No fim-de-semana passado, um canal de televisão transmitia num telejornal uma arruada do PSD. Às tantas, Pedro Passos Coelho é abordado por uma senhora que lhe gritou, mais ou menos, o seguinte: o senhor tem repetir mais vezes as mesmas frases, é para o povo entender.
Lembrei-me da "cassete" do PCP. Quem é que não a conhece? A palavra cassete esteve durante muito tempo associada ao discurso dos comunistas. Era sempre a mesma coisa, os anos passavam mas a luta do proletariado contra o capital era intemporal, era um desígnio utópico a conferir todo o sentido à luta comunista pela libertação do povo. A cassete agora é a mesma, mas de tanto uso ficou um bocado riscada.
Uma cassete tinha a vantagem de ser conhecida, bastava carregar no botão e a mesma música voltava a cantar. Os que gostavam da música voltavam a ouvi-la com a mesma atenção de sempre, reforçando-lhes a memória não fosse o lapso de tempo desde a última audição ter apagado os sons da foice e do martelo. Os que não gostavam poupavam tempo e nervos porque convenhamos que ouvir sempre a mesma coisa é um exercício algo doentio.
A cassete tinha um sentido depreciativo. Hoje parece que já não é assim. Basta olhar para o discurso político e para o panorama mediático. É cada vez mais difícil encontrar uma lógica coerente, um conjunto de ideias encadeadas que façam sentido, uma relação de causa e efeito entre factos e as suas consequências. Na ânsia de captar a popularidade, as mensagens a transmitir são simplificadas até à caricatura. E quem não entrar neste registo é castigado. Dispensam-se grandes argumentos e as questões mais complexas têm que ser reduzidas a poucas palavras, se possível rematadas com uma frase sonante. Os assuntos realmente importantes são reduzidos ao facto solto, à emoção passageira, à pequena e grande intriga. Discursos muito explicadinhos e direitinhos não são necessários, os detalhes são maçadores, o que importa é engrenar em uma dúzia de palavras sonantes e repeti-las até à exaustão para que o povo as entenda.
Os eleitores estão cansados e descrentes. Há que seduzi-los, facilitando-lhes o pensamento e a decisão, no pressuposto de que não têm cultura, nem vontade, nem tempo para perder com intervenções mais elaboradas. Uma tendência medíocre que já vem de longe.
É nesta crise de qualidade que não ter uma cassete eleitoral passou a ser uma desvantagem. O importante é “vira o disco e toca o mesmo”...
Lembrei-me da "cassete" do PCP. Quem é que não a conhece? A palavra cassete esteve durante muito tempo associada ao discurso dos comunistas. Era sempre a mesma coisa, os anos passavam mas a luta do proletariado contra o capital era intemporal, era um desígnio utópico a conferir todo o sentido à luta comunista pela libertação do povo. A cassete agora é a mesma, mas de tanto uso ficou um bocado riscada.
Uma cassete tinha a vantagem de ser conhecida, bastava carregar no botão e a mesma música voltava a cantar. Os que gostavam da música voltavam a ouvi-la com a mesma atenção de sempre, reforçando-lhes a memória não fosse o lapso de tempo desde a última audição ter apagado os sons da foice e do martelo. Os que não gostavam poupavam tempo e nervos porque convenhamos que ouvir sempre a mesma coisa é um exercício algo doentio.
A cassete tinha um sentido depreciativo. Hoje parece que já não é assim. Basta olhar para o discurso político e para o panorama mediático. É cada vez mais difícil encontrar uma lógica coerente, um conjunto de ideias encadeadas que façam sentido, uma relação de causa e efeito entre factos e as suas consequências. Na ânsia de captar a popularidade, as mensagens a transmitir são simplificadas até à caricatura. E quem não entrar neste registo é castigado. Dispensam-se grandes argumentos e as questões mais complexas têm que ser reduzidas a poucas palavras, se possível rematadas com uma frase sonante. Os assuntos realmente importantes são reduzidos ao facto solto, à emoção passageira, à pequena e grande intriga. Discursos muito explicadinhos e direitinhos não são necessários, os detalhes são maçadores, o que importa é engrenar em uma dúzia de palavras sonantes e repeti-las até à exaustão para que o povo as entenda.
