terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dionísio numa noite de domingo...

Hoje, recebi um email do meu banco a informar de que posso adquirir uma caixa de vinho distinto, seis garrafas. Dão-me esse privilégio. Não costumo ler estes emails. Li-o e fiquei confuso. O preço é excessivo, penso eu, 237,00 euros, embora esteja incluído tudo.
Eu gosto de bons vinhos, confesso. Presumo que este deve ser mesmo especial. Mas, a par da oferta, o banco, preventivamente, foca um outro aspeto, a possibilidade de obter um crédito para a sua compra, e especifica as condições: "TAEG de 20,0%, TAN de 16,000%, prestação mensal de € 45,93 para um exemplo de um financiamento de € 500 a 12 meses. Montante total imputado ao consumidor de € 555,70, incluindo juros e Imposto do Selo pela utilização do crédito e sobre os juros". Credo! Crédito para comprar meia dúzia de garrafas de vinho? Este pequeno reparo fez-me lembrar a dificuldade que tive em encontrar um restaurante para jantar no último domingo. Dei uma volta pela zona. Ao chegar a Mangualde, convencido de que poderia jantar, bati com o nariz na porta de vários restaurantes. Nada. Tudo fechado, e não procurei poucos. Ao fim de algum tempo desisti, e pensei, vou para a casa, como uma lata de sardinhas ou de atum, um pedaço de pão, uma maçã, bebo um copo de vinho e resolvo o problema. Na viagem de regresso para Santa Comba ainda fiz algumas considerações sobre as razões deste fenómeno dominical, estival e de crise financeira em que vivemos até esbarrar num restaurante de estrada. Olhei e fiquei desconfiado se estaria ou não aberto. Vi um casal no extenso parque de estacionamento, vazio, e perguntei se estava aberto. O cavalheiro, muito surpreendido, respondeu-me, claro que está, acabámos de sair, olhe, o senhor não se vai arrepender, aqui come-se muito bem, isto numa estranha surdina como se fosse portador de um grande segredo. Agradeci-lhe, naturalmente, e fiquei aliviado. Entrei numa sala enorme, às escuras. Ao fundo, uma televisão debitava um jogo da liga espanhola. Atenderam-nos simpaticamente. Foi então que acenderam as luzes. Uma decoração kitsch, que não me incomodou, nem me tirou o apetite. Nada de especial, o jantar, mas também não importava. Vinho? Sim, da casa se faz favor. Uma pichorra de meio litro. Quando o saboreei nem quis acreditar. Uma coisa divinal! Até parecia que tinha sido o próprio Dionísio que tinha descido do Olimpo para compensar a minha tristeza. No final meti conversa com o dono, simpático e experiente. Explicou-me, com muitos detalhes, onde era produzido tão gostoso néctar, e como o obtinha. Fiquei com o seu sabor na boca e os seus efeitos na alma.
Garanto-vos que um dia destes vou até lá. Ai vou, vou. Preço? Quase água da chuva. Não corro risco de me endividar, posso, de facto, correr outros riscos, mas vou ter cuidado, e quem sabe se com alguma persuasão e charme não consiga um garrafão do dito. Quem não pode saber desta história sei eu quem é, o meu banco, claro. Chiça! Se eles sabem que existe uma coisa destas...

7 comentários:

  1. Ahaha! A sardinha enlatada teria sido um belo almoço, caro Prof.! Parece que “faz bem ao colesterol”!
    Não diga ao banco, não, caro Prof, mas a mim pode. Guardo segredo.
    Abraço : )

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  2. A história tem barbas mas recordo-me dela sempre que vejo esses anúncios dos bancos a impingirem-nos (a crédito, claro) vinhos, relógios, diamantes (são eternos, já se sabe), louças, vidros, e tutti quanti.

    Junto ao banco fumegava o assador de castanhas. Chega um amigo que, em vez de comprar castanhas, pede ao homem das castanhas que lhe empreste vinte paus.

    - Não posso, responde o das castanhas, não posso porque fiz um acordo ali com o banco: Nem ele vende castanhas nem eu empresto dinheiro.

    Hoje, está tudo mudado. Não há negócio onde o banco não meta o bedelho. Depois, se o negócio não dá, quam paga são os contribuintes.

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  3. Já somos 2, Catarina. Se o nosso estimado Amigo lhe confidenciar a localização desse templo de enos, não se esqueça deste humilde acólito...
    ;))))

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  4. Fixei.

    Tive experiência semelhante.

    Com dois amigos, conversas sobre direitos, Constituição e RTP, eis que no caminho de Leiria para Ourém, em Olivais, encontro um restaurante de estrada.
    Era uma confusão dos diabos! Estariam 60 pessoas, entre emigrantes, camionistas e crianças co menos de 21 anos.
    Olhamos para os pratos e quase todos eram iguais, com exceção dos adolescentes que estavam no burgu"er" (esta canalhada é estreita de gostos...).

    Nas travessas estava bacalhãu, e um meio-termo entre o tremoço e o grão de bico: chícharos assim denominavam.
    Manjar!
    O vinho, o da casa, era bom, bom mesmo, produzido ali em S. Mamede.
    9 eur cada um, olhamos atónitos para cada um de nós, que na última vez (6 meses atrás) foi por cada um 22 eur, e já não tínhamos memória direta do que comemos...

    Fica na memória o excelente, independentemente dos berros e tum-tum do resto do pessoal...matava-se saudades e trabalhava-se, então que importa!?

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  5. Oh, Bartolomeu! Segredo é segredo! : )

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  6. Está bem, Catarina... sendo assim, espero que ao menos se lembrem de mim, quando brindarem...
    ;)))

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  7. O queijinho de Niza com Tejo DOC está um pitéu...


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