1. Vai por essa Europa uma encorajadora onda mediática em prol da revisão das opções da política económica da zona Euro, pretendendo aditar-lhe uma vertente de Crescimento que contrabalance a deplorável vertente de Austeridade, aparentemente ainda dominante...
2. Na Europa é assim: algumas ideias, se adequadamente enroupadas ou embaladas, conseguem fazer moda rapidamente, ganhando num ápice o estatuto de pensamento dominante, ainda que ninguém entenda (ou sobretudo se ninguém entender) exactamente o seu real significado bem como as suas possíveis implicações...
3. Esta crescente retórica em torno de uma nova “agenda para o crescimento” (uma expressão sem dúvida muito bela), tornou-se moda graças ao génio político do mais do que provável vencedor das eleições presidenciais do próximo Domingo em França, Francisco de Holanda, que a resolveu lançar sem ter de elaborar (também não tinha necessidade, diga-se de passagem, ou nem lhe convinha) sobre o tema de modo que se perceba mais ou menos como é que tal agenda seria aplicada...
4. Trata-se pois de um bom exemplo da facilidade com que muitos “media” abraçam entusiasticamente determinadas ideias de política cujo real conteúdo e instrumentos de aplicação ninguém conhece...o importante é que surjam como contraponto da Austeridade, de que ninguém gosta e já tantos estão ansiosos de ver o fim, depois de se terem habituado a viver, anos a fio, confortavelmente sentados à mesa do Orçamento...
5. Ponho-me a pensar sobre esta retórica e interrogo-me, por exemplo, como é que um país como a Alemanha irá adoptar uma “agenda para o crescimento” quando se encontra com o nível mais baixo de desemprego do período de quase 25 anos pós-reunificação e quando os principais sindicatos estão apresentando reivindicações para aumentos salariais de 6,5% ameaçando com greves em sectores fundamentais para a economia...
6. Será que faz sentido a Alemanha subscrever uma “agenda para o crescimento” – ainda que de conteúdo desconhecido como parece ser o caso – quando a sua economia apresenta sinais tão visíveis de sobreaquecimento?
7. E nos casos de Portugal, Grécia, Espanha e Itália (não incluo a Irlanda, que parecer não ter sido contagiada por esta retórica), como seria aplicada esta agenda para o crescimento – reduzindo os impostos sobre as empresas como pareceria mais lógico? Ou, como suspeito que vai nas formidáveis cabeças que mais clamam pela dita “agenda”, através do lançamento de programas ousados de obras públicas – voltando às excelentes auto-estradas, às rotundas viárias, aos comboios a alta velocidade, aos velhos/novos aeroportos, às escolas com acabamentos de luxo, aos pavilhões gimno-desportivos, às casas da cultura, etc, etc?
8. Em qq dos casos, e pondo de parte a questão "menor" da bondade de tais políticas, interrogo-me como iriam ser financiadas essas “agendas”: através do aumento do endividamento público quando este já não pode crescer mais? Ou através dos famosos “eurobonds” como parece pretender Francisco de Holanda, com o risco assumido pela Alemanha e seus parceiros triple A(cada vez menos)?
9. Mas alguém ainda acredita na viabilidade desta fábula?
A vitória dos socialistas em França trará a Portugal uma ameaça quase tão grande como a económica. Já imaginaram a quantidade de frases copiadas dos jornais franceses que vamos ter que aturar aos "pais da democracia" portuguesa ???? Ninguém vai calar o Mário Soares...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira, a agenda para o crescimento, pelo que já fui lendo por aí, não é preocupante. Os valores dedicados a ela são insignificantes (li algures 180 mil milhões de euros) o que me leva a crer que é conversa para placar os que não deixam de falar no assunto.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarNão devemos exagerar, uma vez que felizmente a ameaça que refere é essencialmente de retórica - sem com isto querer desvalorizar a questão da poluição sonora...
Mas como dispomos daquela arma secreta a que chamam zapping, podemos dormir mais ou menos descansados...
Caro Zuricher,
Embora com uma pequena nota de cautela adicional, no sentido de ver melhor o que aí vem, sou capaz de lhe dar razão no essencial.
Como a Alemanha de certeza não vai aceitar as eurobonds, podemos vir a ter eurobonds garantidas pelo AA+ da França. Duvido é que os juros sejam baixos e que o rating da França não desça ainda mais se se meter nestas aventuras.
