Não
sou empresário, mas fiquei ontem a saber que sou “ignorante”. Porquê? Porque,
apesar de ser economista (e de ter, portanto, obtido aprovação bem para lá do primeiro
ano da licenciatura), não concordo com a medida relativa à TSU – felizmente,
entretanto, abandonada. E esta minha discordância – que tive oportunidade de
expressar há duas semanas atrás na SIC Notícias – foi manifestada em devido tempo
(há anos atrás), em resultado do muito que tenho investigado sobre esta
matéria.
Resumidamente,
se a chamada desvalorização fiscal (e que, na verdade, devia ser conhecida como
desvalorização orçamental, do inglês fiscal
devaluation) tivesse ido por diante, estar-se-ia a privilegiar a utilização
ainda mais intensiva do factor trabalho (que ficaria, de facto, mais barato) pelas
empresas – quando o que interessa a Portugal é atrair mais capital: o nosso
rácio de capital investido por trabalhador fica bastante abaixo da média da UE-27
e, como a literatura científica bem documenta, a melhoria da produtividade é
travada. Ora, sem melhorarmos a produtividade de forma continuada, não seremos
capazes de criar sustentadamente nem mais riqueza nem mais emprego (melhor e
mais qualificado emprego, e não emprego pouco qualificado e assente em salários
em média baixos, modelo que continua a caracterizar a realidade Portuguesa).
Pode-se
argumentar que, conjunturalmente, a desvalorização orçamental poderá fazer
sentido numa altura, como agora, em que evitar a destruição de empregos (e o
aumento do desemprego) é a prioridade. Até posso concordar – mas nunca com a
forma de financiamento proposta, extraordinariamente recessiva, até porque foi
apresentada como “permanente”. Logo, os potenciais (embora acredito que muito
reduzidos na actual conjuntura) efeitos para o emprego resultantes da descida
da TSU para as empresas seriam mais do que compensados com a subida do
desemprego resultante da retracção da procura (daí que, em geral, os
empresários se tivessem manifestado contra uma medida que, em teoria, os
beneficiaria).
Acresce
que nunca uma desvalorização orçamental de magnitude semelhante à proposta foi
testada em nenhum país do mundo (muito menos com esta forma de financiamento).
Sim, os modelos teóricos até podem produzir resultados muito interessantes –
mas a verdade é que, neste caso, nem um exemplo real pode ser apontado… porque
não existe. Ora, em minha opinião, o momento que Portugal atravessa é pouco
dado a experimentalismos deste género…
São
estas as razões que me levam a discordar da entretanto-metida-na-gaveta medida da
TSU. E que, portanto, fazem de mim “ignorante”. Mas, mesmo sendo “ignorante”, o
que penso é que a criação de clivagens na sociedade Portuguesa num momento tão
delicado como o que atravessamos é o contrário do que efectivamente precisamos.
As dificuldades são enormes, os sacrifícios que ainda vamos todos ter que fazer
são imensos e, sem um mínimo de consenso, quer político, quer social, temo que
não cheguemos a lado nenhum. Além de que, salvo melhor opinião, são os
empresários que investem e, assim, potenciam a criação de riqueza e emprego…
Pelo que, insultá-los e tê-los como adversários não me parece, definitivamente,
ser o melhor caminho. Finalmente, não devia dar que pensar que quem potencialmente
beneficiaria com uma medida esteja contra ela (como aconteceu, em geral, com os
empresários em relação a esta medida da TSU)?!... Mas isto sou eu, que sou “ignorante”,
a pensar…
Peço desculpa pela franqueza, Miguel, mas devia evitar puxar pelos graus académicos quando escreve uma coisa destas porque não é só de si que acaba de falar, mas de todos os seus colegas que entenderam a medida perfeitamente. Não existe um entendimento da medida, o que existe é umentendimento dos mecanismos económicos que o Migeul parece não ter. E nesse sentido devia retirar as aspas porque problema não está nos outros....
