segunda-feira, 11 de julho de 2011

A velhice aqui tão perto...

O envelhecimento demográfico é um assunto muito pouco debatido entre nós. É um assunto que não tem merecido a atenção devida quer por parte da sociedade em geral, quer por parte do poder político. Às vezes penso como somos (nem todos são) cegos e maus para nós próprios, ao fingir ou ficcionar que a juventude é eterna e que a velhice é coisa dos outros.
Do lado da esperança de vida as notícias de que vamos viver mais tempo são boas. Viver mais anos deixa-nos felizes. Mas permanece a grande incógnita sobre se teremos condições para gozar essa esperança com dignidade e qualidade de vida. A verdade é que a realidade que temos hoje não augura nada de bom para as próximas gerações de velhos. Aqueles que há vinte ou dez anos se questionavam sobre o que lhes estaria reservado no amanhã da velhice sabem hoje que a vida é muito difícil, há pobreza e privação, os rendimentos são baixos, os apoios sociais são reduzidos, são vítimas de solidão e de violência.
Os dados estão aí a confirmar a realidade muito dura da velhice. Os velhos são um fardo económico e social para as famílias e a segurança social. Se não tomarmos decisões para corrigir este quadro, se não formos capazes de pensar numa estratégia para lidarmos com o envelhecimento o futuro não será melhor.
Segundo a Organização Mundial de Saúde em Portugal apenas 7,3% de 1,8 milhões de pessoas com mais de 65 anos são apoiadas, seja pelo Estado seja por entidades privadas, em lares ou em apoio domiciliário. Ocupamos o 19º lugar numa lista de 28 países europeus analisados.
De acordo com o Relatório de Prevenção contra Maus Tratos a Idosos, Portugal faz parte da lista negra de cinco países europeus em que quase 40% dos nossos idosos são vítimas de abusos, físicos ou psicológicos.
Finalmente, o Instituto de Estatística Nacional revelou hoje no Inquérito às Condições de Vida e Rendimento que a taxa de risco de pobreza para a população idosa ascende a 21%.
Dados que mercem um debate alargado para pensar e delinear o que fazer...

9 comentários:

  1. Dra. Margarida,

    A dimensão do problema é aterradora e as consequências nefastas, do envelhecimento da população, para o país vão ser catastróficas.

    No meio disto tudo, o pior ainda é saber que não era necessário ser assim.

    Por muito boas intenções que se tenham, um estado falido (e não Estado falido, que é outra coisa) não consegue socorrer quem precisa ou melhor, conseguir até pode ser que consiga se a sua prioridade - em termos de emergência - for este público. Caso contrário, se tiver de acudir a múltiplas emergências de vários públicos, então deixa de ter capacidade de resposta.

    Relativamente a delinear uma estratégia, até temo de pensar nisso. Nós - portugueses em geral - temos uma incapacidade nata de delinear estratégias. Nós não fazemos qualquer trabalho de antecipação, não nos precavemos. Nós apenas reagimos às situações e passamos o tempo a tapar buracos.

    Nós tratamos os nossos idosos da mesma maneira que tratamos os nossos animais de estimação. Mal. Isso revela bem o tipo de sociedade em que nos transformámos.

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  2. Cara Anthrax
    Pôs o dedo na ferida: "Nós - portugueses em geral - temos uma incapacidade nata de delinear estratégias. Nós não fazemos qualquer trabalho de antecipação, não nos precavemos. Nós apenas reagimos às situações e passamos o tempo a tapar buracos".
    A nossa capacidade de resposta está bastante diminuída porque não criamos riqueza. Um problema que vem de trás porque justamente nunca fomos capazes de delinear um caminho estruturante, de escolher prioridades e trabalhar para lhes dar concretização. O consumo, o lucro imediato e as "catedrais" de betão marcaram o que somos hoje e condicionam o futuro. As questões culturais e educacionais são sempre muito marcantes.
    O envelhecimento demográfico há muito que está a acontecer, assim como a baixa da natalidade. Que políticas estruturantes foram lançadas para lidar com estes fenómenos? Que importância damos à solidariedade intergeracional?

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  3. usam eufemismo para não empregar a palavra velhos: idosos, 3ª idade, ...
    diálogo com uma amiga 2 anos mais velha
    ela;-a tua pele é oleosa ou seca?
    eu; -é velha!
    ela: -dizes cada coisa!

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  4. Floribundus, então é seca. Porque à medida que a pele vai envelhecendo, perde elasticidade e vai-se tornando mais seca, por isso requer mais hidratação.

