Li hoje a notícia que no Vale de Chelas em Lisboa
vai nascer uma horta urbana que será cultivada por trezentos hortelãos. Há uns dias atrás tinha lido que mais de vinte terrenos municipais abandonados da
periferia de Évora vão ser divididos em talhões e transformados em hortas
urbanas. Sinais dos tempos!
Um pouco por todo o país estão a nascer as hortas urbanas, terrenos outrora
baldios, deitados ao abandono ou ao cultivo clandestino da terra, muitos deles
destinados, mais trade ou mais cedo, ao “betão armado” ainda que para tal lhes fosse modificada a
utilização através dos convenientes actos administrativos.
Num momento de grande austeridade,
não é admissível o desperdício de recursos que bem aproveitados e geridos podem
transformar-se em bens úteis para quem deles precisa. Estamos a assistir a uma
nova consciência política e social. O aproveitamento ordenado e regulamentado da
terra arável e saudável em hortas urbanas é um sinal de que as autoridades públicas
percebem que através de uma intervenção ordenada e regulamentada viabilizam o
acesso de centenas de pessoas a uma fonte de rendimento que na maioria dos
casos lhes vai permitir ter um prato de sopa na mesa das suas casas. Mas para
além do sentido económico, iniciativas como as hortas urbanas têm uma função
social importante, na medida em que promovem a interacção social e comunitária, valorizam o trabalho e educam para a cidadania. São um exemplo de como o público, o privado e o social podem articuladamente contribuir para o desenvolvimento
sustentável. Nem tudo é mau…
Cara Margarida,
ResponderEliminarSignificará isto o regresso a formas de agricultura comunitária, que consideravamos memória de um passado jamais repetível?
Como nas aldeias de Rio de Onor, Pitões das Júnias, etc,etc?
Quem diria!
Percebo o entusiasmo e sempre estive de acordo com hortas urbanas, mas remetê-las para uma sopa dos pobres (eu sei que não é a intenção, mas é a forma como dominantemente falamos delas) é diminuí-las, como diria a rainha de inglaterra ou michele obama, integrantes da campanha eat the view, e por isso com hortas. Aqui deixo mais clara esta ideia de que as hortas urbanas são muito mais que um paliativo para a pobreza: http://ambio.blogspot.com/2011/12/ribeiro-telles-nao-tem-razao.html
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarLembra muito bem Rio de Onor. Visitei esta aldeia perdida no espaço e no tempo em Agosto de 2011 e até escrevi um post aqui:http://quartarepublica.blogspot.com/2011/08/descoberta-de-portugal.html. Rio de Onor é uma relíquia da vida tradicional comunitária. Há ainda assuntos e trabalhos agrícolas que são tratados em conjunto. Ainda subsiste um regime comunitário na administração rural, existe uma área agrícola no centro da aldeia, na qual todas as famílias têm uma parcela de terreno, que é tratada nos mesmos dias por todos, para semear e para colher. Recordo-me de ter pensado que não levaria muito tempo para que nas zonas urbanas e suburbanas viessem a surgir hortas comunitárias em terras outrora destinadas a “arranhas céus”. Não me enganei. Uns estágios profissionais em Rio de Onor não era uma má ideia...
Caro henrique pereira dos santos
Embora não sendo especialista, parece-me óbvio que o papel da agricultura urbana, aspecto que é desenvolvido no seu post, não é alimentar as cidades, tal nunca seria possível. E concordo que a agricultura urbana é um elemento que, juntamente com outros elementos do ordenamento e vida das cidades, permite um desenvolvimento mais harmonioso, contribuindo para a sustentabilidade. Mas a sustentabilidade não tem apenas uma dimensão económica e ambiental. Num momento de grandes dificuldades como aquele que estamos a viver a sustentabilidade social deve ser uma prioridade. E como tal seria criminoso que terrenos abandonados não fossem colocados à disposição das pessoas para aí trabalharem e daí retirarem um rendimento, um rendimento, sim, que ajuda a ter um “prato de sopa” em cima da mesa. Costuma-se dizer que há males que vêm por bem. Pode ser que a situação de emergência económica e social nos ajude a questionar as políticas suicidas que adoptámos na construção das cidades e que prejudicaram o seu desenvolvimento, esquecendo que as cidades existem para as pessoas.
De acordo, há uma dimensão social que se mantém e em alturas destas se reforça. O meu comentário é mais para lembrar que há outras dimensões na agricultura urbana que a tornam mais rica que isso. E que hortas não se justificam apenas nas traseiras das cidades. Já viu o que se poderia poupar em gestão de espaços verdes nobres, desde que as funções de recreio e produtivas fossem levadas todas a sério? E não precisamos de inventar, essa é a matriz das quintas de recreio tradicionais em Portugal (de que aliás o Palácio de Belém é herdeiro, embora amputado do jardim do Ultramar). Eu gostava de ver o Presidente a seguir o exemplo da rainha de Inglaterra e da Michele Obama e fazer uma horta em Belém. E o primeiro ministro também. E explicar orgulhosamente aos convidados dos banquetes oficiais que os coentros tinham sido colhidos nessa tarde na horta. É uma maneira muito eficaz de valorizar o trabalho e a produção sem desvalorizar o valor simbólico dos espaços do poder.
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
PS E já agora, se não for pedir muito, discutir-se seriamente se é ou não impossível ter hortas no tabuleiro central do parque eduardo VII.
Pois eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(quase 88 anos)digo que aqui na Holanda existem nos arredores das grandes cidades, pequenas hortas para os citadinos se entreterem nos fins de semana.
ResponderEliminarTéem umas casitas de madeira onde recolhem as ferramentas mas também onde passam suas horas de descanso contemplando a sua hortinha.É um bom passatempo e um complemento que ajuda a economia caseira.
Daqui da Holanda distante,o meu aplauso para esta iniciativa.
Caro José Gonçalves Cravinho
ResponderEliminarHá "velhotes" que acompanham o mundo, muito jovens de espírito! Tomara que assim fosse com gente bem mais nova.
Sim, é de aplaudir esta e outras iniciativas do género. Foi preciso bater-nos à porta a necessidade e a urgência para fazermos o que deveria ter sido feito há muito tempo. O óbvio custa muito a ver!