Contei esta história a uma colega que me disse, por que é que não a trouxeste? Quem sabe se não seria a sua alma a querer que ficasses com a imagem, já que a sua memória foi votada ao desprezo. Com estas palavras na cabeça, fiquei tentado a ir novamente ao cemitério e retirar o pequeno e belo medalhão. Acabei de almoçar. Fui até lá. O cemitério estava às moscas, e o medalhão, desprezado no chão, sem a dignidade que merece, ali à minha inteira disposição. Percorri o cemitério e vi um funcionário a descansar. Boa tarde, boa tarde,respondeu-me o senhor, revelando uma nítida tartamudez. O senhor é capaz de vir comigo, gostava de lhe mostrar uma coisa. Com certeza. Levantou-se e seguiu-me. Está a ver isto ? É a fotografia do senhor. Sabe quem foi o senhor? Olhe eu também não sabia, mas agora já sei e expliquei-lhe quem era. Uma pessoa importante. Sim e que merece respeito. O senhor pode voltar a colocá-la no memorial? Para reforçar o pedido uma nota de dez euros voou-me das mãos sem dar conta. É para a cola, disse-lhe. Volto na quarta-feira e gostava de a ver no sítio. Tartamudeando, respondeu, pode ter a certeza que assim que chegar ao portão já está a ver a imagem no seu sítio. Assim o espero. Vou já tratar disso.
Assim o espero. Não fico com o medalhão desprezado, mas fico com uma bela história para contar.
A propósito, perguntei-lhe, qual é a sua graça? PPau...lo. Muito bem Paulo, até quarta-feira.
Ou seja... se o funcionário PPau...lo não faltar à palavra dada, o insigne liberal e ex-presidente da Câmara de Aveiro, inaugurador do antigo quartel dos bombeiros, "verá" amanhã assinalado o nonagésimo primeiro ano da sua morte, com a recolocação no devido lugar, do medalhão com a sua imágem.Que repouse em paz!
ResponderEliminarIsto, graças à sensibilidade e sentido de justiça de um homem que olha o mundo, na esperança de encontrar o verdadeiro sentido para as coisas.
É verdade, Bartolomeu, nem tinha reparado na data da morte. Faz mesmo amanhã 91 anos.
EliminarMas que bela ideia, com a ajuda providencial dos 10 euros e um Paulo prestável, foi o que se chama uma ação cívica, em vez de ficar a queixar-se da Câmara que não olha pelos cemitérios e o medalhão à espera, a deteriorar-se. Um bom exemplo.
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