1.Em alguns debates que por aí se vão realizando, incluindo o justamente famoso “prós e prós”, tenho ouvido as mais díspares opiniões acerca da evolução da economia portuguesa nos últimos 15 a 20 anos - em especial do decantado tema da perda de competitividade das nossas exportações -não raro revelando um trágico desconhecimento da matéria em análise.
2.Achei por isso interessante revelar aqui, por citação, um texto publicado a páginas 183 do Relatório Anual do BdeP relativo a 2010, divulgado há pouco tempo.
3.“A evolução das quotas de mercado das exportações portuguesas ao longo da última década contrasta com o ocorrido até meados dos anos 90”.
4.“Com efeito, a adesão de Portugal à CEE em 1986 e a posterior participação no Mercado único em 1993, num contexto de progressivo fortalecimento do comércio mundial, impulsionaram as exportações portuguesas para ritmos de crescimento muit elevados que se traduziram em importantes ganhos de quotas de mercado (38% em termos acumulados entre 1986 e 1995)”.
5.“No entanto, após 1996, os produtores portugueses começaram a registar perdas de quota nos mercados de exportação. Entre 2001 e 2003 esta situação alterou-se ligeiramente, observando-se alguns ganhos de quota”.
6.“Contudo, os anos de 2004 e 2005 foram caracterizados por reduções muito acentuadas da quota portuguesa nas exportações mundiais. Posteriormente observaram-se variações anuais de sinal contrário mas de magnitude mais reduzida, com efeito acumulado total praticamente nulo até 2009”. FIM DE CITAÇÃO.
7.Isto, que é uma evidência estatística, se fosse afirmado no dito “prós e prós”, por exemplo, seria considerado uma grave heresia...não faltariam os habituais “especialistas”, sempre os mesmos, para destroçar, com argumentos vistosos, recheados de verbos, advérbios e adjectivos, tal evidência.
8.TAMBÉM POR ISSO CHEGAMOS ONDE CHEGAMOS E ESTAMOS COMO ESTAMOS...
Efeitos dos socialismos...
ResponderEliminarNada como um "Prós e Prós". Este tipo de programa é muito giro, muito fofinho, mas do qual nada se aprende. A mediocridade destes programas revela bem a nossa própria mediocridade e é curioso que quando aparece alguém a tocar uma música diferente é imediatamente encostado e nunca mais aparece. Parece que para além de sermos medíocres, somos obrigados a assim permanecer...
ResponderEliminar...com causas a sortear entre a voracidade dos especuladores da economia de casino, as acções da filha do Cavaco, a corrupção das agências de rating, a falta de investimento em plataformas logísticas e um política activa de integração social e protecção ambiental.
ResponderEliminarJá agora, espera-se que o governo promova uma política de exportações com base no IRS onde as famílias com rendimentos inferiores aos 750 euros possam exportar com uma redução de 2 euros de impostos em cada tonelada, em crédito fiscal para o ano seguinte, claro.
Caro Fartinho da Silva,
ResponderEliminarBem se pode falar, tomando as suas palavras, de uma mediocridade institucionalizada, que arrasta o País para este estado pré-comatoso, de "água-choca" social e política...
E quem não se conformar, que tenha cuidado que pode ser suspeito de tentativa de "alarme económico e/ou social"...e há sempre um órgão de comunicação social pronto para o serviço de abate...
Caro Tonibler,
Embora considere a sua sugestão muito bem vinda, eu interrogo-me sobre o que (bem ou serviço) poderão as Famílias exportar mais eficazmente com tão tentador estímulo - será a lavagem de pratos e de outras peças de cerâmica, nomeadamente a conhecida na zona oeste por "cerâmica de paródia"?
" há sempre um orgão de comunicação social pronto para o abate ..." e um orgão de soberania pronto para o endeusamento. Após a condecoração atribuída por Jorge Sampaio à sra. jornalista do Prós e Prós, criticar o programa ou a jornalista é uma heresia.
ResponderEliminarVivemos num país acéfalo onde a crítica é repudiada. Bem hajam pelo vosso contributo para uma opinião isenta.
Dear TM,
ResponderEliminarBoa observação. Infelizmente e sem possuir os dotes da astróloga Maya ou do Pro.Karamba já eu, em 1992 dizia aos meus alunos que o descrito seria uma das consequências da adesão ao Euro.
Caro Nuno Soares,
ResponderEliminarBem lembrado, não me apercebi de tão empolgante momento nacional. Falha gravíssima a minha, não sei como me redimir...
Caro Wegie,
Permita-me uma pequena correcção: essa evolução não foi consequência da adesão ao Euro mas sim das políticas económicas, totalmente equivocadas, que as digníssimas autoridades financeiras e monetárias protagonizaram na sequência da adesão ao euro...
Recorda-se, certamente, que chegou a ser heresia, entre nós, aí por inícios da última década, chamar a atenção para o défice externo...
O défice externo, com a adesão ao euro, tinha-se tornado irrelevante, questionar o desequilíbrio da balança de pagamentos seris a mesma coisa que questionar o desequilíbrio da balança do Mississipi com o resto da Federação Americana - recorda-se dessa genial aula de economia?
E o mais extraordinário é que alguns dos que mesmo assim continuaram insistindo no tema, chamando a atenção para a insustentabilidade desse défica - os HEREGES - pagaram bem caro a dissidência, funcionou um Santo ofício do século XXI...
Efeito República Popular da China, isso sim, meus amigos — representam actualmente a módica fracção de 20% do total da produção industrial mundial, com um excedente favorável na respectiva balança comercial na casa dos 22,7 biliões de dólares, dados de Junho deste ano, tendo, ainda em 2010, ultrapassado os E.U.A, enquanto primeiro produtor industrial mundial. (http://economicsnewspaper.com/policy/german/new-study-china-solves-united-states-from-the-largest-industrial-producer-1399.html)
ResponderEliminarO resto? O €uro? os malandros dos americanos e a sua sinistra máfia financeira mais as suas sinistras agências de rating, etc.?