Os eleitores estão cansados e descrentes. Há que seduzi-los, facilitando-lhes o pensamento e a decisão, no pressuposto de que não têm cultura, nem vontade, nem tempo para perder com intervenções mais elaboradas. Uma tendência medíocre que já vem de longe.
É nesta crise de qualidade que não ter uma cassete eleitoral passou a ser uma desvantagem. O importante é “vira o disco e toca o mesmo”...
Eu estava aqui a pensar num comentário interessante sobre cassettes, repetições, sobre a história que se repete e tal, mas como não sai nada de jeito, deixo este link com um sketch antiguinho, mas surpreendentemente actual:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=Enhm4_XL7qE&feature=player_embedded
("roubado" no 31 da Armada)
Felicito-a cara Drª Margarida, por ter conseguido compôr tão bem, um texto acerca de um assunto difícil, que tem sido objecto de profundos estudos psicológicos.
ResponderEliminarCom efeito, neste período de campanha eleitoral, de discursos, de debates e de contacto directo com o público, assistimos a atitudes tanto dos candidatos, como daqueles que os escutam e cumprimentam, que nos deixam atónitos.
Aquilo que a cara Dr. Margarida refere, relativamente à repetição das frases ou das palavras-chave, demonstra o vácuo intelectual que existe nos intervenientes de ambos os lados. Se por um lado, se demonstra necessário recorrer a "técnicas" de adormecimento para convencer os votantes, por outro percebemos que os candidatos de quem seria esperável um discurso simples, claro, directo, não se apresentam capazes de o apresentar ao eleitorado, preferindo a forma repetitiva, tendencialmente enganosa e vazia de objectividade.
Uns, pensarão que mais palavreado é desnecessário, outros, pensarão que mesmo pouco, é demasiado, porque tal como refere, o discurso é de "vira-o-disco-e-toca-o-mesmo.
E neste déjà vu recorrente, geral e completamente demagógico, corrosivo e coersivo, se vão gastando os preciosos momentos que deveríam ter como finalidade suprema, a de apresentar propostas e projectos para governar o país e os portugueses.
Estas constatações só nos podem conduzir à conclusão que o caro Tonibler não se cansa de nos demonstrar. Votar é a maior estupidez, o maior erro que alguem mínimamente informado, pode cometer.
Ás tantas começo a acreditar nas profecias que o Virgílio Castelo apresenta no seu "O último navegador"... ai começo, começo.
Esses pressupostos não estão exactamente errados. O sistema é que tem que se ajustar automaticamente a isso.
ResponderEliminarSim, "ninguém" tem pachorra para ouvir uma explicação mais sofisticada ou que exija ser mais mastigada. Na realidade, se fosse feita uma sondagem preocupada em quem já ouviu o que quer que seja de programas eleitorais, duvido que passe os 5%. Mas isto não é errado, está certo por definição. Quando dizemos que é o soberano, é para o bem e para o mal. O que isto significa é que o poder do colectivo deveria ser reduzido em função da indiferença de cada um face a esse colectivo, por outras palavras, o estado deveria ser truncado.
Cara Margarida,
ResponderEliminarEm cheio! Eu julgo que a nossa comunicação social exige tudo muito simples, muito direitinho, muito fácil de entender e muito repetitivo, porque de outra forma torna o seu trabalho muito difícil. Já imaginou a maioria dos nossos jornalistas serem obrigados a ler e a estudar o memorando de entendimento da troika? E em inglês? Mas que trabalheira!!! O importante nunca é o conteúdo. O importante é sempre a forma. Fazem-me lembrar aqueles estudantes que por preguiça, ou por falta de tempo, produzem uns "powerpoints" cheios de efeitos muito giros e modernos mas cujo conteúdo é muito próximo de zero.
Hoje, depois de ouvir alguns comentadores do regime, num das canais de televisão, fique com a profunda certeza que não conheciam o texto da troika com a profundidade exigida, nem o programa eleitoral do PSD. Até comentei com a minha esposa "somos, TODOS, de facto medíocres; não podemos, MESMO, competir com os restantes povos da Europa."
Imagine, Cara Margarida, viver na Finlândia ou, até, na República Checa e ter como candidato a Primeiro Ministro um senhor que levou o país quase à bancarrota. Sinceramente, não me parece que algum comentador do regime ou fora do regime não lesse tudo o que o senhor assinasse com o máximo cuidado. É que para além de ser esse um dos seus deveres, é o futuro do país que estaria em equação. Neste país é o que sabemos. A nossa comunicação social não passa de um centro de difusão de propaganda e uma boa parte dos nossos prezados comentadores nem se dá ao trabalho de estudar os dossiers antes de os comentar!
