Fico surpreendida com a torrente de “notícias”, comentários e artigos múltiplos que se escreveram imediatamente sobre o Governo e cada um dos seus membros. Se são novos, se são conhecidos ou não, se são bons técnicos, se têm bons curriculos. Não quero com isto dizer que concordo ou discordo, apenas que me surpreenderam os juízos "definitivos" que de imediato se fizeram, ao ponto de algumas vozes terem invocado os melões, que só depois de abertos é que nos garantem o palpite.
Há imensos factores que influenciam a capacidade de cada pessoa para um ou outro lugar e, em cada um deles, a mesma pessoa pode ser excelente ou péssima, de acordo com o que é preciso que faça. Pode-se ser um excelente técnico, por exemplo, e ter pouca capacidade de decisão. Ou, ao contrário, pode-se saber pouco da matéria técnica e ter uma boa capacidade de ouvir, de distinguir o principal do acessório, de distinguir com facilidade o que pode ajudar a resolver ou só complica. Pode-se ter uma notável capacidade oratória e não conseguir trabalhar no concreto, ou em equipa, e pode-se ser um mau comunicador, ou pessoa de poucas falas, e sair um óptimo decisor, que mobiliza as pessoas para os objectivos e em quem elas confiam. Pode-se ser autoritário, o que é próprio para quem tem que conseguir mudanças e manter um ritmo rápido, mas que é terrível quando é preciso reflectir, recolher propostas e conseguir consensos. Nesse caso, o mais adequado é ser paciente e persistente, é saber ceder e arranjar apoios, mas se for uma pessoa encantadora que só faz amigos e não aguenta críticas já não serve, tem que ter autoridade e ser capaz de, no momento certo, assumir a responsabilidade de acabar com diálogos inúteis. Às vezes a experiência é um obstáculo, porque a pessoa tem medo de errar, como já viu ou já lhe aconteceu, e hesita em seguir um caminho inovador, outras vezes a falta de experiência faz perder tempo porque se tenta fazer o que já se devia saber que não resulta.
Quando se selecciona uma pessoa para uma empresa não basta ler os curriculos e pasmar perante as páginas cheias de linhas, tal como não se deve desprezar quem se limita a apontar dois ou três “lugares” mas consegue mostrar muitas outras valências pelo tipo de funções, lugar e circunstâncias em que as exerceu. Ou seja, embora o juízo de valor possa ser positivo em abstracto, o que interessa realmente é se as características pessoais, a formação e o percurso profissional revelam, em conjunto, se uma pessoa é a adequada para fazer aquilo que se espera, quando se espera e precisa que ela venha a fazer.
Isto não significa, de modo nenhum, que quem escolheu o Governo não o tenha feito acertadamente e que as pessoas em causa não nos mereçam todo o crédito e todo o respeito. Quero apenas dizer que a maior parte das pessoas que falou, salvo raras excepções, não disse absolutamente nada que pudesse suportar as suas conclusões firmes. Por isso, o que posso concluir de tudo o que ouvi, e já é muito importante,é que há uma expectativa muito positiva e uma disposição de apoiar o que, para todos os que assumiram estas altas responsabilidades, é sempre muito gratificante...e exigente! Bem precisados estamos dos seus conhecimentos, capacidades e engenho, a troco da esperança e confiança que neles depositamos.
Isto não significa, de modo nenhum, que quem escolheu o Governo não o tenha feito acertadamente e que as pessoas em causa não nos mereçam todo o crédito e todo o respeito. Quero apenas dizer que a maior parte das pessoas que falou, salvo raras excepções, não disse absolutamente nada que pudesse suportar as suas conclusões firmes. Por isso, o que posso concluir de tudo o que ouvi, e já é muito importante,é que há uma expectativa muito positiva e uma disposição de apoiar o que, para todos os que assumiram estas altas responsabilidades, é sempre muito gratificante...e exigente! Bem precisados estamos dos seus conhecimentos, capacidades e engenho, a troco da esperança e confiança que neles depositamos.
Penso, cara Drª Suzana, que as críticas e os comentários que chovem, acerca das capacidades daqueles que foram escolhidos para compôr o novo governo, não se dirigem concretamente tanto às pessoas, quanto às capacidades, mas sim, ao "campo minado" que as rodeia.
