quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quem semeia ventos...

Ao meu lado duas senhoras de meia-idade comentam acaloradamente notícia de primeira página sobre o ministro que andava de vespa que se deixou seduzir pelo conforto de um carrão de luxo. Viram-se para mim quando um delas grita: "Uns hipócritas! São o que todos são. Uns hipócritas!".
Tinha nessa manhã ouvido o desmentido indignadíssimo do gabinete do ministro, amplamente difundido pela Cibéria via facebook e blogues: que não, que não foi o ministro que pediu a viatura, que a coisa já estava pedida pelo antecessor, que se limitou a recebê-la da central de compras do Estado em substituição da que lhe fora destinada, a qual, como os iogurtes, tinha já passado de prazo e ameaçava envenenar.
Pois tal desmentido não se substituiu à notícia bombástica da troca da vespa pelo carrão. Como era, aliás, previsível. O episódio, em si mesmo, não vale um caracol. A não ser para provar que medidas que se tomam (como a de proibir gravatas para poupar energia) ou imagens que se querem passar (chegar de vespa ao conselho de ministros) colhem a simpatia dos gestos populistas. Mas como todos os populismos e demagogias viram-se mais cedo que tarde contra quem as utiliza. Recorda-se o desmentido e a indignação dos apaniguados e não há como não perguntar: mas quem semeia estes ventos pode indignar-se pela tempestade?

9 comentários:

  1. Touché! Estava à espera de algo parecido. Não as medem e depois sentem o desconforto de um corpo estranho...

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  2. JM Ferreira de Almeida:

    Pela explicação dada, parece que o deboche vinha de trás, do Zorrinho, a iniciativa da compra da viatura «baratucha», à medida das posses do estado do Estado não foi do M. Soares.
    Mas o problema é da razoabilidade das promessas e da coerência subsequente. A populaça até «papa» tudo, mas quando se faz a campanha eleitoral a dizer que é contraproducente aumentar impostos, que se deve é cortar nas gorduras do Estado (até havia números – Catroga, AS Pereira no livro e no blogue Desmitos – eu li os números, e depois se aumenta os impostos, se corta nos rendimentos dos «ricos» a partir de 600 euros e se pactua com situações como a deste carro, é caso para perguntar: em que ficamos?
    Quanto a cortar rendimentos a torto e a direito (inevitáveis) há vontade e acção, já renegociar as ruinosas PPP, estes ruinosos contratos de leasing de viaturas, perseguir a fuga ao fisco e a economia paralela (que geram iniquidade para com as empresas sérias), assim como passar constantemente a «cassete» de que temos a necessidade vital de produzir mais em todos os campos, quase nem uma palavra.
    Pior do que o nosso despesismo é o défice das nossas receitas (via produção para o consumo interno e para a exportação).
    Eu costumo dar o exemplo: Um gastador imoderado pode não ir à falência se tiver proventos iguais ou superiores aos gastos, assim como um poupadinho sovina pode ir à falência se tiver proventos inferiores aos seus escassos gastos.
    Nós juntámos o pior dos dois.
    E estes ministros passeiam os vícios do gastador num Estado que devia ser poupadinho.

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  3. Mesmo que a viatura tivesse sido "escolhida" por um membro do governo anterior, é claro que o ministro podia muito bem recusá-la; não o fez, e a desculpa do motivo não colhe...
    Sempre achei que o povo "repara" de um modo geral nos carros em que as figuras do estado se deslocam e nos eventos faustosos que organizam, mas também repara com escárnio e mal-dizer num ministro de lambreta... Resquícios da monarquia, talvez...

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  4. É assim mesmo, caro Ferreira d'Almeida, o que impressiona é que nunca se aprenda e se caia sempre nas mesmas receitas populistas.

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  5. Caro F. Almeida,

    Muito bem observado...parecem-me aliás padecer de infantilidade, depois de já se ter visto tanta coisa, iniciativas "primavera", que tentam gerar imagens de populismo fácil e que, por inconsistência gestual,se desfazem à 1ª curva contra o mesmo populismo fácil...como neste episódio se demonstra...

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  6. Caro JMFA (e demais),

    A coisa só é populista por não ser verdadeira. O mal aqui é não fazerem os outros todos andar de vespa. Eu sei que a quantidade de dinheiro envolvida é pequena face ao resto, mas é o meu dinheiro, não é o dele. O contrato estava feito? Passa o carro para os funcionários que precisam de se deslocar para exercer a função que está destinada ao ministério porque "deslocar ministro" não faz parte das funções do ministério. Tal como tirar cópias.

    A mim faz-me alguma confusão que a expressão "não há dinheiro" seja encarada como meramente informativa. Ok, não há dinheiro mas dá para um carruncho, para uma viagem de estado, para mais um subsídio, para...

    Não haver dinheiro significa que todo o Euro tem melhor utilização que aquela em que se está a pensar. Quanto mais não seja para pagar o que o estado deve. Porque é que os nórdicos podem ter um estado e os portugueses não? Porque este problema nem se colocava porque se o ministro quer andar de carro, compre-o!

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  7. Estou com o JotaC.
    Há muito que observando o circo nacional, fui levado a concluir esta.
    Terminada a monarquia em 1910, a escola e cultura que têm dominado, comprovam plenamente o desenvolvimento mental dos aristocatos lusos.
    Democratas democratas, mas com os tiques e as prebendas da lusa monarquia.
    Dilema: progresso material versus evolução mental.

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  8. Este Sinistro de Mota deixou de fazer jus ao nome? Que pena...

    Podia pelo menos comprar um burro português, ou alter lusitano, ou uns patins oleados a sardinha. Sempre contribuía menos para o desequilíbrio da balança de pagamentos.

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  9. ... e já agora poderíamos trazer à baila o lugarzinho do nosso Primeiro-Ministro no avião de cada vez que se desloca; Será que ainda se desloca em económica, com os joelhos colados ao queixo?...

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