Não é difícil compreender que as más condições sociais, económicas e culturais têm consequências negativas na saúde e no bem-estar das pessoas. No entanto, é preciso começar a ver certos problemas sob outro ângulo, ou seja, muitas condições sociais não são as causas, mas antes consequências de efeitos adversos ocorridos em criança, os quais originam modificações químicas no cérebro, perpetuando deste modo efeitos secundários muitas vezes atribuídos às condições sociais. Vejamos se consigo ser mais explícito. As crianças que sofrem determinados eventos adversos acabam por sofrer alterações da química do ADN cerebral, as quais irão continuar ao longo da vida, mesmo quando os tais acontecimentos desaparecerem, moldando a personalidade e criando um estado de ansiedade crónica do qual nunca mais se libertam. Deste modo, influenciados por este estado permanente de ansiedade, as vítimas de efeitos adversos em criança acabam por ter condutas e riscos de saúde muito preocupante, caso de aumento de risco de diabetes, de enfarte do miocárdio, doenças pulmonares, só para falar daquelas que têm um componente físico evidente. Esta situação de stresse crónico, induzido por más experiências em criança, mesmo que tenham desaparecido há muito, continua a fazer das suas, a ponto de as vítimas apresentarem níveis mais elevados de uma proteína inflamatória sérica do que os que não tiveram essas experiências. Curiosamente, essa proteína é hoje reconhecida como um importante marcador de risco cardiovascular.
Em muitas circunstâncias, aquilo que parece ser uma situação social é de facto uma situação neuroquímica. Esta abordagem, nova e muito importante, irá obrigar-nos a rever certos conceitos e até propor medidas preventivas.
O seu a seu dono. Estas observações resultam da leitura de um interessante artigo (The Poverty Clinic), publicado no New Yorker, por Paul Tough, com base na experiência de uma médica, Nadine Burker. Uma abordagem que merece muita atenção, não só em relação aos aspetos sociais e comportamentais, mas também físicos. Neste último caso, a prevenção que se anda, por exemplo, a fazer com as estatinas, para reduzir o risco cardiovascular, exige medidas idênticas no tocante aos efeitos adversos em criança. Talvez se possa explicar, deste modo, muito do insucesso da prevenção cardiovascular quando se utilizam medicamentos para baixar o colesterol ou a tensão arterial. Ou seja, existem outros fatores de risco, condicionados pelas tais alterações neuroquímicas cerebrais ocorridas em criança, que irão manifestar-se mais tarde através de certas doenças, como o enfarte do miocárdio, ou, então, poderemos explicar que certas pessoas, que não fumam, nem têm quaisquer riscos cardiovasculares importantes, nem antecedentes hereditários, possam vir a sofrer certos tipos de doenças. Um estado de ansiedade crónica, irreversível, produzido por traumas infantis, pode determinar o futuro clínico e social de muitas pessoas e nem sempre é o social que explica muito do seu comportamento; podendo ser mais uma consequência.
Quem sabe se, também, em relação à diabetes, doença em franca expansão e cujas características hereditárias são bem conhecidas, assim como maus hábitos alimentares aliado à falta de exercício, não deverá ter como companhia os tais acontecimentos adversos em criança?
Prevenir? Sim. Às tantas é tão importante combater os traumas infantis como dar estatinas, ou quaisquer outros produtos tendentes a baixar o colesterol, para prevenir algumas doenças cardiovasculares.
Um área do conhecimento que merece muita atenção, até, porque, pelo que me é dado ver, as nossas crianças não andam a ser bem tratadas e, no futuro, irão sofrer e depauperar a saúde e a economia da sociedade.
Não é de excluir que muitas patologias, que hoje afetam os portugueses, tenham a ver com um passado infantil traumatizante. E quem sabe se muitas das que irão afetar os portugueses no futuro não terão a ver com o que hoje andamos a fazer? Asneiras e mais asneiras! E os nossos descendentes é que irão sofrer...
