Eficiência e sustentabilidade são palavras que entraram definitivamente no
discurso político. E aos poucos as pessoas vão metendo na sua cabeça este vocabulário,
muitas vezes sem saberem ao certo o seu significado. Associam a eficiência e a sustentabilidade
à crise, à austeridade e à redução de rendimentos e contenção de despesas. Com
efeito, a insustentabilidade do país ficou evidente com o resgate, andámos a
viver acima das nossas possibilidades, gastando mais do que tínhamos e
desperdiçando recursos.
Mas
eficiência e sustentabilidade são valores que devem estar presentes na normalidade
da gestão das empresas, dos serviços públicos, de muitas outras organizações e
nas múltiplas decisões e escolhas que integram a vida das pessoas. Foi a sua
ausência na normalidade que conduziu ao desastre final.
Mas
se estas duas palavras aparecem agora como a salvação do nosso futuro e servem
para explicar a desalavancagem financeira dos excessos cometidos no
endividamento e na despesa e para levar por diante as reformas estruturais
sucessivamente adiadas ou esquecidas de que o país precisa, não podem nem devem
monopolizar a decisão política esquecendo tudo o resto. Há outros valores igualmente
muito relevantes. Veja-se o caso da equidade, um valor e também um bem público,
que os decisores políticos parecem por vezes esquecer ou não a esquecendo
relegam-na para segundo plano. Só a preocupação com a equidade, seja na
socialização dos custos da crise, seja na definição das condições de igualdade
de acesso a bens e serviços considerados essenciais, como é o
caso da saúde ou da educação, pode temperar a economia da eficiência.
Tratar
a racionalização como um fim em si mesmo, e não como um meio de gestão e
organização dos recursos que todos beneficie e se conjugue com adequadas políticas
redistributivas que combatam a vulnerabilidade e promovam o bem-estar da
população, não pode conduzir a outro resultado que não seja à desigualdade. As notícias que nos últimos dias se multiplicaram sobre a necessidade de assegurar a
equidade no tratamento do cancro são um sinal do muito que há para corrigir ao
nível da desejada eficiência e sustentabilidade do SNS.
Margarida, a propósito de uma reportagem sobre o número de suicídios no concelho de odemira, associado à enorme solidão e isolamento em que vivem muitas pessoas, além da pobreza, contou-me uma pessoa de lá que muitos desses casos são pessoas que têm cancro ou doenças que lhes trarão muito sofrimento e que não têm forma de tratar ou enfrentar, então preferem suicidar-se para fugir ao terrível destino que as espera.
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