ResponderEliminarOu seja; quando os comentários se referem à experiência, estão a questionar se; tanto o Primeiro Ministro eleito, quanto os Ministros escolhidos, terão a sagez, a esperteza, a capacidade de ante-visão ou de antecipação e de decisão, a firmeza de carácter, para perceber, evitar e resolver as "jogadas políticas" que a oposição política e a comunicação social ao serviço dessa oposição, os poderes instalados, os lobyes, etc. muito provávelmente, lhes irão mover.
Diz bem, cara Drª Suzana, as capacidades de cada um, podem nada ter a ver com a idade, com o peso político, ou com outros aspectos, como a imágem, por exemplo. Contudo, o preconceito ainda não se desinstalou da nossa sociedade, a todos os níveis, desdes os mais intelectuais e eruditos, aos mais comuns. É algo, penso, com que ainda teremos de coabitar durante algumas décadas, acartando com os prejuízos e atrazos que esses preconceitos geram.
(muitos de nós sentiram e sentem na pele, o efeito desse preconceito)
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ResponderEliminarA comparação entre os governos e os melões é um exemplo típico de falsa analogia, pois ignora diferenças fundamentais entre as coisas comparadas.
ResponderEliminarSó se conhecem os "melhores" depois de terem cumprido as suas missões, antes disso entramos no campo das probabilidades, porque há muitos fatores que escapam ao próprio e condicionam a prática. Nada de novo. A história está repleta destes casos. Até a "esperança" joga um papel importante, mas há um ou dois fatores que exercem notáveis efeitos: trabalho e honestidade devidamente embrulhados em honra...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, tem toda a razão quando diz que o preconceito ainda não se “desinstalou da nossa sociedade” e eu diria mesmo que regredimos, e bastante. Por exemplo, o caso do espanto quanto à “juventude”, esquecendo-nos de uma penada que quer Cavaco Silva, quer Guterres, quer Barroso, quer Sócrates, tinham menos de 50 anos quando assumiram funções de Primeiro Ministro. Leonor Beleza, Miguel Cadilhe, Mira Amaral e tantos, tantos outros, foram ministros muito antes de terem 40 anos e, no entanto, mais de 20 anos depois, espantamos-nos e hesitamos perante a confiança que os quarentões nos despertem quanto à sua capacidade e juventude. Ridículo, se não significasse quanto regredimos na nossa capacidade para reconhecer aos mais novos o direito à sua oportunidade. E já nem falo no caso das mulheres, que me indigna particularmente, sobretudo quando as próprias se dão ao trabalho de tomar a iniciativa de destacar esse facto, como se no séc. XXI fosse ainda um fenómeno digno de qualquer registo que uma mulher assuma funções de responsabilidade e mereça um especial destaque por isso. Espero que tal, ao menos, não se traduza em condescendência ou em especial exigência, embora as reacções a que assisti não augurem nada de bom quanto a isso.
ResponderEliminarCaro Paulo, de facto a comunicação social prefere o one man show, nunca tinha pensado nisso assim mas é verdade, talvez porque dá muito menos trabalho se apontarem baterias a apenas um do que andarem a seguir os caminhos de vários. Mas essa é uma das razões pelas quais se desperdiçam tantas pessoas capazes, porque ficam na sombra e são arroladas na esteira dos falhanços ou das glórias dos ponta de lança.
Caro Carlos Pires, é apenas uma figura de estilo mas a meu ver pode ser usada porque é simples e imediata. E até os melões são bons ou maus conforme o gosto de quem os saboreia, nem nisso se conseguirá a unanimidade e ainda bem.
Caro Massano, é como já dizia Camões (cito de cor), estudo, experiência e engenho, que raramente coincidem na mesma pessoa, razão pela qual, digo eu, a equipa será tão importante e os one man show de que aqui fala o Paulo são tão perigosos.
Todos os PM que acima cito tinham 46 ou 47 anos quando foram eleitos.Quanto ao ministros que tinham menos de 40 anos podemos ainda citar Rui Vilar, Sousa Franco, Miguel Beleza, Paulo Portas...
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