Eu não tenho dúvidas, o estômago constitui o "principal" órgão que comanda todos os outros. Camilo já tinha chegado a essa conclusão (Coração, cabeça e estômago).
Recordam-se? Há poucos meses muitos portugueses indignados deixaram de ir ao Pingo Doce como forma de protesto contra a "deslocalização" da sede para fora do país. Hoje, os mesmos portugueses estão a inundar as superfícies daquela cadeia, porque estão a fazer descontos de cinquenta por cento em compras superiores a cem euros, segundo dizem. Ou seja, o patriotismo vale o que vale, está em saldo e, como seria se esperar, o estômago tem mais força do que o coração e a razão. A vida passa, em primeiro lugar, pelo bandulho e só depois é que vem o resto...
Peço-lhe desculpa, caro Professor mas... os Portugueses que hoje inundam as instalações do Pingo Doce, são provávelmente aqueles que não compraram acções do BPN, nem foram nomeados para cargos de administração de empresas, nem são ex-presidentes da república, nem ex-deputados, nem sucateiros, nem dirigentes de grandes clubes desportivos, nem donos de laboratórios, nem donos de bancos, mas sim aqueles que, mesmo tendo achado mal a deslocalização da sede da empresa para o estrangeiro, continuam a ter de dar de comer aos filhos, muitos deles com um único ordenado, outros, com o subsídio de desemprego, outros ainda, sem ordenado e sem subsídio, alguns... conseguindo ainda a proeza de manter vivo o espírito patriótico e a vontade de contribuir para a recuperação do país. E outros ainda, que conseguem, apesar de tudo, oferecer o seu tempo livre para participar em campanhas de solideriedade social.
ResponderEliminarÉ fantástico verificarmos ao que pode arreigar-se espírito de solideriedade que caracteriza os Portugueses, não acha?
Eu sei, Bartolomeu, o "estômago" comanda a vida...
ResponderEliminarHá pouco na televisão um cliente reclamava que os supermercados deviam estar fechados porque é o 1º de Maio. Questionado sobre o que estava a fazer junto ao supermercado o nosso bom cliente confessou ir aproveitar a campanha de promoções. Engraçado, não é!
ResponderEliminarIncrível, mas o comentário do Bartolomeu gostava de ter sido eu a escrevê-lo, pois reflecte não só a minha visão da sociedade mas também a minha sensibilidade e "compaixão" pelos que "apenas" e "ainda" têm a necessidade de pôr o estômago em 1º lugar! Necessidade essa, que os senhores cultos e civilizados deste e doutros países, há muito viram suprida!
ResponderEliminarA diferença entre o mundo cão actual e o mundo universalmente solidário que deveria ser um objectivo a cumprir, está sem dúvida, na forma como cada um vive a sua realidade e como desdenha sem um pingo de solidariedade pela realidade dos desfavorecidos!
Infelizmente, o nosso mundinho, apesar de tão pequenininho tem capacidade para armazenar um sem-número de contradições, cara Drª. Margarida.
ResponderEliminarContradições essas, causadas inúmeras vezes pela nossa aptidão para dizer sem pensar, e outras vezes, pensar e não dizer, ou dito de uma forma mais simples; dizer o que sabemos, sem saber o que dizemos...
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarCom as necessárias adaptações é caso para dizer:
"Mais depressa se apanha um mentiroso, que um coxo".
Era bom ver a magnanimidade do senhor ASS nos prazos de validade de cada produto vendido hoje.
ResponderEliminarComo sabem, os supermercados deitam para o lixo consideráveis quantidades de produtos por terem expirado os respectivos prazos de validade.
Hoje a cadeia Pingo Doce abateu prejuízos presentes e futuros renovando os stocks.
Às vezes, sob a capa da «bondade», escondem-se outros sentimentos (propósitos) muito menos nobres.
E o facto de isto ter sido hoje não deixa de ter um significado simbólico e de ser um acto político (de mau gosto).
São os empresários que temos, que nos são apontados como exemplos.
Depois queixam-se de que os trabalhadores (não colaboradores, como está agora na moda chamar-lhes) são o que são.
Isto anda tudo ligado.
Independentemente do meu juízo sobre a operação "1.º de Maio" no Pingo Doce, gostava de fazer algumas observações:
ResponderEliminar1) Nada prova que os portugueses que hoje acorreram em massa às lojas PD sejam "os mesmos" que "há poucos meses deixaram de ir ao Pingo Doce como forma de protesto". Para já creio bem que a multidão que lá foi hoje era muito mais numerosa do que os que boicotaram o PD há meses.
2) O "patriotismo" dos que protestaram dessa forma contra a «"deslocalização"» é muito discutível, já que não se importam de comprar nos outros grupos de distribuição que têm sedes no estrangeiro.
3) Mesmo que não se tenham em conta as considerações anteriores, não me parece que se possa concluir que "o patriotismo está em saldo".
4) O que motivou hoje os compradores no PD não foi "o bandulho", mas sim a carteira.
Pois foi, Freire de Andrade, a carteira, mas para cumprir com as necessidades do bandulho, tirando o papel higiénico, produtos de limpeza e outros que não têm entrada direta nas goelas, obviamente.
ResponderEliminarEu não pretendo provar nada, nem se trata de uma questão dessa natureza. Se tiver que usar o seu argumento, também lhe posso dizer que não pode provar o contrário, de que nesta onda não estivessem muitos dos "indignados" de há alguns meses, ou pode?
