(How are you feeling today?
Percentage of people reporting more positive than negative emotion in one typical day, 2010)
Percentage of people reporting more positive than negative emotion in one typical day, 2010)
Todos sabemos que cada povo tem a sua linguagem cifrada, a linguagem transmite códigos de comportamento que só os “nativos” conseguem decifrar. Uma das características dos portugueses é nunca manifestarem contentamento com o que quer que seja, sobretudo não o fazerem abertamente, é um bocado mal visto, quase um pudor supersticioso, assumir que se está bem na vida, que se é feliz, que chega muito bem o que se tem, etc. A pergunta ”Como estás?” deve assegurar um tempo mínimo para uma resposta dúbia sobre as contrariedades da vida, a doença ou as angústias sobre a duração da saúde ou das alegrias. Assim assim, vai-se andando, podia estar pior, mais ou menos, por agora, quando mal nunca pior, etc, são expressões que todos temos que decifrar tendo em conta o interlocutor ou o contexto.
Vem isto a propósito de a OCDE ter lançado ontem um relatório intitulado How’s Life? Measuring well-being, que apresenta um retrato dos países baseado num novo” indicador de felicidade”, o qual pretende pelo menos complementar os habituais indicadores que medem o progresso dos povos pelo PIB. Esta novidade vem na sequência de um relatório apresentado há dois anos pela Comissão Stiglitz ao Presidente francês, no qual se criticava os actuais métodos de avaliação da riqueza dos povos por não espelharem o bem estar, mas apenas a actividade económica e a produção de bens.
How’s Life ? considera a avaliação de onze factores: rendimento, saúde, ambiente, sentido de comunidade, habitação, segurança, emprego, educação, governo, equilíbrio entre vida profissional e vida familiar, satisfação geral. A identificação dos vários graus de satisfação foi obtida através de inquéritos às populações e é aqui que entra este devaneio sobre as cifras de linguagem e atitude.
Os portugueses, claro, ficaram em 38º lugar entre 40 países, pior só mesmo os chineses e os húngaros, estão infelizes, desconfiados, endividados, desempregados ou ganham pouco, têm pouco tempo para o lazer e para o convívio com os amigos. Isso é tudo verdade, mas também é verdade que as condições de vida melhoraram muito substancialmente nas últimas décadas e que uma das razões do endividamento do país e das famílias é precisamente o ter-se obtido muitos bens materiais e condições de assistência com que antes nem se sonhava.
No final do inquérito vem a pergunta emocional “como se sente hoje?”. Mal, respondem os portugueses. Pior que os gregos, que os indianos, muito pior que os chineses. Os islandeses que, se bem me lembro, faliram há pouco tempo, são os segundos mais bem dispostos, logo a seguir aos radiantes dinamarqueses. Mas não sabemos se na terra deles é ou não costume mostrar satisfação com o que se tem.
Estes índices de felicidade são realmente um grande desafio a quem queira tirar deles conclusões seguras, talvez fosse mais útil fazer um inquérito sobre “o que é que o faria um cidadão feliz?”, sempre se criava uma dificuldade na resposta.
Vem isto a propósito de a OCDE ter lançado ontem um relatório intitulado How’s Life? Measuring well-being, que apresenta um retrato dos países baseado num novo” indicador de felicidade”, o qual pretende pelo menos complementar os habituais indicadores que medem o progresso dos povos pelo PIB. Esta novidade vem na sequência de um relatório apresentado há dois anos pela Comissão Stiglitz ao Presidente francês, no qual se criticava os actuais métodos de avaliação da riqueza dos povos por não espelharem o bem estar, mas apenas a actividade económica e a produção de bens.
How’s Life ? considera a avaliação de onze factores: rendimento, saúde, ambiente, sentido de comunidade, habitação, segurança, emprego, educação, governo, equilíbrio entre vida profissional e vida familiar, satisfação geral. A identificação dos vários graus de satisfação foi obtida através de inquéritos às populações e é aqui que entra este devaneio sobre as cifras de linguagem e atitude.
Os portugueses, claro, ficaram em 38º lugar entre 40 países, pior só mesmo os chineses e os húngaros, estão infelizes, desconfiados, endividados, desempregados ou ganham pouco, têm pouco tempo para o lazer e para o convívio com os amigos. Isso é tudo verdade, mas também é verdade que as condições de vida melhoraram muito substancialmente nas últimas décadas e que uma das razões do endividamento do país e das famílias é precisamente o ter-se obtido muitos bens materiais e condições de assistência com que antes nem se sonhava.
No final do inquérito vem a pergunta emocional “como se sente hoje?”. Mal, respondem os portugueses. Pior que os gregos, que os indianos, muito pior que os chineses. Os islandeses que, se bem me lembro, faliram há pouco tempo, são os segundos mais bem dispostos, logo a seguir aos radiantes dinamarqueses. Mas não sabemos se na terra deles é ou não costume mostrar satisfação com o que se tem.
