quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desvio colossal na execução orçamental: quem se surpreende?!

1.O PM terá ontem afirmado que o novo Governo se teria apercebido, agora, da existência de um desvio “colossal” entre os dados da execução orçamental divulgados pelo anterior executivo e a real situação das contas públicas.
2.Cumpre recordar que o anterior executivo teve o “cuidado” de divulgar os últimos dados da execução orçamental de 2011 precisamente no último dia de funções (21 de Junho): uma “fenomenal” diminuição do défice das Administrações Centrais (Estado+Fundos e Serviços Autónomos+ Seg. Social) nos primeiros 5 meses do ano, de 89,3% em relação ao período homólogo de 2010...ou seja, de um défice de € 2.662 milhões nos primeiros 5 meses de 2010 para apenas € 285 milhões em 2011!
3.Uma leitura um pouco mais atenta dos números divulgados permitia todavia concluir, por exemplo, que até Maio tinham sido contabilizados encargos com juros da dívida pública de apenas € 876 milhões, quando o montante previsto (e provavelmente insuficiente) para o conjunto do ano é de € 6.316 milhões!
4.Quer isto dizer que até Maio apenas 13,9% dos juros orçados para o ano inteiro estavam executados, ou seja o grosso da factura com juros fica para mais tarde...algo de semelhante se passava com as despesas de investimento, muito abaixo do orçamentado, embora neste caso o mais provável seja que o executado, no final do ano, fique também muito abaixo...
5.Ao mesmo tempo que o anterior executivo rejubilava com as suas últimas "façanhas" (patranhas) em matéria orçamental, era notícia um agravamento considerável nos prazos de pagamento do Estado (incluindo as diferentes Administrações Públicas) a fornecedores, o que significava que muita despesa feita nos primeiros meses deste ano nem tampouco foi contabilizada...
6.Mas o mais estranho foi a divulgação, no dia seguinte, dia da posse do novo Governo, dos números da dívida pública directa do Estado: nos primeiros 5 meses de 2011 o crescimento da dívida pública superava em 66,7% o crescimento registado nos primeiros 5 meses de 2010 !!! Para quê toda esta dívida se o défice caiu tanto???
7.Este último dado punha totalmente em causa a credibilidade dos dados da execução orçamental divulgados pelo anterior executivo que assim se manteve fiel ao princípio de nos tentar enganar, sempre, quanto à realidade orçamental do Estado Português!
8.Recordo todavia que enquanto a nossa “exigente” comunicação social tomava como boa – como sempre tomou, de resto – a informação oficial sobre execução orçamental que o anterior executivo foi divulgando ao longo de anos, acabando sempre por ser desmentida pela realidade...
9....O 4R, em Post de 22 de Junho último intitulado “Contas orçamentais e dívida pública: impossível entender”, denunciava a tremenda contradição entre os dados da execução orçamental e os da dívida pública...
10.Assim, para nós, esta declaração do PM não traz novidade nenhuma, não constitui qualquer surpresa...
11. Só se lamenta que o PM não seja leitor do 4R...se o fosse, não deveria mostrar-se agora surpreendido com o suposto e “colossal” desvio na execução orçamental!

14 comentários:

  1. Quero o sr dinamarquês como primeiro ministro!!!!

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  2. Quer dizer um governo em "outsourcing", caro Tonibler?
    Provavelmente ficaria menos dispendioso...

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  3. ignorância, estupidez e má fé
    caracterizam grande parte dos comentários
    (os dos xuxas e restante esquerda festiva)

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  4. Olhe caro Dr. TM, só espero que não passem 4 anos a tapar buracos... ou crateras, dependendo do tamanho da coisa. Isto porque, tal como diz, não devia have motivo para tamanha surpresa.

