1. Na edição do jornal Público de 21 do corrente, encontrei (em férias) o seguinte título: “Fuga a produtos de aforro do Estado excede previsões”. No desenvolvimento da notícia era dito que a redução do stock dos Certificados de Aforro (CA’s) excedia, no corrente ano e até ao final de Julho, em € 500 milhões, a redução prevista no OE para todo este ano.
2. A manter-se até final do ano o ritmo de saída de fundos deste produto de poupança, hipótese bastante verosímil, o Estado teria de encontrar quase € 1.000 milhões em fontes de financiamento alternativas, necessariamente mais onerosas, para compensar essa saída de fundos.
3. Já aqui manifestei, por mais de uma vez, total discordância em relação à forma como o anterior Governo decidiu, no início de 2009, penalizar fortemente as aplicações em CA’s - alterando mesmo regras de remuneração previamente ajustadas com os aforristas (da Série B) - numa altura em que se impunha, por fortíssimos motivos de política económica, incentivar a poupança...
4. O resultado dessa absurda medida de política, ditada por razões generosamente obscuras – a justificação oficial de que não cabia ao Estado subsidiar o aforro privado, na altura avançada, era estapafúrdia - não poderia ter sido mais devastador: depois de no final de 2008 o stock de CA’s ter atingido € 17.198 milhões, iniciou-se uma sucessão de quedas, mês a mês, chegando em Julho último a € 9.941 milhões, queda superior a 42% em relação ao valor de Dezembro de 2008...
5. E só nos primeiros 7 meses do corrente ano a queda foi de € 1.443 milhões...
6. Finalmente hoje, 31 de Agosto, é anunciada uma revisão das condições de remuneração dos CA’s, para entrar em vigor já amanhã, consistindo essencialmente no seguinte:
- Para os CA’s da Série B (com subscrição fechada mas regatáveis, obviamente...), ao prémio sobre a taxa de juro que estiver em vigor (e que podia variar entre 0,25% e um máximo de 2%), é acrescentado um prémio fixo de 1%, passando a remuneração, de acordo com a notícia, para 3,2808%;
- Para os CA’s da Série C (subscrição aberta), o prémio actual, que varia entre 0,55 no 2º ano e 2,5% no 10º ano, é substituído por um prémio único fixo de 2,75%, aparentemente aplicável desde o momento da subscrição (?), passando a gerar uma remuneração de 3,268% em Setembro.
7. É ainda referido o estabelecimento de uma remuneração máxima de 5% e acrescentado que estas novas condições estarão em vigor até ao final de 2016, sendo que a partir dessa altura voltam a ser aplicadas as condições anteriores (esta parte confesso não entender).
8. Será motivo para lembrar o velho provérbio “mais vale tarde do que nunca”. Veremos, em todo o caso, qual será a reacção dos aforradores, pois a eles cabe a última palavra quanto à eficácia desta medida...
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarAs informações vindas a público sobre a revisão das condições dos CA - a vigorarem aparentemente durante um período limitado (?!), não percebi o que se segue depois (?!) - são um pouco confusas. A comunicação aqui também é importante, acresce que os CA estão descredibilizados e não vai ser fácil convencer os aforradores que resgataram CA a voltarem. Seria importante que as condições fossem suficientemente atractivas para os aforradores e para o Estado não apenas porque precisa de financiamento mas também porque é necessário aumentar a poupança interna.
Como diz o Dr. Tavares Moreira, mais vale tarde do que nunca. Fica-me, no entanto, a dúvida se não teria sido preferível criarem outro instrumento de poupança, insistir num produto moribundo, com uma história clínica desastrosa pode não ser uma boa aposta. Veremos.
Faço um esforço para acompanhar, e sobretudo para perceber, a ideia por detrás da deliberada desvalorização destes instrumentos que a meus olhos (pouco hábeis neste assunto) poderiam desempenhar um papel relevante no financiamento das necessidades do Estado em condições identicas ou até mais favoráveis que as do financiamento externo, com a vantagem económica adicional do aumento dos níveis da poupança (num momento em que se reclama por uma redução do consumo). Não consegui até hoje perceber a razão, e resisto a perceber essa que o Dr. Tavares Moreira assinala de não competir ao Estado proteger o aforro, tão absurda me parece.
