sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ainda o Relatório do FMI

1.Facto inegável é que Portugal não se basta a si próprio para financiar o nível de despesa pública. Educação, saúde, protecção social, salário dos funcionários, pensões, justiça, segurança, vêm sendo parcialmente assegurados pelos financiamentos da Troyca.
2. Facto inegável é que, no âmbito da Troyca, o FMI é credor de Portugal. E, como credor, pretende que os créditos concedidos produzam efeito, de forma a receber o dinheiro de volta e a acudir a outros países em crise. É a lógica da sua existência.
3. Facto inegável é que, a pedido do Governo, mas também por interesse próprio, o FMI produziu e apresentou um Relatório sobre o reajustamento orçamental português.
4. Facto inegável é que o Governo perdeu o domínio do Relatório, que foi publicitado pela comunicação social antes de ter sido apresentado, devidamente enquadrado pelo Governo.
5. Facto inegável é que a inépcia governamental e a consequente reacção da comunicação social e da oposição política transformaram um Relatório meramente técnico num documento de acção política.
6. Do que resultou que o Relatório do FMI passou a ser um documento “oficial” do Governo. Sendo que qualquer valia técnica, a existir, ficou completamente destruída.
7. Pior ainda, o Governo, como órgão politico, perdeu praticamente todas as hipóteses de fazer a adequada intermediação entre o conteúdo técnico e a solução política daí resultante.
8. Sendo assim tratado à nascença como produto tóxico, tornou-se mais difícil modelar alternativas, prazos de execução, novos caminhos. Porque tudo tende a ser visto como mera solução de continuidade de um mau produto.
9. O drama é que nenhum governo, seja qual for o partido ou coligação, conseguirá melhorar a vida dos portugueses sem o apoio do FMI e dos seus dois parceiros da Troyca.
10. Pelo que se exige de todos os partidos a responsabilidade de saberem escolher entre os seus próprios interesses e o interesse público, deixando-se de populismos e encetando um diálogo profícuo entre si e com as instâncias que nos apoiam. Revendo, corrigindo, alterando, se for caso disso. A situação não é para brincadeiras ou infantis jogos de poder.

13 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,

    faltam aí uns pontos antes do 1. como:

    - Nenhuma iniciativa do governo que fizesse reduzir a despesa pública sem afectar a economia real passou em Belém. Nenhuma.

    - Nada deste relatório passaria com a assinatura do governo por Belém. Nada, a não ser que fosse para os privados pagarem.

    O resto está plasmado no seu post. As valias técnicas já há muito foram destruídas na marcação de um conselho de estado de há uns meses. Não vamos mais perder tempo com valias técnicas com quem não as quer ouvir ou nem sequer as entende. Isto para complementar com:

    11. O estado português só admite ser refundado se continuar tudo na mesma.

    Entregue-se aos credores!

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  2. Dormindo com o Inimigo

    O actual Primeiro-Ministro Grego ,assim como todos os seus antecessores ,tem vindo à praça pública pedindo ,suplicando até ,condições menos gravosas na aplicação das medidas de austeridade ao seu povo . "A Grécia precisa de mais tempo !" , era o constante apelo de Samaras que todos devem estar lembrados ,apelo esse que acabou por ser escutado com a concessão de dois anos de adiamento , com os credores a suportarem os cerca de 40 biliões de Euros de custo extra .
    E em Portugal o que se ouviu ?
    O Primeiro-Ministro proclamando que "Portugal não precisa nem de mais tempo nem de mais dinheiro !" e que "iremos ,( o governo ), além do que a Troica exige ,( na adopção de medidas de austeridade ) !".
    Com esta atitude Passos Coelho ficou sendo visto na opinião dos seus concidadãos como sendo aliado objectivo dos causadores da miséria pátria .
    Bem sei que uma das forças mais poderosas na politica é o sentimento de inevitabilidade e talvez tenha P.C. querido reforçar esse efeito pela maneira insensível e distante como fez o povo português ter conhecimento do agravamento brutal das suas condições de vida .
    Mas o preço foi ter deixado de ser visto como idoneo para defender os interesses daqueles que devia representar.
    Nestas condições não há possibilidade para um debate que á partida estaria inquinado pela dúvida sobre a imparcialidade do Juíz .

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  3. Contra factos não há argumentos, este post sintetiza muito bem a realidade vigente, por isso, subscrevo-o por inteiro.

    Assim, postos os factos, exige-se inteligência e ponderação na tomada de decisões (mesmo sendo devedores!), o que não se tem visto por aí além...

