Rezam as crónicas que o presidente do BCE terá hoje declarado que o modelo social europeu está morto. Já não me espanto que, perante a desorientação que grassa entre os dirigentes políticos, seja o presidente de um banco (apesar de ser um banco especial) e não um responsável político, a avisar do óbito. Mas mesmo sendo Draghi a lançar a questão deste modo, valeria a pena aproveitar a ocasião que o choque da declaração vai proporcionar, e refletir no que está verdadeiramente em causa, que é, afinal, não somente o modelo social, mas todo o modelo de construção europeia. A começar pela questão da sustentabilidade de uma união política, económica e social de uma Europa com quase 30 quadros constitucionais distintos e economias com estruturas muito diferentes (admitindo que a diversidade cultural não constitui forte condicionamento, o que não é líquido se se consumarem as admissões de alguns Estados que pretendem integrar a UE). Ou se o deficite de legitimidade democrática da maioria das instituições decisórias europeias favorece o esbatimento das diferenças, sendo que pensar construir uma união com diferenças acentuadas de nivel de desenvolvimento entre os Estados é uma quimera. Ou ainda se os acréscimos de custos de contexto que a burocracia europeia continuadamente decreta, permitem o aumento da competitividade da própria Europa mas em especial dos Estados economicamente mais frágeis no quadro da economia global, onde já se descobriu que a vantagem está do lado de quem há muito percebeu que há luxos na regulação social que se pagam muito caro.
Haverá quem esteja disponível para fazer este debate? Tenho dúvidas.
Caro Ferreira de Almeida, tenho para mim e há muitos anos que esse debate irá fazer-se, sim. A posteriori, quando todos estiverem a culpar todos do castelo de cartas ter caído com um estrondo que será ouvido em todo o planeta.
ResponderEliminarDou-lhe mais dez, quinze anos, para implodir.
ResponderEliminarDecorre agora, concurso para uma mão cheia de bons empregos na UE.
É o que tem animado a malta do Zé, pois, o nosso Zé.
Zurich, já respondeu.
Caro Drº Ferreira de Almeida,
ResponderEliminarSe excluirmos este srº que não tem responsabilidades politicas, não estou a ver alguém de dentro, isto é, um país da união vir questionar este modelo. Contudo, aparentemente o modelo já está a em causa, senão vejamos as medidas tomadas pelos países. Portanto, acho que o percurso que se segue ditará, ele próprio, a continuação ou o fim do projeto europeu, tenho para mim o seu fim.
Numa entrevista ao Wall Street Journal, Draghi, a propósito do modelo social europeu afirmou:
ResponderEliminar"You know there was a time when [economist] Rudi Dornbusch used to say that the Europeans are so rich they can afford to pay everybody for not working. That's gone,"
O estado social europeu, travejado pela solidariedade e pela inclusão, sustentou-se no crescimento económico e no pleno emprego. Paradoxalmente, contudo, é quando aquelas traves começam a gemer com o peso e a ameaçar ruptura que uma questão se coloca:
Que convivência social pode esperar-se quando o crescimento económico estagna e o desemprego explode, se a solidariedade deixar de existir e a exclusão marginalizar?
Que modelo de sociedade pode garantir uma convivência que permita evitar a guerra? Porque, contrariamente ao que afirma Draghi, tendencialmente o trabalho, em consequência das conquistas científicas e do engenho dos homens, será um bem cada bem cada vez mais escasso.
E a discussão que se coloca não é, salvo melhor opinião, sustentar este ou outro modelo que garanta a convivência pacífica na Europa, mas o modo como garantir que esse modelo não seja exclusivamente europeu.
Caso contrário, o modelo será chinês um dia destes.
O que está em causa, antes de mais, é a globalização e o que é mais urgente é o seu reenquadramento. Se não, a trajectória será descendente até ao ponto (longínquo) em que ela se inverterá.
O que se passa na União Europeia, com as contradições que refere, é um caso particular das consequências mal reguladas de globalização.
Salvo melhor opinião.
Decretar a morte do modelo social europeu é uma forma brutal de reduzir expectativas e ir aliviando a pressão social que se adivinha crescente em Itália. O que eu gostaria de ver, e é isso que se espera de um político europeu que lidera um dos mais importantes países da Europa, é como é que ele propõe a sequência, se o modelo morreu o que é que se vai construir em vez dele, ou vai tentar salvar o que puder, e assim sucessivamente, até voltarmos à miséria e à desproteção social que ditou o modelo social europeu? Não percebo bem estas declarações bombásticas, ou é uma desistência pura e simples da política?
ResponderEliminarCaro JMFAlmeida
ResponderEliminarO financiamento do "modelo social europeu", supõe o incremento líquido de população.
O aumento da longevidade, por si só, não compromete o modelo, já a taxa negativa de natalidade sim.
O Sr Draghi, perdoe-me a franqueza, limitou-se a verbalizar a inferência óbvia e, no que à oportunidade respeita, veio tarde.
Sobre a sobrevivência do atual sistema político europeu, não percebo onde se encontram as dúvidas.
A adesão à moeda única é um caminho sem regresso quer do ponto de vista formal, não existem mecanismos de saída, quer do ponto de vista substancial: corresponderia ao eclodir de uma crise global sem paralelo.
No que respeita à contribuição para a sustentabilidade do modelo social europeu, com a nossa natalidade declinante, Portugal está na linha da frente dos responsáveis do fim do mesmo;
Sobre a viabilidade do sistema europeu, as elites nacionais, junto com as congéneres europeias são os responsáveis únicos; perorar sobre a falta de democracia é não recordar o comportamento escandaloso que, no passado, as elites assumiram quando os eleitorados europeus não validaram as escolhas.
Por isso, permita-me concluir com o seguinte comentário: temos por opção o que merecemos.
Cumprimentos
joão
A construção europeia é imparável porque é a guarda avançada do próprio processo de globalização e de um nova abordagem à relação de sustentabilidade do homem com o planeta e consigo próprio.
ResponderEliminarA Europa sempre se construiu na crise e mesmo em períodos de interrupção seguirá dentro de momentos.
O que a Europa precisa hoje é de instrumentos vitais de estratégia. A chamada ao curto prazo, sacrifica a visão mais longa da Europa, sacrificando o adquirido do sentimento de pertença. Nas empresas, as falhas de competitividade actuais são quase sempre fruto de erros do passado - em especial a falta de capacidade de reconhecimento e e exploração dos valores que integram a perspectiva aprendizagem e crescimento. E é por isso que a Europa precisa hoje de instrumentos vitais de estratégia, assentes em formas audazes de gestão do conhecimento.
Assim o modelo que aparenta acabar não é o modelo europeu mas apenas um modelo social que se irá adaptar aos tempos e que está apenas em fase de avaliação e de convergência estratégica dos seus membros.