ResponderEliminarBom, mas alinho convosco. Se a razão chega tarde, vale mais tarde que nunca. Assusta-me, no entanto, que os ideólogos da política que agora pelos vistos se começa a inverter, continuem a andar por aí...
Afinal não é só o Goldan Sachs.
ResponderEliminarJP Morgan aposta mil milhões contra empresas portuguesas.
O JP Morgan é o banco de Wall Street que tem uma aposta mais negativa sobre Portugal.
E a exposição líquida negativa de 1,2 mil milhões de dólares a Portugal, tendo em conta o Estado e o sector privado, é a maior entre todos os países periféricos. O banco tem uma posição líquida positiva a Espanha, Itália e Irlanda e apenas 300 milhões de euros negativos na Grécia.
No entanto, o banco não é o único a ter a maior exposição negativa a Portugal. O Morgan Stanley apenas tem posição negativa a Portugal, tendo exposição positiva a todos os outros países mais afectados pela crise. E, no caso deste banco, a aposta é mesmo contra a dívida soberana portuguesa, com uma exposição negativa de 313 milhões de dólares.
Chiça, oh sérgio, você é chato. Compre ações da JP Morgan, se acha que eles têm razão. E compre obrigações portuguesas se acha que eles não têm. Ou troque alemãs por portuguesas se acham que têm. Ou compre gregas e venda portuguesas para fazer dinheiro com as gregas com o risco controlado.... Eles disseram-lhe porque é que têm essa posição ou é você que sabe?
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
3.2% por República Portuguesa? Que barrete!!! Essa é a rendibilidade média dos investimentos em dívida alemã. Para isso mete-se o dinheiro no banco, que tem menos risco. E não entendo porque é que o governo deve fomentar o depósito dos portugueses no estado, não basta já pagá-lo com o seu trabalho? Ainda se quer que metam lá o que sobra?
PS: Hoje acabaram com uns instrumentos quaisquer de dívida semelhantes às OT's porque ninguém subscreveu aquilo. Afinal os portugueses são tão espertos como os especuladores da economia de casino e não metem dinheiro em porcarias.
Cara Margarida,
ResponderEliminarA machadada foi grande, insana e impiedosa, e passou muito tempo até chegar esta correcção, mas admito que os velhos CA's ainda consigam resistir, de tal modo estão ligados aos hábitos de poupança de milhares de portugueses...
Veremos a evolução dos próximos meses, cabe a última palavra aos aforradores.
Caro Ferreira de Almeida,
O estapafurdio da explicação oficial para a decisão de ferir de morte os CA's consistiu exactamente em que o resultado de tal medida - a queda contínua do stock de CA's - obrigou o Estado a financiar-se a taxas de juro bem mais elevadas no exterior e no interior. E, no caso do exterior, até chegar ao esgotamento da capacidade de endividamento, ao sufoco financeiro que atingimos em Abril de 2011...
É de facto difícil lobrigar uma medida mais "cretina" do que esta que atingiu os CA's...e que interesses serviu?
Caro Tonibler,
Convém não perder de vista que os CA's não apresentam qq risco de capital e têm uma liquidez total a partir do primeiro semestre (salvo erro) após a sua aquisição, podem ser resgatados a qq momento,sem qq aviso prévio...
Daí que os 3,2% que refere não sejam assim uma remuneração tão miserável...
E, não esqueça, ao Estado não cabe subsidiar o aforro privado, geniais governantes assim disseram...
Caro Carlos Sério,
Não é Goldan Sachs que se diz ou escreve, mas, salvo erro, Goldman Sachs. Perdoe-me a observação.
