sábado, 2 de abril de 2011

"Ser e estar"

Fala-se, hoje, muito de ética. Não há nenhuma área, em que o ser humano navegue, que a ética não esteja presente, apesar de não ser, infelizmente, muitas vezes praticada. Veja-se o que se passou, e o que se passa, com a atual crise financeira. Há quem afirme que se a ética presidisse a muitos dos negócios não chegaríamos aonde chegámos. No entanto, outros afirmam que, mesmo que se tivesse sido dada formação e preparação em ética, chegaríamos aos mesmos resultados. Esta afirmação confundiu-me e provocou-me um dilema ético, como é fácil de calcular. Como explicar então esta afirmação? Dizem os entendidos que a intervenção ética falhou, e vai continuar a falhar, por causa do pressuposto “de que os decisores são capazes de reconhecerem um dilema ético quando estão perante um”, mas parece que não é o caso. O treino ético implica que a componente moral das decisões seja reconhecida e tomada em conta pelos executivos, como se estes escolhessem a via moral. Mas não, preferem escolher aquela que dê mais “lucros”, na sua vertente mais ampla. Não significa que sejam desprovidos totalmente de princípios éticos, significa isso sim que são capazes de reconhecerem os dilemas quando colocados aos outros e serem capazes de julgar se foram ou não eticamente corretos. Não admitem a hipocrisia moral nos outros, mas nem sempre são capazes de a ver em si mesmo, como se houvesse uma força interior a comandar as suas decisões. Poderíamos sintetizar esta ideia da seguinte maneira: ética sim, sobretudo se forem os outros a decidir, mas, quando somos nós a executar, as coisas complicam-se e tornamo-nos injustos nas decisões. Há grandes diferenças entre os que decidem e os que esperam as decisões, ou seja entre o “que somos, o que pensamos e o que devemos fazer”. Pondo de lado, as manifestações de caráter, estou convicto de que terá de haver maneira de desenvolver uma ética comportamental baseada em princípios que têm sido omitidos e desvalorizados ao longo da formação nas diferentes culturas. Mesmo que se ultrapasse a atual crise, nada impede que não surja outra daqui a uns tempos, porque o que está na base de tudo e, neste caso, das decisões políticas e económicas, são problemas de comportamento e de formação, deficientes, em que o próprio componente biológico marca, em parte, o compasso.
Vamos à luta, vamos trabalhar mais, temos de fazer sacrifícios, produzir como deve ser, manifestar solidariedade - o que conseguimos fazer sempre que caímos na miséria -, mas, ao fim de algum tempo voltaremos ao mesmo. A história está cheia de exemplos. Repete-se de forma obscena. Seria interessante lembrar que os princípios já existem há muitos séculos, não precisam de ser inventados, mas necessitam de ser incorporados no comportamento humano, de forma a que as próximas gerações não corram riscos tão graves como os que nos afligem.
Como alguém disse há dias, num decurso de um debate: “ser” é diferente de “estar”. Uma pequena frase que poderia mudar o mundo, mas presumo que passou despercebida e, no entanto, foi a mais contundente e certeira de todas.

4 comentários:

  1. Pergunto eu (sim caro Rui, eu sei, se o verbo está conjugado na 1ª pessoa do presente do indicativo, dispensa o artº, mas pronto, isto é um pouco como o fulano a quem o médico aconselha a deixar de beber o bagaço em jejum, mas o tipo acha que tem de matar o bicho...) mas... o que é que eu perguntava?!
    Ah!
    Perguntava o seguinte: Quando é que conhecemos o ladrão?
    ;)))))))))
    Pois é!
    É isso mesmo!
    Quando o tipo rouba, e algumas vezes, só depois de provado o roubo.
    Mas então, questionemo-nos; o fulano que rouba, não era já ladrão, antes de efectuar o roubo?
    Hmmmmm...
    Nnnnnão?!
    Quer dizer... o ladrão que roubou, era a mesma pessoa, antes de ter roubado.
    Aiiiiii!!!
    Que baralhação... deixe-me assentar ideias... o fulano que nunca roubou, não é ladrão, só depois de ter roubado é que passa a ser, mas... se o tipo nunca foi apanhado a roubar?
    Aiiiii que raiva!!!
    Pronto, a culpa é da sociedade que julga os tipos que roubam e, fim de discussão!
    Pronto!

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  2. Ó Rui, você não leve a mal as minhas brincadeiras, por favor.
    Tenho uma máxima que é a seguinte: Só brincam conosco, aqueles que nos deferenciam, os que não nos gramam, ou ignoram-nos, ou tentam lixar-nos.
    Eu, estimo-o!
    Um grande abraço!

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