As recentes notícias sobre os sobrecustos da electricidade motivados pela virulenta paixão política do anterior governo pelas renováveis, nomeadamente as eólicas, levaram-me a verificar a minha factura da EDP. Verifiquei então o seguinte: 60% da electricidade consumida provinha das eólicas, 20% da co-geração e microprodução, 5,3% da hídrica em sistema de produção em regime especial e os restantes 14,7% de outras fontes. Isto é, pelo menos 85,3% da energia que me deram a consumir vinha de produção em regime especial, isto é, de energia obrigatoriamente recebida pela Rede a um preço previamente fixado e que assegura aos produtores uma rentabilidade elevada, sem qualquer risco, nem de preço, nem de colocação.
Pormenorizando as contas, verifiquei que o custo da electricidade consumida apenas significava 51% do valor da factura, sendo que os 49% restantes se referiam, em partes praticamente iguais, ao uso da rede e gestão do sistema e aos famosos CIEG (Custos de interesse económico geral), aqueles custos que, em definição sumária, visam suportar o sobrecusto das energias de preço assegurado, onde se incluem as renováveis.
Numa análise ainda mais fina, e isolando os impostos (IVA e taxas), a energia consumida significa apenas 42% da factura, o uso da rede e os CIEG contribuem com 39% e os impostos com cerca de 19%.
Claro que se admite que na factura, para além do custo específico da energia consumida, se inclua um montante referente à segurança do abastecimento, esta sim, um custo de interesse económico geral. Mas que mais de metade do valor da factura se refira a factores estranhos ao consumo específico é um verdadeiro absurdo e um atentado económico. Que atinge particulares e empresas. Mais uma pesada herança do anterior governo. Pesada e difícil de alterar, face aos contratos estabelecidos, ruinosos para a economia. Mas que tem que ser alterada. Sem hesitações.
Pormenorizando as contas, verifiquei que o custo da electricidade consumida apenas significava 51% do valor da factura, sendo que os 49% restantes se referiam, em partes praticamente iguais, ao uso da rede e gestão do sistema e aos famosos CIEG (Custos de interesse económico geral), aqueles custos que, em definição sumária, visam suportar o sobrecusto das energias de preço assegurado, onde se incluem as renováveis.
Numa análise ainda mais fina, e isolando os impostos (IVA e taxas), a energia consumida significa apenas 42% da factura, o uso da rede e os CIEG contribuem com 39% e os impostos com cerca de 19%.
Claro que se admite que na factura, para além do custo específico da energia consumida, se inclua um montante referente à segurança do abastecimento, esta sim, um custo de interesse económico geral. Mas que mais de metade do valor da factura se refira a factores estranhos ao consumo específico é um verdadeiro absurdo e um atentado económico. Que atinge particulares e empresas. Mais uma pesada herança do anterior governo. Pesada e difícil de alterar, face aos contratos estabelecidos, ruinosos para a economia. Mas que tem que ser alterada. Sem hesitações.
Há tempos reparei nessa indicação que me pareceu absurda: Como é que da energia que consumimos cá em casa 60% provem das eólicas?
ResponderEliminarAté que me demonstrem o contrário considero aquela indicação um erro ou uma brincadeira.
A menos que considerem que toda a energia eólica se dirige aos consumos domésticos, o que é uma consideração completamente arbitrária.
O programa de ontem na SIC, com o joralista Gomes Ferreia e um painel formado por Mira Amaral, Helena garrido e Jorge Morgado, da Deco, foi um raro momento de excelente programa de informação. Pena que um assunto de tão grande importância só mereça explicações detalhadas quando se torna imperioso mudar o que levou anos a ganhar força e a criar dependências. Como sempre, lá passaremos do endeusamento à diabolização, pelo caminho houve abusos e facilitismos, também houve progressos, mas a enorme teia que se gerou à volta deste tema não facilita decisões ponderadas e que corrijam com firmeza o embróglio, salvando o que é de salvar e acabando com o que não deve manter-se.
ResponderEliminarCaro Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarA lista dos CIEG tem vindo a engrossar.
