quarta-feira, 14 de março de 2012

A eólica do absurdo

Muito se vem falando acerca dos sobrecustos da energia, nomeadamente agora, devido à auto-demissão do Secretário de Estado, Henrique Gomes. E não há como dar um exemplo do absurdo a que as políticas de Sócrates e Manuel Pinho conduziram. Aqui vai, de forma esquemática*:
1. Num dia ao acaso, a produção eólica é de 10.000 MWh, totalmente entregue à Rede, obrigada a recebê-la. Os produtores eólicos recebem um valor fixado (95 euros por MWh) por entregarem a energia à rede sempre que disponham dela, aconteça o que acontecer depois ao produto. É o princípio da “Produção em Regime Especial” (PRE).
2
. Da energia recebida, só parte é consumida, supunhamos 6.000 MWh, já que os restantes 4.000 MWh foram produção nocturna em excesso ao consumo. Estes 4.000 MWh são “armazenados” pela bombagem hidroeléctrica.
3. Dos 4.000 MWh “armazenados”, foram posteriormente vendidos 3.000 MWh, ao preço médio de 50 euros por MWh (a diferença para os 4.000 MWh refere-se a perdas no sistema).
Vejamos a factura para o consumidor:
1. Energia eólica directamente consumida: 6.000 MWh* 95 euros=570.000 euros
2. Energia eólica entregue à bombagem: 4.000 MWh*95 euros= 380.000 euros
(este custo insere-se no CIEG-Custos de interesse económico geral)
3. Energia fornecida pela bombagem: 3.000 MWh *50 euros= 150.000 euros
4. Total de energia facturada: 13.000 MWh, com custo de 1.100.000 euros
5. Total de energia consumida: 9.000 MWh, com custo de 720.000 euros
6. Energia paga, mas não consumida: 4.000 MWh, com custo de 380.000 euros
Isto é, o consumidor paga os 9.000 que consome e 4.000 que não consome. Aos 4.000 que não consome, chamam-lhes custos de interesse económico geral (CIEG). O que significa que é de interesse geral que a economia pague o que não se consome. E que é de interesse geral que as empresas sejam menos competitivas, por força do sobrecusto que são obrigadas a suportar. Herança pesada das políticas de Sócrates e Manuel Pinho.
Paradoxo maior é difícil.
*Exemplo retirado de um artigo do Eng. Mira Amaral no Expresso de 3 de Março, com base num exercício de exame no Técnico do Prof. Doutor Pinto de Sá, na disciplina de Economia e Mercados de Energia.

14 comentários:

  1. A questão da eólicas é uma imbecilidade à Sócrates, próprias de um sujeito que não entende a diferença entre defender o ambiente por motivos económicos e defender o ambiente porque fica bem nas conversas de engate.

    O exercício que coloca é o absurdo instantâneo, ou seja, é mas poderia deixar de ser se a energia eólica tal como está a ser produzida fosse crescendo em produção e compensando o petróleo à medida que este fosse subindo de preço. O mais estúpido nisto tudo é que os custos de produção de energia eólica seguem os custos do petróleo, porque a sua manutenção vem de forma esmagadora da indústria pesada do Norte da Europa e meter uma pá no topo de um moinho parece consumir muito mais energia que aquela que um dia se conseguirá retirar dela.

    Ou seja, é mesmo dinheiro deitado à rua. Mais valia meterem-no na co-incineradora de Souselas (podia ter escolhido outra? Podia, mas não era a mesma coisa...:) Já que estamos a bater no Sócrates...)

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  2. Óóóóó Dr. PC... isto é para comentar a sério? :D

    É que eu não consigo.

    É só para avisar.

    Faz lembrar aqueles tipos da Wallstreet, que aparecem no filme do Michael Moore - sobre o capitalismo - a tentarem explicar os produtos financeiros derivados.

