quinta-feira, 9 de junho de 2011

Grécia: reestruturação avança, processo de alto risco está em marcha...

1.“There is no way we will back a resolution without the involvement of private creditors” – com estas palavras o Ministro das Finanças alemão, Schauble, tornou ontem claro que para haver apoio adicional à Grécia por parte da U.E. terá de haver participação de credores privados, aderindo “voluntariamente” a uma reestruturação da dívida grega.
2.Esta condição aparenta ser essencial para o governo alemão conseguir apoio no Parlamento para um novo plano de ajuda à Grécia, face a uma opinião pública cada vez mais hostil a este tipo de apoios e à resistência de deputados dos partidos que apoiam o governo a outro tipo de solução.
3.Resta agora saber como vai ser negociada esta reestruturação voluntária e que contrapartidas serão concedidas aos credores privados (bancos, institucionais) para assegurar a sua participação neste esquema.
4.Provavelmente os aderentes aceitarão que os títulos de dívida grega de que sejam portadores, no seu vencimento, sejam reembolsados por contrapartida da aquisição de nova dívida, sem qualquer perda de capital (“haicut” 0), a prazos compatíveis com um esperado regresso da Grécia aos mercados e remunerada a taxas de mercado...
5.Restará saber como é que as agências de rating vão classificar esta operação, aceitando que a mesma não tenha qualquer conotação com “event of default”, caso em que teríamos o “caldo entornado” e o BCE em sérios apuros para aguentar os bancos gregos...
6.De acordo com as indicações mais recentes o novo pacote financeiro, para vigorar até 2014 e acrescendo ao de € 110 milhões negociado em Maio de 2010, seria de € 90 mil milhões, dividido em 3 parcelas, sensivelmente iguais, (i) uma de ajuda adicional U.E./FMI, (ii) outra de reestruturação voluntária de credores privados e (iii) uma terceira constituída pelo produto do programa de privatizações.
7.É claro que para isto ser aprovado, será condição “sine qua non” (i) que a Grécia adopte um 5º pacote de austeridade orçamental, de € 9,4 mil milhões, para aplicar já no corrente ano, envolvendo muitos despedimentos na função pública, (ii) aprove e ponha em marcha o programa de privatizações de pelo menos € 50 mil milhões até 2014 e (iii) aceite uma intervenção externa na gestão do seu sistema fiscal e do programa de privatizações...
8.Não se sabe ainda como é que o Parlamento grego vai receber esta condicionalidade, mas os primeiros sinais são de uma grande divisão e oposição, fora e dentro da própria maioria que apoia o governo...
9.Veremos como este dossier vai ser gerido nas próximas semanas, mas ou me engano muito ou ainda vamos assistir a episódios cheios de emoção...um processo de muito alto riso entrou em movimento, qualquer prognóstico quanto ao seu desfecho é neste momento temerário...
10.À especial atenção de Portugal...para que não nos vejamos gregos...

18 comentários:

  1. "5.Restará saber como é que as agências de rating vão classificar esta operação, aceitando que a mesma não tenha qualquer conotação com “event of default”, caso em que teríamos o “caldo entornado” e o BCE em sérios apuros para aguentar os bancos gregos..."

    RESPOSTA:
    "(...) a Fitch alertou ontem que oferecer tais condições aos credores privados seria considerado um ‘default', correndo-se o risco de accionar os seguros por incumprimento da dívida (CDS)"
    (Económico de hoje)

    ResponderEliminar
  2. Caro alcunha,

    Devo admitir que a Fitch, ao emitir esse alerta, ainda não dispusesse de todos os dados do problema...ter-se-á tratado, pois, de um alerta preventivo, admito.
    Em todo o caso, não deveremos esperar muito para saber como vão as agências de rating avaliar esta operação de "reprofiling", não tenho ainda qq certeza...
    Se a avaliação for negativa, vamos ter o "fim do mundo"!

    ResponderEliminar
  3. O fim do mundo em 2004 aconteceu em 2008. Estamos cá na mesma. A questão Grega vai rebentar e, se calhar era bom que rebentasse já. O fim do mundo é como o Sporting campeão: é possível, sabe-se que um dia vai acontecer, parece sempre que é para o ano, mas o facto é que não acontece nunca.