Os CIEG mais emblemáticos estão os seguintes:
- Sobrecusto da produção em regime especial – PRE (subsidiação às energias renováveis),
- Custos com os CAE - Contratos de Aquisição de Energia (asseguram condições de remuneração especiais às centrais do Pego e Tapada do Outeiro),
- Custos com os CMEC - Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (condições de remuneração que asseguram uma rendibilidade superior ao mercado, independentemente do volume de produção, criados para compensar as eléctricas pela liberalização do sector; pertencem ao Grupo EDP),
- Custos com as rendas dos municípios,
- Custos com a harmonização/convergência tarifária entre o continente e as regiões autónomas,
Há depois outros CIEG, não menos importantes:
- Custos com as amortizações e os encargos financeiros dos défices tarifários (dívidas tarifárias),
- Custos com a remuneração dos terrenos situados no domínio público hídrico,
- Garantia de potência (criada em 2010, destinado a promover a construção de novas centrais térmicas, compensando assim as empresas pelo risco de as centrais não funcionarem por causa da produção de energia renovável),
- Custos com a tarifa social (criada em 2010).
Alguns números "interessantes" sobre a evolução dos custos dos CIEG que não deixam dúvidas sobre a dimensão do problema em que nos meteram:
. Entre 2006 e 2011, cresceram de 500 milhões de euros para cerca de 2,5 mil milhões de euros, ou seja, registou-se neste período um aumento de cerca de 200%.
. Em 2011, o grosso dos CIEG diz respeito ao sobrecusto das renováveis – 1,2 mil milhões de euros (48%). Os CAE e os CMEC totalizam 730 milhões de euros (29%). 77% dos CIEG pagam subsídios aos produtores de energia.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarDeixei um longo comentário ao seu primeiro post sobre isto, mas mesmo assim ainda comento aqui mais algumas coisas.
Não percebi bem a sua lógica, mas pelo que percebi acha que transportar energia é um custo que não deveria pagar? É que para na sua factura apenas estar a energia teria de a estar a consumir onde ela é produzida.
Quanto aos custos de interesse geral não percebo por que razão insiste em os identificar com as eólicas que representam cerca de 16% desses custos de interesse geral (não 16% da factura). E como consumidor doméstico está a suportar os sobrecustos das renováveis integralmente porque o Governo anterior isentou as empresas de o pagarem (por isso é tão ridículo o argumento da perda de competividade das empresas por causa disso. Aliás a Libia de Kadafi tinha energia baratíssima e a Dinamarca caríssima e nem por isso a competitividade dinamarquesa é menor que a da líbia). Se verificar melhor a factura verificará que a maior parte dos custos de interesse geral não têm nenhuma relação com as renováveis e, dentro destas com a eólica (cujo preço dos contratos maisrecentes é perfeitamente competitivo). O lobby do nuclear está desesperadamente a procurar aproveitar a necessidade de cortar custos para liquidar os seus verdadeiras concorrentes (a eólica, as outras renováveis são peanuts e pouco competitivas) e tem feito as maiores piruetas, tirando partido do facto da maior parte dos economistas não terem a noção da especificidade da produção e consumo de elctricidade decorrente do facto de não poder haver ruptura de abastecimento (ao contrário de muitos outros bens) e não poder haver armazenamento, o que obriga a instalar potência para os picos de consumo e tê-la parada a maior parte do tempo.
henrique pereira dos santos
Cara Margarida Corrêa de Aguiar,
ResponderEliminarChamar renováveis à co-geração industrial a partir de gaz (por exemplo) é um pouco excessivo. Aconselharia uma visita pelo site da ERSE porque está lá tudo explicadinho.
A ideia de que se não houvesse renováveis as térmicas resolviam o assunto de forma mais barata é uma ideia sem qualquer base. Por três razões principais: 1) as térmicas não têm flexibilidade para responder às variações da procura, pelo que são úteis até ao consumo base; 2) as térmicas são produtoras de gases com efeito de estufa e o portugal tem uma série de compromissos internacionais a cumprir nessa matéria (não porque sim, mas porque existe um problema sério); 3) está-se a comparar o preço de produção actual, com base no custo do petróleo de hoje, que tem em si os riscos associados ao preço do petróleo, com preços garantidos e indiferentes ao preço do petróleo para os próximos quinze anos (e que no caso da eólica, para o petróleo ao preço a que está, andam ela por ela).
henrique pereira dos santos
Caro Henrique Pereira dos Santos
ResponderEliminarObrigada. Conheço muito bem a ERSE. A informação constante do meu comentário foi retirada do site do Regulador.
