Palavra que vi. Vi no telejornal da RTP 2, em repetição do que já tinha dado na 1. Vi que a repórter enviada a NY para cobertura do caso DSK foi a Bronx, onde fez um “directo”. E que directo foi esse? Pois fiquem sabendo que começou por interrogar diligentemente uns transeuntes sobre que tipo de bairro era aquele. Este é um bairro calmo ou é um bairro problemático, onde há insegurança? , perguntava a um jovem afro-americano. O jovem olhou-a intrigado, hesitou e por fim respondeu com ar de troça, fique cá uns dias e logo vê.
Ela foi então direitinha a um prédio de tijolo, igual aos outros todos e aí parou e perguntou a outro cidadão se era ali a morada da mulher que tinha apresentado queixa contra o director do FMI. O homem disse que sim. E conhece-a? Que sim, que era mulher discreta e pessoa de trabalho. Segue-se a repórter em directo a explicar que ninguém queria levá-la até ao apartamento em concreto, mas depois lá apareceu um voluntário que, com cara de poucos amigos, se dispôs a orientar a equipa de reportagem.
Por esta altura podíamos perguntar-nos qual era a ideia, talvez esperar que alguém abrisse uma frincha ao engano, ela metia o pé para impedir o recuo, avançava o microfone e perguntaria assim à queima roupa se era verdade ou mentira o que circula nos jornais, diga lá aqui à RTP Portugal, dê-me lá essa caixa, foi ele ou foi a senhora quem começou tudo? Faz parte de uma conspiração ou não? E depois, heroicamente, a repórter sairia agarrada à gravação com a imagem da mulher cuja identidade está protegida pela polícia - ou de quem quer que aparecesse a espreitar pela frincha, tanto faz.
Se tudo isto já era surreal, as cenas seguintes são inconcebíveis. A câmara filma a entrada no elevador, o dedo do guia a pressionar o botão para o andar num grande plano emocionante, depois os longos e deprimentes corredores típicos de um prédio miserável, por fim a porta escura, com um postigo com rede.
A repórter esclarece, virada para a câmara e numa voz de grande suspense, estamos agora à porta do apartamento onde a presumível vítima vive há mais de seis meses, mas dizem que desde aquele dia que não voltou cá, está algures, fortemente guardada por medidas de segurança. Vamos ver. Toca à campainha. Espera. Nada, ninguém abre. Pois, não está cá ninguém, diz ela. E então, não fosse estar alguém a tentar enganar o seu faro policial, encosta o ouvido à porta e aguarda uns longos instantes, a detectar eventuais ruídos que pudessem denunciar a presença de alguém! No nosso écran ela aparece assim, colada à porta, o ouvido encostado, os olhos expectantes de emoção. Desistiu, desiludida. Não, nada, devia estar mesmo vazio o apartamento, era mesmo verdade que a senhora não estava lá. E a câmara filmou o mesmo caminho de volta.
Entre o anúncio da "reportagem" e a "reportagem" propriamente dita, foram uns largos minutos de telejornal.
Ela foi então direitinha a um prédio de tijolo, igual aos outros todos e aí parou e perguntou a outro cidadão se era ali a morada da mulher que tinha apresentado queixa contra o director do FMI. O homem disse que sim. E conhece-a? Que sim, que era mulher discreta e pessoa de trabalho. Segue-se a repórter em directo a explicar que ninguém queria levá-la até ao apartamento em concreto, mas depois lá apareceu um voluntário que, com cara de poucos amigos, se dispôs a orientar a equipa de reportagem.
Por esta altura podíamos perguntar-nos qual era a ideia, talvez esperar que alguém abrisse uma frincha ao engano, ela metia o pé para impedir o recuo, avançava o microfone e perguntaria assim à queima roupa se era verdade ou mentira o que circula nos jornais, diga lá aqui à RTP Portugal, dê-me lá essa caixa, foi ele ou foi a senhora quem começou tudo? Faz parte de uma conspiração ou não? E depois, heroicamente, a repórter sairia agarrada à gravação com a imagem da mulher cuja identidade está protegida pela polícia - ou de quem quer que aparecesse a espreitar pela frincha, tanto faz.