ResponderEliminar«O que será, que será, do que não tem certezas; nem nunca terá. Porque não tem concerto; nem nunca terá...»
ResponderEliminarEste post, fez-me recordar o tema musical de outro Xico também de Holanda só de nome.
http://www.youtube.com/watch?v=5gjv64g6_oc&feature=related
Mas, é claro que o caro Dr. Tavares Moreira, pretende levar o assunto do post muito mais além... eu diria que tão mais além que provávelmente não haverá limites para conter a imaginação de cada um acerca desses tais pacotes-fantasma.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarA "fábula" que apresenta e nos termos em que a apresenta, só mesmo quem quer acreditar.
Mas, o "crescimento" foi colocado na agenda da reunião de ministros de Junho e o Presidente do BCE, colocou o "tema" em cima da mesa.
Por isso, alguma chama existe, mesmo que o "fumo" seja pouco.
"Crescimento", pode começar a parecer-se com os conceitos morais: estamos de acordo quanto ao conceito e, discordamos quando se passa à definição concreta.
A palavra, nos dias de hoje, um elevado efeito simbólico...quiçás, mobilizador...
Esta semana, saiu mais um artigo de Mohamed El-Erian; sintetizando a mensagem: apenas a Alemanha pode "mandar" na zona euro; claro que é apenas, a opinião de um dos responsáveis da PIMCO.
Ontem, foi dado a conhecer os cenários futuros para a zona euro, elaborados pela FICHT.
Com lhe disse há um par de comentários atrás, (não me recordo a que propósito), a partir de domingo entraremos noutra fase, aquilo a que os anglos denominam o "end game". Pode durar 2/3 anos, esse dado ainda é cedo para se poder determinar, mas passamos do fim do princípio para o princípio do fim.
Aqui, como em outros locais, em especial os da periferia, uma quantidade apreciável de cidadãos ainda não se apercebeu desse "facto".
Por isso, acham que "crescimento" é uma gratuitidade sem condições o que, manifestamente, é uma fábula.
Cumprimentos
joão
Caro Nuno,
ResponderEliminarNo cenário que coloca,existe um elemento que me parece bem pouco provável: a França garantir Eurobonds para apoiar projectos de "investimento" nos países mais problemáticos. Confesso que não acredito pois não me parece que a aparente ingenuidade do Snr. FH seja mais do que isso, aparente...
Caro Bartolomeu,
Eu nada pretendo, além de suscitar esta interessante discussão...
Ou melhor, a única coisa que verdadeiramente pretendo (para além de alimentar a discussão de ideias) neste domínio, é que não me vão aos bolsos mais do que já foram com o agravamento da carga fiscal e outras medidas...É que este "crescimento" de que para aí se fala, novamente, tem conduzido, invariavelmente, ao sacrifício do cidadão contribuinte!
E basta, caro Bartolomeu, basta!
Não considera legítima, esta pretensão?
Legitimíssima, Caro Amigo!
ResponderEliminarPorém, devo confessar-lhe que não vejo outro futuro para os portugueses, que não seja o de pagar até à completa pobreza.
Nada nos irá salvar desse estado que não desejamos, mas que prevejo inevitável, com uma agravante: é que tudo se encaminha para que, cada dia dia, apareçam novas e mais sofisticadas formas de nos "entrarem nos bolsos".
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarSe formos atrás deste canto de sereia do "crescimento", esse resultado é certo, fatalmente! Se não dermos ouvidos a esses cantos, ainda teremos alguma possibilidade de reverter o lamentável caminho até aqui seguido...
Ponha os olhos na Irlanda, meu caro, que já está a "levantar a cabeça", prepara-se para regressar aos mercados dentro de 3 ou 4 meses, não foi na conversa do "crescimento" e resistiu ao aumento de impostos, tendo em troca reduzido mais a despesa pública...
Tem notícias de manifestações de protesto na Irlanda?
Compreendo obviamente, o bom ponto-de-vista que o caro Amigo apresenta, mas; caro Dr. Tavares Moreira, em Portugal, quais são os sinais evidentes de que este governo tenha reduzido a despesa pública? No essêncial, naquilo que seria motivo para estímulo tanto do cidadão-pagador-de-impostos, como do empresário... tudo se mantem como dantes.
ResponderEliminarMas deixe que lhe lhe coloque uma questão, caro Dr.: quando declara «Se formos atrás deste canto de sereia do "crescimento"» está a referir-se a quem, em concreto?