Tudo bodes expiatórios feitos por medida.
Pequim agradece.
É da maneira que persistimos em não falar do assunto.
Quando (muito brevemente, assim me quer parecer) a Europa tiver cumprido o seu inadiável destino de se ver reduzida à tarefa de economia esencialmente agrícola (leia-se Grande Fazenda da Ásia emergente), talvez, então, se comece a falar do assunto.
Até lá...
Melhores cumprimentos,
Luís F. Afonso, Japão
Caro NanBanJin,
ResponderEliminarOra cá estáuma boa recordação da chegada dos Portugueses ao Japão...os NanBanJin...ou barbaros do sul, não é verdade?
Quanto ao resto, também subscrevo o ponto de vista de que os protestos em relação às ageências de rating e questões similares são formas de encobrir os reais problemas criados por uma política económica desconchavada, evitando (por enquanto) enfrenta-los como se impõe e urge!
Dear TM,
ResponderEliminarIsto já é uma questão de fé. Com défice ou sem ele o destino das exportações portuguesas era inevitável com a adesão. Recomendo algum estudo sobre as consequências do retorno/revalorização da Libra ao padrão-ouro em 1925 ou a mais recente equiparação do Peso Argentino ao Dolar.
Dear Wegie
ResponderEliminarQue coincidência!
Aprecio muito este blogue. Gosto muito de ler os textos e os comentários.E como diz o povo, quem sabe sabe.
Fica bem.
Dear Maria,
ResponderEliminarLove meet you in this corner. Os posts do Tavares Moreira são um must da blogosfera! Sendo um ortodoxo e pouco dado a análises que ultrapassem a sebenta do Marshall, tem contudo uma visão penetrante e honesta. Virtudes raras num economista português.
Caro Wegie,
ResponderEliminarMais uma vez uma pequena sugestão para ajustamento do raciocínio: a questão da perda das quotas de mercado começa muito antes da adesão ao Euro: em 1996, quando se dá uma claríssima inversão da política económica, com um forte estímulo ao crescimento da procura interna!
Daí para a frente, como demonstra esta breve digressão que o BdeP nos proporciona, as exportações portuguesas perdem sistematicamente quota de mercado, curiosamente com uma inversão em 2003, quando MFL tentou aplicar os travões ao modelo despesista que nos iluminava desde 1996...
Mas foi "sol de pouca dura", como soe dizer-se, o despesismo estava na ordem do dia, "havia mais vida para além do orçamento", o resto já sabemos nós...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEste artigo do New York Times é já um pouco datado (Outubro de 2009) mas de lá para cá os factos só têm confirmado os piores receios. Vale a pena ler na íntegra — está lá tudo:
http://www.nytimes.com/2009/10/14/business/global/14chinatrade.html?_r=1
Quiseram fazer a globalização como a fizeram... Agora não se queixem.
Portugal a exportar? A exportar o quê?
É que antes de exportar, há que produzir, criar, pôr cá fora algo que se veja, com qualidade e a preços competitivos.
Ora num mundo onde a cada dia que passa, confiamos mais e mais a responsabilidade da produção de bens de uso e consumo a terceiras partes (e verdade, verdadinha, cada vez mais a UMA só em particular), não há muito a fazer em prol do que é nosso.
Recordo-lhe, e aos demais leitores, que só no ano em que deixei Portugal (2008), mais de 300 unidades industriais, na região Norte do nosso país, encerraram portas. Dir-me-ão alguns que não é muito...(???)
E então eu pergunto-me, com a liquidação de fontes de produção e criação de riqueza ao ritmo a que vimos assistindo, queremos exportar o quê? Aliás, queremos viver do quê?
O que mais me espanta, é que aqui no longínquo país que me acolhe, parece haver uma percepção correcta da dimensão do problema por parte da opinião pública — o Japão depende integralmente da sua capacidade exportadora, e não tem outro remédio senão proteger a produção nacional —; a Oeste, bem pelo contrário, persistimos em vislumbrar gigantes em moinhos de vento (Euro, América, agências de rating, a malvada banca...).
E enquanto isso o que nos resta de actividades económicas relevantes, para não dizer vitais para a nossa existência colectiva, vão definhando como flores por regar.
E atenção, eu não sou sinófobo. Nunca me canso de o dizer!
Meus melhores cumprimentos,
Luís Filipe Afonso, Fukuoka, Japão
Caro Luís Filipe Afonso,
ResponderEliminarO que diz sobre a desindustrialização em Portugal é objectivo, tem-se registado nos últimos anos uma destruição de empresas transformadoras como não há memória.
Apesar disso, constata-se que as exportações de bens produzidos em Portugal tem vindo a aumentar, nomeadamente no corrente ano.
Isto significa que uma boa parte das empresas extintas já teriam perdido a sua capacidade competitiva e prolongar a sua existência traduzir-se-ia numa afectação de recursos sem qq geração de valor.
O drama em Portugal são os sectores protegidos da concorrência, nomeadamente o mastodontico sector público, que por mais ineficientes que sejam semantêm a funcionar graças aos apoios do Estado - ao dinheiro dos nossos impostos - e que, se estivessem sujeitos às mesmas leis que as empresas privadas há muito teriam desaparecido.
Essa é, em última análise, a fundamental causa dos nossos desequilíbrios económicos e do nosso insuportável endividamento em relação ao exterior...
E parece que está bem mais difícil do que se imaginava corrigir esse problema estrutural, mesmo com as boas intenções iniciais do novo Governo e com a ajuda da Troika...