O seu a seu dono. Estas observações resultam da leitura de um interessante artigo (The Poverty Clinic), publicado no New Yorker, por Paul Tough, com base na experiência de uma médica, Nadine Burker. Uma abordagem que merece muita atenção, não só em relação aos aspetos sociais e comportamentais, mas também físicos. Neste último caso, a prevenção que se anda, por exemplo, a fazer com as estatinas, para reduzir o risco cardiovascular, exige medidas idênticas no tocante aos efeitos adversos em criança. Talvez se possa explicar, deste modo, muito do insucesso da prevenção cardiovascular quando se utilizam medicamentos para baixar o colesterol ou a tensão arterial. Ou seja, existem outros fatores de risco, condicionados pelas tais alterações neuroquímicas cerebrais ocorridas em criança, que irão manifestar-se mais tarde através de certas doenças, como o enfarte do miocárdio, ou, então, poderemos explicar que certas pessoas, que não fumam, nem têm quaisquer riscos cardiovasculares importantes, nem antecedentes hereditários, possam vir a sofrer certos tipos de doenças. Um estado de ansiedade crónica, irreversível, produzido por traumas infantis, pode determinar o futuro clínico e social de muitas pessoas e nem sempre é o social que explica muito do seu comportamento; podendo ser mais uma consequência.
Quem sabe se, também, em relação à diabetes, doença em franca expansão e cujas características hereditárias são bem conhecidas, assim como maus hábitos alimentares aliado à falta de exercício, não deverá ter como companhia os tais acontecimentos adversos em criança?
Prevenir? Sim. Às tantas é tão importante combater os traumas infantis como dar estatinas, ou quaisquer outros produtos tendentes a baixar o colesterol, para prevenir algumas doenças cardiovasculares.
Um área do conhecimento que merece muita atenção, até, porque, pelo que me é dado ver, as nossas crianças não andam a ser bem tratadas e, no futuro, irão sofrer e depauperar a saúde e a economia da sociedade.
Não é de excluir que muitas patologias, que hoje afetam os portugueses, tenham a ver com um passado infantil traumatizante. E quem sabe se muitas das que irão afetar os portugueses no futuro não terão a ver com o que hoje andamos a fazer? Asneiras e mais asneiras! E os nossos descendentes é que irão sofrer...
Diz-se que quando as pessoas estão deprimidas é mais fácil terem doenças, numa espécie de vontade de se deixarem destruir. Mas como proteger as crianças doq ue as pode afectar ao ponto de se tornarem ansiosas crónicas? Hoje di-se também que superprotegemos as crianças e elas ficam sem defesas para enfrentar a vida, por outro lado se a educação for mais severa as menos sensíveis ganham resistêncas e as outras podem ficar doentes para toda a vida. A natureza humana pode ser explicada mas é muito difícil respeitá-la...
ResponderEliminarSusana
ResponderEliminarAs agressões dentro de um determinado contexto e desde que não ultrapassem certos limites são indispensáveis a uma adequada estrutura física e mental. O que eu queria explicar é que agressões violentas, inusitadas, de cariz físico, mental, social a que muitas crianças estão sujeitas, acarretam modificações biológicas a nível cerebral que, mais tarde, determinam comportamentos sociais que estão tradicionalmente associados a certos tipos de sociedade, pobreza, miséria, quando na realidade este tipo de sociedade pode, em grande parte, ser filha daquelas mudanças operadas a nível cerebral e não ser ela a causa, mas sim uma consequência, uma espécie de círculo vicioso que importa destruir. Quando se conhecem os mecanismos de certos fenómenos temos de atuar em conformidade, mas, se como diz, é difícil respeitar a natureza humana, então o que fazer? Deixar andar, aceitar as coisas, ou tentar atuar para evitar os problemas e o mal-estar individual e social? O que pretendi transmitir, e confesso que talvez não o tenha conseguido, é que temos de criar novos paradigmas de acordo com os novos conhecimentos.
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarO crescimento mais ou menos saudável das crianças, que passa pelo ambiente familiar, pela alimentação e cuidados de saúde e pela socialização e vida comunitária, marca o seu futuro.
Uma criança que cresce no seio de uma família desestruturada, sujeita a actos de violência que põem em causa a sua integridade física e emocional, com dificuldades acrescidas de uma boa integração social, não deixará de transportar consigo uma marca negativa com reflexos em aspectos físicos e comportamentais ao longo da sua vida.
É por isso que as crianças devem merecer da parte da sociedade uma especial atenção, em que a prevenção tem um papel muito importante a desempenhar.
Será sempre difícil definir uma fronteira entre as causas e os efeitos das condições sociais, mas não há dúvida que a vida que é proporcionada às crianças, para o bem e para o mal, tem consequências não apenas ao nível individual mas também ao nível colectivo.
Caro Massano Cardoso, exprimiu-se perfeitamente, acontece é que não é fácil actuar de acordo com a evolução dos conhecimentos,e a mudança de comportamentos é sujeita a influências contraditórias. Mas é claro que o facto de se saber a razão das coisas só pode ajudar a evitá-las.
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