    Cara Margarida,

    Não fale assim que me deixa doida de irritação, pois tem toda a razão.

    No seu comentário utilizou algumas das palavras-chave que me tiram, totalmente, do sério; Consumo - lucro imediato - Catedrais do betão.

    1º Consumo: Não há problema nenhum em consumir desde que haja conta, peso e medida. Estou a falar de um consumo razoável. Mas não... não sei porquê, parece que nos deslumbrámos com os bolos e desatámos a comer bolas de berlim como se não houvesse amanhã. Conclusão: agora vai entrar tudo de dieta forçada. Os que podem e os que não podem.

    2º- lucro imediato: quase que não sou capaz de falar deste ponto sem começar a soltar vocabulário menos apropriado :S. Ganância. É um dos 7pecados não é? Quem gere organizações tendo em vista ao lucro imediato, arruína qualquer instituição e não tem perfil para gerir o que quer que seja. São os "chicos-espertos", os oportunistas, os aproveitadores de ocasião que não vêem para além do presente, não projectam a uma visão para o futuro. Eu acho que as pessoas assim devem ser muito tristes, mesmo que não pareçam. Quem não consegue projectar uma visão para o futuro, também não tem nenhum sonho que almeje alcançar e isso é triste.

    3º Catedrais de betão: Penso automaticamente em explosivos, mas como de momento não deve haver disponibilidade financeira para encetar processos de implosão (embora, em alguns casos talvez saísse mais barato a médio e longo prazo), o melhor é arranjar forma de fazer render a coisa... ou então, implode-se.

    Finalmente, Portugal - desde a época do D. Afonso Henriques e ao longo de toda a história - sempre teve problemas demográficos. Ali por altura dos descobrimentos, começámos a colocar Padrões nos territórios por onde passávamos, só para dizer que era nosso. Depois vieram os desgraçados dos ingleses e zuuuca! Política de ocupação efectiva. Não estava lá ninguém e eles ocupavam os territórios. No entanto, ao menos nesta altura ainda tiveram a ideia dos Padrões e da miscigenação, podia não ser uma política brilhante mas era alguma coisa. Agora não há nada!

    Não há nada, nem vai haver porque para inverter a taxa de natalidade, têm de fazer uma coisa que os países nórdicos fazem e que é dar a possibilidade dos jovens - a partir dos 18 anos - saírem de casa e ir viver sozinhos quer tenham emprego, ou não.

    Resumindo, têm de começar a promover uma política de independência em vez continuarem a promover políticas de dependência. Porque estas políticas de dependência manifestam-se em toda a estrutura e comportamentos da sociedade. Quando se quer construir uma sociedade adulta, rejuvenescida, responsável, empreendedora etc, não podem ter os "putos" a viver em casa dos pais até aos 40 anos. Agora tudo isto implica gastar dinheiro. É um investimento.

    Dra. Margarida, só para ter a noção do ridículo (e depois eu calo-me, prometo), nós temos miúdos de 25 anos (jovens adultos, portanto), quem vêm para as reuniões de trabalho acompanhados pelos pais. Isto não é normal.

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  5. Cara Anthrax
    Agradeço a ajuda na descodificação dessas palavras que aparentemente não deveriam ter uma conotação tão negativa. Mas têm e a coisa é mesmo séria.
    Quanto à natalidade é mais um dos temas que não se debate. Só me recordo do cheque poupança de 200 euros do anterior governo!

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  6. Margarida, não conheço os critérios de aferição sobre o os maus tratos usados pelo estudo que refere, mas creio que os portugueses não serão mais desumanos que a maioria esmagadora dos países com que nos comparam. Talvez muitos desses países tenham estruturas de apoio aos idosos que nós não temos, é muito fácil tratar bem um idoso se só o formos visitar uma vez por ano e ele estiver entregue numa instituição onde viva em paz e sossego,bem alimentado e cuidado. Outra coisa muito diferente é contar que sejam as famílias a manter as pessoas no seu meio, nas suas casas ou nas casas dos filhos, e depois ignorar-se olimpicamente que as famílias têm esse dever, além de irem trabalhar, de ganharem pouco, de terem também os filhos, até bem tarde, na sua dependência, quantas vezes em casas pequenas. Conheço várias pessoas que já são elas próprias avós, e que ainda têm que trabalhar fora de casa, e fazem o que podem pelos pais velhinhos e doentes, é uma vida muito difícil, sobretudo quando o dinheiro escasseia para todos.Não estou a justificar maus tratos, note-se bem, condeno-os totalmente, só digo é que não sei o que estamos a comparar, isso dos "maus" e dos "bons" confesso que me deixa sempre de pé atrás, sobretudo quando aplicado assim genericamente a um País. Em Portugal, para o bem e para o mal, as famílias são ainda o grande (e quase único) suporte dos mais fracos e dependentes, sejam velhos, sejam crianças, sejam doentes, e é natural que haja conflitos e que os idosos sofram bastante com isso. Quando a política oficial é a de que uma pessoa com uma pensão de 1 500 € é rica, se pensarmos quanto é que custa pagar a alguém que tome conta de um idoso para ele poder ficar na sua casa, vemos bem o que sobra para ele sobreviver sem pedir ajuda. Isto, claro, admitindo que há quem queira aceitar esse trabalho, o que vai sendo muito difícil...