ResponderEliminarPensei em explicar-lhe porqueé que está completamente errado mas começa por dizer que não precisa de aprender porque não é nenhum ignorante e eu já não tenho pachorra para explicar uma coisa tão óbvia
Meu caro,
ResponderEliminarNão puxei por nenhuns graus académicos: limitei-me a constatar que passei do primeiro ano da licenciatura em economia. Se tivesse puxado pelos graus académicos, teria referido o grau de Mestre em Teoria Económica que possuo. Mas, se me conhecesse, saberia que não puxei por nada disso - nem puxaria...
Aceito, claro que não esteja de acordo comigo - como eu não estou consigo. Mas não é por isso que o considero ignorante. Nem lhe digo - como você já me disse - que está completamente errado. Nem desconsiderei nenhum dos meus colegas académicos que têm uma opinião contrária à minha. Como se sobre um assunto pudesse existir apenas um ponto de vista!... Não concordamos e é tudo. Eu procurei explicar porquê, ainda que resumidamente. E posso explicar-lhe os meus porquês, se quiser, com maior desenvolvimento. Mas,está visto, você já não tem pachorra... nem para me explicar os seus, quanto mais!... :-)
Li o Post e li o seu comentário. Tentei perceber como contacta-lo, como não consegui, gostava sinceramente que desse a tal explicação que menciona no seu comentário...
ResponderEliminarOlá, apenas disse que poderia ter desenvolvido mais as explicações do que o fiz no texto. Não o fiz porque creio que com um texto mais longo (e com informação estatística que prova os meus pontos) captaria, certamente, uma atenção menor. Mas penso que o essencial do meu argumentário está lá, do ponto de vista económico (pelo menos de acordo com o que eu investiguei e penso).
ResponderEliminarDe qualquer modo, obrigado pelo seu comentário.
Obrigada Miguel, mas eu referia-me a explicação a explicação que o Sr. Tonibler não teve pachorra para dar... Contudo, obrigada pelos seus comentários adicionais.
ResponderEliminarOh, Telma, peço desculpa: pensei que se dirigia a mim, porque eu já tinha respondido a Tonibler!... Percebi mal, mas pronto, sempre juntei informação adicional... :-)
ResponderEliminarEu concordo inteiramente consigo. Só gostava de perceber os argumentos tão óbvios dele. Eu também passei do 1 ano de economia, mas lá esta, faço parte do grupo dos ignorantes... :-)
ResponderEliminarIndependentemente de ter razão quanto à má-criação e arrogância de António Borges, há na sua argumentação alguma omissão que gostaria de ver esclarecida. Não sou economista, não percebo muito disto, mas tento pensar logicamente.
ResponderEliminarA situação neste momento (estamos no serviço de urgências, não no ginásio a prepararmo-nos para ter uma saúde de ferro) é a da falência ou redução de actividade de muitas empresas porque simplesmente têm dificuldade de acesso ao crédito (há outras que perderam clientes, mas para essas TSU ou outra coisa qualquer não serve). Melhorar, de forma imediata, a disponibilidade de tesouraria não é um remédio eficaz para controlar os sintomas, em especial a perda de emprego?
Não discuto as declarações de alguns empresários (há alguem que tenha feito um estudo sério do que pensam os empresários?) alguns dos quais, inteligentemente, estavam simplesmente a proteger a paz social nas suas empresas, pouco preocupados com o desemprego, o que se compreende.
Mas não consigo perceber como se diz que numa situação de ausência de crédito tomar uma medida de melhora imediatamente a tesouraria não teria efeito nenhum.
Quanto ao encolhimento da procura interna duas questões se põem: as medidas que vão ser tomadas em alternativa vão ter o mesmo efeito ou pior; não consigo perceber como deslocando disponibilidade do agregado que tem capacidade de financiamento e o está a canalizar para a poupança (as famílias) para o agregado que está com fortes necessidades de financiamento se reduz a procura interna. Não percebo, simplesmente.
Obrigado se me der uma ajuda a perceber melhor o que se passa.
henrique pereira dos santos
“Os desafios de amanhã não podem ser resolvidos com o conhecimento de hoje” (Einstein). Provem-me que estou errado em que parte da solução para o país passa por isto: IRC 0%; IVA 0%; IRS taxas actuais.
