… E, enfim, mais de seis anos depois de ter chegado pela porta grande à chefia do Governo de Portugal, José Sócrates sai, agora, por uma porta pequena, com um resultado percentual de 28.05%, pior do que os obtidos, por exemplo, por Pedro Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite enquanto líderes do PSD, respectivamente, nas duas últimas eleições legislativas.
A mudança chegou, pois, a Portugal, tendo ficado expressa de forma bem clara na diferença, superior a 10.5 pontos percentuais, favorável ao PSD, que se traduziu em cerca de 600 mil votos a mais no Partido liderado por Pedro Passos Coelho face ao PS. Se aos 38.63% de votos obtidos pelo PSD juntarmos os 11.74% atingidos pelo CDS, obtemos um total de 129 mandatos (105+24) em 230 na Assembleia da República, suficientes para uma clara maioria absoluta (que ainda pode ser engrossada, porque falta apurar os resultados dos círculos da emigração, que atribuem mais 4 mandatos de deputados).
Feita esta constatação, e perante a evidente mudança expressa pela população portuguesa, a pergunta é: e agora?... Como vai ser?... Ultrapassámos a tempestade e chegámos, já, à bonança?... Ficaram os nossos problemas resolvidos?...
Não, não ficaram – embora ontem tenha sido dado um passo muito importante para que o sejam, por-que quem irá agora conduzir os destinos de Portugal não é quem nos governou nos últimos 6 anos e contribuiu para a situação dramática a que chegámos. Porém, não tenhamos dúvidas: as dificuldades que vamos enfrentar vão ser muito maiores do que as que até aqui temos experimentado. Mesmo ciclópicas. A prova está no pedido de ajuda financeira internacional requerido pelo Governo de Sócrates: não estivesse eminente o colapso financeiro do País, a bancarrota, e ele não teria acontecido.
Mas é assim a vida e, para que Portugal possa dispor dos meios que nos garantirão o indispensável financiamento nos próximos tempos, o Governo que em breve será empossado terá que cumprir escrupulosamente o compromisso assinado com a missão internacional de BCE/CE/FMI no passado mês de Maio. Um Memorandum of Understanding que prevê recessões severas em 2011 e 2012 e um desemprego em níveis record, fruto de correcções imprescindíveis nos insustentáveis desequilíbrios que existem na nossa economia, nomeadamente ao nível do endividamento público e externo. Quer isto dizer que, nos próximos 2 a 3 anos, vamos mesmo ter que mudar de vida – como há muitos anos tenho defendido que devíamos ter feito por nós próprios. Vamos ter que nos “desendividar” (“desalavancar”) – para não viver, como sempre sucedeu desde que nos tornámos uma democracia, acima das nossas capacidades – e, ao mesmo tempo, criar as condições para, no futuro, vivermos com maiores possibilidades (ou seja, realizarmos as transformações estruturais que nos permitirão ser mais produtivos e criar mais riqueza).
Como não o soubemos fazer por nós teremos, agora, a vigilância atenta e apertada de quem já nos está a financiar e o continuará a fazer nos próximos 2 anos. Para que sejam executados cortes drásticos em todas as áreas da despesa pública (incluindo as famosas parcerias público-privadas e empresas públicas) e variados aumentos de impostos. E para que sejam efectivadas perdas de direitos a que a sociedade portuguesa estava habituada mas que não se coadunam com a economia globalizada e competitiva em que hoje nos inserimos (em sectores e áreas como a saúde, a educação, a legislação laboral, o mercado de arrendamento, as leis da concorrência, ou o sistema de justiça, por exemplo, nada mais será como até agora).
Pareceu-me, por isso, sensato que os festejos da parte de quem ganhou as eleições – e que sempre acontecem, sejam quais forem as circunstâncias, mais ou menos difíceis, em que ocorrem os actos eleitorais – tivessem sido moderados. Afinal, na situação em que nos encontramos, pouco há a festejar. Seja por termos chegado até aqui, seja pela tarefa gigantesca que temos pela frente. O caminho é estreito e não podemos falhar (basta-nos olhar para o estado a que chegou a Grécia…) – e, se queremos que o barco chegue a bom porto, é bom termos plena consciência que o mar ainda irá ser mais encapelado nos próximos tempos, a tempestade ainda mais aguda. A mudança chegou, mas não, ainda, a bonança – se bem que, em minha opinião, estejam reunidas, agora, as condições que a ela nos conduzam.
Nota: Este texto foi publicado no Jornal de Negócios em Junho 07, 2011.
Vamos ver se a mudança, traz na bagagem inovação. Noutro caso, não nos chega...
ResponderEliminar... e mesmo só a inovação é curto, caro Bartolomeu... Só com inovação também não vamos lá... a tarefa é mesmo ciclópica!...
ResponderEliminarComo deixou de haver dinheiro
ResponderEliminarpara mais asneiras como as das últimas duas décadas (na Defesa, tenho usado a expressão "crimes económicos",
talvez acabe por não ser assim tão difícil.
Salvo o crescente empobrecimento da plebe.
... é curto, sem dúvida, caro Dr. Miguel Frasquilho, contudo, poderá ser um princípio que após vencida a inércia, se transforme ele próprio na solução capaz de enfraquecer e vencer esse terrível gigante. Até porque a inovação, poderá gozar de vantágem, dado o ciclope possuir um só olho, basta que a nossa, deixe de ser uma terra de cegos.
ResponderEliminarE, inovar, pode perfeitamente ser um processo que se inicie com a mudança de atitude e a vontade de abrir a mente e a alma ao diálogo, ao entendimento, à cooperação e à tolerância. Desafios lançados ontem por Alvaro Barreto e Cavaco Silva, nos seus discursos em Castelo Branco.
Se há coisa que está por provar é que tenha havido mudança.
ResponderEliminarÓ Tonibler... cum carágo... ha que depositar alguma confiança nos propósitos de quem foi eleito (por maioria democrática), senão... passamos a vida a suspeitar da própria sombra.
ResponderEliminar;))))
Bartolomeu,
ResponderEliminarSantana Lopes parecia mau, não parecia? Pois...
Ó Homem... não compare o incomparável...
ResponderEliminar;)))
Santana teve (e note que nem opto por dizer que foi vítima d') uma conjuntura que esperemos, não se volte a repetir neste país.
Agora... o importante é que, quem "lá" esteja, não se esqueça de como lá chegou... e porque lá chegou. E... tão importante, ou mais que isso, não deixe que as forças desestabilizadoras, afectem os seus propósitos, objectivos e ideais.