Às 6 da manhã é pleno dia e
fazemo-nos à estrada em direção ao Parque Nacional do Vulcán Poás e às
cataratas de La Paz. De caminho, pequeno-almoço num cafezal (Fazenda Doka) que
produz para uma conhecida cadeia norte-americana de venda de café.
O Parque Natural do Vulcão Poás (criado em 1971) é a
primeira de muitas outras incursões que haveríamos de fazer pela floresta
nublosa tropical da Costa Rica, ecossistema que ocupa uma parte considerável do território. Apesar de junho ser já franca época das chuvas, não poderíamos ter exigido, do tempo, maior favor.
A subida até ao bordo da cratera do vulcão é uma experiência
única. Faz-se por um caminho estreito mas cuidadosamente mantido, no meio da floresta povoada por uma
enorme quantidade de espécies da flora, enfeitada de musgos e bromélias coloridas
encavalitadas nas árvores.
E a emoção maior acontece quando chegamos ao
miradouro, ali sobre o vulcão ativo, numa perspetiva jamais imaginada. É
suposto observar um vulcão de baixo para cima, salvo se alguém o sobrevoar.
Pois ali estávamos, numa autêntica varanda com a caldeira (300 metros de
profundidade e 1,6 km de largura!) e as manifestações vulcânicas bem sentidas
aos nossos pés. Fantástica visão de um não menos fantástico fenómeno que tanto
tem de potencial destrutivo como de criativo dos solos mais férteis que existem
no planeta. O imenso verde da floresta que rodeia o Poás é a melhor prova dessa fertilidade, ao ver-se o processo de substituição, paulatina mas irredutível, da lava que antes cavou profundos vales, por imensas e variadas formas de vida.
Aventurámo-nos a ir mais acima, a um cone inativo, hoje um
belíssimo lago de águas de um impressionante verde, o Lago Boto. Valeram bem o esforço, o
cansaço e o frio que ali se faz sentir em violento contraste com o calor
húmido das terras mais baixas.
Se a flora cria mosaicos belíssimos, a fauna fascina pela
variedade das espécies, algumas vistas ali, outras achadas mais tarde em diferentes paragens do
nosso percurso por estas terras. Mas naquele local, para além de esquilos (existe uma
espécie que é endógena do Poás), borboletas e aves de cores fantásticas, vivem tranquilamente
magníficos felinos que, porém, raramente se deixam ver.
Caro Dr. José Mário;
ResponderEliminarA valiar pela fotos que tão gentilmente publica, o Senhor encontra-se no paraíso e não admira nada que se sinta em êxtase, perante tão luxuriante paisagem.
Quanto ao Vulcão Poás ... posso imaginar que as emoções sentidas, pelo facto de o ter a seus pés, não lhe tenham sido inteiramente novas. o meu estimado Amigo, talcomo os restantes 9.999.999 portugueses estão já habituados a viver sobre um vulcão que a cada dia vê a sua cratera aumentar de diâmetro e a sua profundidade a perder-se de vista.
É bem verdade, meu caro Bartolomeu. Vivemos por cima de verdadeiros vulcões que durante demasiado tempo estiveram adormecidos e adormeceram quem à sombra deles pensou que jamais acordariam.
ResponderEliminarMas tal como na natureza, mais tarde ou mais cedo há que enfrentar a sua existência e pensar que a mais violenta das erupções é a que garante maior fertilidade futura.
Um esclarecimento. Ainda sinto o "sabor" e as emoções da viagem. Mas não há bem que sempre dure, e já cá estou na santa terrinha a passar para o 4R as memórias, os sentimentos e as impressões visuais, tanto quanto as palavras e as fotos consentem.
Admiro a sua coragem, caro Dr. José Mário... após ter experienciado a vida no paraíso, conseguiu reunir forças e vontade para voltar ao inferno... é D'Homem!
ResponderEliminar;)
José Mário
ResponderEliminarNada como conhecer e sentir o paraíso, beber das suas coisas belas e harmoniosas, sempre ajuda a enfrentar alguns vulcões políticos
em plena erupção cujas lavas se vão estendendo não se sabe até onde...
Incrível toda esta exuberância de vegetação e de forças da natureza. Diz que os habitantes se habituaram a conviver com a imprevisibilidade e a violência das erupções vulcânicas, dos terramotos, devem, têm que ser pessoas diferentes dos europeus ocidentais, que se habituaram nas últimas décadas a acreditar que é possível assegurar tudo, prever tudo e reclamar de todos os que não conseguem protegê-los.Talvez tenha sido possível conhecer um pouco desse povo?
ResponderEliminarMargarida, de contrastes se faz a vida. Confesso que estavámos fartos do cinzento que domina por cá. Foi muito estimulante perceber que o mundo continua bem mais colorido.
ResponderEliminarSusana. hoje a Costa Rica é um mosaico demográfico complexo, sendo muito dificil perceber quem pode reclamar-se de ser legitimamente costa-riquenho. O país atrai muitos emigrantes vindos sobretudo da Nicarágua, mas também norte-americanos, sobretudo jovens que se fixam nas costas do pacífico, ou reformados que gozam dos rendimentos nas terras baixas centrais. O que percebemos é que se trata de gente calma e simpática, calorosa por vezes, que vive a vida a um ritmo muito diferente do que estamos habituados. Isso reflete-se, por exemplo, no serviço dos hotéis. Tinham-nos aliás lido, antes da partida, que na Costa Rica não havia horários, o que de resto nos foi lá confirmado por uma ou outra pessoa. Porém, talvez porque viajámos fora de época, fomos surpreendidos por um pontualidade fora do comum, em especial nos transportes.