ResponderEliminarSabe-se que receita fiscal 2011 foi:
IRS – 9.831M€
IRC – 5.167M€
IVA – 13.051M€
Para efeito num ano apenas, mantendo a actual despesa do Estado como está (não desejável, mas admitindo isso apenas para hipotese teórica) passar o IRC já para 0% não bastaria para arranjar 10KM€ (os 5KM€ do actual IRC + 5KM€ que é preciso para cumprir défice de 2013 acordado com Troika) por via do aumento da receita de IRS e IVA?
Alguns efeitos antecipo que aconteceriam por passar já IRC para 0%, uns de efeito imediato, outros dinâmicos:
Aumento distribuição resultados
Aumento emprego
Diminuição subsídios do Estado
Baixa de preços
Maior investimento interno
Atracção IDE
Aumento salários
Maior consumo
Maior poupança
Desalavancagem crédito
Mais exportação
Mais importações
Maior especialização economia
Maior eficiencia
Aumento produtividade
etc...
Não sei quantificar estes efeitos.
Por isso, lanço o desafio a quem percebe de macroeconomia e econometria para que tente fazer contas bem feitas e cenários sobre uma solução deste tipo.
Naturalmente que tudo isto não dispensaria ser acompanhado pela reforma do Estado, caminhando para funções mínimas de soberania.
Aceitarei com humildade e galhardia se a minha "proposta fiscal" não tiver qualquer adesão à realidade... Mas gostaria de ver a “verdade” nos números por contraponto a opiniões, sentimentos e emoções...
Pedido de esclarecimento a Henrique Pereira dos Santos:
ResponderEliminarAlguém devia ser obrigado a investir nas empresas e sem receber os títulos do investimento?
Pergunto a quem afirma que conhece o país e o tecido empresarial:
ResponderEliminarTemos empresários de boa qualidade em quantidade suficiente para retomar o crescimento económico?
Arnaldo Madureira,
ResponderEliminarNão estou a discutir se a medida é justa ou não, mas se faz sentido económico ou não.
De qualquer maneira se as empresas vão à falência ou reduzem a actividade pode ter a certeza de que os trabalhadores são os primeiros a sofrer.
É que há uma diferença grande, muito grande, entre a empresa e o seu dono. É por isso que defendo que a ser aplicada uma medida como a TSU as comissões de trabalhadores, ao nível da empresa (ou os trabalhadores directamente em empresas com menos trabalhadores) deveriam ter poder de veto, com excepção da baixa de preços (não é a mesma coisa de decidirem) sobre a aplicação da folga concedida pela medida, exactamente porque a empresa inclui os seus trabalhadores e a medida serve para resolver problemas da empresa.
O que está a acontecer é paulatinamente os ordenados estarem a baixar por três vias: negociação e rotação dos fundionários, desemprego e inflação.
Ou seja, está a ocorrer uma transferência de recursos dos trabalhadores para as empresas (como acontece sempre que a inflação é maior que a subida dos ordenados) só que às escondidas e lentamente.
E com efeitos muito mais perversos na economia e na sociedade.
henrique pereira dos santos
1º Os empresários não quereriam, e com razão, ficar sujeitos a esse poder de veto.
ResponderEliminar2º Veto das comissões de trabalhadores i) num regime de relações laborais flexiliberalizadas e ii) considerando o perfil de uma parte dos "empresários" portugueses?
Miguel, tem razão, não entendi à primeira o que queria dizer com aprovação bem para lá do primeiro ano. Fui burro, peço desculpa.Como entendi de forma errada, o resto do post assume um teor 'ligeiramente' diferente. As minhas desculpas, novamente.
ResponderEliminarTelma, a medida da TSU, para quem assina folhas de salário como eu assino era uma medida positiva. Não era prefeita porque prefeita seria compensar a baixa com a introdução de 18% também ao estado retirado da folha de pagamentos, mas seria positiva. Na inha empresa já se tinha decidido que seriam contratadas mais duas pessoas, o processo de recrutamento foi mesmo lançado, que agora bem podem ir pedir o emprego a quem não percebeu. Talvez se forem para a porta da presidência lhes dêem emprego, quem sabe?
