-Então o meu amigo é do Norte?
-Claro, sou do Porto, e vim fazer
aqui uma temporada a Cascais.
-Uma temporada? Mudou-se para cá?
-Não, a minha patroa pediu-me para
vir trabalhar cá para baixo. Já cá estou há uns meses…
-Então, mas a sua patroa trabalha cá
e o meu amigo no Porto?
-Não, nada disso, sou solteiro, a
patroa é a dona do cabeleireiro. Tem estabelecimentos aqui, no Porto, na Maia e
em outros lados.
-Então, mas foi preciso vir alguém do
Porto cortar cabelos a Lisboa?
-Pois é verdade. Ela não arranjava
pessoal especializado. Como me ofereceu condições razoáveis, vim. Quando
arranjar substituto, volto para o Porto…
2º Episódio: Há cerca de
um mês, num restaurante da Praia das Maçãs, Sintra
-Então, Sr. Luís, o serviço hoje está
demorado. Estou aqui há meia hora, e nada…
-Desculpe, mas isto do pessoal é um
problema…
-Mas que é que se passa?
-O que se passa é que não consigo
arranjar ninguém e substituir os que saíram: um foi viver longe daqui e outro…
-Mas é assim difícil arranjar gente? Não há desemprego em Sintra?
-Claro que há. Há todos os dias
bichas no Instituto de Emprego. Passo os dias a ir lá.
-E não arranja ninguém? O meu amigo é
exigente…
-Sim, mas não é nada disso. Falo com
muitos. Uns só querem justificar que procuraram emprego, outros só querem fazer
uns biscates para continuarem a receber o subsídio. Mas esses não quero. Vêm um
dia, faltam noutro, nunca se conta com eles. Não posso ficar dependente deles…
3º Episódio: Aldeia do distrito de Viseu
-Vou-me ver aflito para arranjar gente para apanhar as maçãs...
-Mas não há gente por aí sem trabalho?
-Até há. E gente que recebe o rendimento mínimo. Mas não querem vir.
-E porquê?
-Porque dizem que se forem vistos a trabalhar podem ser acusados e deixam de receber...
Sinais dos tempos!...
Hmmmmm... esta-me a parecer que faltam partes importantes, no primeiro e no último diálogos:
ResponderEliminar«-Pois é verdade. Ela não arranjava em Cascais, pessoal especializado em cortar o cabelo a adeptos do FêCêPê. Como me ofereceu condições razoáveis, vim.»
«-Vou-me ver aflito para arranjar gente para apanhar as maçãs, por "tuta-e-meia"...
-Mas o negócio não dá para pagar um salário rasoável?
-Nem pensar! Pagam-me a caixa a 2€...
-E porquÊ?
-Porque vem de fora, de outros países onde os agricultores investiram os subsídios, no plantio de espécies adequadas à apanha mecânica e na calibragem e embalagem... sabe?! aqui ainda fazemos tudo à mão! Agora, a nossa qualidade não se compara com a da fruta que vem do estrangeiro.
- Então nesse caso, se a nossa fruta é de melhor qualidade, porque é que o preço não é mais bem paga?
- Ora, ora... então o amigo (aiiii... amigo não, caragos, que isso é filosofia barata) não sabe que não temos rede de distribuição dos nossos produtos? Só os grandes produtores é que conseguem encontrar mercado no estrangeiro, que é onde compensa, porque os nossos governantes, estão-se a marimbar para os pequenos produtores... só não se marimbam é para os impostos e os IVAs que pagamos quando compramos os produtos e as alfaias...»
MORAL DA HISTÓRIA
ResponderEliminarOs portugueses são uns mandriões e não querem trabalhar.
Caro Pinho,
ResponderEliminarquase me apetecia dizer que:
Os poucos e bons empregados que existem em Portugal - os que de facto querem trabalhar - estão neste momento todos no Governo.
...e olhe que não é em "regime de voluntariado"! Recebem nem mais que "2€ por caixa de maças".
Sinais do Tempo!
Caro Pinho Cardão
ResponderEliminarPodia contrapor a excelente imagem de gente trabalhadora que os Portugueses têm quando emigram.
Mas não vale a pena caro PC. O meu amigo está zangado e não se identifica com o seu povo.
O meu amigo parece um homem muito isolado neste país e muito amargo com o seu semelhante.
Olhe que a maior felicidade que podemos ter na vida é sermos solidários, tolerantes e humanos com os outros.
Despartarize-se, meu amigo. Verá que os seus níveis de felicidade aumentarão exponencialmente!
