1. Já aqui me referi a este assunto mais do que uma vez, na vigência do anterior e do actual Governo: no anterior para protestar contra as medidas decretadas em 2008 e que, com efeitos retroactivos, puseram em causa a confiança dos aforradores neste instrumento tradicional de poupança...com o actual para perguntar se nada iria ser feito para alterar essa situação.
2. Para recordar o que tem sido a morte anunciada dos CA, aqui fica um breve registo do saldo vivo das aplicações neste instrumento desde que atingiram um valor máximo em Janeiro de 2008 (valores em milhões de Euros):
Jan/2008 – 18.186
Jan/2009 – 17.189
Jan/2010 – 16.824
Jan/2011 – 15.289
Jun/2011 – 13.145
Jan/2012 – 11.138
Mar/2012 – 10.705
3. A argumentação do anterior Governo para dar a grande machadada nos CA consistiu em dizer que não fazia sentido o Estado continuar a subsidiar a poupança dos particulares que o anterior regime de remuneração imlicava: argumentação que aqui procurei rebater, considerando-a incompreensível, uma vez que o resultado desta política foi a substituição dos CA por nova dívida colocada em investidores institucionais, nomeadamente externos, a custo muito superior ao que vinha sendo pago aos detentores dos CA!!
4. Supostamente para substituir os CA, o anterior Governo criou em Julho de 2010 os Certificados do Tesouro, que, como não era difícil prever, estão muito longe de corresponder às expectativas então anunciadas: desde o momento da sua criação até Março de 2012 as aplicações em Certificados do Tesouro somam € 1.346 milhões, enquanto a redução das aplicações em CA atingiu € 5.596 milhões! Quer dizer que as aplicações nos Certificados do Tesouro representam apenas 24% do valor resgatado dos CA...para onde foram os restantes 76%, alguém quer adivinhar?
5. Ainda tive esperança que os novos responsáveis tivessem vontade de rever esta situação, mas já passou tempo demais e nada, mesmo nada aconteceu...devo concluir que nada irá mudar, os CA vão morrendo mês a mês, pouco falta para chegarem ao nível de 50% do saldo registado em Junho de 2008...
6. Não deixa de ser curioso que esta situação aconteça em paralelo com discursos em que se assinala e lamenta a insuficiência da poupança interna para financiar o investimento...e com a reconhecida dificuldade em assegurar que o Estado possa voltar a financiar-se nos mercados em condições minimamente aceitáveis...
7. Ainda haverá alguém com poderes, que queira acudir aos CA?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarHá que proteger os portugueses de instrumentos financeiros tóxicos. E não encontro muitos que uma toxicidade superior à do estado português. Os portugueses que metam o dinheiro em coisa melhor.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarSeguindo por essa muito inspirada perspectiva de análise, ainda acabaremos louvando o executivo findo por ter afastado muitos portugueses, de forma desajeitada mas eficaz, da titularidade de dívida pública portuguesa!
Mais vale investirem em acções no aumento de capital da SAD do Sportin - próxima oportunidade de ouro, a não perder, para os aforradores nacionais!
Meditando...
ResponderEliminarParece-me óbvio que os CA como instrumento de poupança popular foram condenados a desaparecer .Insondáveis razões ,devidamente ponderadas por quem que , do alto do seu grande saber , tem a certeza que o bem comum será assim melhor servido . Pode ser que mais não seja do que o esgravatar nos bolsos dos cidadãos porque os tempos não estão para luxos , nem que seja o ter algumas poupanças e Roma não espera pelo pagamento do que lhe é devido .
Meditando em tudo isto veio-me à lembrança o que se passa aqui no RU com o veículo de poupança conhecido com ISA (Individual Savings Account ).
Os ISA foram criados em 1999 em substituição de outros produtos anteriores ,(PEP's e TESSA's) tidos como dirigidos apenas à classe média , afim de alargar a base social que deles pudesse beneficiar ,ao mesmo tempo que estimulavam a poupança .