Mas se isso não serviria para quem não consegue entender a economia para lá da primeira iteração, o facto de baixar o custo do trabalho significa que os preços dos produtos feitos cá baixam e baixam tanto mais quanto mais trabalho português é incorporado e quantos mais estágios tem antes do cliente final. As pessoas teriam menos dinheiro - como vão ter - mas o diferencial entre o valor do seu trabalho e o custo vai ser menor. Se o IVA fosse composto o preço dos produtos cresceria de tal modo que a disposição das pessoas para os comprar iria esmagar os salários nos ultimos estagios. Certo? Imagine este efeito mas ao contrário, os preços vão descer até a pressão dos salários o impedir de descer. Isto aplicado apenas ao trabalho português, o que significa que é também um imposto sobre a importação. No final vai haver mais salários, ou para as mesmas pessoas, ou para mais pessoas.
Mas, como é dito, tudo isso é irrelevante nesta fase. Para que uns quantos não paguem a dívida com um subsídio vão haver muitos milhares que vão pagar com 14. Mas, bolas, pelo menos não nos chamam ignorantes!
Finalizando, decidam-se! Anteontem o tecido empresarial português era uma espécie de sector dos Diabos Vermelhos, uma corja de energúmenos iliteratos que roubavam as empresas para comprar Ferraris. Ontem o homem disse, repleto de razão, que os empresários que não entenderam são ignorantes e o energúmeno passou a ser ele? Bem sei que não é nosso hábito esforçarmos-nos por pensarmos com a nossa cabeça, mas já que compramos as ideias dos outros, pelo menos verifiquemos a sua coerência.
Tonibler, apesar de perceber os fundamentos teóricos da sua argumentação, não acredito na viabilidade pratica da medida. Obrigada por ter partilhado o seu ponto de vista comigo.
EliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarNão tem problema, obviamente. Foi como se nada se tivesse passado - e ainda bem.
Quanto às suas explicações, deixe-me dizer-lhe que, embora estruturalmente não concorde com a medida - e no texto justifiquei porquê -, dou de barato que no actual contexto ela pode fazer sentido. Agora,a forma de financiamento é que me pareceu de todo em todo errada... Além de que nunca uma experiência destas foi tentada em lado algum!... Até podia ser que resultasse, mas à partida acho que os efeitos recessivos seriam tais que os empresários nada lucrariam com a medida, muito pelo contrário (por isso, em geral, se manifestaram contra). Foi só isto que quis dizer... e não acho que por isso possa ser tratado como ignorante como ontem fui... Nada contra si, óbvio - até respeito muito o facto de a sua empresa ter planeado contratar pessoas!... E já temos uma boa tradição de argumentação - contra-argumentação que, espero que se mantenha (além de estarmos mais vezes de acordo do que em desacordo!...). Um abraço.
Obrigado pela explicações complementares, Miguel Frasquilho.
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Tonibler
ResponderEliminarMas se na sua empresa iam contratar mais duas pessoas em principio é porque tinham trabalho previsto para elas, ou não?
E se tinham, e considerando que elas iam ser úteis (produzir mais do que custavam) como é natural, porque razão desistiram de as contratar?
É que visto de fora, parece que iam atribuir dois empregos desnecessários como compensação pela diminuição das despesas com a TSU.
Caro Henrique Pereira dos Santos,
ResponderEliminarNão tem nada que agradecer... Disse o que pensava. Investigo estes assuntos há muito tempo, e não concordo com medidas deste género estruturalmente pelas razões que apontei. Agora, conjunturalmente, com outro financiamento, até dou de barato que faça sentido... Embora eu preferirisse sempre mexer no IRC (lembra-se do famigerado "choque fiscal"?...), para atrair investimento e capital e, assim, aumentar a produtividade e, sustentadamente, o crescimento e o emprego. O modelo de baixos salários não nos vai levar a lado algum...
Saudações cordiais.