Se tudo isto já era surreal, as cenas seguintes são inconcebíveis. A câmara filma a entrada no elevador, o dedo do guia a pressionar o botão para o andar num grande plano emocionante, depois os longos e deprimentes corredores típicos de um prédio miserável, por fim a porta escura, com um postigo com rede.
A repórter esclarece, virada para a câmara e numa voz de grande suspense, estamos agora à porta do apartamento onde a presumível vítima vive há mais de seis meses, mas dizem que desde aquele dia que não voltou cá, está algures, fortemente guardada por medidas de segurança. Vamos ver. Toca à campainha. Espera. Nada, ninguém abre. Pois, não está cá ninguém, diz ela. E então, não fosse estar alguém a tentar enganar o seu faro policial, encosta o ouvido à porta e aguarda uns longos instantes, a detectar eventuais ruídos que pudessem denunciar a presença de alguém! No nosso écran ela aparece assim, colada à porta, o ouvido encostado, os olhos expectantes de emoção. Desistiu, desiludida. Não, nada, devia estar mesmo vazio o apartamento, era mesmo verdade que a senhora não estava lá. E a câmara filmou o mesmo caminho de volta.
Entre o anúncio da "reportagem" e a "reportagem" propriamente dita, foram uns largos minutos de telejornal.
Palavra que vi.
Cara Suzana,
ResponderEliminarBelíssima descrição desse arrojado, muito arriscado mesmo trabalho de reportagem da "nossa" delta RTP!
Chega a ser comovente a situação de risco extremo a que se expôs a reporter, para nos trazer informação da melhor e bebida na fonte!
Que pobreza...
Vai ver, cara Drª. Suzana, que a reporter fez escola com os famosos detectives Duarte & Companhia.
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=fcp2oKnMy8M
Mas ao que parece, ainda vai ter de roer muitos ossos, até que consiga chegar-lhes aos calcanhares, se a sorte a ajudar...
Serviço público que custa 1 milhão por dia...
ResponderEliminarMeu Deus! Que drama! A senhora deve andar a treinar para ser atriz e realizadora ao mesmo tempo. Vão ver que daqui a uns tempos irá surgir uma nova estrela no firmamento...
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarTudo a bem do serviço público de televisão para que mostre serviço e sirva o país com um serviço de qualidade!
Serviço público que custa um milhão por dia e 4,50 euros na minha e na vossa factura da luz.
ResponderEliminarPrivatizar esse ninho de boys e girls é uma necessidade urgente!!!!
E é uma necessidade também para a nossa saúde mental, porque os programas da RTP são um atentado à nossa inteligência.
Uma vergonha de reportagem. Mas a grande culpa não é do repórter. É de quem o enviou.Um desperdício intolerável de recursos num tema por demais coberto por todas as agências internacionais.
ResponderEliminarNum país a saque, uma informação pública a saque.
:O!!!!!!
ResponderEliminarEu estou a pagar 4,50 € na factura da luz para isto???? :O!!
4,50 €!!!!!! :O!
Vou já ver que mais é que ando a pagar... filhos de uma grandessíssima... "mamacita".
Não saíria mais barato ao erário público internar essa gente que permite coisas destas?
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEsperemos não chegar a esse ponto, caro Paulo, mas já não digo nada, também vejo pouca televisão, o que me leva a ficar ainda mais preocupada porque quando a ligo dou com isto...
ResponderEliminarCaros comentadores, não sei se será um problema de privatização, os outros canais não me inspiram mais confiança nem, em geral, nos poupam a semelhantes espectáculos de nos tomar por idiotas. Um pouco de respeito por aqueles a quem apresentam o trabalho, isso sim, seria de facto fantástico, será pedir muito?