1. Está na ordem do dia, mais uma vez, a "tragédia" do Programa de Ajustamento (ou de Resgate) da Grécia que, como se sabe, vai já na 2ª edição. A 1ª edição, de € 110 mil milhões, fracassou ao fim de pouco mais de um ano de vigência, tendo provocado a queda do governo e novas eleições das quais saiu um governo de coligação; a 2ª edição, de € 174 mil milhões, foi acordada em Março deste ano e deixou pelo caminho um rasto de perdas (“hair-cut”) para os credores privados, bancos portugueses incluídos, de mais de € 100 mil milhões.
2. Face às imensas dificuldades políticas da implementação desta nova edição do Programa, que exige do governo grego um ajuste orçamental (receita adicional + corte na despesa) acrescido de € 13,5 mil milhões em 2012 e 2013, tem sido sugerido – e solicitado com insistência pelas autoridades helénicas – um período adicional de 2 anos, até 2015, para cumprir esse ajuste orçamental.
3. A Directora Geral do FMI, Christine Lagarde, veio agora dar um novo alento a esta pretensão grega de mais dois anos, tendo sugerido na reunião da A.G. do Fundo realizada em Tóquio na semana que a severidade da contracção económica na Grécia – com quedas esperadas do PIB de 6% no corrente ano e de 4% em 2013 – justifica esse período adicional de ajustamento.
4. Acontece, todavia, que a extensão por mais 2 anos do Programa da Grécia implicará, segundo notícia do F. Times na edição de 12 do corrente, um apoio financeiro adicional de € 30 mil milhões (pelo menos) – os € 174 mil milhões não serão suficientes – assunto de que os Ministros das Finanças da zona Euro parece nem quererem ouvir falar…
5. Mas, se não forem os actuais credores oficiais da Grécia a dispensar esse apoio financeiro adicional, não se vê quem possa “abrir os cordões à bolsa” para manter as finanças gregas a flutuar até 2015…uma vez que o recurso ao mercado não é viável...
6. Uma alternativa ao financiamento adicional seria a aceitação de um “hair-cut” por parte dos credores oficiais em montante equivalente, seguindo um modelo similar ao que foi aplicado aos credores privados…
7. Os credores oficiais deterão cerca de € 127 mil milhões de dívida pública grega (não incluindo BCE, creio) num total de € 324 mil milhões. Assim, um “hair-cut” da ordem de 20 a 25% daquele montante poderia ser suficiente…mas esta solução será susceptível de causar os maiores engulhos políticos – para não dizer mesmo uma sublevação geral – em países como a Alemanha, a Finlândia, a Holanda, a Austria, etc, etc
8. No entretanto, a Grécia tem vindo a “arrastar os calcanhares” desde a negociação do novo Programa, pouco ou quase nada tendo feito para a sua implementação: as reformas estruturais estarão num limbo, o programa de privatizações avança a ritmo de caracol, a aplicação do ajustamento orçamental adicional, como já vimos, está dependente dos + 2 anos…
9. O cenário quanto à Grécia apresenta-se pois como de confusão generalizada e semi-paralisia institucional…
10. ...cenário que um numeroso grupo de distintos e notáveis comentadores da nossa praça gostaria, ao que parece, de ver replicado em Portugal, quando avançam propostas de nova exensão do prazo do Programa (já temos mais 1 ano, como se sabe) ou a sua renegociação...o último notável a avançar uma proposta (exigência, mesmo, se bem entendi) foi um ex-PR bem conhecido pela sua devoção ao bom combate orçamental...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarapesar de insistir em retirar o actual PR da história, apesar de ele fazer questão de mandar a "sua" antes de qualquer jornada "manifestiva", de estar várias escalas acima desse ex-PR, de ter a sua assinatura em 80% da dívida pública e de ter impedido a auditoria das contas por razões que ninguém quer apurar (parece que é impossível...), não vou tocar neste ponto (hã, como mandar as bocas dizendo que não fala nisso :)...).
Há que adicionar ao seu racional que Portugal também não fez nada. Em termos práticos, e depois das intervenções do estado em tudo o que eram medidas de jeito do governo, já ninguém tem coragem de dizer que Portugal não é a Grécia, porque é. Temos que agradecer ao sr. PR e aos distintos juízes do TC o facto de hoje, inventário feito, Portugal arrastar os pés da mesma forma que os nosso helénicos irmãos.
