segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O incorrigível Dr. AJ Jardim e as "virgens ofendidas dos "media" (e não só)...

1.Tem constituído um verdadeiro massacre mediático, nos últimos dias, as notícias e comentários, mais ou menos escolásticos, acerca das irregularidades orçamentais agora descobertas na Madeira e que consistem, no essencial, na desorçamentação de um conjunto de despesas que nos últimos 3 anos terá totalizado € 1.113 milhões, bastante concentrado em 2010 (mais de € 900 milhões, excedendo 0,5% do PIB nacional).
2.É evidente que a descoberta desta situação, nesta altura dos acontecimentos, constitui um enorme embaraço para o Governo da República, a braços com a tormentosa aplicação de um dificílimo programa de austeridade tornado inevitável depois da loucura orçamental e financeira que vivemos nos últimos anos...
3.Embora aquilo que pode determinar algum agravamento do esforço de ajustamento seja a eventual continuação de tais práticas em 2011 – de que ainda não há informação tanto quanto se percebe – o simples facto de a prática nos 3 anos anteriores ter obrigado a rever os défices orçamentais apurados nesse período é só por si motivo de grande preocupação, nomeadamente pela imagem externa de “bandalheira”, de cariz “helénico”, que projecta no exterior...
4.Mas também é claro, para mim pelo menos, que a gigantesca operação mediática que esta situação desencadeou em tudo quanto é canal televisivo ou imprensa escrita – para não falar nas reacções das “virgens” dos partidos da oposição, especialmente das “virgens rosa”, assunto de que o Pinho Cardão já se ocupou e muito bem – constitui uma demonstração de cinismo quase inexcedível, se nos lembrarmos que estas mesmas criaturas conviveram alegremente, nalguns casos em plena cumplicidade e até apoio, com quase 6 anos do maior desregramento financeiro e orçamental protagonizado pelo consulado socrático...
5....tendo por exemplo colaborado, em grande escala, na liquidação do discurso de verdade de MFL nas eleições legislativas de Outubro/2009 quando já se adivinhava o desastre que haveria de nos atingir em cheio 18 meses depois...
6....e sendo certo que durante o mesmo consulado socrático as desorçamentações várias vezes estiveram na ordem do dia, assumindo formas e técnicas variadas (desde desorçamentações à Jardim, passando por criação de diversas estruturas paralelas para fugir ao controlo orçamental)...
7.Dito isto, cumpre-me acrescentar a opinião de que o Dr. Jardim não é corrigível – não lhe falem por favor em disciplina orçamental, em rigor na gestão de recursos públicos! Ele não saberá nem quererá saber o que isso é, aliás até admito que considere qualquer forma de disciplina financeira uma rematada tolice daqueles a quem atribui, depreciativamente, o rótulo de “ortodoxos” (já lhe ouvi isso)...
8.Permito-me, para concluir, recordar um curioso episódio ocorrido em Abril deste ano (salvo erro) e a que prestei especial atenção: em audição pública na AR, o Presidente da Direcção da ANF, Dr. João Cordeiro, anunciou que a partir do dia 1 de Maio seguinte a ANF deixaria de financiar as comparticipações aos medicamentos vendidos na Madeira caso o Governo Regional continuasse a atrasar o reembolso dessas comparticipações, agravando uma dívida que, salvo erro, ascendia já a mais de € 100 milhões segundo foi afirmado...essa ameaça era equivalente a uma bomba atómica, por assim dizer...
9.Alguém voltou a ouviu falar desse asunto? O Dr. João Cordeiro é tido por uma personalidade eminentemente pragmática e essa é a única linguagem que o Dr. Jardim verdadeiramente entende e o faz mover...

6 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira,

    Falar em embaraço internacional quando o estado português foi apanhado a contabilizar o BPN em 2008, é para rir. E que não tinha nenhum impacto para o contribuinte, se bem me lembro...

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  2. O mimetismo deu-se na Madeira, nas autarquias, em muitas famílias. e ai de quem ousasse duvidar da bondade de todas estas políticas!, como bem lembra o Tavares Moreira. Agora, é apanhar as canas...

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  3. Quando a cara Drª Suzana Toscano refere "Agora, é apanhar as canas..." estará a concordar com a ameaça de Alberto João Jardim, quando diz ao Governo que lhe deverá perdoar o "deslise", do mesmo modo que perdoou a dívida aos países africanos?
    ;)
    Se assim fosse, neste momento Carlos César estaria a arrepelar-se e a reunir com os seus assessores para ver se ainda íam a tempo de descabimentar umas quantas facturinhas...
    Quem diz Carlos César, diz afinal todos os outros presidentes autarcas.

    ;)

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  4. Tonibler,

    Até lhe reconheceria toda a razão não fora o infeliz momento em que ocorre esta nova fatalidade...
    As dramáticas circunstâncias em que este episódio foi revelado contribuíram para lhe conferir uma dimensão que há 3 ou 4 anos não teria certamente...

    Cara Suzana,

    Como bem diz, chegou a hora de apanhar as canas, só que já se torna difícil destrinçar as simples canas dos reais canudos...
    Parece que é tudo canudos...

    Caro Bartolomeu,

    O que vale é que nos Açores não haverá muitas canas...o que não quer dizer, evidentemente, que não haja para lá uns bons canudos...
    Estou a lembrar-me por exemplo da decisão que tomaram de atribuir aos funcionários públicos, de uma certa "casta" açoreana, um subsídio compensatório da redução dos vencimentos aplicada em 2010...já ninguém se lembra e, curiosamente, o famoso PM da altura disse que os Açores estavam a exercer legitimamente a sua autonomia...
    Que comovente isso foi!

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  5. Caro Tavares Moreira,

    ouvindo o primeiro-ministro parece-me realmente que ele partilha da sua opinião de que esta bronca da Madeira é mesmo pior que tudo, apesar do jornalista ter "aberto a barreira toda" ao falar dos anos anteriores. O que me deixa excelentes perspectivas para a aposta... com tudo na mão para dizer "ah, mas o Teixeira dos Santos foi obrigado a rever os défices desde 2007" respondeu "pois, é grave..."

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  6. Caro Tonibler,

    Não é que este assunto me entusiasme particularmente, mas este seu último comentário, sempre interessante de resto, obriga-me a um esclarecimento...
    Se essa é a opinião do PM, da "brona da Madeira ser o pior de tudo" - que não me pareceu que seja exactamente nesses termos, pelo menos em função do que ouvi - então ele não partilha da minha opinião pela razão simples de que a minha não é essa.
    O que eu penso e insisto é que o impacto dessa bronca assumiu proporções que não assumiria caso não estivessemos em fase de excepcional "aperto de cinto" e com necessidade evidente de abrir mais uns furos no mesmo cinto e sob especial vigilância internacional...
    E tb penso e insisto que o Dr. AJJ não tem cura neste tipo de práticas uma vez que ele está absolutamente convencido de que essa história da disciplina financeira é para os "tolos" dos "ortodoxos" como ele gosta de dizer...
    Em matéria de gestão de finanças públicas ele sabe pronunciar quase exclusivamente o verbo GASTAR - no presente do indicativo e no futuro em especial...
    E tb só entede linguagens como a do Presidente da ANF que citei no Post...

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