Houve tempo em que os condenados seguiam acorrentados para o cadafalso ou para a fogueira, no trajecto eram injuriados e ofendidos, e a morte constituía espectáculo festivo para as multidões ululantes. Houve muito tempo desse, tempo de negação civilizacional.
Voltou-se a esse tempo. Com uma diferença. É que o mesmíssimo trajecto é agora percorrido por quem ainda não foi condenado e é presumível inocente, à face da lei, dos direitos humanos e da civilização.Com uma segunda diferença: é que já não é necessário ir ao Terreiro de S. Domingos assistir à fogueira do inquisidor. O espectáculo entra em directo na casa de todos nós. Uma informação ululante poupa o incómodo da deslocação.
Na traficância da informação tudo se tornou possível e natural: uns traficam a data e o local do espectáculo, outros traficam o melhor cenário, o melhor ângulo, os melhores figurantes e a melhor retórica para a comercialização. Selvajaria sem critério e em estado puro. Dos que querem voltar ao Terreiro de S. Domingos.
Voltou-se a esse tempo. Com uma diferença. É que o mesmíssimo trajecto é agora percorrido por quem ainda não foi condenado e é presumível inocente, à face da lei, dos direitos humanos e da civilização.Com uma segunda diferença: é que já não é necessário ir ao Terreiro de S. Domingos assistir à fogueira do inquisidor. O espectáculo entra em directo na casa de todos nós. Uma informação ululante poupa o incómodo da deslocação.
Na traficância da informação tudo se tornou possível e natural: uns traficam a data e o local do espectáculo, outros traficam o melhor cenário, o melhor ângulo, os melhores figurantes e a melhor retórica para a comercialização. Selvajaria sem critério e em estado puro. Dos que querem voltar ao Terreiro de S. Domingos.
Temos então de dar razão ao António de Santa Comba, e voltar ao tempo em que a informação era controlada pela censura.
ResponderEliminarMas, não detenhamos o olhar somente na árvore e façamos um esforço para conseguir ver a floresta.
Não são as multidões que montam o palco, apesar de serem as multidões que assistem ao espectáculo e... quando o caro Dr. Pinho Cardão refere que ululam e aplaudem... discordo. Aquilo que acontece, é semelhante ao que acontece nos reality shows, onde por detrás das câmaras se encontram os animadores, aqueles que feitos macacos, indicam à assistência quando devem aplaudir, sentar-e e levantar-se.
A questão visada no tema do seu post, caro Amigo, é ambígua, porque ela não deve ser dirigida à opinião pública, mas sim aos mecanismos quer a nível de comunicação social, como judiciais que orquestram todo o show.
Não vou dizer que no meio de toda a monumental palhaçada, não se consiga arrebanhar umas boas dúzias de patós capazes de se esganiçar todos perante uma câmara de televisão reivindicando algo que não fazem a menor ideia do que seja. Mas não são esses que enchem os telejornais. O que enche os telejornais são as imágens televisivas, feitas à laia de reportagem da volta a Portugal em biciclete e as doutas opiniões de encher chouriços de Moita Flores e Marinho Pinto.
Ou seja, é como se estivessemos a assistir a uma reunião de condóminos de uma grande urbanização onde se discute se deve ser colocado um portão automático na entrada da garagem.
Não punhamos as culpas em quem faz o seu trabalho. Os jornais, as televisões o Moita Flores e até o Marinho estão a trabalhar para o seu cliente que somos nós, a maralha curiosa.
ResponderEliminarAgora, há quem seja pago para aplicar a justiça enquanto justiça que mete as coisas nos jornais sabendo das consequências e o cliente dessa gente, que somos nós cidadãos, paga-lhe para fazer exactamente o contrário. E nem sequer seria complicado descobrir quem foi.
Ha aí uma pequena nuance, caro Tonibler, nós, os cidadãos que pagamos a justiça, somos as vítimas de todo o sistema. Inclusivé da manipulação dos jornais e televisões que também pagamos e que tanto se colocam ao serviço das vítimas, como dos agressores, fingindo não sair do seu campo profissional, que deveria restringir-se à informação. A exploração das imágens com o fim de influenciar está cientificamente estudada e é aplicada em todo o seu potencial.
ResponderEliminarPortanto, não nos deixemos iludir, quanto à isneção de propósitos e de tomadas de posição pró e contra.
Acho muito bem que a justiça actue no caso BPN, detenha todos os que obtiveram proveitos ilícitos, tanto mais que esses proveitos estão agora a ser pagos por todos os cidadãos.
ResponderEliminarMas desconfio da extemporaneidade, por inesperada, desta operação mediática, quando, certamente, desde as primeiras auditorias ao BPN que os burlões estariam devidamente identificados; então, assim sendo, porquê só agora!?.