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarPois é, a patroa era muito prevista e intuía que eu, mais tarde ou mais cedo, lá iria cortar o cabelo...
Caro Carlos Sério:
Pois as conclusões são da responsabilidade de quem as tira...Se fica satisfeito com a dedução...é lá consigo. Nada tenho a ver com isso.
Caro Pedro:
Temo muito que assim não seja...
Embora respeitando muito as sua opinião, claro está!...
Caro (c)P.A.S.:
Não sabia que o meu amigo agora anda de identificador em punho, a ver quem se identifica ou não com o povo português...
E passa também atestados?
Lamento que o meu amigo tenha enveredado por qualificação de carácter. É um mau prenúncio e normalmente a prova da sem-razão atacar o carácter, aliás de quem presumo não conhecer, em vez de criticar os factos e as situações.
Pois olhe, meu amigo, não sou amargo, nem ando amargo, sou solidário, mas não o reclamo (e posso comprová-lo), a tolerância talvez seja a minha maior virtude e, consequentemente, defeito.
No que ao principal se refere, os factos relatados são verdadeiros. O Cascais Shopping existe, o cabeleireiro também, o empregado do Porto estava lá ontem e não deve ter sido despedido. O Restaurante da Praia das Maçãs existe, o Sr. Luís é de carne e osso.
A verdade ofende? As situações relatadas não existem?
Mais um ponto: nunca precisei de qualquer partido, não preciso de nenhum partido, nunca fui funcionário público, nunca recebi favores de dirigentes partidários, também não me devem favores. Quando o PSD me pede colaboração (Gabinete de Estudos e Institutro Sá Carneiro), dou-a, acabo a empreitada e venho-me embora. Sou independente. Falo do que quero e quando quero. E a minha vida fala por mim.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarAs situações relatadas são bem reais, e retratam um País dual: (i) o que a comunicação social nos apresenta, num dia a dia de desgraça, sempre á espera da intervenção do Estado, e (ii) o País que está voltado para as tarefas do dia a dia e que, simplificadamente, nos oferece um testemunho oposto ao do primeiro.
Mas não vamos sair disto tão cedo, estou convicto...
Infelizmente o diálogos relatados pelo Pinho Cardão já foram testemunhados por muitos, e aposto que por alguns dos que acima se mostram escandalizados.
ResponderEliminarO problema do emprego tem também esta componente: para algumas atividades, geralmente mal pagas ou particularmente penosas, o País habituou-se a contar com a mão de obra importada. É o caso de cabeleireiros, trabalhadores da restauração ou no setor agrícola, não me espantando que os episódios relatados retratem uma parte da paradoxal realidade do mercado de trabalho. Também aqui acorrerá, mais tarde ou mais cedo, um ajustamento quando se perceber que o emprego que se procura não é o emprego em oferta.
Caro Pinho Cardão
ResponderEliminarEu bem sei que a Dra. Manuela Ferreira Leite é convidada de honra do 4R.
Ouso sugerir, face à excepcional prestação telivisiva de ontem, no TVI 24, que não ficaria mal aos AA do 4R dedicarem um editorial laudatório, mas não menos justo, da vossa convidada! Que me dizem?
Cumprimentos
Hmmm... não me parece, caro Fartinho, que algum autor do "Quarta" caia na "esparrela" de comentar a entrevista de ontem no TVI 24.
ResponderEliminarAté porque, todos devem prever, que esteja já uma "matilha" de dente afiado à espera disso, para se lhes lançar ao pescoço.
Isto é gente com muito "andamento", caro fartinho; não correm atrás de foguetes.
De qualquer modo, é justo referir que a intervenção da Drª. Manuela Ferreira Leite, foi de valor. Ontem, a Drª Manuela, foi oposição, uma oposição muito mais certeira, objectiva e construtiva, que a verdadeira oposição parlamentar.
De tudo o que a Drª. Manuela refriu e criticou, assinalo uma parte a que poucos dão a devida importância e que, do meu ponto de vista, é um importante motivo para que estejamos a passar uma situação tão difícil; o facto de o governo dar a sensação de estar a "governar à vista" e de a oposição, estar numa rota paralela.
Esparrela? Como assim? Alguém provido do mínimo de bom senso deixará de se rever nas palavras de Ferreira Leite?
ResponderEliminarO que está a passar-se só mostra a justeza de MFL ao recusar a entrada de Passos Coelho nas listas de deputados em 2009!
MFL enfatizou bem a sua posição de sempre, uma verdadeira social-democrata.