    Esta cena da energia é a mesma coisa. É o produzido, é o consumido, é o stand by, é o cócó, é o ranheta, é o facada, é a taxa disto, é a taxa daquilo, é a taxa para respirar oxigénio, menos a taxa dos que respiram dióxido de carbono, mais a taxa dos que compram no Pingo Doce, menos a taxa dos que compram no Continente vezes a taxa dos que compram no Lidl a dividir pela taxa dos que compram no Corte Inglés, mais IVA.

    É perfeitamente claro e transparente, principalmente a parte de quem paga a conta.

    Não acho nada estranho o Secretário de Estado da Energia ter-se demitido. O que me surpreende verdadeiramente é ainda haver Ministério da Economia porque, normalmente, as pessoas sérias têm alguma dificuldade em lidar com este tipo de coisas.

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  3. Caro Dr. Pinho Cardão,

    O seu comentário está carregado de razão; pena que este Governo não tenha optado por corrigir os erros de sucessivos anos de políticas. "Chatear" os grandes é sempre aborrecido.

    E o momento da venda da EDP era o adequado: os compradores teriam sido adequadamente informados da alterações a realizar na política energética, a as suas propostas valorizariam a empresa de acordo com as previsões dos ganhos futuros. Isto teria sido transparente e é disso que os investidores gostam, já que agora "a posteriori" estamos tão preocupados com o que os compradores pensarão de vendedores que alteram condições depois da assinatura.

    Pena que se tenha optado pelos milhões de curto prazo, no lugar de uma opção de custo de energia mais sustentável no longo prazo.

    PS: não serei o único a não acreditar no seu curioso eufemismo da "auto-demissão"

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  4. Caro Dr. Pinho Cardão
    O problema é que o risco do investimento é totalmente transferido para o consumidor. Há poucos investimentos em que tal acontece, especialmente quando já não estamos perante um sector start up que exige incentivos. Mas não é apenas a questão do risco que deve ser reavaliada, acresce a questão do preço de referência que determina o montante do subsídio a pagar pelo consumidor.
    Em Espanha o preço da energia renovável passou a ser determinado pelo mercado, substituindo o preço administrativo.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. O Eng.º Mira Amaral (reformado da CGD, reformado do governo, Prof. convidado no IST, Banqueiro no BIC, etc. etc. etc.) se se lembrasse de se pronunciar sobre a matéria, deveria ser o último a fazê-lo:
    1.º - porque pertence ao lobby que quer impor uma centra nuclear (que afinal têm que ser duas), que, como se sabe da experiência dos restantes países, custa zero euros ao erário público através dos mais diversos expedientes;
    2.º - porque quando era Ministro da Indústria comprou aos suecos uma lavaria de minério para a mina de Aljustrel (18 milhões de contos = 90 milhões de euros) quando os indicadores internacionais do preço do cobre apontavam para a baixa drástica que levaria ao encerramento da mina; tal veio a acontecer sem que a lavaria tivesse sequer sido inaugurado, tendo estado até há pouco tempo encerrada;
    3.º - porque esteve 18 meses na CGD e por tais serviços aufere uma pensão vitalícia de 16 mil euros/mês.
    Como se sabe, a energia nuclear, especialmente depois de Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima, é altamente aconselhável e não tem custos adicionais para o consumidor.
    Como se sabe, nós, como consumidores de produtos bancários, não pagamos a pensão imoral do senhor Eng.º Mira Amaral.
    Como se sabe, nós, como contribuintes, não pagámos os custos de não-funcionamento durante 20 anos da lavaria de minério de Aljustrel.
    Um pouco, só um pouco, de vergonha na cara dava muito jeito a muitos Engenheiros Miras Amarais.

    P. S. Nada do que disse é para defender a inenarrável e delirante personagem socratina, embora a opção da energia eólica, desde que limitada a um máximo de 18% das nossas necessidades tenha sido uma boa opção e constitua hoje é uma importante mais-valia para o país. O que passa desse valor resulta das exigências dos vampiros do lobby eólico, tão nefasto como o lobby nuclear.
    Esta opção permitiu criar um cluster eólico em Portugal, através do Pólo da Energon da Lanheses (Viana do Castelo), onde se produzem: Pás de Rotor (2 fábricas); geradores síncronos (1 fábrica); Módulos Eléctricos e Nacelles (1 fábrica); Torres de Betão (1 fábrica).