    ResponderEliminar
  4. Caro Tonibler,

    Esse comentário, atingindo o grémio de Alvalade em pleno coração, é verdadeiramente imperdoável...
    Atenção à época 2011/2012, que ou me engano muito ou vai trazer novidades inesperadas...Alvalade vai regressar aos bons velhos tempos! E os da Luz ainda vão ter uma grande (e dolorosa) surpresa!
    Quanto à Grécia, estimo que vamos assistir a uma morte lenta, com doses sucessivas de ajuda para prolongar a vida do paciente...até que se constata, finalmente, a inviabilidade da solução!
    Um problema considerável é o cansaço das opiniões públicas dos países emprestadores, que pode atingir, em cheio, outros países em situação semelhante.

    ResponderEliminar
  5. Afinal caríssimo TM qual poderia ser (será) o pior cenário ?

    É que se as regras não são para cumprir para que servem ?Inventar regras a meio do jogo ?isso não é perigosíssimo ?

    Não é justo nem saudável para a economia fazer uns competir cumprindo regras quando outros não o fazem .

    Manter maçãs podres dentro de uma caixa de maçãs saudáveis é loucura ..
    Manter um pé gangrenado é loucura ...

    Mais vale encarar de frente e por agora sair do euro..e cair na real..
    Foi uma oportunidade perdida ? sem duvida foi uma grande oportunidade perdida ..não para todos óbviamente ..mas para os que administraram mal ou péssimo.

    Por falar em péssima administração , o sol disse que o rasteiro ia trabalhar para a presidenta Dilma (ela gosta de ser tratada de presidenta ..ehehe) e a tvi diz que vai estudar a filosofia da coisa ..para Paris ..(ehehe que ridículo..ele vai é para trás das grades ...já já)
    Oioi srs jornalistas(símbolos de obscenidades).. foi resposta á nossa curiosidade ?valeu ..viu..

    ResponderEliminar
  6. Esta é uma mensagem que começarei a colocar até que aconteça.


    QUEREMOS OUVIR AS ESCUTAS DO FACE OCULTA AGOOOORRRAAAA!

    - Sem justiça não há paz na consciência do povo.
    E sem paz não há concentração no trabalho ..ao invés fica remoendo..(ó eu aqui..)e isso é desperdício..e vamos ficando para trás ..para trás. ..para trás..
    agoniados com coisas que não sabemos exatamente o que é...

    -Sem justiça não há paz na consciência do povo ."Nelson Mandela"

    ResponderEliminar
  7. Que se ponham a pau os clientes do BCP, o banco europeu mais exposto à dívida grega segundo a Bloomberg.

    ResponderEliminar
  8. Caro Wegie,

    Matéria muito complexa, a que aborda...Presidente desse banco disse não estar nada preocupado com esse tema, ele lá sabe porquê.

    ResponderEliminar
  9. Caro Tavares Moreira,

    A falência é sempre complexa. Nem sempre o escapismo a evita.

    ResponderEliminar
  10. Escapismo ou escapulismo, caro Wegie?
    E se é nem sempre, como diz, é porque algumas vezes consegue mesmo evitar...

    ResponderEliminar
  11. Tenho a sensação, caro Dr. Tavares Moreira, que a União Europeia, não sabe ainda muito bem, qual o motivo porque se constituiu.
    Digo isto, porque me parece que as soluções para os problemas dos países membros mais pobres, se concentra na concessão de mais empréstimos, na forma e por quem deverão ser assumidos.
    A mim parece-me que a solução só pode estar na produção e na exportação e nunca, no cúmulo de endividamento externo.
    É obvio que esses paízes necessítam de capital para produzir, mas tanto ou mais que capital, precisam de mercado que lhes garanta a exportação daquilo que possam produzir. Por este ponto de vista - se é que pode ser tomado em consideração - aquilo que a UE precisa fazer para apoiar os países em dificuldades, tem a ver com abertura de mercado, acha até que, com uma política de reequilíbrio e optimização do mercado comum interno, numa prespectiva de reforço das suas exportações, com entendimentos a nível global com os mercados asiáticos. Afinal o mundo é uma esfera onde todos temos de coabitar, saber aproveitar essa globalização, por forma a tornar o mundo um local mais dígno e equitqtivo, penso que deve ser o objectivo, o imperativo das uniões mundiais.