O pior é que a coisa tende a intensificar-se porque das entrevistas do fim de semana ao Jorge Miranda, tudo é inconstitucional, desde as aulas em inglês da Nova até à comida dos meus peixes.
O segundo ponto, e juntando aqui as afirmações da Lagarde que o nosso PR parou de peito e colocou jogáveis, até agora só quem pagou a crise grega foram os gregos e os bancos estrangeiros, tal como em Portugal quem pagou foram os portugueses. A troika só emprestou. É natural que para os ilustres personagens da nossa praça que não estão a pagar, só estão a receber, o tempo que leva a corrigir as coisas é irrelevante. Até pode ser mais tempo e mais dinheiro, como a teoria da não sei quê da recuperação que só existe no facebook diz. Mas há que sublinhar quem é que está a pagar e quem está a receber, para se perceber os interesses de cada um.
Eram só dois pontinhos para acrescentar ao seu raciocínio, que está correctíssimo.
"O ministro das Finanças português garantiu, em Tóquio, que o acesso ao mercado “não é opção única” para Portugal e que o Governo está a explorar instrumentos que permitam melhorar o acesso ao financiamento não oficial." Público de 13/10
ResponderEliminarSerá que "financiamento não oficial" poderá ser uma situação do tipo que sugeri?
http://notaslivres.blogspot.pt/2012/09/medida-2-criacao-de-condicoes-para.html
Numa economia em recessão, em que a expansão não se vê forma de ser feita, se calhar o melhor e o mais acertado é seguir a corrente, até porque não podem ser todos estúpidos...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarDe acordo com os relatos sobre o "Costa Concorida", depois de ter batido no rochedo, o navio, sem conseguir esgotar a água que entrava, por mais de uma hora ainda rumou a norte e afastou-se da costa. Nesse interim, os passageiros foram convocados e depois desconvocados por membros da tripulação, para se dirigirem para os salva vidas.
Os membros da tripulação sempre disseram que tudo estava bem e que, os passageiros, não tinham porque se preocupar. A confusão foi geral mas, a maioria das passageiros nunca deixou de confiar na tripulação.
Nâo sei porquê, o seu post fez-me recordar o IIº acto do "Costa Concordia".
Embora possa ser apenas, um erro de paralaxe da minha parte.
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
ResponderEliminarDirei que estamos uma vez mais envolvidos naquela vexata questio que nos divide até ao mais profundo do nosso ser...
Peço-lhe todavia que não exagere usando frases belíssimas como essa de "retirar o actual PR da história, apesar de ele fazer questão de mandar a sua..."!
Eu não retirei o PR da história nem tinha necessidade de o fazer pela simples razão de que ele não estava lá...não sei se já se teria retirado pelo seu próprio pé, mas em Tóquio, a assistir à proclamação de Lagarde não estava de certeza, nem creio que tivesse assessorado o ex-PR, que cito, para a formulação da exigência da renegociação em abstracto (e em frustração) do PAEF...
E recordar-se-á, se faz favor, da minha crítica aberta e sem rodeios, quando S. Exa. enveredou por aquele pedregoso caminho de invocar a equidade orçamental...quiçà estimulando as mentes dos constitucionalistas que depois nos brindaram com aquele magnífico e inspirado pedaço de política económica que lançou toda a confusão e que, em última análise, estará na origem deste belo pastelão fiscal que agora nos é atirado contra a cara!
Caro jotaC,
Deixe-me dizer-lhe, com o devido respeito, que o "herd behaviour" que recomenda como procedimento razoável nas actuais circunstâncias tem sido, ao longo da história, factor das maiores desgraças e desenganos sociais!
Caro Gonçalo,
Admito que possa ser uma hipótese entre outras, sim senhor.
Caro João Jardine,
Essa comparação ao Costa Concordia, acto II, assusta-me deveras...tenho de lhe pedir para ver se arranja outro desfecho quando não faço mesmo aquilo que um notável da nossa praça, sob palavra de honra meramente nocional, prometeu que faria caso fossem agravados os impostos sobre os rendimentos do trabalho: PIRO-ME!
Ora caro Tavares Moreira, lembro-me bem da crítica. E por isso gosto de ajudá-lo quando cita o único PR que fez o seu trabalho para que o actual não fique de fora."Há vida para lá do défice" é criticável, mas não tanto como "não haverá vida para além deste corte de despesa". Mas tem razão, ele não estava em Tóquio com a Lagarde, esteve a preparar as manifestações do fim de semana.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarEssa irresistível deriva populista acaba sempre por desanimar o interlocutor...