Todos retemos na memória que o caso BPN desde o início foi tratado com mãozinhas de lã, como sendo assunto do maior interesse do estado, tal como o Freeport. Hoje, cada vez mais me convenço que a gravosa nacionalização dos prejuízos apenas serviu para proteger os burlões que, pouco a pouco, iremos conhecendo.
Mas a interrogação permanece: Porquê só agora!?.
Nas frenéticas reportagens televisivas a que assisti, não ouvi ninguém preocupado em saber, talvez por ser de somenos importância, talvez porque só agora as pessoas que compõem o sistema judiciário se tivessem apercebido que do seu vencimento saem muitas taxas e sobretaxas para pagar a vida sumptuosa de muita desta rapaziada, talvez porque só agora os processos tenham pernas para andar…
Já quanto ao deplorável espectáculo televisivo em todas as frentes, de norte a sul, todos sabemos que a competição é muita e, também por isso, nem sempre chegar em primeiro lugar é chegar do modo correcto. É a vida!
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarNão, não temos que dar razão ao António de Santa Comba. Entre censura e exibição informativa despudorada e mercantil vai uma longa distância, tão longa que os extremos se tocam e fazem que tanto uma como outra prática sejam condenáveis.
Meu caro amigo, já Aristóteles dizia que a virtude é um meio entre dois extremos. E dizia, exemplificando, que a coragem no combate é o meio termo entre a cobardia e a temeridade. Nesta matéria da informação, que se tornou poder já mais que soberano tomado por quem nunca foi eleito ou mandatado e erigido sobre um critério sem limites, o critério jornalístico, há também que ter a coragem de denunciar os abusos. E digo coragem, porque se está de imediato sujeito a que sejam levantados os fantasmas de antigamente. Já passou mais que uma geração depois disso, caro Bartolomeu. Pessoas de 45 anos nunca deram conta de viver sem liberdade de informação. Mas todos damos conta da libertinagem informativa que por aí vai grassando.
A informação não é produto que possa ser mercantilizado como detergente ou um par de sapatos.
Lamentavelmente, é isso que está a acontecer.
Desviar a atenção deste ponto essencial é, no fundo, ser conivente com a situação.
Caro Tonibler:
Claro que o povo gosta e o povo tem sido educado pela informação para isso mesmo. A constante repetição torna o produto aceitável e, depois, desejável. Mas o círculo tem que ser cortado. A não ser que queiramos voltar aos tempos em que era a força bruta que regulava as relações. Ou, adequado ao momento, a força da propaganda comunicacional, que informação não é.
Acho, francamente, que tudo isto é vergonhoso. Parece, ouvi hoje, que vão investigar a "fuga" de informação. Levaram tempo a reagir a tanta fuga.
ResponderEliminarSeja o que for, caro Dr. Pinho Cardão, existe um problema capital que não pode ser visto com miopia, nem por magistrados, nem por investigadores, nem por jornalistas, nem por cidadãos em geral. E esse problema, é como muito bem treferiu o nosso Amigo Jota C, o de estarmos todos a pagar as burlas, os desvios de milhões de euros, cometidos por meia-duzia de xicos-espertos, colocados em lugares políticos e rodeados de saracoteadores e de uma imprensa aregimentada.
ResponderEliminarOu seja, durante um tempo, tudo se conjugou, politica social e financeiramente para que alguns "sacassem" aquilo que todos estamos agora obrigados a pagar até à enésima geração.
Portanto, com ou sem especulação e manipulação de notícias e da forma de as apresentar e acompanhar, por parte da imprensa escrita ou audio-visual, as vítimas somos nós, os nossos filhos, netos e bisnetos.
Se insistirmos em olhar somente para a forma como as notícias nos são apresentadas e fizermos disso o motivo da nossa indignação, estamos a contribuir para a política dos todo-poderosos e a atirar serradura para os próprios olhos.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarO trabalho dos jornalistas é dar notícias. Isto é notícia. Até se poderia dar o caso de estarmos a falar da doença dele (de que o homem felizmente se livrou), de mulheres (que não faço ideia).
Mas não é. Trata-se de um alegado envolvimento de um antigo político muito importante (que foi) numa suposto esquema de branqueamento de capitais e fraude. Isto é notícia!
Mas o facto de ser notícia não justifica que o seja. Ou seja, o homem tem direitos, esses direitos deveriam ter sido protegidos e não cabia nem aos jornalistas, nem aos curiosos, essa protecção. Há quem seja pago para isso e quem é pago para isso anda a fazer exactamente o contrário, que é hábito e costume no estado português até aos mais altos níveis...
