1.Mudam-se os tempos, mantêm-se ou reforçam-se os equívocos…é o que ocorre dizer depois de ler a formidável expressão do Dr. Mário Soares, proferida há dias, quando comentava a política financeira do País: “a dívida externa é muito pouca coisa e há muita coisa para além da dívida”…
2.Por diversas vezes tenho aqui evocado a famosa declaração do Dr. Jorge Sampaio, proferida em plena sessão solene do 25/4, na AR e no ano da graça de 2003: “Há mais vida para além do orçamento”…
3.Essa declaração traduziu, na minha opinião, o mais completo desconhecimento acerca da natureza dos desafios que a economia portuguesa enfrentava na altura e teve, em consequência da enorme repercussão que lhe foi dada, um gravíssimo efeito deletério no combate aos problemas económicos que MFL, com muita coragem, estava a conduzir…
4.Num formato novo – repetir a expressão utilizada por Sampaio teria o risco de ser apontada como plágio pouco patriótico – temos pois agora o mesmo tipo de interpretação desastrada dos desafios que se nos colocam, invertendo tudo, confundindo tudo, apenas aditando mais engulhos a quem tem a delicadíssima tarefa de tentar retirar o País de uma situação de pré-falência…
5.O que nos é dito por um grande senador da III República é que devemos relegar para segundo plano as preocupações (i) com a dimensão da dívida externa (250% do PIB, em termos brutos, é coisa muito pouca, de facto), (ii)com o custo dessa dívida e (iii) com a (in)disponibilidade dos credores para continuarem a financiar-nos…
6.…se essa preocupação tiver de chegar ao ponto de impor (i) mexidas no nosso amado e intocável Estado Social, (ii) alguma redução nas funções do Estado ou (iii) a venda de património do Estado, seja este mobiliário ou imobiliário (qualquer possível venda é à partida rotulada de “ao desbarato”)…
7.O mais curioso é que este tipo de discurso, da mais pura e dura negação da realidade que vivemos – como muito bem assinala J.M. Fernandes num interessantíssimo artigo de opinião na edição do Público de hoje – tenha merecido, do mesmo modo que o famoso discurso do Dr. Sampaio em 2003, um eco privilegiado na comunicação social como se estivéssemos perante uma muito estimável e exequível proposta de política económica…
8.Decididamente, o tempo passa, ”toda” esta gente não aprende nada…e depois vêmo-los a desfazerem-se em lamúrias porque os problemas económicos do País nunca mais encontram solução…mas que sorte a nossa!
Portugal também é um país de azares. Mário Soares foi, claramente, um desses azares.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarComeço a admitir a ideia que, da mesma forma que,(em economia) existe a a condição de "armadilha dívida", em antropologia poderá existir a "armadilha cultural".
O seu comentário bem pode denunciar/indiciar essa evidência
Cumprimentos
joão
Não surpreende que os líderes socialistas profiram essas barbaridades. A dívida não é um problema deles mas sim da populaça. Porque eles há muito que se colocaram num patamar à prova de tsunamis, quanto mais de crises financeiras.
ResponderEliminar“Há mais vida para além do orçamento”… Sampaio I, o Mole.
ResponderEliminarComeça a tornar-se evidente, conforme António Barreto, uma séria revisão da CRP.
Para termos de aturar tiradas destas, para quê em Belém, uma corte de dezenas de assessores e conselheiros?
Já com os incêndios de Verão, quando o ouvi numa TV a declamar "temos que obrigar os proprietários a limpar as matas", tive de concluir: aqui temos um PR que não conhece o país, o interior e a floresta portuguesa.
P8: esta "gente", caro Dr Tavares Moreira,
parece terem agora descoberto a forma e a formula, para manterem os seus elevados egos: o mercado, os perigosos mercados, a justificar todos os crimes económicos (consequências) que apadrinharam durante décadas.
Nunca percebi e acredito que nunca irei perceber, de que utilidade se reveste o cargo de ex-presidente da república, para o nosso país.
ResponderEliminarMais ainda, se um ex-presidente, teimar em querer que as suas opiniões sejam consideradas politicamente e, caso esse privilégio não lhe seja concedido, reclamar o de cidadão, com direito a opinião.
Esse direito todos temos, cidadãos; mas não vagueamos pela "praia da política", saboreando a leveza das "coisas" que não temos voz para atirar ao vento, esperando que alguma gaivota em pleno voo, as apanhe.
Já não é contenção que se pede, nem bom senso, mas sim; SILÊNCIO!
Os nossos azares são muitos, caro Tonibler: mas há os MINI os MEDIUM e os JUMBO azares...
ResponderEliminarCaso em apreço trata-se, manifestamente, de um JUMBO azar!
Caro João Jardine,
Mais do que uma armadilha, admito tratar-se de uma verdadeira epidemia cultural, uma verdadeira praga, e não vejo Bayer capaz de a erradicar!
Caro Joge Oliveira,
Isso tb não me surpreende...o que verdadeiramente me surpreende, ou me custa verificar, é a suicidária complacência - que em casos como o SIC/expresso invade generosamente a fronteira da cumplicidade - que a comunicação social evidencia em relação a estas barbaridades que vão corroendo a economia do País...
Porque será...Amor com amor se paga?
Caro BMonteiro,
A obssessão contra os mercados faz-me lembrar a obssessão do anterior regime em relação aos "inimigos externos" - que ironicamente estas criaturas que agora tomam os mercados como alvo tanto criticavam, rotulando-a de obscurantismo...
O mesmíssimo obscurantismo que o Dr. Soares e os seus apaniguados agora exibem tão generosamente...
Caro Bartolomeu,
Não percebe o meu amigo e não percebo eu, também...
Parece que temos de ficar, quer queiramos quer não, com uma dívida eterna de gratidão por terem exercido esse magistério - a que propósito?