Caro Pereira dos Santos,
ResponderEliminarPodia acrescentar mais informação comparativa entre o custo com as renováveis e o petróleo de há 10 anos? É que a sensação que tenho é que há 10 anos se subsidiavam porque o petróleo era barato. O petróleo subiu 7x e e o custo das renováveis...também!
Caro Tonibler, está muito enganado, o custo das eólicas tem descido abruptamente, estando neste momento a perços perfeitamente razoáveis. De facto teve tarifas lá para os 95 e agora anda pelos 50. Tem problemas de intermitência mas isso é outra discussão (por isso os adversários militantes das eólicas, que coincidem com apoiantes militantes do nuclear, se apressam a descartar as redes inteligentes e os modelos de facturação em tempo real, que ajudam a suavizar os picos de consumo, porque sabem que parte do problema da intermitência pode ter aí alguma solução).
ResponderEliminarCara Maragarida Corrêa de Aguiar, lamento, mas a sua informação de que "o grosso dos CIEG diz respeito ao sobrecusto das renováveis – 1,2 mil milhões de euros (48%)." tem um erro de interpretação. É que está a interpretar o regime especial como sinónimo de renováveis, e isso pura e simplesmente não está certo. A produção em regime especial inclui: as minihídricas (renováveis, mas cujo valor para o sistema é muito maior que o do custo directo de produção pelo facto de permitirem resposta rápida a picos de consumo); a produção com base em resíduos urbanos (nada tem com renováveis, pessoalmente sou contra a sua integração aqui mas é o um facto que se não for pago na factura da electricidade será pago na do lixo); em baixa tensão (não renovável); microprodução (pode ou não ser renovável; e a co-geração, que não tem nada de renovável, para além das restantes renováveis. Do conjunto todo da produção em regime especial as eólicas correspondem a 16% do custo (ou seja, a 16% de cerca de 30% da factura). Há um conjunto alargado de renováveis, incluindo a biomassa a que toda a gente bateu palmas por causa dos fogos e a que me tenho oposto tenazmente por ser uma solução absurda fora de condições muito particulares.
Espero ter sido útil para focar a discussão no que realmente importa. É que os actuais contratos das eólicas (não falo dos primeiros) com tarifas as rondar os 50 euros e garantidos por quinze anos são das poucas coisas razoáveis e racionais nesta matéria. A razão porque estão sempre na berlinda é exactamente porque sendo das poucas coisas racionais na matéria é das poucas coisas que são uma verdadeira alternativa ao nuclear, que é o que move uma boa parte desta discussão.
henrique pereira dos santos
Agora convido o sr (ou a sra) Pinho Cardão a fazer as mesmas contas na fatura da água.
ResponderEliminarVerificará que pela água que consumiu apenas paga 10%, se tanto, do preço total na fatura. Todos os restantes 90% são custos fixos. Ou seja, o sr (ou a sra) Pinho Cardão descobrirá que, mesmo que não abra uma única torneira durante todo o mês, a sua fatura de água praticamente não diminuirá.
Espanta-me como ninguém protesta com isto!!!
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarPara não encher a caixa de comentários e para explicar melhor o que me parece que está em causa acabei por fazer um post sobre as rendas e o nuclear: http://ambio.blogspot.com/2012/03/as-rendas-e-nuclear.html
henrique pereira dos santos
Caro Pereira dos Santos,
ResponderEliminarDas duas uma, ou estou a ser roubado porque me estão a cobrar caro por algo que está barato ou a essa análise das eólicas falta qualquer coisa.
Caro Luís Lavoura,
Essa é mais chocante e serve para pagar o ordenado do amigo lá do presidente da câmara. A água é o meio pelo qual as câmaras municipais cobram impostos escondidos e não há forma de haver alguém que corte o equivalente das remessas do orçamento de estado. Câmara que fosse cobrar imposto pela água ficava sem o dinheiro por via dos impostos. Ḿas a ética republicana é isto mesmo...
Mas quer fundamentar melhor a sua ideia de que está a pagar caro por uma coisa barata? É que esse pressuposto não está demonstrado (não sei se reparou mas a troica e companhia não falam de eólicas quando falam de rendas excessivas, falam das outras coisas).