Caro Telmo Azevedo Fernandes,
Assim à partida a sua proposta não me desagrada, embora tivesse que a estudar mais profundamente, por causa dos efeitos na receita... Mas sempre lhe digo quen preferia continuar com os três impostos e baixar os três. É que sabe que é no IRC e no IRS que somos menos competitivos?... De qualquer modo, com a Troika em Portugal, e como "ela" é, tanto faz discutirmos este assunto ou não, porque nada de bom se vai passar na frente fiscal (ou seja: alívio na carga fiscal... só em sonhos!...). Infelizmente, porque como acho que estamos na parte descendente da curva de Laffer, descidas nas taxas de impostos e simplificação do sistema fiscal só pode conduzir a um aumento de receita...
Saudações cordiais.
Ó Miguel eu acho que o ministro das Financas não conhece a curva de laffer! :-)
EliminarO Dr. Borges, ontem, estava todo ENTSUADO!
ResponderEliminarTerrence Malick realizou em 1998 um notável, senão o mais notável filme de guerra de sempre (sobre a Segunda Guerra Mundial e uma célebre batalha nesse contexto decorrida) - "The Thin Red Line" - título extraído de um poema de Kipling onde apelida os soldados de infantaria como "thin red line 'eroes". Versa, muitíssimo resumidamente, sobre a sobrevivência no campo de batalha e a manutenção da sanidade mental nesse ambiente onde a sanidade e a insanidade se confundem e parecem ser duas faces da mesma moeda ensanguentada, essa estreitíssima linha, invisível ao olho, mas que se revela no intelecto, na emoção e na empatia.
ResponderEliminarEu não sou economista, e ainda bem, seria chumbado certamente no primeiro ano do curso do Professor António Borges. Percebo de Economia aquilo que me ensinaram numa cadeira anual não-nuclear que fazia parte do currículo do meu curso, e aquilo que o meu pai, ele, sim, economista, me foi explicando, e ainda explica. Sou um leigo que vai tentando descortinar conceitos e medidas num tempo em que perceber minimamente de economia é ter uma noção vaga das regras que nos regem.
Desconhecendo por completo as modelos matemáticos, algorítmicos, que regem esta ciência que apesar dos pesares é uma ciência social, e portanto, não exacta, mas que se serve de ciências exactas como suporte para as suas teorias - como a Medicina se serve de ciências exactas, não sendo ela, em si, uma ciência exacta; posso compreender que do ponto de vista do Estado que é o maior empregador, e com a média salarial mais alta, fizesse sentido esta medida. Os trabalhadores descontavam mais 7% a título de TSU, o empregador Estado poupava 7% de TSU, ou seja, o Estado cortava despesa consigo próprio e ela era suportada pelo trabalhador. Havia um ganho evidente no maior empregador nacional, com a maior média remuneratória do país. Até aqui isto parece-me fazer sentido, sobretudo à luz da cátedra do Professor Borges. O que o Professor Borges não se terá lembrado, talvez, não sei se algum modelo numérico económico prevê a imprevisibilidade (!!) das expectativas e reacções humanas, é que os empresários não vivem de equilíbrios estabelecidos entre TSU's. Os empresários vivem da possibilidade de haver procura. Se os trabalhadores/consumidores pagam consideravelmente mais TSU, perdem poder de compra substancial. Em que medida é que isto interessa a um empresário? Perder consumo do que produz, seja de que natureza for? E o que cria postos de trabalho é a necessidade de ter empregados, por ter mais necessidade de produção (ou serviço), e não uma baixa na TSU, isto parece-me também evidente.
Tornar a mão de obra portuguesa, assim, desta forma, mais barata, quase terceiro mundista é um erro, no meu entender ignorante. Temos a massa humana mais qualificada de sempre, temos um manancial de possibilidades nessa área por explorar. E temos o Professor Borges a desconsiderar-nos. Não tivemos a possibilidade de estudar onde ele estudou, nem vivemos todos sempre num meio privilegiado de onde ele provém, onde o salário mínimo é uma coisa de que nem se faz ideia (faça-se-lhe justiça, não é culpa sua). A sociedade é um grupo heterogéneo que a Social Democracia tem o desiderato de transformar numa sociedade o mais homogénea possível no que o acesso a bens materiais e imateriais e oportunidades de mobilidade social diz respeito.
