Tenho ido ultimamente a Aveiro às segundas-feiras da parte da tarde. Agora, que já não tenho aulas, vou mais cedo e aproveito para almoçar nesta simpática cidade. Em seguida, por uma questão de proximidade, desloco-mo até um dos bancos que estão à entrada do cemitério para ler, enquanto espero, durante cerca de três quartos de hora a uma hora. Tenho sombra, tranquilidade e as poucas pessoas que vão entrando ou saindo não me incomodam, sinto que transmitem uma onda de simpatia. A vizinhança dos mortos poderá transformar as pessoas. Os cemitérios não me perturbam muito, bem, tenho de ser sincero, um pouco. Não é que os aprecie muito, alguns são mesmo feios, mas este parece ser “acolhedor”, pelo menos foi a impressão que colhi através do espaçoso portão, paredes amarelas, árvores, arbustos, ramagens. Um dia deste vou dar uma volta pelo espaço do silêncio, pensei. Na última segunda-feira, acompanhado da minha mulher, e depois de termos almoçado, estacionei o carro no largo e convidei-a a visitar o cemitério.
– Ver o cemitério?! Qual cemitério? - Perguntou muito admirada, olhando-me para ver se tinha, finalmente, pirado.
– Aquele. E apontei para a entrada com dois bancos de cada lado. – Estás a ver o primeiro do lado direito? É onde costumo sentar-me, enquanto não são horas, para ler um pouco. Foi nele que li praticamente “O conde americano.” Um sítio muito apropriado para ler Mark Twain, sem dúvida!
- Vamos lá ver o dito! Disse meio desconfiada.
Amplo, bem arranjado, com os jazigos empurrados para as paredes, ou fazendo de parede, campas baixas sem monumentalidade, felizmente, chão “ladrilhado”, evitando contaminar os sapatos com terra de cemitério, sombreado de algumas árvores, parecia um jardim. Comentámos algumas campas, apreciámos uma ou outra, devido à antiguidade ou arquitetura, e saímos.
À saída olhei para o pórtico encimado pela frase: “Mors ultima ratio”. Não foi difícil traduzi-la: “A morte é a razão final de tudo”.
- Uma bela frase. Quem se lembrou de a colocar sabia o que que estava a fazer. Já reparaste que foi colocada dentro do cemitério e não à entrada? Disse à minha mulher. – Entrar aqui qualquer um entra, vivo ou morto, mas sair só os vivos, os únicos a quem interessa a mensagem. Sempre é melhor da que está à entrada de um cemitério de uma freguesia do meu concelho: “Cá te espero”! – Uma ova! Por mim podes esperar uma eternidade.
Prefiro ser transformado em cinzas!
– Ver o cemitério?! Qual cemitério? - Perguntou muito admirada, olhando-me para ver se tinha, finalmente, pirado.
– Aquele. E apontei para a entrada com dois bancos de cada lado. – Estás a ver o primeiro do lado direito? É onde costumo sentar-me, enquanto não são horas, para ler um pouco. Foi nele que li praticamente “O conde americano.” Um sítio muito apropriado para ler Mark Twain, sem dúvida!
- Vamos lá ver o dito! Disse meio desconfiada.
Amplo, bem arranjado, com os jazigos empurrados para as paredes, ou fazendo de parede, campas baixas sem monumentalidade, felizmente, chão “ladrilhado”, evitando contaminar os sapatos com terra de cemitério, sombreado de algumas árvores, parecia um jardim. Comentámos algumas campas, apreciámos uma ou outra, devido à antiguidade ou arquitetura, e saímos.
À saída olhei para o pórtico encimado pela frase: “Mors ultima ratio”. Não foi difícil traduzi-la: “A morte é a razão final de tudo”.
- Uma bela frase. Quem se lembrou de a colocar sabia o que que estava a fazer. Já reparaste que foi colocada dentro do cemitério e não à entrada? Disse à minha mulher. – Entrar aqui qualquer um entra, vivo ou morto, mas sair só os vivos, os únicos a quem interessa a mensagem. Sempre é melhor da que está à entrada de um cemitério de uma freguesia do meu concelho: “Cá te espero”! – Uma ova! Por mim podes esperar uma eternidade.
Prefiro ser transformado em cinzas!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminareu tb prefiro
ResponderEliminar"Cá te espero" é muito bom. Outra do estilo, a agência funerária "Boa Viagem", que tem bastante negócio por terras brasileiras.
ResponderEliminarAinda dentro do espírito (salvoseja), mas não objectivamente sobre o tema principal, o nome mais genial que me lembro de ter visto, foi de uma empresa cuja actividade era relacionada com pesca ou pescados em Aveiro, já não me recordo bem. Chamava-se "Vouga Mar". Fabuloso!
Se me Permite, caro Professor, aconselho-lhe almoçar na próxima vez, na Costa Nova, num restaurante voltado para a ria que se não me engano se chama Marisqueira Costa Nova. A última vez que lá estive com a minha amada esposa, batêmo-nos para entrada, com uma dose de camarão de Espinho, que eu até pensei que já não se encontrasse em lado nenhum, em seguida uma dose de um opíparo arroz de marisco, regámos o almoço com um champanhe das Caves da Anadia e no final de uma sobremesa da casa e de um café... sentímo-nos imortais.
ResponderEliminarEu, acho piada aos cemitérios, salvo o devido respeito pela dor daqueles que perdem os familiares e amigos.
E acho-lhes piada, na medida em que são a extensão daquilo que foi a vida e a posição social de cada um. Quando afinal, depois de descermos à terra, se acabam todas as diferenças... pelo menos na optica dos bichinhos que nos vão devorar.
Mas pronto, afinal passamos uma vida a comparar sinais exteriores disto e daquilo, tapando e escondendo muitas vezes os sinais principais, aqueles que dizem verdadeiramente quem somos e como somos...
c'est lá vie, ou... la mort, je ne sais pas... rien!
;)))