Disseram os geniais governantes e muitos outros geniais que lhes interessava que o aforro fosse para outro lado e que o Estado se fosse financiar em outras paragens. Quanto é que isso custou em juros aos portugueses? Fazem-se contas para tudo porque não para isso?Podem mesmo incluir o período em que o Estado "subsidiou" ou seja, pagava juros contratuais pontualmente mais altos que os do mercado, mesmo assim de certeza que pagámos e muito, mas não aos aforradores conservadores, sobretudo as pessoas mais idosas e os pensionistas, que aí tinham os seus mealheiros. Foram sobretudo essas pessoas, menos informadas e com menos capacidade de ir gerindo as suas poupanças na selva bancária, que perderam, durante um largo período, o rendimento que o Estado foi dar ao exterior. A decisão agora tomada foi tardia, sem dúvida, nem se compreende a demora, mas pelo menos atenua os prejuízos que esses aforradores estavam a sofrer.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminaro que o estado português poderia fazer era pagar aos funcionários públicos em CA's com liquidez a partir de um ano e juro pela média da dívida alemã de prazo equivalente. Isso obrigava os bancos a aceitarem os CA's com risco da república e formava-se imediatamente um câmbio Euro/CA. Desta forma o estado português saía do euro sem formalmente sair do euro, as suas despesas eram em CA's e rapidamente os CA's poderiam ser liquidados em novos CA's.
Os funcionários públicos começavam a fugir para o privado, onde o euro continuava a ser a moeda de troca, o défice público ficava fixo face ao euro (em CA's poderia subir o que quisesse porque o câmbio iria ajustar).
Camarada Toni a ministro das finanças, já!
Cara Suzana,
ResponderEliminarTem toda a razão, mas olhe que o 4R foi sempre uma das vozes mais críticas de tão insólita medida, nunca nos conformamos com tal absurdo que, como refere e bem, terá custado ao Estado muitos milhões de Euros...em benefício de quem?
Caro Tonibler,
Genial ideia, quero convencer-me que vai ser aproveitada.
E tem ainda a vantagem de tanto a Goldman como o JP Morgan não poderem especular contra esta forma de dívida cuja subscrição está reservada a residentes e não tem mercado secundário (para mal do nosso estimado Carlos Sério)!
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarAproveito ou seu post e o 4R para manifestar a minha satisfação por tal medida que ainda assim pecou por tardia. De facto essa medida de politica (a redução da remuneração dos CA) foi a machadada final na poupança dos portugueses.
As razões da fuga à poupança em CA´s teve várias causas: as necessidades de liquidez das familias, o nível de desemprego que levou ao aspecto anterior,o medo de manter títulos do Estado quando durante tanto tempo se falou na hipótese do país sair do Euro e finalmente a tal machadada final, a quebra abrupta da sua remuneração.
Um produto tão acarinhado e reconhecido pelos cidadãos durante tantos anos, viu-se assim votado a um desprezo injustificável, sabe-se lá com que argumentação.
Desconheço os beneficios dessa decisão mas reconheço claramente os seus prejuízos. Por isso a minha satisfação. As pessoas já começam de novo a fazer perguntas sobre aqueles, um bom sinal.
Mário de Jesus
Caro Mario de Jesus,
ResponderEliminarEsperemos que esse bom sinal que nos refere possa no final de Setembro ser traduzido na inversão da tendência de queda do stock dos CA's. Se assim for, a medida terá valido a pena.
Quanto à argumentação utilizada para a alteração arbitrária das condições dos CA's no início de 2009, incluindo daqueles que já estavam emitidos com condições de subscrição definidas, ela foi divulgada. Mas como era totalmente incompreensível, fomos forçados a concluir que a razão foi outra que não essa.
Caro Tonibler, tem já o meu voto, embora receie que não levaria muitos dias até ter que vir a público reconhecer a impossibilidade total de por em prática o seu programa de acção :)é que há "modelos" financeiros que ignoram por completo a dura realidade social e é muito perigoso ignorar isto. A política é um exercício muito difícil.
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