Queria dizer-lhe que me estou borrifando para o fenómeno de hoje, cada um faz o que quer, mas não me impede de fazer uma análise comparativa com o que observei há alguns meses, nada mais do que isso. Ou será que acha que tudo "isto" é normal? Se assim for, então, não vale a pena fazer mais nenhum comentário. Quanto ao patriotismo em saldo, é uma opinião pessoal, porque, que eu me recorde, houve uma indignação de tal ordem a ponto deste assunto ter sido discutido no Parlamento, não foi? Não devo estar a sonhar. Na altura ouvi e li argumentos desta natureza, de que os ditos senhores do PD ao "saírem do país" estariam a cometer algo desse género, levando muitos a "boicotarem" a cadeia.
Mas seria bom analisar mais aprofundamento o fenómeno de hoje, que é muito curioso, sob vários pontos de vista, e olhe que não é só um problema de carteira, há mais, muito mais, quer do ponto de vista da empresa, do momento e sua oportunidade, e a forma de levar muitos portugueses a consumir o que necessitavam e quem sabe o que não precisavam.
Empresários Miseraveis + Povos na Miséria = Enchentes no Pingo Doce !!!
ResponderEliminarMais miseraveis ainda os Liberais que dão loas e louvam a atitude do PingoDoce.
É por valer tudo que estamos onde estamos !
Pergunta 1 : Por que foi feita esta campanha num feriado ?
Pergunta 2 : Que achará o Dono do PingoDoce sobre a extinção dos Feriados ?
Pergunta 3 : São estas manobras de genio do empresariado portugues que geram riqueza e aumentam a produtividade do pais ?
É de louvar e muito bom, para um chefe de familia, puder fazer as compras do mes a metade do preço.
É pena e extremamente triste, como Pais, como Povo, chegarmos a este ponto!
Ahahah!
ResponderEliminarCaro Professor, sempre ouvi dizer que os homens (homens, na verdadeira açeção da palavra) se conquistavam pelo estômago. Deve haver exceções porque de contrário, não teria (eu) conquistado ninguém até agora!
Em tempo de crise é isso mesmo que acontece. A necessidade fala mais alto que o patriotismo.
Se não fosse triste, até continuaria a sorrir...
Abraço
Vale a pena estar atento às notícias que vão começar a sair sobre o dia do Pingo Doce que irá passar a ser comemorado no dia 1 de Maio, substituindo o dia do trabalhador, futuramente o dia do consumidor.
ResponderEliminarLeiam, mas não se arrepiem, http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2451028&page=-1, é natural...
O boicote ao Pingo Doce foi um patriotismo de trazer por casa e o país real não se comove com essas coisas, é muito mais importante que as grandes superfícies não esmaguem os pequenos produtores ou os produtores portugueses e lhes comprem os produtos do que manterem a sede cá e importarem muito do que cá se está a desistir de produzir por não terem quem compre. Certamente que o PD não agiu por caridade, não é uma instituição vocacionada para isso mas uma empresa e, se resolveu fazer publicidade ao estilo de um "black friday", permitindo que muitas pessoas se abastecessem por menos dinheiro, mais vale isso do que andar a fazer anúncios ou a pagar armazenamento que os consumidores pagam também. Francamente, não vejo qual seja o mal, se as leis da concorrência e da qualidade dos produtos foram respeitadas.É como diz o Massano no seu post, primeiro a realidade, depois a conversa, bem mais grave é o fabrico de produtos sofisticados na China, em condições que nunca toleraríamos por cá, e, no entanto, todos correm a comprar...e caro!
ResponderEliminarCom uma taxa de desemprego de 14%,no 4.º Trimestre de 2011, com tendência a aumentar, creio que designar o 1º de Maio como o dia do trabalhador não faz qualquer sentido!!
ResponderEliminarPois eu me confesso: -Também lá fui, embora não tivesse entrado, tantas eram as pessoas que mais me fizeram lembrar a distribuição de alimentos em África, não só pelo ar faminto das "gentes" mas também pela sua multicularidade...
ResponderEliminarNão ia comprar papel higiénico, detergentes e afins, e muito menos alimentos, esses compro-os à semana e são poucos. Queria apenas uma garrafa de bom champanhe, de preferência francês (aprecio sobremaneira Moet Chandon) a metade do preço para comemorar o vencedor das próximas eleições francesas... Não podendo ser com champanhe francês, será com certeza com Raposeira!
Mas estou com o caro A. Santos. Tudo isto não passou de uma operação de marketing que excedeu as expectativas dos promotores, o facto de haver dinheiro fresco ajudou imenso, foram "despejados" com toda a certeza milhares de produtos com o prazo a expirar, mais uns largos milhares de euros de lucro a contabilizar, e o povo de tanta pancada que leva agradece, é com o que se tem na carteira que se compram os melões...
Caro jotac, deixo aqui os meus veementes protestos quanto à sua escolha de um chamapanhe francês!,temos uma excelente produção nacional de espumantes e vai ver que a celebração lhe vai saber muito bem, experimente um bom Murganheira...
ResponderEliminar:)))
ResponderEliminarSabe, cara Dra. Suzana, agora trouxe-me à memória as palavras do General Eanes a um jornalista, por ocasião das comemorações do 25 de Abril (segundo me contaram!): "Todos os portugueses gostavam de usar no dedo um anel com brasão"...
Tem razão, o Murganheira é realmente muito bom.
Aproveito para ressalvar a palavra multicularidade para: multiculturalidade.
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (88anos)direi simplesmente que o facto da Direcção do Pingo Doce ter escolhido o 1º de Maio para fazer esta «promoção» foi intencional e só demonstra que ser inimiga do Proletariado,pois poderia ter escolhido outra data.
ResponderEliminarA Pátria-mãe p'ra mim madrasta/
empurrou-me p'rà emigração/
maldita seja a Governação/
que Portugal p'rà miséria arrasta.