Ouço as críticas ao PM sobre a sua intervenção na jornada parlamentar conjunta dos partidos coligados. Desta feita os disparos são sobre a "refundação" do acordo para o equilíbrio das finanças públicas e reajustamento da economia. Passos Coelho, é verdade, não tem sorte com as palavras que escolhe para transmitir as mensagens mais relevantes. São já inúmeros os momentos, em pouco mais de um ano, em que isso ficou claro. Por alguma misteriosa razão quanto mais simples é a ideia, menos feliz é a expressão que o PM, nessa qualidade ou na de presidente do PSD, escolhe para a comunicar. No entanto, na maior parte das vezes toda a gente percebe o que quis dizer. "Refundar" o acordo com a Troika não é a melhor locução para dizer que é chegada a hora de renegociar os seus termos face ao que foi adquirido desde a sua assinatura. Ora, não é exatamente isso que vêm exigindo comentadores, analistas, líderes e dirigentes da oposição, vozes escutadas dos partidos da coligação, sindicatos, corporações, ex-presidentes?
É decerto um problema de comunicação do Dr. Passos Coelho cujas ideias passam melhor quando não improvisa e pondera o discurso. Mas é também um sintoma que passou a ser politicamente correto "malhar" no PM (para recordar a linguagem usada por um ministro do anterior governo, especializado em comunicação política...). Quer ele diga o que poucos querem ouvir, quer ele vá de encontro à reclamação da maioria.
ResponderEliminarNão ouvi o discurso do PM e a minha apreciação, portanto, resume-se aquilo que li nos media on line.
Percebi que:
- pretende realizar uma reforma profunda do Estado;
- antes do cumprimento do programa de ajustamento;
- o programa de ajustamento não deve ser prolongado no tempo nem acrescido nos fundos,
- deverá limitar o Estado aquilo que faz bem e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer,
- deve comprometer todos aqueles que assinaram o memorando de entendimento.
Não entendo, portanto, porque razão aludiu o PM a uma refundação do acordo com a troica quando, a julgar pelo que li, a troica terminará a sua tarefa dentro de 20 meses (segundo o ministro dos Assuntos Parlamentares) e o que o PM pretende é uma fixação dos limites do Estado no futuro.
Se for o caso, parece-me, a refundação deverá comprometer os partidos que politicamente poderão suportar esse objectivo e não a troica.
Ou não?
José Mário
ResponderEliminarSe "Refundar" o acordo com a Troika quer dizer "renegociar os seus termos face ao que foi adquirido desde a sua assinatura" não vejo que seja equivalente a reformar o Estado Social, interpretação que foi abundantemente feita com diversas nuances, à vontade do freguês, incluindo o "cancelamento" do Estado Social.
Repensar o Estado Social é necessário, vai requerer estudo, que julgo não estar feito, debate alargado e obtenção de consensos político e social, a sua implementação e os resultados esperados não se compaginam com o período vincendo do programa de ajustamento.
Talvez "renegociar" seja uma palavra proíbida mas mesmo assim no meio da tempestade o minimo que se pede ao Capitão é que dê ordens que possam ser entendidas pela tripulação , mas se porém elas causarem confusão ou preplexidade mal irá a nau.
ResponderEliminarTalvez o problema não seja somente de comunicação, caro Dr. José Mário, e possa ser também de dicção.
ResponderEliminarNão seria intenção do Sr. PM, referir "reafundação"? Uma vez que se trata da Troyca e de reunir ao governo, o PS, parece-me nítida a intenção de afundar de vez "o navio".
Ou... não foi, segundo o governo, o PS o responsável pelo início do naufrágio?!
Diz-se la pelos povoados onde os lobos andam a "morfar" as bucólicas cabrinhas «com papas e bolos, se enganam os tolos» e é bem verdade.
PAGA ZÉ! (para que esta gentinha engravatada e de "ares afectados" possa continuar a asentar os nobres rabos em cadeirões de veludo e a transportar-se em potentes "bombas", a subsidiar fundações e a favorecer as empresas dos amigos.
