O impasse resultante das eleições gregas gerou o reacender dos alarmes todos com a diferença de que agora se fala com muito mais à vontade na saída daquele país do euro do que o que se falava quando Papandreu quis fazer um referendo. Mas o que é que realmente aconteceu? Aconteceu que os gregos disseram que não querem mais austeridade, pelo menos não querem ser eles a dizer que a querem. Tal como fizeram os portugueses, os espanhóis, os franceses, e os holandeses, que votaram nos partidos que prometeram que não recorreriam a aumentos de impostos e a redução de salários e de pensões. A Itália, para já, tem um governo não eleito, se calhar é melhor não lhes perguntarem em quem votariam. Os gregos, que nos levam uns anos de avanço de profunda crise e de ainda mais profunda desconfiança no poder constituído, já não sabem o que hão-de fazer quando os chamam a votar e parece que os outros países também não escolhem de livre vontade quem lhes promete sangue, suor e lágrimas, pelo menos acreditam que talvez seja possível evitá-lo e não se portam tão mal como os gregos, pelo menos para já.
A "Europa" já começou a dizer que se calhar esta receita não vai permitir aos países recuperar, pelo menos é o que pode depreender-se do eufemismo "agenda do crescimento", o que não ajuda nada a confiar cegamente no agravamento sucessivo das políticas de austeridade, mesmo que não haja respostas claras quanto a alternativas.Por cá, são milhares as casas entregues aos bancos, são milhares e milhares as empresas e pessoas falidas ou insolventes, o desemprego sobe em flecha, na Irlanda, - de que pouco se fala, curiosamente – um novo imposto sobre o património teve como resposta o não pagamento quase generalizado, e o Governo não sabe o que fazer perante isso. Na Holanda, o partido de extrema direita apostou em eleições antecipadas, a pretexto de não querer que haja cortes nas pensões, e espera certamente ter um bom resultado eleitoral.
A Grécia está a ser estrangulada, soube-se hoje que o BCE cortou o financiamento aos bancos gregos, e tudo se precipita a grande velocidade. Se a Grécia sair do euro, isso resolve o quê? E se ficar, resolve o quê? Os outros países em dificuldades vão todos querer mais e maior austeridade? Se quiserem, isso leva-os aonde? Se não quiserem, o que acontece? Cada povo, à sua maneira, reage como pode, duvido muito que a questão seja “apenas” a saída ou a permanência da Grécia no euro.
Resolve a união. De uma vez. A união dos estados da América fez-se com uma guerra de anos. milhões de refugiados e anos de ocupação dos estados vencidos. Se esta custar a Grécia, até sai barata, quando comparada com a outra.
ResponderEliminarCustar a Grécia? Isso era se a Grécia fosse um problema isolado, acontece que não é,longe disso. A geopolítica também terá um grande sobressalto,se abandonarmos essa parte do mapa à sua sorte, que não tem sido alheia à História da Europa,bem pelo contrário. Não foi certamente pela sua pujança económica e social, e ainda menos pela estabilidade política, que a Grécia foi admitida na União Europeia e na Moeda Única...
ResponderEliminarExactamente. A questão geopolítica, coloca-se relativamente à Grécia, como provavelmente não se colocará, relativamente a qualquer outro país que integra a UE, excpto talvez Portugal, mas por motivos completamente diferentes.
ResponderEliminarE, caro Tonibler, a união dos Estados americanos não se coloca ao mesmo nível dos europeus. Ali, tratava-se de uma identidade nacional que se pretendia, o que, relativamente à europa não faz qualquer sentido.
Mas, voltando ao post da cara Dr. Suzana; « Cada povo, à sua maneira, reage como pode...» Reside neste pequeno trecho, o fulcro da questão. Não terão de ser os países com as suas diferenças naturais a moldar-se a um modelo europeu que obriga indirectamente a um extravasamento às questões económicas e financeiras. É perfeitamente entendível que para o sucesso de uma política comum, económica e financeira, terão de existir regras comuns, mas essas regras, terão de ser aplicadas e geridas, por cada governo de cada estado e nunca numa visão unificada. Global, sim, mas unificada é impossível.
Penso eu de que...
Cara Suzana,
ResponderEliminarExactamente por a Grécia não ser um problema isolado, que amputar a Grécia pode muito bem vir a ser a solução.
Caro Bartolomeu,
Aquilo que faz sentido e não faz sentido é, nesta fase da história, um pressuposto cuja validade é questionada todos os dias.
Então, quer o caro Tonibler dizer, que se procuram todos os dias soluções para um problema enorme e concreto, com base em presupostos?!
ResponderEliminarTodos as soluções para um problema são baseadas em pressupostos. Nem que seja o pressuposto de que compreendemos completamente o problema. Dizer que não se procura uma identidade nacional na UE é um pressuposto que pode muito bem não ser válido num ambiente de moeda única. E, na minha opinião, não é.
ResponderEliminarExactamente, caro Tonibler, o que corrobora aliás, aquilo que expressei no primeiro comentário.
ResponderEliminarÉ que, nem sequer estamos a considerar um desejo, uma utopia... mas sim, um absurdo.
Caro Tonibler, na verdade ninguém sabe o que é solução de quê, a Grécia ficará no euro porque ninguém sabe o que acontece se sair ou sairá do euro porque ninguém sabe o que fazer para que fique.Pelo menos é o que parece.
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminareu sempre achei que a Grécia ficaria. Sempre achei que os gregos ficariam mesmo que o estado grego saísse, como vai acontecer connosco. Mas a vontade dos gregos é o ponto fundamental e, agora visto do lado dos que ficam, só faz falta quem quer.
Lembro-me há uns (muitos) anos de um referendo no Quebec sobre a independência do Canadá. E esse referendo acontecia de 10 em 10 anos, porque os independentistas periodicamente, qual aborto, voltavam à carga. Quando acabou o último, com derrota dos independentistas, as outras províncias do Canadá começaram a falar em referendos sobre se queriam que o Quebec fizesse parte do Canadá, coisa que a coroa impediu desde logo. Mas este movimento teve o mérito de nunca mais se ter falado em referendos sobre independências. É natural que depois das eleições gregas, os outros estados comecem a montar os seus "referendos" sobre a Grécia.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarJá não é a primeira vez (e não será com certeza esta a última, é sinal que por cá andamos), que os seus comentários me suscitam interrogações para as quais não tenho resposta.Poderia o meu amigo, clarificar o que se segue:
-"eu sempre achei que a Grécia ficaria. Sempre achei que os gregos ficariam mesmo que o estado grego saísse, como vai acontecer connosco...)"
Questão:
Como é que o povo fica e o estado sai!?
:)
As competências do estado passam para Bruxelas. Não é por a câmara de Arruda falir que os arrudenses deixam de ser portugueses, como não é por o estado português falir que os portugueses vão deixar de ser europeus.
ResponderEliminarAh, não tinha lido esta parte nas letras pequenas do voto? E nos Erasmus? Na moeda única? Em Schengen? E, também, queria ficar com o quê, o exército, a justiça?
E o resto do portugueses ainda não se lembrou desta, senão amanhã ninguém pára as manifestações de "sou europeu desde pequenino!!"
Obrigado Tonibler, o melhor é pensarmos um novo hino!
ResponderEliminar;)
Bem visto, caro Tonibler, essa é uma perspetiva realista que evitaria quilómetros de discussões e que, na prática, não vai a votos :)
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