Ora os pêessesdês que estão no poder, ou melhor, que ocupam o poder, não têm nada de sociais democratas. E é até difícil classificá-los do que quer que seja!
O Tavares Moreira e o Pinho Cardão cada vez mais estão parecidos com os Dupond e Dupont das aventuras do TIM TIM.
ResponderEliminarNem é preciso ser-se possuidor de relevante bom senso, caro Fartinho; até porque, apesar de veemente, objectivo e até contundente, o sentido das frases proferidas pela Drª. Manuela Ferreira Leite, não foi mais, nem menos, que ao encontro da opinião da maioria dos portugueses. Só não afirmo, da totalidade dos portugueses, porque existe um grupo alienado, ou de tal maneira visionário, que acredita ser possível adoptar medidas, ainda mais ríjidas com uma displicência e uma desfacatez, que até nos deixa na dúvida se tudo não passa de um tenebroso pesadelo, que irá acabar, quando o vizinho do andar de cima descarregar o auto-clismo.
ResponderEliminarSubscrevo na íntegra as afirmações dos 3 comentadores anteriores; há sociais democratas e outros que já o deixaram de ser há muito!
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão
ResponderEliminarDesproporcionada a sua resposta a um comentário sobre uma realidade não generalizável, que demonstra que anda zangado. Longe de mim querer fazer intenções de carácter, só que caro Pinho Cardão a minha raiz social democrata ferve com a adulteração a que este partido tem sido sujeito. A social democracia não se confunde com o puro liberalismo. O sr. sabe perfeitamente que se existem situações de falta de encontro da procura e oferta como bem diz Ferreira de Almeida, estas derivam de problemas graves a nível da incapacidade de gestão e não de um pretensa preguiça dos portugueses. Aquilo que se pode inferir da sua peça, caro Pinho Cardão, é que os agentes económicos portugueses são racionais, o que já não podem dizer muitos que administraram muitas empresas e que destruíram valor aos accionistas. E não veja isto como qualquer menção pessoal, até porque também administrei algumas.
Caro (c) P.A.S.:
ResponderEliminarPôr os pontos nos iis não significa que ande zangado. Não ando, nem me zango facilmente. Faz parte da minha maneira de ser.
Ah, e por sorte, grande sorte que é preciso também ter, e muito trabalho, aconteceu que sempre criei valor para os accionistas. Acontece. Mas, se com o mesmo trabalho, se verificasse o contrário, ficaria de consciência tranquila.
O Partido Social Democrata português pode identificar-se com um partido conservador britânico, um partido popular espanhol, um partido popular austríaco ou um partido democrata cristão alemão e não se identificar com um partido social democrata sueco, ou finlandês, ou alemão, ou dinamarquês, com um partido trabalhista inglês ou holandês?
ResponderEliminarHá muitos empresários portugueses que produzem maçãs, não as colhem, nem as vendem? Há muitos empresários internacionais que produzem maçãs, colhem-nas (dando emprego a trabalhadores portugueses) e vendem-nas em Portugal? Percebi bem? Então, tal como os trabalhadores portugueses apanham maçãs no estrangeiro, os empresários portugueses não podiam produzir maçãs no estrangeiro? É uma coisa que nunca conseguiram explicar-me. Os trabalhadores emigram e são bons lá fora. Os empresários, não, ou não se divulga os seus sucessos internacionais. Porquê?
ResponderEliminarTriste partido que tal gente tem…
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão, ouvimos muitas vezes estes diálogos, eu ouço-o quase diariamente na tabacaria ou no comércio no centro comercial. Mas também ouvi há tempos um emigrante que tinha voltado a Portugal dizer que ia procurar outra vez emigrar porque "aqui paga-se para trabalhar" ou seja, não compensa. Ora, as pessoas fazem contas, se perdem o pouco que recebem no desemprego para ganhar menos é natural que não vão, eu também não iria, têm que pagar transportes, as mulheres têm que deixar os filhos no infantário, perdem alguns benefícios, há muitos casos em que o salário é abaixo do nível de subsistência. Isso não quer dizer que o subsídio seja bom, é miserável, o que acontece é que alguns salários ainda representam menos dinheiro ao fim do mês. Quando o dinheiro não chega, há que ver como se sobrevive melhor e quando um "recibo verde" paga mais de 30€,como se pretende agora,para a SS, imagino que o estímulo para procurar trabalho não seja muito grande.É a pobreza, com todas as suas consequências,e às vezes poucos euros ao fim do mês podem representar a sobrevivência e o alimento dos filhos.
ResponderEliminarTouché Suzana!
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