O professor António Borges caminha, arrogantemente, sobre uma ténue linha que separa a sanidade da insanidade sócio-económica. Espero que como Malick no seu "The Thin Red Line", um herói dê os passos certos sobre o campo da sanidade, que de que desesperadamente precisamos nesta batalha que estamos a travar contra as nossas próprias dificuldades. E assim ganharmos a maior batalha de todas. A da nossa própria sanidade.
João Monteiro Rodrigues
Parabéns pelo post e esclarecimentos complementares! Já agora, acrescento que, para a análise da "ignorância" de Vexa, devia esclarecer que a licenciatura e mestrado são pré-Bolonha. Mas, acima de tudo, é doutorado, com distinção!, em educação e bom senso. O que vai faltando a muitos que se consideram politicoa...
ResponderEliminarDo ponto de vista neoliberal, eu acho a medida da descida da TSU, tal como foi apresentada por Passos Coelho, simplesmente brilhante. De um lado obtinha-se a redução salarial tão desejada e por outro lado. aumentava-se a “competitividade” das empresas. É o que se chama matar dois coelhos de uma cajadada.
ResponderEliminarNão compreendo é a posição contrária agora expressa por Miguel Frasquilho. Para quem desde há muito defende uma redução salarial, foi dos primeiros a afirmar a sua “necessidade” ainda o PSD não era governo, defendendo ao mesmo tempo um maior rendimento para as empresas de modo a que melhorem a sua produtividade, não compreendo na verdade a posição divergente que agora assume.
Faz-me recordar a velha história - quando o barco começa a afundar…
Continuo a entender a medida anunciada pelo 1º ministro como correcta. Todos sabemos que a medida é complexa e carece de muita exlicaçao. Para manter o corte dos 2 subsidios na FP (indispensável para a redução da despesa do Estado)era necessário retirar tambem um salário no sector privado (dadas as questões de equidade levantadas pelo PR e depois pelo TC): daí os 7% a mais da TSU (7% * 14 = 98% da remuneraçao). Não havia outro instrumento para o fazer. Esta era a 1ª parte da medida.
ResponderEliminarSimultaneamente a redução da TSU para as empresas visava e visa reduzir os custos do trabalho que como o Dr. MF sabe estão relativamente (em termos de competividade externa)elevados em Portugal. Esta medida está prevista no ponto 39, do Memorando negociado pelo Governo Português de então. Esta 2ª parte da medida tem um objectivo de ajustamento estrutural e não orçamental. E continua a ser necessária, como sabe.
Juntar a 1ª parte da medida à 2ªparte dá a confusão que por aí se instalou e que vários vultos inclusive do PSD, CDS e muitos comentaristas fizeram questão de alimentar.
Quanto aos empresários que criticaram a medida:
em 1º lugar não é verdade que tenha sido geralmente repudiada (a AIP e a CTurismo apoiaram-na de imediato). Mas a CIP e outras Confederações e muitos politicos (inclusive a convidada deste blog Manuela F. Leite)e comentaristas vários fizeram o costume: abdicaram da sua responsabilidade de explicar, de fazer a pedagogia da necessidade da medida (embora com ajustamentos)e da continuação da austeridade para não sermos obrigados a um longo período de uma austeridade bem mais gravosa no futuro e cavalgaram a onda do populismo que é muito mais simpática. E fica melhor na foto e nas manifestações.
Já agora Dr. MF se a medida proposta pelo 1º ministro, como o Sr. refere, iria aumentar o desemprego porque retiraria poder de compra da economia, ... coloco duas questões:
1 - essa retirada do poder de compra e o Sr. sabe melhor do que eu, tem mesmo que ser feita; e se não for pela subida da TSU será pelo aumento do IRS ou do IVA ou dos dois,e eu pergunto-me o que terá mais efeitos recessivos;
2 - e se então a subida da TSU para os trabalhadores do sector privado é má porque retira poder de compra e aumenta o desemprego então parece poder concluir-se que a receita contrária seria a preferivel para o Sr., ou seja, reduza-se a TSU para os trabalhadores e assim aumenta-se o poder de compra e logo o emprego...