Com que então o PR a fazer trabalho de casa preparando as manifestações de fim-de-semana?!...
E já agora a trabalhar com quem - não me diga que com aquela magnífica proxy de Madame de Pompadour, que tem estado na organização de todas as que não são espontâneas?
"magnífica proxy de Madame de Pompadour" :))) Muito bom!
ResponderEliminar"Durante a reunião anual do FMI, em Tokyo, a Srª Lagarde, Directora-Geral da instituição, e o seu economista chefe, Sr. Blanchard, a propósito dos processos de consolidação orçamental na zona Euro enunciaram uma orientação que ontem fez notícia na imprensa internacional e que, vindo de quem vem, esperemos que chegue aos ouvidos dos políticos europeus dos chamados países credores e de outras organizações internacionais. Trata-se de um ensinamento elementar da política de estabilização, que eu próprio várias vezes tenho referido, e que, em linguagem simples, se pode traduzir do seguinte modo: nas presentes circunstâncias, não é correto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objetivo de défice público fixado em termos nominais."
E que tal isto como proxy de "há vida para lá do défice"? Mascarado de teoria e tudo. E na véspera de mais uma "jornada de luta"? Curiosamente, a barragem de contestação que ele formou por causa da TSU (com três letrinhas apenas se escreve e é daquelas palavras pequenas a quem mais saudade dá....) foi também na véspera de mais uma jornada de luta. Se calhar sou eu que estou a ver coisas e a sincronia entre a Madame Pompadour e o Rei Sol é mera coincidência.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarVerifico, sem espanto, que segue minuto a minuto as actividades que se desenrolam no Palácio que fica nas proximidades da fábrica dos famosos pastéis de nata...
E que não perde pitada das "obscuras" manobras que por lá se desenvolvem - em sintonia com ou à revelia da soberba proxy da Madame de Pompadour - no sentido de influenciar, por artes mágicas (não marciais, vá lá), os caminhos estreitos, cada vez mais estreitos, por onde circula a política económica, orçamental em particular...
Se me permite, vou recomenda-lo a um dos canais de TV para que seja nomeado seu correspondente na Praça Afonso de Albuquerque...
Estou confiante de que as audiências do canal que tiver a lucidez de o convidar para tal efeito irão disparar em flecha, tal é a graça e o suspense que imprime à descrição das manobras belenenses...
:) Desde que o fluxo de pasteis esteja devidamente orçamentado....
ResponderEliminarFora de assunto, grande intervenção ontem do seu amigo Miguel Beleza. Mais uma vez, brilhante! "Se a contestação é unânime, então está toda a gente errada!"
Caro Tonibler,
ResponderEliminarA propósito do meu preclaro Amigo Miguel Beleza, cuja intervenção não tive o gosto de testemunhar - foi no Prós e Prós? - estou aqui a magicar na hipótese de o desafiar para o próximo repasto 4 Republicano de que lhe falei há dias e para a realização do qual aguardo uma proposta concreta de data do Emérito 4 Republicano Pinho Cardão!
Era capaz de ter muita graça, o M. Beleza é um conversador espectacular, com um humor finíssimo, difícil por vezes de discernir!
Mas confesso-lhe a minha quase maníaca suspeição em relação ao "herd behaviour": a história mostra-nos que o lado para onde vai o "herd" está quase sempre errado!
Foi num programa especial na RTP do qual só consegui ver uns 5 minutos e que fiquei a ver à espera da 1ª opinião dele. De onde ele tira esta fantástica relativamente à contestação "unânime"... O herd behaviour, pelo menos na Física é outra coisa, isto é mais "vai dizer que eu mando".
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarConvem-lhe na 4ª Feira da próxima semana (dia 24) na Taberna do El Corte, pelas 13H00? Mobiliza algumas "tropas" comentadoras para estarem presentes e avisa-me com alguma antecedência?
Por mim está confirmado! Vou tentar a mobilização embora tenha muito poucos contactos. Mas o melhor é confirmar e depois quem está está, como diria a mulher do outro...
ResponderEliminarOk, como tb temos o P.C. na mobilização, acredito que vamos ter gente suficiente para, se for preciso, cercar o El Corte Ingles!
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