Os ISA são fundamentalmente de dois tipos : Ou em dinheiro ou em produtos da Bolsa ,ou mesmo mistos . Alguns são feitos a prazos fixos ( o máximo a 5 anos) ,outros há que podem ser resgatados parcial ou totalmente em qualquer altura ,mas todos têm em comum o facto de os respectivos rendimentos serem totalmente livres de impostos .
Os Bancos e Sociedades Bancárias competem tentando oferecer as melhores condições ,mas pode-se dizer que aqueles que podem ser resgatados sem penalização ,pagam hoje cerca de 3.5% ano ,e os a 5 anos perto de 5% . Juros ,repito ,livres de qualquer imposto .
Em 2012 ,o montante máximo que pode ser subscrito por pessoa é de £ 11.280 sendo que £ 5.640 desse total pode ser em dinheiro e o restante em produtos da Bolsa .
Tudo isto está bastante divulgado e não será certamente novidade para muitos .
Mas ,agora que tanto se fala na sustentabilidade da Segurança Social , terá inegavel interesse saber-se que os numeros recém publicados pelo ONS (Office of National Statistics) mostram que pela primeira vez a subscrição de ISA's ultrapassou as contribuições para os Fundos de Pensões ,sendo que as razões apontadas são a maior simplicicidade das primeiras ,a sua maior transparencia e sobretudo estarem menos sujeitas à interferencia do poder politico e à especulação bolsista .(ver p.exemplo www.fairinvestment.co.uk).
Outras terras outras gentes dirão ,mas eu discordo porque as preocupações básicas são as mesmas ,e então porque não dar logo o salto para algo que se prova melhor quando for a altura de decidir ?
manuelm
Caro Manuel,
ResponderEliminarRegisto seu interessante e válido contributo para a serena discussão deste assunto.
Os ISA são um bom exemplo daquilo que em Portugal poderia ser feito no sentido da promoção da poupança: penaliza-se o consumo mas nada se faz para valorizar a poupança das famílias - ou, para ser mais preciso, penaliza-se também a poupança, em evidente contradição com os objectivos de estabilização da economia e de superação do crónico défice de financiamento da mesma.
São tão insondáveis as razões que presidem a este paradoxo da política económica, que prefiro nem entrar nessa análise...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminardo ponto de vista da tesouraria da fazenda pública os CA poderiam fazer muito mais sentido, concordo. Questiono é a legitimidade de o fazerem, um pouco à semelhança da legitimidade que o Banco de Portugal possa ter para receber depósitos de clientes de fora do mercado.
O banco de Portugal (hoje, o BCE) poderia também receber depósitos de clientes como qualquer outro banco, tal como a engenharia militar poderia construir pontes civis. O problema é que no dia seguinte não haveria mercado, nem bancos para receber depósitos, nem construtoras para fazer pontes. O facto de serem estado não significa que sejam país e, no fim do dia, importante é o país. É mais importante a salubridade de um mercado de intermediação financeira que a dívida pública.
Nada disto invalida aquilo que disse atrás, um certificado de aforro é, no presente e até prova de que não vão haver mais Sócrates por aí, um activo tóxico.
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarNinguém quer acudir aos CA. Está visto. Estão em morta lenta. Havendo necessidade de promover a poupança interna - que está em níveis muito baixos - e necessidade de o Estado diversificar as fontes de financiamento num momento em que lhe está barrado o acesso aos mercados financeiros e os contribuintes suportam taxas de juro muito elevadas não há aparentemente uma racional para deixar cair os CA. Mas o que nos é dado ver é uma a morte lenta é consentida.