Margarida, quem é que hoje ia ouvir o debate (a preto e branco) entre Mário Soares e Álvaro Cunhal o tal que deixou para a história o "olhe que não, olhe que não"? Que seca, quase duas horas e sem se interromperem, cada um a discorrer sobre as respectivas ideias! Quanto às cassetes, já ninguém sabe o que eram, mas é uma questão de "sofisticação tecnológica", só muda a presentação mas o efeito é o mesmo, impedir de pensar, repetir tantas vezes até ficar no ouvido, como uma certeza.
ResponderEliminarÓ Dra. Margarida! Isso é que foi um belíssimo tiro no porta-aviões. :)
ResponderEliminarHonestamente, não me espanta que isto suceda. Nós andamos hà anos a promover o facilitismo e a ignorância através da educação. Andamos a formar ignorantes à pazada. Pessoas incapazes de compreender a mais simples informação escrita, incapazes de se expressarem claramente quer através da escrita quer através da oralidade e incapazes de relacionarem factos. No entanto, a contrariar isto tudo, sabemos que qualquer pessoa consegue publicar um livro de hoje em dia.
Eu não sei se já alguma vez teve oportunidade de ler um livro de reclamações, mas eu já tive e posso assegurar-lhe que é de chorar a rir. Se me deixassem, eu publicava aquilo tudo só para que as pessoas tivessem a noção do grau de ignorância a que chegámos.
Apesar de me ter divertido a ler aquele livro de reclamações, a verdade é que aquilo revela uma situação bastante trágica. Penso que foi o Tonibler (não tenho a certeza) que, aqui há uns tempos atrás, dizia que as pessoas achavam que só tinham direitos e é verdade. Só que esses direitos, fazem parte de um conjunto de regras que devem ser seguidas e as pessoas não conseguem perceber isso, acham que um direito é uma coisa que nasce espontaneamente numa árvore.
Por isso quando a Dra. Margarida fala em "crise de qualidade", está a falar numa crise que é transversal à sociedade portuguesa e isto já para não dizer que repetições exaustivas fazem-me lembrar de um cão de um tipo chamado Pavlov.
Caro AF
ResponderEliminarEstava a ver que o nariz de tão grande acabaria por se partir...
Caro Bartolomeu
Obrigada pelas suas palavras. Vivemos, passo a redundância, a vida a correr, é a fast life prisioneira da futilidade que leva à ultra simplificação de tudo e à infantilização do discurso público. O resultado é o empobrecimento da expressão de pensamento. A falta de cultura não rima com desenvolvimento...
Caro Tonibler
Pois é, é uma "pescadinha de rabo na boca"...
Caro Fartinho da Silva
A lei do menor esforço deve ser a lei com mais aplicação em Portugal. Instalou-se a ideia de que a comunicação e a forma é que são importantes. Hoje o voto privilegia a comunicação e não a competência. Os eleitores votam em comunicadores e o "resto", que é o mais importante, está em segundo plano. Está instalado o primado do virtual e da ilusão.
Suzana
São as cassetes "power point"!
Cara Anthrax
Sempre gostei de jogar à batalha naval. Acertar no porta-aviões não era nada fácil...
Já tive oportunidade de ler livros de reclamações e reclamações apresentadas através de outros canais. Sim é trágico, como diz. O número de reclamações tem crescido exponencialmente em todos os domínios da actividade económica. Não é apenas porque há uma maior protecção ao consumidor, mas é porque, como bem refere a Cara Anthrax, qualquer contrariedade é transformada num direito. As pessoas não sabem o que é um direito, não se sabem comportar como consumidores responsáveis. É assim, porquê? Vamos sempre dar, invariavelmente, às questões da educação e da formação cívica.
Cara Drª. MCA,
ResponderEliminarNão! Aquele nariz não parte, é flexível "by design"! Aquele, e o outro.
Caro Fartinho da Silva,
"...Fazem-me lembrar aqueles estudantes que por preguiça, ou por falta de tempo, produzem uns "powerpoints" cheios de efeitos muito giros e modernos mas cujo conteúdo é muito próximo de zero.[...] "
se fossem só os estudantes ...