    ResponderEliminar
  12. Caro Bartolomeu,

    O que diz é muito interessante, mas existe uma dificuldade a meu ver insuperável.
    Essa dificuldade reside na dinâmica de endividamento que se regista em países como Portugal e Grécia, e que não pode ser sustida apenas com a exibição de um sinal de trânsito no qual se leia "sentido proibido"...
    enquanto essa dinâmcia não for suspensa - e a única forma de a suspender, para já, é reduzir o consumo público e privado tanto quanto possível - infelizmente o investimento privado, numa primeira fase também cairá.
    Sem isso, cairíamos na insolvência ou falência, como quiser, e o objectivo que aponta pereder-se-ia por muitos anos.
    Acrese que, enquanto se prova se somos ou não capazes de estancar o nosso endividamento,não temos quem nos empreste dinheiro, a não ser os organismos, UE/FMI...
    É claro que esta é a minha opinião, de um pessimista impenitente, tão impenitente que já em 2000/1/2/3 escrevi N artigos na imprensa especializada, nos quais chamava a atenção para a insustentabilidade do nosso ritmo de endividamento, sobretudo ao exterior...
    E é por essa altura, também, que um Iluminado veio esclarecer o País que o endividamento externo, numa união monetária, era assunto que nem merecia ser discutido, era a mesma coisa que discutir o endividamento externo do Mississipi dentro da Federação Americana...

    ResponderEliminar
  13. Diz muitíssimo bem, caríssimo Dr. Tavares Moreira, a única forma de suspender a dinâmica imparável do endividamento externo que se regista, "para já, é reduzir o consumo público e privado tanto quanto possível" a constatação "infelizmente o investimento privado, numa primeira fase também cairá." é uma inevitabilidade.
    Mas aquele que mais condiciona o nosso país, convenhamos, é o endividamento público, dado o mau fim e utilidade que lhe foi dado. Não tendo servido para outra coisa, que não fosse gerar mais dívida. Chegamos assim ao cenário do meu comentário anterior: o estado endividou-se e não dinamisou com esse dinheiro, a produção, esbanjou com as estructuras pesadíssimas do estado, não agilizou, não tornou eficiente, mas sim, burocratizou ainda mais. Não criou condições ao investimento, à iniciativa privada, complicou, sobrecarregou, desmoralizou.
    Então, devemos concluir que a unidade com os países da comunidade tem de resultar no fim para que foi criada, e a solideriedade entre estes países tem de funcionar. Com regras, evidentemente e com responsabilidade, mas também com bom senso e espírito são de entreajuda, nunca, com a permissão de aproveitamento das entidades que financiam. Dessa forma, não nos poderão ser dadas condições para nos reequilibrarmos e cumprirmos as metas e os objectivos que nos são impostos.

    ResponderEliminar
  14. Caro Bartolomeu´

    Ainda enm que coloca a questão do endividamento público versus endividamento privado, pois num dos documentos do FMI (divulgado a 7 do corrente) consta a indicação de que no final de 2010 o Endividamento Público equivalia a 93% do PIB e o Privado a 260% do PIB.
    Esta indicação, estando correcta formalmente, escamoteia uma realidade fundamental, pois aquilo que se chama "Endividamento Público" é apenas a dívida directa do Estado, enquanto que no chamado "Endividamento Privado" inclui o privado propriamente dito (das famílias e das empresas privadas) mais o endividamento das empresas públicas - as do Estado Central, das Regiões Autónomas e dos Municípios, das parcerias público-privadas, das empresas em que o Estado tem uma posição ou influência dominante, etc,etc.
    Feitas as contas, mais de 50% daquilo a que se chama "Endividamento Privado" (mais de 130% do PIB, portanto) tem a ver com entidades públicas ou para-públicas...
    Ou seja, o endividamento público e para-público ultrapassará 220% do PIB enquanto que o endividamento privado, propriamente dito, não chegará a 130% do PIB...
    Já assisti a debates em que esta realidade parecia ser totalmente desconhecida para os participantes, todos eles nomes sonantes...

    ResponderEliminar
  15. Lembra muitíssimo bem, caro Dr. Tavares Moreira, a questão do reconhecimento daquilo que é verdadeiramente privado e do que é público. Uma confusão que em muitas situações é feita, e que muito favorece a posição do estado. Além de que, a tendência é tambem ela, muitas vezes a de considerar privado, aquilo que diz directamente respeito ao cidadão comum e às empresas privadas.
    O próximo governo, terá de se armar de toda a coragem, para fazer descolar da orelha do estado, um sem-número de carraças que lhe anda a sugar o sangue... exaurindo-o sem que lhe devolva nada em troca.

    ResponderEliminar
  16. Belíssima conclusão, caro Bartolomeu!

    ResponderEliminar
  17. E sobre o "middle income trap"? Nem uma palavra?

    ResponderEliminar
  18. Caro Wegie,

    "Middle income trap"? The mind boggles!!

    ResponderEliminar