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  7. Caro Tonibler e Cara Anthrax:

    Pois é...bom...mas...a coisa foi feita e, pasme-se, agora ouço alguns que ajudaram a fazê-la... a perguntar por que razão ainda não está desfeita...

    Caro Jorge Lúcio:
    Não percebo que diga "não serei o único a não acreditar no seu curioso eufemismo da "auto-demissão...".
    Creio que a explanação que fez é a melhor justificação da auto-demissão...

    Cara Margarida:
    De facto o que se fez em Portugal configura um verdadeiro atentado à economia.

    Caro José Fontes:
    Como saberá, este Blog é um espaço de convívio de autores e visitantes, não de ajustes de contas pessoais. Criticam-se políticas e atitudes, procurando salvaguardar-se as pessoas. É bom que todos se sintam bem por cá. É na convicção de que os nossos visitantes respeitam o nosso modo de aqui estar que lhes franqueamos a entrada, sem revista ou moderação prévia.
    Posto isto, o que interessa discutir é se o conteúdo do post é adequado ou não, se tem incorrecções ou erros ou deficiências de análise. Para que a discussão se torne útil.
    E, com toda a cordialidade, faço-lhe um apelo para retirar as referências de ordem pessoal que só desvalorizam o seu comentário.

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  8. Caro Dr. Pinho Cardão:

    Eu nunca tive, não tenho, e já não terei qualquer filiação partidária na vida.
    Não tenho idade nem paciência para aturar o estado a que isto chegou, embora nada tenha contra os filiados.
    Detesto é o sectarismo, seja de que parte for.
    Eu sinto-me bem a visitar o 4R e leio aqui muitas coisas úteis deixadas por várias pessoas.
    Mas por vezes perco a paciência com certos escritos demasiado enviesados sobre a realidade.
    Admito ser por vezes contundente, mas nunca mal-educado, isso jamais serei mesmo que o sejam para comigo.
    Se entender eliminar o meu comentário não lhe levo a mal, está no seu direito.
    Não vejo que incorrecções factuais ou inconveniências tenha.
    Mas é a minha avaliação, vale o que vale.
    Esteja portanto à vontade, nada farei se o apagar.

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  9. Caro José Fontes:
    As referências pessoais ao Eng. Mira Amaral nada têm a ver com a questão colocada no post. Eram dispensáveis e o 4R não é, de forma alguma, o veículo apropriado para as incluir. O facto de defender ou não o nuclear, de ser reformado depois de ter trabalhado trinta ou quarenta anos, o facto de ter sido Ministro e de possivelmente ter errado nada têm a ver com os sobrecustos da electricidade que pagamos. Isso é que conviria discutir.
    Claro que não vou apagar o comentário. Como dizia uma pessoa que conheci e com quem trabalhei, todos temos direito a um momento de asneira. Calhou agora esse momento ao meu amigo.

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  10. Caro Dr. Pinho Cardão:
    O senhor apresenta factos indesmentíveis e, na sequência desses factos, melhor, das suas consequências, ataca (e muito bem) os seus autores, o inenarrável Sócrates e o seu ministro Pinho.
    Mas serve-se do Eng.º Mira Amaral como «autoridade» na matéria. Usa um artigo dele, o qual vai encontrar fundamento num trabalho académico de um seu aluno de pós-doutoramento (presumo).

    O senhor acaba por emitir uma opinião muito negativa sobre as eólicas.
    Está no seu direito.
    Esqueceu-se, contudo, de analisar o problema na sua globalidade, as vantagens da eólica (desde que até onde é útil e absorvível pelo sistema de produção, até 18%), o que nos poupa em importações de energia e em custos das emissões, o «alimento» que constitui para o cluster dos equipamentos eólicos, hoje com uma carteira de encomendas excepcional direccionada para a exportação, tudo minudências.