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Caro Rui Fonseca:
ResponderEliminarBom, a origem eólica da energia que referiste e que eu referi é a que consta das facturas de electricidade. Como tal, longe de mim pensar que não é verdadeira.
Cara Suzana:
Tal como os produtos, as ideias são vendidas devidamente devidamente empacotadas, com uma brilhante capa exterior para atrair os olhares sobre a imagem, ignorando o conteúdo. As energias renováveis, nomeadamente a eólica, foram "vendidas" maximizando o que era favorável e desprezando, ou esquecendo, o impacto sobre os custos. Eu próprio, embora com alguma desconfiança, fui seduzido pela argumentação, tal o ruído feito que não deixava ouvir os argumentos dos opositores. Neste momento, as posições estão muito extremadas, mas, como diz, é necessário equilíbrio e sensatez para chegar a uma resolução certa.
Caro Henrique Pereira dos Santos:
Primeiro que tudo, para agradecer a atenção que dá ao Blog. Nestas coisas da ecologia o meu amigo está sempre presente. O que valoriza o debate. As suas ideias são sempre bem-vindas.
Quanto à matéria em causa, e deixando de lado as segundas e terceiras derivadas, mas não pondo em causa as suas considerações, o que se me oferece dizer é o básico:
a) a energia eólica representa um sobrecusto para o consumidor face a outras fontes alternativas. E se esse sobrecusto poderia ser tolerável dentro de determinada dimensão, torna-se intolerável face à dimensão que a produção eólica atingiu neste país. Ademais, no preço que o consumidor paga, para além da componente industrial está uma rentabilidade excessiva para quem opera sem risco de mercado ou de preço. E eu sou um defensor da economia de mercado, não de preços protegidos ou de favor.
b) trazer o nuclear para esta discussão é tempo perdido e procura de distracção. Com nuclear ou sem nuclear, a situação existe, não se pode esconder, há que resolvê-la. Os preços excessivos que se pagam não se devem à discussão do nuclear; devem-se à situação existente e às políticas e alternativas que foram escolhidas.
c) Se o preço da energia eólica tem vindo a descer, como diz, e ainda bem, então essa é a prova do preço excessivo dessa fonte de energia e dos sobrecustos suportados pelos consumidores.
d)Claro que a segurança do abastecimento é primordial e tem que ser paga. Pelo que haverá que assegurar um "mixed" inteligente de fontes. As renováveis têm aí o seu lugar. Mas na justa medida.
e) por fim, o que o país precisa, sobretudo nesta fase, e porque somos pobres, é de energia barata e sem falhas. E para isso não é preciso recorrer ao nuclear. Os luxos do pioneirismo em soluções alternativas caras devem ser deixados para os países ricos.
É o que penso, não sendo técnico da matéria, e não procurando ver cada árvore, mas o interesse geral dos consumidores e da actividade económica.
Fiz este comentário sem ler o seu post que citou. Irei lê-lo de imediato.
Cara Margarida:
Excelente contribuição para o esclarecimento da questão.
Caro Luís Lavoura:
Poderá dizer Sr. Pinho Cardão. Masculino. Quanto à água, o 4R não anda distraído. Veja o post seguinte:
http://quartarepublica.blogspot.com/2010/08/o-preco-da-agua.html
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarEm todos os países que conheço o recurso ao desenvolvimento de novas fontes de energia foi apoiado por tarifas de feed-in. É o que acontece na eólica, pelo que os contratos antigos têm preços mais altos e os mais novos (desde 2006) mais baixos e penso que ainda baixaram mais no último concurso. Já agora, os contratos mais antigos entram no mercado livre em 2020.
As eólicas representam 16% de 30% da sua factura. Por que razão o post se refere a esta parcela e não aos outros 84%. É isso que não compreendo. E representam isso na sua factura porque o governo anterior resolveu que os clientes domésticos pagavam um sobrecusto de que isentou as empresas.
Esse sobrecusto tem associados três benefícios: o aumento da diversidade de fontes energéticas; a diminuição da produção de gases de efeito de estufa e, sobretudo, a segurança de um preço fixo num mercado em que o principal factor de produção, o petróleo, tem um custo muitíssimo volátil.
Admito que se tenha ido longe demais no peso das eólicas no mix energético, mas simplesmente ninguém até hoje demonstrou isso com números claros.