Lamentavelmente e ao longo de décadas, foi-se esvaziando a sociedade portuguese de valores e, em nome do politicamente correcto, foi-se aceitando, sem reparo, a crescente devassa da vida do cidadão. Foi-se mesmo acicatando na populaça, o sentimento de inveja pelo próximo, sobretudo pelo bem sucedido, com mérito próprio. O espectáculo a que se assistiu, ontem, eh, assim, compatível com o que se foi aceitando. Mas lamento que, quem tem, ou teve, percurso político e capacidade de opiniao publica ouvida, nao se tenha insurgido, há muito, com o caminho que se ia consolidando. Espero que Duarte Lima consiga provar o que conseguiu. If not, que a justiça seja implacável, mesmo cega, como deve ser, sempre...
ResponderEliminarPois esse esvaziamento programado da(s) sociedade(s), conduz-nos a uma questão pertinente; Porque carga de água, proclamaram as Nações Unidas, extensas listas de direitos humanos, dirigidas a uns humanos que têm unicamente direito a ver, ouvir e... calar?
ResponderEliminarDe que servem esses direitos, se os humanos para quem foram proclamados são obrigados a afogar na garganta a raiva provocada pelo desprezo aque são votados por todos aqueles que lhes proclamaram os direitos?! Se são obrigados a afogar na garganta toda a indignação provocada pelo direito à não justiça, à não defesa, ao não respeito?!
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarDiz que "o problema, é como muito bem referiu o nosso Amigo Jota C, o de estarmos todos a pagar as burlas, os desvios de milhões de euros, cometidos por meia-duzia de xicos-espertos, colocados em lugares políticos e rodeados de saracoteadores e de uma imprensa aregimentada".
Claro que estamos a pagar muitas dessas burlas. E claro que quem burlou deve ser condenado. Não há desacordo nenhum quanto a isso.
Agora, o que é que tem a ver com esta matéria a exploração informativa que vem a ser feita, contra todas as regras de presunção de inocência, sempre que determinada figura mediática é objecto de averiguações?
Sim, o que é que tem a ver?
Entretanto os mercados reagiram em alta com forte valorização do BCP. Marcará o caso Duarte Lima o ponto de viragem de que falava tão injustamente vilipendiada Sua Excelência, o Ministro da Economia?
ResponderEliminarA "exploração informativa" apesar de num estado de direito, democrático, respeitador dos direitos dos seus cidadãos, não ter justificação nem defesa possível, reflecte no entanto, o desagrado, o cansaço, a revolta do cidadão comum por ser bombardeado sistemática a frequentemente com casos semelhantes e não ter uma única notícia de condenações.
ResponderEliminarIsto leva-me a inferir que a justiça que existe no nosso país se encontra subjugada ao poder económico, não condenando por isso, os ricos, mesmo que tenham enriquecido à custa das fraudes e abusos que cometeram.
Se o caro Dr. Pinho Cardão me pergunta o que tem a ver uma coisa com a outra, tenho de responder, que tem tudo a ver, no entanto, não deveria ter nada a ver. Mas para que não tivesse nada a ver, teria de haver valores eticos e morais bem fortes, a nortear todos os serviços envolvidos nestes processos. Ou seja; após aparecerem indícios ou suspeitas, deveria haver investigação, deveria haver acusação baseada em provas concludentes e inequívocas, deveria haver julgamento, deveria haver condenação e, mesmo que houvesse lugar a recurso, não deveria haver prescrição.
Como tudo isto tem falhado nos casos que têm sido do conhecimento público e uma vezz que a nossa constituição defende a liberdade de informação e ainda, porque o sentido de ética e de moral dos jornalistas e das empresas informativas deixa imenso a desejar e porque esses mesmos órgãos conhece demasiadamente bem a revolta e a indignação que está a generalizar-se pela população, vai de montar o circo, por forma a vender.
Sim porque não podemos acreditar que este frenesim todo que move a imprensa, tenha outro "miolo" que não seja o de retirar o maior lucro possível da situação. Até porque ha a garantia que é dada pela tradição, que nem arguidos, nem falsas testemunhas, nem falsas provas, serão alguma vez condenadas a punição.
Portanto, ha que explorar o filão ao máximo e orar a todos os santinhos para que a seguir a Duarte Lima venha outro nome sonante, para ajudar a manter o cashflow.
Além do mais, caro Dr. sejamos verdadeiros e racionais; se o arguido (não sei se Duarte Lima já foi constituido arguido) não fosse quem é, alguem levantaria a voz para condenar a forma mediática com que o assunto está a ser tratado? Ou por ventura, o Senhor Procurador Pinto Monteiro se indignaria por saber que houve fuga de informações, ou porque a opinião pública conhece o desenvolvimento das operações antes dele?
A isso é que eu gostava de assistir...