O problema não é, a meu ver, o caso particular dos CA, na altura houve muito boa gente que falou bem alto contra essa medida mas o contra argumento, que sustentou a decisão quando a devia ter infletido, foi,infelizmente,o habitual "curto prazo". Ou seja, naquela altura "verificava-se" que era mais vantajoso para o Estado financiar-se de outra forma, e toca de rebentar com os CA, pelos vistos a perspectiva era a de que seria assim para sempre. Melhorou-se talvez o OE desse ano, e do seguinte, grande êxito, o pior é o que fica, não é o que passa.E o que ficou foi a destruição da confiança e o abandono de um instrumento de poupança que, por ser seguro, embora de modesto rendimento, atraia os aforradores pouco aventureiros, ou seja, os que precisavam mesmo de ter algum dinheiro de parte para uma necessidade.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarDois rápidos pontos:
- Em 1º lugar essa comparação como BdeP não colhe, com o devido respeito, pois o BdeP nãpo precisa dos depósitos para nada, não fazendo por isso qq sentido passar a recolher depósitos, enquanto que o Tesouro Público precisa, "como de pão para a boca", do aforro que os clientes dos CA lhe prestavam em contrapartida de uma justa remuneração;
- Em 2º lugar, não consigo entender a razão pela qual os particulares não deverão ter acesso aos instrumentos de dívida que o Estado coloca no mercado, que exista mesmo um canal especial de mais fácil acesso para os particulares como era o caso dos CA (desde que, como é evidente, o Estado não pagasse mais por essa dívida do que paga pelas outras que emite).
O que aconteceu, por muito bizarro que isso possa parecer, é que o Estado para reembolsar/resgatar CA's em massa como aconteceu nestes últimos 4 anos, teve de se endividar e a taxas bem mais elevadas do que o que pagava nos CA!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarRelativamente ao primeiro ponto, referi o BdP por razões nacionais, mas para o argumento também vale o BCE.
Relativamente ao 2º ponto, pois, isso acontece a quem mantém um conjunto de passivos demasiado grande para a camioneta mas, como concordará, o argumento continua a valer, é mais importante ter os depósitos a correr pelos bancos e o estado se comportar como um devedor responsável que enterrar-se em dinheiro barato à conta dos mais fracos.
O que não contraria o argumento que para o tesoureiro da fazenda pública, a estratégia deveria ser encher-se de CA's. Nisso não discordamos.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEssa hipótese do BCE passar a recolher depósitos do público é quase um atentado contra a Humanidade, susceptível do o levar a sentar-se no Tribunal da Haia para se explicar melhor(uma testemunha de defesa pode desde já arrolar, apesar da nossa discordância)...
recordo-lhe, a propósito desta discussão, que uma das primeiras medidas do Governo italiano chefiado por Mario Monti, foi precisamente lançar um grande em préstimo obrigacionista, para subscrição directa pelo público, com exceceocionais condições de subscrição: os subscritores ficaram isentos de comissões na compra desses títulos por decisão voluntária de grande parte das instituições financeiras italianas, a emissão ofereceu uma taxa de juro bastante interessante (taxa de 2% acima da inflação, salvo erro) e foi um enorme sucesso!
Por cá é esta vil tristeza, surpreende-me bastante o seu conformismo, confesso!
Cara Suzana,
O problema é que para o Estado a solução adoptada não foi menos onerosa, bem pelo contrário: como já disse, o Estado viu-se obrigado a emitir dívida a taxas de juro superiores a 5%, para acorrer aos resgates de CA que representavam um custo bem menor...e isso, por extraordinário que pareça, sustentado na argumentação de que não cabia ao Estado subsidiar a poupança das Famílias... grande farsa!
Cara Margarida,
Em perfeita sintonia, como quase sempre!
Nesta altura do campeonato com a imagem do Estado totalmente degradada..quem compraria CA ?
ResponderEliminarO Estado precisaria de fazer uma campanha de marketing que desse a imagem de prosperidade ..mas o Estado limpa o c. com a mão..não tem nem papel higiénico!!
E depois com a perspectiva incontornável da saída do euro é mais confiável ainda !