Caro JMFAlmeida
ResponderEliminarProvavelmente ouvimos em canais diferentes o discurso do Senhor PM.
Não sendo temente de nenhum deus, o que me ensinaram na escola é que apenas a palavra divina teria de ser interpretada. Por isso, não tenho qualquer problema em entender o discurso de alguêm que foi lá posto com o meu voto.
Trocado por miúdos e em linguagem de merceeria o que o Senhor PM veio dizer é que, pelo preço que cobra (os impostos que arrecada) não pode fornecer todos os serviços que prometeu (pensões, SNS e outros gastos sociais).
Como percebeu que a constituição não é um mero pano de limpar a loiça à venda em qualquer loja dos trezentos (ou euro e meio se preferir), tem de congregar os esforços de outros para alterar o tecido do pano.
O que está a propor agora, estava no memorando original do acordo com a troika, por isso, o que me surpreende é que tenha esperado 15 meses para o implementar.
Convenhamos que o on the job training do Senhor PM nos está a custar caríssimo.
Cumprimentos
joão
Desculpem-me os meus estimados Amigos, mas todos entenderam o que o PM quis dizer. Não o disse da melhor forma, como desafortunadamente tem acontecido (desviando as atenções para a forma) mas quis colocar a questão da mudança do memorando de entendimento. O que pode - e a meu ver deve - implicar repensar o modelo de Estado, também de Estado Social, o que de resto todos sabemos e andamos a apregoar há anos. Apelou ontem ao consenso com partido socialista sem condições prévias, o que é para mim evidente, pois sem o PS não há reforma do Estado capaz de proceder. Quer porque provavelmente conduzirá a uma revisão da Constituição, quer porque implicará mexer em legislação reforçada.
ResponderEliminarVeremos agora como se alinham os partidos políticos e que conclusões retirará Passos Coelho se porventura o necessário consenso político não se concretizar.
Pois não, caro João Jardine, em linguagem de merceeiro, o que o Sr. PM veio dizer aos portugueses, foi que "o preço que cobra" é insuficiente para manter a s reformas milionárias de certos aposentados de curta duração, de certos gestores públicos, as "gorduras" do governo, as fundações e os palacianos habitos.
ResponderEliminarIsto é mais ou menos como uma família em que a mãe se esfalfa toda a trabalhar e o pai e os filhos vestem de marca, almoçam gourmet e passeiam de ferrari e quando a desgraçada da kota adoece, os outros acusam-na de mandriona e juntam-se todos para "engendrar" formas de a obrigar a trabalhar mais.
De resto... contentes e felizes como sempre...
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarPedindo desculpa pelo anglicismo, "you missed the point".
O Senhor PM já sabia do que se segue, há 15 meses: não há, hoje e no médio prazo, dinheiro para honrar todas as responsabilidades (obrigações de qualquer forma) assumidas.
O memorando tem duas partes: a primeira diz, em linguagem simples que nos emprestam dinheiro e a segunda, tambem em linguagem simples, é que esse dinheiro só é entregue se se mudarmos para que não torne a ser necessário voltar a pedir dinheiro.
Por isso, o que se andou a fazer durante 15 meses?
Cumprimentos
joão
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarPedindo desculpa pelo anglicismo, "you missed the point".
O Senhor PM já sabia do que se segue, há 15 meses: não há, hoje e no médio prazo, dinheiro para honrar todas as responsabilidades (obrigações de qualquer forma) assumidas.
O memorando tem duas partes: a primeira diz, em linguagem simples que nos emprestam dinheiro e a segunda, tambem em linguagem simples, é que esse dinheiro só é entregue se se mudarmos para que não torne a ser necessário voltar a pedir dinheiro.
Por isso, o que se andou a fazer durante 15 meses?
Cumprimentos
joão
De acordo, caro João Jardine. Mas uma vez que é necessário cortar na despesa do estado, o governo terá de estabelecer prioridades, e essas terão de ser duas componentes fundamentais, ser humanas e coerentes.