Obrigado.
Francisco
80% do corte da despesa corrente do estado foi feita nas despesas com pessoal, que representa 23% da despesa corrente. É mesmo indispensável cortar dois subsídios na FP para reduzir a despesa do estado?
ResponderEliminar.
Os custos do trabalho são elevados em comparação com os de que países? Portugal deve competir externamente com que países?
Caro Madureira,
ResponderEliminarA resposta a essa pergunta é simples, com aqueles que conseguir.
Cara foca,
Uma empresa tem várias funções internas que levam à colocação do produto na rua. Uma delas é o desenvolvimento do próprio produto. As duas pessoas fariam desenvolvimento. Agora vão calcetar estradas ou coisa parecida.
Caro Miguel,
A medida já tinha sido experimentada, antes da implantação da TSU para as empresas... A Suécia, anunciou a mesma coisa no dia a seguir financiada com dívida pública, um luxo ao dispor estados não falidos. O seu patrão, por exemplo, teria uma redução nos custos operacionais imediata e com ela poderia baixar spreads porque, ou porque o custo operacional da operação se reduzia, ou porque fica com o dinheiro disponível para financiar a operação. E multiplicando pelos clientes dele, pelos clientes do clientes...
Agora, a medida em rigor não era financiada. Aquele dinheiro é TODO do trabalhador porque quando o patrão faz as contas ao dinheiro que lhe dá é irrelevante se dá o dinheiro ao trabalhador, ao estado, à amante... Existe um custo total e desse custo total x vai para o estado, y para a SS, z para o desgraçado que fica com a metade do bolo. No fundo, a medida era, no pior dos cenários, económica e contabilisticamente neutra.
Dito assim, "com aqueles que conseguir", até parece que toda a gente concorda. Mais difícil é concretizar, nomeando alguns países.
ResponderEliminarTambém há patrões que não acham irrelevante a quem dão o dinheiro; que acham que devem pagar decentemente aos trabalhadores.
ResponderEliminarO engraçado disto tudo é que o prof. António Borges diz que o ajustamento em 2 anos, apenas!, é um "case study" e ao mesmo tempo chama de ignorantes os empresários...
ResponderEliminarCaro Maxureira, aquilo que se acha decente pagar a um trabalhador é relativo e não é de todo opinião de uma pessoa. Acha decente que pessoas passem fome quando há professores a ganharem milhares de euros para trabalharem 12 horas por semana? Relatividade. Já agora, quando foi ao supermercado esta semana escolheu o produto com o melhor preço ou aquele que atribui uma maior decência salarial? Relatividade. O salário não é uma questão de opinião é um jogo de 'conflitos'. Há uma valorização do trabalho que é feita pelo mercado e dessa valorização sai um custo para o trabalho. Desse custo, se vai para o estado, se vai para quem trabalha é irrelevante na relação laboral. Se vai para o estado a culpa é do trabalhador, para a próxima vote em quem entende as medidas como a TSU.
ResponderEliminarQuanto aos países com que quero concorrer, com os que conseguir. Com a Noruega, com a Suíça, com a China, com a Swazilandia...
«O presidente do grupo Kyaia, Fortunato Frederico, afirmou hoje que ficou "ofendido" com as afirmações de António Borges, que acusou os empresários que criticaram a redução da TSU, de serem "ignorantes", acrescentando que, "às vezes, dá vontade de desistir".
ResponderEliminarDefensor de que a descida da Taxa Social Única (TSU) "era uma medida sem pés, cabeça nem coração", Fortunato Frederico, presidente do maior grupo de calçado português, disse que se sentiu "ofendido" e "triste" ao mesmo tempo, com as afirmações do consultor do Governo para as privatizações.
"Tenho que dar uma resposta a esse cavalheiro: serei ignorante de políticas e teorias económicas experimentalistas, mas não sou um ignorante nas relações humanas nem na defesa dos valores humanos", declarou.»
Está tudo dito!
E percebeu a medida ou continua ignorante?
ResponderEliminar