“ESTA PONTE FOY PRINCIPIADA NO ANNO DE 1793 EM QUE NASCEO A SERENÍSSIMA SENHORA PRINCESA D. MARIA THEREZA, E ACABOU-SE NESTE ANNO DE 1795, EM QUE NASCEO O SERENÍSSIMO SENHOR PRINCIPE DA BEIRA D. ANTÓNIO.”
Quando se caminha, com ou sem propósito, somos, muitas vezes, surpreendidos pelo que nos rodeia, mesmo nos trajectos palmilhados vezes sem conta. As imagens são sempre diferentes, a atmosfera respira de acordo com os sentimentos, ofegante umas vezes, calma outras e todo o espaço envolvente, como se tivesse vida própria, põe-se a rir ou a chorar numa súbita e incompreensível bipolaridade, a imitar os humanos e a querer dizer-nos qualquer coisa. Falas que não se entendem mas que se fazem sentir.
Olho para o relógio e calculo o tempo que disponho. Não muito. Será suficiente para descobrir algo de novo? O quê? Não sei. Sinto uma vontade tipo aditiva, esquisita, a relembrar os velhos tempos de nicotinodependente. Eis que olho pela enésima vez para o memorial da ponte, que já conheço de cor. Curioso, pensei. Há várias formas de contar o tempo, mas esta é de facto original. Uma ponte que foi construída entre dois partos. Um útero prolixo e devidamente fecundado marcou o início e o fim da sua construção. Hoje, com tantas limitações à fecundidade, seria impossível cronometrar em termos uterinos.
Um tempo uterino é um tempo vivo que contrasta com tempos mortos. Acabei por concluir que não se deve matar o tempo mas dar vida ao tempo.
Foi o que fiz com o pouco tempo que ainda dispunha. Dei-lhe vida.
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ResponderEliminarRui Fonseca disse...
ResponderEliminarReflexão muito pertinente nos tempos que correm.
Que mundo será o mundo daqui a umas décadas quando já não formos testemunhas dele?
Deixo-lhe um link para um artigo que li há dias no Washington Post sobre o tema.
Se tiver tempo e curiosidade disponíveis para tanto.
http://www.washingtonpost.com/world/fertility-rate-plummets-in-brazil/2011/12/23/gIQAsOXWPP_story.html
Muito interessante. : )
ResponderEliminarPensava não ter a propensão para a violência, afinal também matei algum tempo. A partir de agora vou redimir-me, dando-lhe vida!
Quanto à saudade... também lhe vou dar vida e passará a ser uma saudade crónica! Hmmm... não se tornará eventualmente incapacitante?! : )
Abraço, caro Prof. É sempre um prazer ler as suas crónicas.