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  7. Bom dia Dra. Margarida e Dra. Suzana :)

    Estamos todos metidos num lindo molho de bróculos, não é verdade?

    Estava aqui a reler estas coisas e de repente ocorreu-se-me uma pergunta... se bem, que seria mais um desafio do que uma pergunta.

    Então é assim: considerando a situação demográfica portuguesa e a presente situação financeira, que tipo de medidas - a curto, médio e longo prazo - implementariam com o objectivo de começar a inverter a situação?

    Não vale pacotes avulso. Tem de ser uma estratégia completa e multi-sectorial.

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  8. Suzana
    Confesso-lhe que os números divulgados não me surpreenderam. Olhando à nossa volta verificamos que a sociedade não está organizada para cuidar dos seus idosos, seja ao nível das famílias, seja ao nível de respostas institucionais. É verdade que continuam a ser as famílias a cuidar dos seus idosos, mas em condições muito difíceis e até penosas, na ausência total de ajudas. Mas também há muitos idosos que vivem completamente sozinhos, abandonados à sua sorte. O facto de as famílias serem o suporte dos mais fracos não garante que sejam bem tratados. Ser o suporte pode apenas querer dizer que os mais fracos estão sujeitos a privações de diversa natureza que redundam em violência.

    Cara Anthrax
    Mas que desafio grande e difícil!

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  9. Cara Anthrax, "medidas" propiamente ditas, sem haver dinheiro, não sei de facto inventar, mas talvez a política de proximidade ajudasse. Há casos muito interessantes, como o da associação académica do porto e o Projecto aconchego, que "liga" jovens que precisam de casa e idosos que vivem sozinhos em casas grandes. Um dos maiores problemas dos idosos é ficarem isolados, sem conseguir resolver os seus pequenos ou grandes problemas, compras, pequenos consertos em casa, limpezas, higiene pessoal, comida cozinhada,uma hora de companhia. Não conseguiremos resolver os grandes problemas, a miséria ou a solidão, ou a falta de saúde, mas pequenas coisas que estão ao alcance de muitos, até por troca, talvez se pudessem organizar.E o apoio que as famílias dão aos mais velhos ser considerado um bem social, e não uma actividade à margem,que não é considerada para coisa nenhuma. Nos EUA, há mais de 20 anos, vivi num prédio onde havia imensos idosos, pessoas abastadas mas completamente sós. Havia uma carrinha do prédio que fazia um percurso diário até aos sítios mais procurados por eles, fazia parte do condomínio e era só para os idosos, os porteiros tinham obrigação de lhes telefonar e saber como estavam, bem como tinham que chamar quem fosse preciso para consertar pequenos arranjos. Não era uma residencial de luxo, era um prédio de habitação num bairro de classe média. Nos nossos condomínios é uma gritaria só para se conseguir pôr um corrimão nas escadas e muitas vezes nem se sabe quem é que vive em que andar. Algumas juntas de freguesia têm excelentes iniciativas como estas, não seria difícil generalizar, como diz a margarida em muitos casos é só um problema de organização, até há muitas boas vontades.
    Margarida, não estamos organizados para coisa nenhuma, é bem verdade,nem sequer as famílias têm qualquer preparação para lidar com os problemas da idade, é muito difícil para todos, não é só uma questão de paciência, ou de afecto, é preciso saber, conhecer os sinais,saber reagir da forma certa, é muito difícil mesmo, isto somado aos problemas diários, que são muitos, e às outras obrigações, torna a vida das pessoas num pesadelo.

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