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  5. Cara Anthrax,

    Tem razão...e ainda por cima, tapar estes buracos não terá quaisquer efeitos virtuosos sobre a economia, ao contrário da actividade de tapar buracos físicos, no terreno, a qual implica algum investimento público!
    Como sabe, esta última actividade reune imensos adeptos entre nós, nomeadamente os que se auto-apelidam de Keynesianos, convictos de que o investimento público é sempre criador de riqueza, independentemente do rendimento que gere (muitas vezes negativo)...

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  6. Dear TM,

    Em 1976, recém chegado da Universidade de York (Inglaterra) onde se doutorara, Aníbal Cavaco Silva publicou o livro Política Orçamental e Estabilização Económica, obra básica de estudo da cadeira de Economia Pública, do ISE, dirigida pelo Professor, com Manuela Ferreira Leite como assistente.

    Era um bom livro de estudo, essencialmente keynesiano, basicamente instrumental, com desenvolvimento matemático dos diversos multiplicadores para formulação de políticas orçamentais de estabilização. Conheceu nova edição em 1982, agora com o título de Finanças Públicas e Política Macroeconómica.

    Conclusão: Os tapa-buracos vão continuar...

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  7. Caro Wegie,

    Está a sugerir que nessa obra, que não tive o gosto de ler - até por não ser licenciado pelo ISE - se recomenda expressamente a actividade de "abrir buracos no terreno, de preferência em vias públicas, e voltar a tapa-los" como forma eficaz de aumentar o rendimento nacional?
    Não quero acreditar, não me parece que o Prof. Cavaco tenha sido (hoje não é, seguramente) keynesiano a esse ponto!

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  8. Dear TM,

    A Brisa foi criada em 1972 para fazer auto-estradas, possivelmente juntando a vontade de diversificar de um grupo empresarial à vontade do marcelismo em fazer algo onde sabia que havia uma grande falha. E a Brisa começou logo pelo prolongamento da A5 até Cascais e por troços algures da A1. Veio o "25" e nova vida. À Brisa foi "pedido" que interrompesse as obras da A5, apenas começadas, e desse prioridade à auto-estrada entre o Fogueteiro e Setúbal, a A2. Uma decisão política com o governo revolucionário a chamar o dinheiro para os seus pares do sul. Agora vem aí um novo governo. A medo, ainda não fala de obras públicas, pois o povo ainda tem na memória todos os disparates que o PSD sobre elas disse na oposição. Vamos tê-las de volta, mal haja dinheiro, tão certo como o Natal em Dezembro, mais certo do que o subsídio.

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  9. Caro Wegie,

    "Vamos tê-las de volta, mal haja dinheiro...", pode ler-se no seu comentário.
    Mal haja dinheiro, quando, pode esclarecer-nos? Já em 2025 ou lá para 2045?

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  10. Dinheiro emprestado claro. Ou emprestadado...

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  11. Anyway ninguém me convence de que a telenovela do TGV e do Aeroporto (que detesto) acabou.

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  12. Caro Wegie,

    Emprestado, obviamente, não teremos outra forma de vida no século à nossa frente...
    O problema é saber quando, já que do seu comentário pareceu-me resultar a ideia de que seria ainda este Governo a reenveredar pela chamada política do betão...
    E a menos que o Senhor anteveja uma espantosa duração do actual Governo - que eu não consigo vislumbrar - interrogo-me sobre a razoabilidade da premissa que usou, uma vez que não antevejo, nos próximos 10 anos, ninguém disponível para nos emprestar dinheiro para projectos megalómanos que fizeram as delícias do consulado socrático e que nos troxeram até ao estado de penúria actual...

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  13. Nem megalómanos nem outros, desgraçadamente.

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  14. Tem toda a razão, cara Suzana, nem megalómanos - e deses não temos pena nenhuma - nem outros e quanto a estes alguns deles bem falta nos podem fazer.
    Olhe,por exemplo, um óptimo projecto seria o Estado (nas suas mais diversas versões) pagar as dívidas com mais de 90 dias...
    Seria um imenso benefício para as empresas em geral, cuja tesouraria sofre uma seca extrema...

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