    Eu contrapus com factos indesmentíveis, protagonizados por outra figura inenarrável da nossa cena política, económica, dos negócios e dos interesses. Um verdadeiro «sempre-em-pé».
    Faço, tal como o senhor, um juízo negativo da personagem.
    Há, portanto, uma similitude dos nossos textos.

    Dado que, tendo sido, eventualmente, acutilante (e o senhor não foi?), não fui insultuoso nem mal-educado, não compreendo, portanto, o seu incómodo.
    Quanto ao meu «momento de asneira», rejeito-o completamente.
    Imagine que injustiça dizer eu o mesmo de si quanto à sua crítica, apenas porque não teve em conta todas as variáveis das eólicas?

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  11. O Professor Doutpor Pinto de Sá é doutorado, Professor do Técnico, não é aluno de doutoramento.

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  12. Caro Dr. Pinho Cardão:

    Peço desculpa pela imprecisão, mas não tive qualquer intenção menos própria.
    Como não posso conhecer as várias centenas de professores do IST, perante a sua informação «com base num exercício de exame no Técnico do Prof. Doutor Pinto de Sá, na disciplina de Economia e Mercados de Energia», erradamente deduzi que fosse aluno de um pós-doutoramento.
    Correcção feita, desculpas apresentadas, assunto arrumado.

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  13. Caro Pinho Cardão,
    Lamento estar tão mal informado sobre o assunto, mas não admira dadas as suas fontes.
    1) O exemplo dado de uma produção de 10 mil MWh com consumo de 6 000 e entrega à bombagem é estatisticamente credível, isto é, tem a probabilidade de acontecer muitas vezes? As suas fontes esqueceram-se de discutir isto;
    2) O preço das eólicas não é o indicado. Se der um salto ao site da ERSE tem os preços a sério, escusa de se basear em fontes interessadas. Nas eólicas há um preço dos contratos iniciais que corresponde a uma tarifa de feed in e há o preço dos contratos recentes. Anda pelos 50 e poucos e não pelos 95. Suponho que um erro desta dimensão seja para si inaceitável;
    3) As suas fontes esqueceram-se de explicar que se trata de um preço fixo para pelo menos 15 anos (não tenho a certeza e não quero exagerar). Como economista actuando num mercado em que um produto tem um preço tão volátil como o do petróleo suponho que esta segurança teria para si algum valor, ou não?;
    4) As suas fontes esqueceram-se de explicar que a electricidade é um fluxo de electrões e portanto não pode ser armazenada, isto é, que tem de ser produzida em valor igual ou superior ao consumo. Como o consumo tem picos e uma grande irregularidade diária, significa isto que a potência instalada tem de ser dimensionada para o pico máximo, do que resulta uma grande ineficiência porque grande parte do tempo essa potência está parada ou a trabalhar para o boneco;
    5) Suponho que olhando para o que descrevi reconhecerá, como qualquer economista reconhece, que aumentar a possibilidade de produzir na altura do pico significa diminuir a necessidade de instalar potência ineficiente. É o que faz a bombagem nocturna;
    6) As suas fontes também de se esqueceram de explicar que o custo de aumento marginal não é o mesmo que o custo médio. Ou, dito de outra maneira, que a comparação deve ser feita com o custo de produzir mais energia e não com o custo das fontes produtoras instaladas (para ser mais claro, os sítios melhores para barragens estão ocupados por barragens, se se quiser produzir mais a partir de barragens terão de se instalar em sítios menos interessantes, isto é, que produzem com mais custos).
    7) Peço desculpa pela extensão do comentário, mas se se quiser cortar a sério, o melhor é começar pelo escândalo da co-geração e coisas que tal, porque das renováveis a eólica é a que é verdadeiramente competitiva e racional. É aliás por isso que o lobby nuclear se concentra nas eólicas quando há outras coisas bem mais idiotas, como a tarifa do fotovoltaico ou da biomassa.
    henrique pereira dos santos

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  14. Em que país é que isso dos 4000 MWh de produção em excesso de energia eólica aconteceram?
    É que em Portugal não foi de certeza.

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