Tenho a certeza absoluta que o caro Dr. T.M. já notou, que no nosso país se rema em diferentes direcções e que não existe um consenso naquilo que é importante tanto em matéria de investimento, como em matéria de administração. Portanto, a distância a que nos encontramos da Irlanda, irá manter-se certamente.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarConcordo consigo que a distância física/geográfica a que nos encontramos da Irlanda irá manter-se, com elevada probabilidade, a menos que se verifique algum cataclismo natural que modifique a presente estrutura dos continentes...
Quanto à outra distância - de entendimento do problema económico e financeiro que nos aflige, medidas de política apropriadas e suas implicações no desempenho da economia - tenho a percepção de que a distância a que hoje nos encontramos da Irlanda não vai manter-se mas sim aumentar...
Amigos cumprimentos, sempre a considera-lo.
E vale a pena lembrar que, apesar dos graves problemas que tem enfrentado, a Irlanda continua a ser um dos países mais ricos da UE, enquanto nós não sei se não estamos já no último lugar do grupo do euro.
ResponderEliminarA consideração e a amizade são de mim para o Senhor, recíprocas, caro Dr. Tavars Moreira. Já as opiniões, concretamente no que diz respeito a este assunto, divergem. E divergem especialmente por um motivo. Motivo esse que impede, que realmente os países da união europeia e do mundo em geral, encontrem uma solução económica e financeira equilibrada e que permita ao mundo viver em paz, harmonia e prosperança. Esse motivo reside no facto de quem tem a responsabilidade de decidir os destino de cada país, ceda em primeiro lugar aos interesses dos poderosos da alta finança, esquecendo-se de que por "isso", e para que "isso" seja mantido, os restantes habitantes do mundo passam fome e morrem por falta de assistência médica e medicamentosa, por falta de saneamento básico e de habitação.
ResponderEliminarCaro João Jardine,
ResponderEliminarA noção de crescimento - ou de políticas que favoreçam o crescimento para ser mais exacto - do Presidente do BCE nada tem ver com este folclore do crescimento em que o candidato Francisco de Holanda anda entretido e consegue entreter uma imensa legião de agradáveis criaturas...
Para o Presidente do BCE as políticas que devem promover o crescimento, em especial na zona Euro são exactamente do tipo das reformas estruturais que se encontram inscritas no PAEF e que causam justificado horror a estes "crescimentistas" da 25ª hora...
E causam horror porque não são "cor-de-rosa", implicam muito esforço e uma enorme persistência...e esta rapaziada continua a sonhar com o dinheiro fácil atirado para cima dos problemas...
Caro João Jardine, não existe mesmo a mais remota coincidência entre as propostas do Presidente do BCE e as tiradas "crescimentistas" de Frnacisco de Holanda...
Caro Bartolomeu,
Dou-lhe razão, em parte, emobra existam diversas outras razões, nada desprezíveis, para além daquela que indica, que explicam o mau uso dos dinheiros públicos...e que o meu ilustre amigo parece querer (saliento parece) esquecer...
"As massas" da velha Europa interiorizaram o epitáfio do mestre do despesismo: "No longo prazo estamos todos mortos" (J. Keynes) e, convictos de que no presente apenas interessa cuidar do seu umbigo, votam no social/socialismo. Os eleitos, depois de terem endividado os seus países, preparam-se para fazer o mesmo à escala europeia, em nome da tal "agenda" para o crescimento económico. Então, as contradições entre países credores e devedores, empobrecidos e desavindos, ditarão as suas leis. E os mais pobres, pessoas ou países, serão as principais vítimas. Como sempre.
ResponderEliminarCaro Pavel Rodrigues,
ResponderEliminarMuito lúcida a sua síntese do problema que se nos coloca...uma hipotética (embora pouco provável, felizmente) consagração das teorias crescimentistas desta 25ª hora teria consequências devastadoras para os países mais vulneráveis - nos quais nos incluímos brilhantemente graças à anterior geração de políticos crescimentistas.
Acabaríamos privados de acesso a fontes de financiamento por tempo indeterminado, todo o esforço de ajustamento feito até agora perder-se-ia sem gloria nem proveito.
Nesse cenário, o advento de ideologias extremistas e a sua propagação na sociedade seriam inevitáveis, com consequências telúricas...
ahahah ..Mário Soares no seu melhor ...ahahaah ...
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