É isso que estranho na sua argumentação, que se afasta da habitual racionalidade e, sobretudo, bom senso (o sobretudo não é porque exista uma diminuição de racionalidade, mas porque o seu bom senso habitual é muito elevado).
O nuclear aparece na discussão por uma razão simples: partindo do princípio de que precisa de produzir mais com base em menos combustíveis fósseis, a preços razoáveis, só há neste momento duas alternativas em discussão: nuclear e eólica. Aconselho-o a ouvir o presidente da EDF, a electrica mais dependente do nuclear na Europa (e provavelmente no mundo), que ontem no Senado francês, disse que a produção de electricidade nuclear, eólica, gaz e mais qualquer coisa tem preços semelhantes (em torno dos 70 a cem euros, o que não deixa de ser curioso porque 70 euros é o que é actualmente pago pela eólica posterior a 2006 em Portugal).
Um dia farei um post só com dois quadros lado a lado: o dos países ordenados por índice de desenvolvimento económico e o dos países ordenados pelo preço da energia. Facilmente se verificará que não há qualquer relação entre uma e outra ordenação. Tomara eu que os problemas de competitividade em Portugal fossem o preço da energia, porque eram fáceis de resolver.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique Pereira dos Santos
ResponderEliminarFeita a correção da terminologia, que agradeço, o importante a reter, como referi no meu primeiro comentário, são os níveis do sobrecusto da PRE. O seu crescimento deve-se em particular à produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis e à produção em cogeração de energia elétrica e térmica devido aos níveis de subsídios (incentivos) subjacentes.
Segundo a ERSE, em 2012 o aumento dos custos da PRE face ao valor homólogo de 2011, estima-se que seja particularmente significativo na produção em cogeração, devido ao facto da sua remuneração estar indexada ao preço do petróleo.
O importante a reter é a escalada dos CIEG totalmente insustentável, responsável por uma parte muito significativa da dívida tarifária que ascendia no final de 2011 a cerca de 1,8 mil milhões de euros.
Cara Margarida,
ResponderEliminarChegou exactamente onde eu queria: não é nos 16% de custos de interesse geral que são mais competitivos (as eólicas posteriores a 2006 são pagas a 70 euros, que é o valor do mercado livre em muitas alturas, e as do último concurso seriam pagas a 61, o que não está a acontecer porque com o aperto do crédito e a subida do preço do dinheiro deixam de ser viáveis (o mesmo acontece com as alternativas a esse preço, pelo que o preço o mercado livre tenderá a subir)) que está o problema, não é nas eólicas, é na co-geração, na biomassa, nas termo-eléctricas e em algumas centrais hidro-eléctricas que nunca deveriam ter sido construídas por serem economicamente irracionais, como a de Alqueva.
Por isso a minha pergunta mantém-se: se assim é, por que razão é sobre as renováveis, e especificamente sobre as eólicas, que recai o ónus? Eu tenho uma resposta: porque o objectivo das pessoas que propagam essas ideias (não falo de si, de Pinho Cardão, que usam números de terceiros que não têm maneira de escrutinar, mas dos terceiros eles mesmos) não é exactamente diminuir as rendas mas sim liquidar a mais séria alternativa ao nuclear.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique Pereira da Silva
ResponderEliminarO ónus não recai apenas sobre a PRE, mas esta parcela tem um grande peso. Veja s.f.f. a lista dos CIEG que consta do meu primeiro comentário.
Em 2011, 77% dos CIEG pagaram subsídios aos produtores de energia, incluindo os CMEC e os CAE. O total de CIEG ascendeu a 2,5mil milhões de euros:
- PRE - 1,2 mil milhões
- CMEC + CAE - 730 milhões
- Outros - 570 milhões
Se ler o Programa de Assistência EU/FMI verificará que as medidas focam-se nos CIEG, na necessidade de encontrar opções e soluções para reduzir os subsídios à produção de energia renovável e limitar os sobrecustos associados à produção de electricidade em regime ordinário (CMEC + CAE).
Não se trata de acabar com as renováveis, mas sim de rever o seu peso no mix energético e os respectivos níveis de subsídios, a que acresce o facto de os respectivos custos terem impacto no custo global do sector eléctrico, designadamente no investimento em centrais e sistemas de bombagem.
E por aqui me fico.
