus filhos eram pequenos e visitavam o avô, estavam proibidos de mexer nos botões que controlam os comboios, as luzes, o guindaste, etc. Estavam reduzidos a observar. Por vezes, às escondidas, lá nos surripiávamos para o sótão e de mansinho com a minha supervisão, faziam o gosto ao dedo.
    Nessa altura, a ideia que construí, foi que se tratava de um brinquedo caro, só acessível a graúdos, portanto, sem interesse de maior para as crianças.
    Ha sensivelmente 2 anos, numa festa de anos em casa do meu sogro, uma prima da minha mulher que tem 2 filhos pequenos, pediu-me para lhes mostrar o comboio a funcionar. Lá fomos ao sótão, liguei os fios, apaguei a luz e deu-se a magia. Uma magia momentânea, porque passados 2 ou 3 minutos, depois de verem o comboio surgir do túnel e de passar sobre a ponte, o interesse dos miudos, passou a focar-se em alguns brinquedos antigos que se encontram expostos em vitrines e voltaram as costas ao comboio.
    Achei estranha a atitude e lembrei-me de começar a contar uma história. Chamei-os de novo para junto da pista e comecei a contar-lhes a história da construcção de uma vila, das casas, das ruas, das lojas de comércio, das bibliotecas, dos hospitais, a agricultura, o percurso dos vegetais e dos animais que servem para a alimentação desde a produção até ao consumidor, a forma como o comboio é utilizado para esse fim, etc.
    Olhe, cara Margarida, estivemos ali entertidos durante mais de uma hora, eu a inventar e eles a acompanharem, só terminando quando fomos chamados para a mesa.
    Esta experiência levou-me a imaginar uma forma de, em colaboração com as escolas e as câmaras municipais, usando os espaços dos pavilhões polidesportivos que já existem em práticamente todas as localidades, oferecer aulas práticas e ao vivo, de economia, produção, organização e comércio, às crianças do ensino primário e quem sabe, às do secundário tambem.
    É mais um, dos vários projectos que me bailam na imaginação e que, se um dia surgirem as ocasiões, estarei pronto para executar.
    ;)

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  6. Caro Bartolomeu
    Há realmente pessoas muito interessantes que coleccionam coisas muito interessantes. É uma arte, que implica uma enorme dedicação. No caso do seu Sogro implica muito mais, muita criatividade e persistência. Uma colecção pode ser uma vida ou melhor o reflexo de uma vida. E às vezes é uma pena que as "obras" não possam ser apreciadas por mais pessoas, pois que muitas das colecções transportam ensinamentos importantes. Não se trata apenas de apreciar o que os olhos vêem, mas de transportar para dentro de nós muitos outros sentimentos e emoções. Faz bem à cabeça e ao coração.
    O seu projecto, Caro Bartolomeu, é inovador e concretizável. Numa época em que precisamos de mostrar aos mais novos como se faz e vive a socialização, a sua ideia faz todo o sentido. A vertente da cidadania também pode ser incluída.
    Estava aqui a pensar no seguinte. Um das formas de arrancar com uma ideia é experimentá-la para testar a sua validade e melhorá-la com os resultados. O Caro Bartolomeu poderia criar uma instituição de solidariedade social (sem, fins lucrativos) vocacionada para apoio às actividades escolares. Poderia começar com um projecto-piloto em parceria com a Câmara Municipal e as escolas do seu Conselho.
    A esta sua ideia chama-se inovação social. Parabéns!

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  7. Cara Drª. Margarida, cumpre-me agradecr-lhe, com toda a sinceridade e humildade, a atenção e apoio que dedica a estas minhas ideias.
    Tem toda a razão, cara Drª. Margarida. É algo em que já pensei inúmeras vezes, porém, confesso-lhe, sou frequentemente vítima de uma desvantagem; habitualmente, ou porque não exponho convenientemente as minhas ideias, ou porque existe algo que não identifico mas que condiciona a atenção daqueles a quem as exponho (como muito recentemente o nosso amigo Transtagano certificou e admitiu), as minhas ideias dificilmente são entendidas, encontram apoio.
    Até cerca dos 35 anos de idade, vivi num permanente stress, devido à catadupa de ideias que me surgiam e que desejava realizar a todo o custo. Desde essa altura, modifiquei a minha forma de gerir os meus projectos. A ideias aparecem-me, alimento-as, estudo a sua exequibilidade, por vezes tomo apontamneto de certos pormenores e fico em stand-by, aguardando a melhor conjuntura para as colocar em prática.
    Não quero dizer com isto que sinta enfraquecer a chama que ilumina esta minha faceta, mas, desisti de remar contra a amaré daquilo que identifico como falta de visão e falta de vontade de fazer.
    Na história da humanidade sempre existiram os que criam a ideia e os que a executam... quem sabe se é esse o meu "papel" na representação desta peça teatral que é a vida?!
    ;)
    Seja como for, rejo a minha vida de "projectista" por um princípio que me parece basilar; Saber o passado, aproveita-lo e não desdenhar dele, tentando desta forma contribuir mesmo que falívelmente, para o bem comum.
    ;)

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  8. Caro Bartolomeu
    Não é para agradecer. Com tão boas ideias não desista de as procurar concretizar. Normalmente não fazemos nada sozinhos. Cada vez mais temos que nos completar com os outros. O importante é encontrar os parceiros certos. Claro que é preciso procurá-los. Por isso, procure-os e mostre-lhes as suas ideias.

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  9. Samuel Johnson, autor do poema "The Vanity of Human Wishes", escreve;
    Who frown with Vanity, who smile with Art, And ask the latest Fashion of the Heart.
    O mais importante, acima de tudo, é encontrarmos a espiritualidade, a nossa e dos que completam a nossa existência.
    Será este o motivo porque gosto tanto de conversar consigo, cara Drª. Margaruda?!
    ;)

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  10. Caro Bartolomeu
    É recíproco. As coisas verdadeiramente importantes estão nos planos espiritual e transcendental. As terrenas vêem por acréscimo. Talvez seja esta uma razão...

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