ResponderEliminarE uma vez que os governos promoveram a longevidade e arvoraram os resultados de uma esperança de vida alargada, não podem agora rasgar a bandeira e deixar os velhos à porta dos hospitais, porque não possuem recursos económicos que lhes possiblite pagar as taxas exigidas. Nem pode deixar de fazer tratamentos a doenças "especiais" fruto de um crescimento económico adquirido à custa da introdução de produtos químicos que favoreciam o crescimento dos produtos produzidos para alimentação humana.
Entretanto, laboratórios continuam a ser subsidiados pelo governno, alguns com a finalidade de descobrir tratamento para doenças que continuam a matar e outros, para descobrir produtos que supostamente garantam a produção em maior escala de bens animais e vegetais, essenciais para a alimentação humana.
Então?! É preciso que se encontre uma definição equilibrada das medidas que se pretendem regulem o nosso futuro. Aquilo que não podemos admitir é que um governo promova o bem-estar e a saúde dos seus cidadãos e em simultâneo distribua dinheiro a rodos pelos serviços do Estado e o outro a seguir, decida que esta tudo errado e que o que ha a fazer é retirar todo o bem-estar anterior, mantendo a destribuição pelos serviços do estado.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarO meu Caro considera suficiente fazer o nosso melhor, já eu considero que há que fazer o que tem de ser feito.
É parecido mas, não é nem, igual, nem equivalente.
Cumprimentos
joão
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarO meu Caro considera suficiente fazer o nosso melhor, já eu considero que há que fazer o que tem de ser feito.
É parecido mas, não é nem, igual, nem equivalente.
Cumprimentos
joão
Caro João Jardine,
ResponderEliminarSem desprimor para aquilo que cada um de nós pensa, desde sempre, até agora, aquilo que a humanidade tem produzido em termos de progressão, nunca foi obtido somente, "por obra e graça do Espírito Santo".
Tudo conta: o empenho, a motivação, a vontade, a capacidade de antever o futuro e a de equacionar razoávelmente o passado e o presente. E o presente, caro João, mostra-nos que estamos no meio de um labirinto, do qual só saímos se forem estabelecidas prioridades, contanto que essas prioridades, tenham como base a estabilidade e a sustentabilidade.
Sinceramente fico apreensivo sobre o que realmente o PM quer dizer com a palavra “refundar”; diria até um pouco angustiado, dadas as refundições de que tenho sido vítima ultimamente. Por isso era importante que dissesse por palavras simples o que realmente quer dizer (poupando-nos naturalmente àquelas ideias nado-mortas com que amiúde o Gov. nos brinda!), dado que no que concerne à troika tem sido um fervoroso adepto, não pode ter mudado assim tão de repente! Mas é evidente que todos sabemos da necessidade que há em “refundar” quase tudo, a começar pelas famosas gorduras agora quistos sebáceos!.Concluindo…
ResponderEliminar…o governo devia ter cuidado com os timings e as palavras que escolhe para anunciar novas. Agora, o timing, é o orçamento para 2013, não convém por tudo ao molho sob pena das boas intenções não passarem disso mesmo…
Este governo está cada vez mais parecido com o de João Franco. Temo o pior!
ResponderEliminarRefundar é muito simples e o J Jardine já disse com todas as letras tal como o PM o disse. Esqueçam que o estado português vai existir assim e não é daqui a 15 meses, é no Verão. No Verão não vai haver estado português como ele existe hoje. Tem que se decidir o que fica de fora, sendo garantido por enquanto que vai ficar tudo. Esse é garantido.
ResponderEliminarO primeiro passo, parece-me claro, seria a demissão imediata do presidente da república. Até se pode ficar sem um, mas com este impecilho parece claro que não há nada para refundar. Talvez seja esse o primeiro passo da refundação, meter o PR fora das coisas importantes.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarNão foi, nem nunca será, minha intenção ofender quem quer que seja com os meus comentários. No último estava, apenas e só, a querer significar que, no seu caso, estará mais de acordo com soluções incrementais, e menos em soluções mais radicais. Aqui a diferença.