Margarida,
ResponderEliminarOs CMEC e os CAE têm pouco que ver com as renováveis. Isso tem exactamente a mesma origem do resto da desorçamentação do governo anterior: provocar investimento a qualquer preço para segurar os indicadores económicos. Como isso não podia ser feito acima de determinado nível com dinheiro público directo o governo anterior encontrou na tarifa eléctrica maneira de fazer entrar dinheiro na economia do país. O exemplo da central de Alqueva é extraordinário. É uma central que não faz sentido nenhum num rio com longos períodos de estiagem e caudais baixos, com uma albufeira de regularização inter-anual em que a prioridade é o abastecimento público, depois o regadio e para turbinar é o que sobra. Ou seja, uma irracionalidade de investimento em que nenhum operador estaria interessado. O que fez o governo? Inventou uma renda que compensa o operador pelo tempo em que a central está parada. E com isto o operador (que está fora do perímetro do défice) investe, faz obra, cria emprego e alguém pagará um dia na factura da electricidade. Ora isto não tem nada que ver com renováveis (embora seja energia de fonte renovável) mas sim com a opção ideológica do governo anterior que acreditou que o melhor para o país era aumentar o investimento público, qualquer investimento público, e que para isso todos os métodos de ilusionismo eram legítimos para manter o défice dentro de alguns limites ao mesmo tempo que o investimento público crescia, ou o investimento privado impulsionado por decisões públicas cujos custos eram atirados para um futuro que alguém se encarregaria de gerir.
Focar o problema nas renováveis é iludir a verdadeira natureza do problema, que é aliás muito mais grave do que seria uma mera opção errada nas renováveis. O que está em causa é simplesmente um roubo consciente das gerações futuras, não por causa das renováveis, mas por causa da necessidade absoluta de ganhar as próximas eleições.
henrique pereira dos santos
E volto a lembrar que a produção em PRE é, na sua maioria, produção não renovável (resíduos, co-geração e outros).
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Peço desculpa, escrevi na sua maioria quando queria escrever, em grande parte, porque não é a maioria
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Portanto, a ver se percebo, duas centrais nucleares daquelas finlandesas resolviam-nos os problemas todos...
ResponderEliminarDe quais? das que eram para estar pronta há um ror de tempo e nunca mais acabam e já vão em mais de três vezes o orçamento inicial e que não têm flexibilidade para responder às variações de consumo e que não se sabe a que preço vão produzir a energia. O presidente da EDF foi ouvido ante-ontem no senado francês exactamente numa audição sobre os preços de produção da energia e diz que nuclear, vento, gaz, carvão têm preços de produção semelhantes. E se há electrica que sabe de nuclear é a EDF.
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Eu falei das finlandesas. Destas:
ResponderEliminarhttp://en.wikipedia.org/wiki/Nuclear_power_in_Finland
Faziam-se três em cima dos espanhóis e resolvia-se tudo.
Não sei se reparou que são tudo centrais dos anos 70 e princípios de 80, com excepção do reactor de que lhe falei que foi escolhido como opção por ser mais barato mas que está três anos atrasado e com um custo 50% superior. Estão autorizadas mais umas centrais que só começarão as obras lá para 2015. Convenhamos que para resolver problemas imediatos é capaz de ser uma solução um tudo nada desasjustada.
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Caríssimos Todos
ResponderEliminarCara Margarida
Caro Henrique Pereira dos Santos:
Valeu a pena ter publicado o texto. Ficaram elementos importantes para a análise que cada um julgue pertinente fazer. E julgar como lhe como lhe aprouver.
Obrigado a todos, particularmente aos dois.
Por mim ,termino o comentário como terminei o post: "Claro que se admite que na factura, para além do custo específico da energia consumida, se inclua um montante referente à segurança do abastecimento, esta sim, um custo de interesse económico geral. Mas que mais de metade do valor da factura se refira a factores estranhos ao consumo específico é um verdadeiro absurdo e um atentado económico. Que atinge particulares e empresas. Mais uma pesada herança do anterior governo. Pesada e difícil de alterar, face aos contratos estabelecidos, ruinosos para a economia. Mas que tem que ser alterada. Sem hesitações".
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarMais de metade parece-me que é exagero seu, porque estaremos todos de acordo que o transporte integra o preço a pagar. Se é caro ou barato, é outra discussão.
Também acho que valeu a pena a discussão. Obrigado pela oportunidade.
henrique pereira dos santos