Estes índices de felicidade são realmente um grande desafio a quem queira tirar deles conclusões seguras, talvez fosse mais útil fazer um inquérito sobre “o que é que o faria um cidadão feliz?”, sempre se criava uma dificuldade na resposta.
Cara Drª. Susana Toscano,
ResponderEliminarA felicidade é relativa. E a felicidade de um povo, mais relativa é. Como bem refere, entram pelas estatísticas dentro toda uma série de costumes e idiossincrasias.
Mas menos relativos são os tais onze factores.
É certo que um indivíduo se pode sentir tristíssimo mesmo ganhando 5000€ por mês, enquanto outro pode ser o homem mais feliz do mundo apenas com 500€. Mas se juntarmos os outros factores, como sendo habitação, saúde, segurança, emprego, equilíbrio entre vida profissional/pessoal... não será de espantar a "classificação" Portuguesa.
Cara Susana,
ResponderEliminarDepois de ouvir o Primeiro Ministro tomei a decisão de tirar todo o meu dinheiro do banco, amanhã mesmo!
Os Islandeses e os Finlandeses, devem estar para o resto mundo, como os Alentejanos estão para os Lisboetas.
ResponderEliminarRelatou-me ha dias o nosso amigo Miguel, uma reportágem a que assistiu num canal de televisão, em que era perguntado aos idosos habitantes de uma aldeia alentejana, se a crise os estava a afectar; e a resposta terá sido: nã senhoree a crise aqui nã chega... issé lá pra Lesboa... aqui nã!
Caro AF, concordo plenamente.
ResponderEliminarCaro Fartinho da Silva, olhe que também já pensei nisso. Nisso e em começar a pagar tudo a dinheiro, fazem-se melhores negócios. E os ganhos online, ficam online, para adquirir coisas online :)... em caso de emergência usa-se o cartão de débito que dá acesso aos fundos estacionados algures no "éter" e que só estão sujeitos a uma taxa fixa quando pretendemos levantar o "pilim".
O "éter" é amigo da classe média em vias de extinção em Portugal e o lado bom da coisa é não há nada que se possa fazer.
Aqui, neste espacito físico rectangular, podemos estar agrilhoados e à mercê das aves de rapina, mas no "éter" a conversa é um bocado diferente.
A Dinamarca percebe-se...
ResponderEliminarPortugal também.
Uns apuraram-se outros vão ao "play-off".
Depois do que ouvimos ontem, um dia para brincar. Depois...
Suzana
ResponderEliminarDesde os primórdios da civilização que a procura da felicidade tem sido uma preocupação constante da humanidade. É importante que os governos trabalhem para um PIB que leve em conta a qualidade de vida e se preocupem em dispor de um indicador que permita aferir em que medida o progresso económico traduz melhores condições de vida.
A “economia da felicidade” é um novo campo do conhecimento que tem vindo a ganhar importância como pode ser comprovado pela introdução de métricas de felicidade nas políticas governamentais de países como a França, o Brasil ou o Reino Unido. Mas subsistem muitas dúvidas sobre como medir o bem-estar de um país através dos chamados “indicadores de felicidade”.
Por cá, as políticas do facilitismo e do consumismo criaram um aparente estado de bem-estar que fez a felicidade de muita gente. Uma felicidade efémera como estamos a constatar. Mas as pessoas têm normalmente uma grande capacidade de se adaptarem às adversidades e de manterem a sua alegria natural. Mas a alegria portuguesa é fraca. Se juntarmos a dificuldade de as pessoas se adaptarem à incerteza, não é arriscado dizer-se que os portugueses não podem estar felizes.
Já agora deixo duas sugestões para quem queira aprofundar o tema da economia da felicidade: The pursuit of happiness: an economy of well-being, Carol Graham e Happiness: a revolution in economics, Bruno Frey.
Tire os chineses dessa sua lista sff. Ao contrario do preconceito que todos temos e que v. inconscientemente adoptou, os chineses estão entre os dez mais satisfeitos com a vida como se depreende da leitura do gráfico. E isso muda tudo não muda? É que se pode trabalhar como um ...chinês, e estar satisfeito com a vida. Uma lição para todos nós.
ResponderEliminarCaro JPRibeiro, se clicar no 2º link que faço no texto (onde diz 38º lugar) verá que o que escrevo está certo, os chineses são os que consideram que têm menos bem estar nos item considerados. O quadro que importei refere-se apenas à pergunta final do inquérito, "como é que se sente hoje", mostra a angústia ou o pessimismo permanente ou a dificuldade em reconhecer razões para se estar contente, e foi isso que eu tratei no meu post. Mas obrigada pelo reparo, às vezes podia mesmo ter-me enganado.
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