quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A fixação de máximos para as Taxas dos Depósitos

Com a fixação de limites para as taxas de juro dos Depósitos, o Banco de Portugal veio hoje agravar, objectivamente, o maior problema da economia portuguesa, que é o bloqueamento do financiamento às empresas. Este bloqueamento existe por força da obrigação imposta aos Bancos de reduzirem o rácio Crédito Concedido/Depósitos dos actuais 145% para 120% até ao fim de 2013. Trata-se de uma redução violenta, atendendo a que é difícil actuar nos dois termos do rácio. Com efeito, uma diminuição do numerador só é atingível, para além de não concessão de crédito adicional, por um reembolso significativo dos financiamentos concedidos, uma verdadeira impossibilidade; e o aumento do denominador, nas actuais condições de poupança, só é viável através de uma melhor remuneração dos Depósitos, que alicie novos capitais ou seja de molde a restringir consumos supérfluos.
Ora o Banco de Portugal veio hoje penalizar os Bancos pelos depósitos que excedam a taxa euribor e um 'spread' de 300 pontos base. Não interessa entrar em linguagem muito técnica, mas a penalização consiste na dedução de parte de tais depósitos aos fundos próprios dos Bancos, afectando-lhes os rácios de solvabilidade, já de si muito exigentes, e exigindo mais capital accionista, neste momento escasso, para não dizer nulo.
Com esta medida, o Banco de Portugal pode melhorar os rácios financeiros bancários, mas dificulta sobremaneira a actividade económica, ao travar ainda mais o seu já difícil financiamento. E não são os 12 mil milhões disponíveis para recapitalização dos Bancos que vão atenuar o problema. Isso é uma falácia completa. Porque uma recapitalização, se melhora a solvabilidade, não actua nem no numerador nem no denominador do rácio crédito/depósitos, cuja diminuição drástica é objectivo que reguladores exigem que se cumpra.
Os rácios financeiros são importantes; mas sem empresas financiadas não há economia, nem há bancos e muito menos haverá rácios.

3 comentários:

  1. Se a previsão para o próximo ano é de um decréscimo das exportações, conclui-se que a produção será também menor, pelo que, se se vier a verificar o aumento de financiamento às empresas e a particulares, o mesmo não se irá reflectir na economia interna, mas sim, na externa, com o aumento das importações.
    Penso, caro Dr. Pinho Cardão.

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  2. Para além da fuga de depósitos para outras paragens e da enormidade que é os bancos se terem de financiar no exterior a 8% apenas porque não podem recolher poupanças (internas) a 5%.
    O resultado disto é simples:
    Quem tem excedentes e poupanças, para uma mesma remuneração, preferirá colocar fora, por ser mais seguro.
    Depois, os bancos (a economia) portuguesa, para se financiar, tem que ir ao exterior. Aí, entra o mesmo dinheiro mas... já a 8%.
    Uma excelente decisão para os mercados financeiros.
    Uma péssima decisão para o País, os seus bancos e sua economia.

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  3. Confesso que há medidas do Banco de Portugal que me surpreendem muito negativamente. Até acho muito discutível se o Banco de Portugal pode tomar uma decisão destas não sendo ele fornecedor de liquidez.

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