Não estamos em momento em que se poderia optar por soluções mais incrementais. Porque negociamos um acordo difícil pelas medidas e pelo tempo definido. Porque estamos, em dois anos, agora três, a fazer o que se deveria, em termos médios, ter feito em quinze.
Não posso, por isso, senão demonstrar a minha incredulidade que, dos 24 meses que negociámos, agora aumentados para 36, tenhamos perdido 15, ou seja, quase metade do tempo que conseguimos, já contando com o extra.
Infelizmente é, por estas, entre outras, razões que temos que fazer o que tem de ser feito. Em alternativa, alteramos os termos de referência para a missão que nos cometemos coletivamente.
Cumprimentos
João
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarNão foi, nem nunca será, minha intenção ofender quem quer que seja com os meus comentários. No último estava, apenas e só, a querer significar que, no seu caso, estará mais de acordo com soluções incrementais, e menos em soluções mais radicais. Aqui a diferença.
Não estamos em momento em que se poderia optar por soluções mais incrementais. Porque negociamos um acordo difícil pelas medidas e pelo tempo definido. Porque estamos, em dois anos, agora três, a fazer o que se deveria, em termos médios, ter feito em quinze.
Não posso, por isso, senão demonstrar a minha incredulidade que, dos 24 meses que negociámos, agora aumentados para 36, tenhamos perdido 15, ou seja, quase metade do tempo que conseguimos, já contando com o extra.
Infelizmente é, por estas, entre outras, razões que temos que fazer o que tem de ser feito. Em alternativa, alteramos os termos de referência para a missão que nos cometemos coletivamente.
Cumprimentos
João
Não se preocupe, caro João Jardine, neste ambiente virtual, seria um enorme sinal de falta de inteligência da minha parte, se tomasse as opiniões alheias como ofensas pessoais. Não porque as não tome como válidas, mas, simplesmente, porque não me encontro em frente de quem as está a emitir, logo, na falta de um sem número de dados, capazes de me conduzir a essa conclusão.
ResponderEliminarDe todo o modo, sem que me considere um individuo excessivamente complacente, deixo sempre uma margem extensa de intervalo entre a defesa dos meus pontos de vista e os alheios, sem contudo, como já disse, deixar de os ter em conta, e em muitas circunstâncias, servirem-me até como base de reflexão e ainda como motivo de alteração das opiniões formadas.
Acredito piamente no valor das opiniões venham elas de quem vierem e apresentem-se elas, da forma que se apresentarem.
Por isso, agradeço-lhe a disponibilidade que colocou no diálogo que mantivemos.
Afinal, se bem alcanço o discurso do PM hoje no Parlamento, a "refundação" era do Estado e não do memorando como eu tinha entendido. Boa parte do post fica sem sentido. Mas, a bem dizer, o que tem inteiro sentido nos dias que correm?
ResponderEliminarFica a conversa a que este meu gatafunho deu origem. Já é muito.
Pois, caro Drº Ferreira de Almeida, bem me parecia, e daí o sentido do meu comentário...
ResponderEliminarCaro JMFAlmeida
ResponderEliminarSe existisse uma intenção de "refundar" o estado, há 15 meses que o processo se teria desencadeado.
No universo dos sistemas democráticos em que nos incluímos (ou queremos incluir) esse tipo de exercícios, pela sua importância, exige e tem a colaboração de todas as forças relevantes de um país.
Agora, para realizar um exercício de adequar o que o estado presta ao que se arrecada, quaisquer 6 meses, bastam porque, no escalão de desenvolvimento que gostamos de nos considerar que nos encontramos, existem elementos suficientes para se poder realizar o exercício em pouco tempo. Mais, esse exercício não necessita de ajudas externas como as que já vi e ouvi escritas que se iriam convocar (Banco Mundial, FMI e mesmo Comissão).
Agora querer apresentar a um simples e lhano exercício de pura merceeria contabilística, como se tratasse de uma epifania pós moderna é, no mínimo, exótico e pouco produtivo.
Temo que refundação mais não será que um kleenex do momento, com a agravante de ser menos eficaz que aquele mas, igual de descartável.
Cumprimentos
joão