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  4. Anónimo18:43

    A evidência dos factos impõe-se. E impõe, como bem refere no último paragrafo, a emergência de um responsável consenso político e social alargados que torne irrelevantes os taticismos com que os partidos, todos os partidos, ou interesses a eles ligados (como o daquele presidente da câmara que está preocupado com o efeitos na sua recandidatura das medidas a tomar) estão a encarar as soluções para problemas que são estruturais.
    Não sei por que bulas, mas criou-se a ideia de que com o fim do programa de ajustamento negociado com os credores tudo voltará à "normalidade", sem que estranhamente se perceba que é a "normalidade" o problema.

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  5. Caro Pinho Cardão,

    O seu texto é inexacto.

    a) O orçamento é equilibrado excepto nos juros.

    b) também as contas externas estão equilibradas

    c) A Irlanda e a Espanha têm deficits superiores sem que isso seja um problema para a UE / FMI.

    d) É normal existir deficit publico elevado numa economia em recessão

    e) Existem muitas despesas superfulas no estado que devem ser cortadas antes de cortes no estado social

    f) a despesa do estado social em portugal é inferior à méda da UE em % do PIB

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  6. Caro Paulo Pereira:
    Portanto, se bem entendi, retiramos umas quantas rubricas aos custos (o meu amigo optou por tirar os juros)e estamos bem.
    Orçamento equilibrado. Está salva a Pátria.

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  7. Sim. Afinal este governo é sensacional....

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  8. "...Educação, saúde, protecção social, salário dos funcionários, pensões, justiça, segurança, vêm sendo parcialmente assegurados pelos financiamentos da Troyca..."

    E os juros também, não?

    Caro António,

    Grande parte do diagnóstico dos técnicos autores do parecer está correcto e, na sua grande maioria até nem constitui novidade. Antes pelo contrário, se muitas das situações criticadas ainda persistem não é por não terem sido há muito diagnosticadas.


    Grande parte das suas propostas são pertinentes, algumas estarão menos bem ou até erradamente fundamentadas, mas poderia ser uma boa base de discussão em sede própria entre o Governo e a oposição, na altura governo, que subscreveu o memorando com a troica.

    E digo, poderia ser, porque, pelo andar da carruagem, muito provavelmente não vai ser. Os políticos portugueses velam mais pela protecção das suas posições partidárias que pelos interesses do país.

    Mas, voltando aos juros, percebo mal que os técnicos não tenham registado aquilo que até a directora-geral do FMI, Christine Lagarde tem dito e reafirmado. Por exemplo aqui - Lagarde pede cautela nas medidas de austeridade : http://www.ft.com/intl/cms/s/0/dca55090-135a-11e2-bca6-00144feabdc0.html#axzz2HhkHWedm

    Os juros contam e contam demais nas contas que nos esmagam.
    O endividamento da República, das empresas e das famílias foi importado e distribuido sem rei nem roque. E, de repente, pretendem que os endividados regurgitem o que lhes deram a engolir, num ápice.

    Não regurgitam, sobretudo se ao mesmo tempo lhe enfraquecem os abdominais. Se a despesa pública é restringida em fase deprimida do ciclo, é aritmética a dedução que a despesa relativamente ao PIB, por efeito dos juros que se vencem,
    não parará de crescer.

    Que a troica queira ignorar isto, percebe-se mal, mas percebe-se. Que nos queira convencer que os juros não contam ... são contas que eu não sei contar.

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  9. O problema, caro Pinho Cardão, é que se tenha enveradado por um discurso populista e abandonado aquilo a que se chamava "enfrentar a dura realidade". Ninguém acredita que "cortando" a despesa aos níveis que se pretende "floresça" um Estado eficaz, com melhores serviços e com a mesma abrangência. E que brote uma economia dinâmica e equilibrada, como se o tecido sociasl se regeneressasse por milagre.Não se "poupa", priva-se, ao menos em grau apreciável, e é impossível demonstrar o contrário, é aí que se misturam as ditas "ideologias". O que tem que ser tem muita força, é um facto, e provavelmente, como diz nas suas premissas, não há outro caminho. Mas quando tudo se embrulha em "razões", em "justiças" e em "correcções de erros", e em futuros radiosos, perde-se o fio à meada e o resultado está à vista.

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  10. 1) Não há relatórios técnicos. Isso é uma falácia. Há relatórios políticos.

    2) O relatório é mau, porque não é atual, baseia-se em dados ultrapassados, factos errados, análises obtusas, logo inexato. Ou os meus amigos não sabem ler, ou querem fazer os outros de parvos.

    3) Por mim, podem pôr 50 mil professores na rua, 100 ou 120 mil funcionários públicos na rua. A minha pergunta é: e depois? O que vai ser desta gente? É que ela não desaparece, vai «continuar por aí».

    4) Ou a intenção é convidar os mais velhos a sair, cortando assim, para o futuro, nos salários mais baixos?

    5) Como empresário, pequeno empresário, eu tenho a dizer: este relatório é uma trampa. Isto não salva o país, nem a economia, afunda ambos, ainda mais do que já está.

    6) Antes de mexerem nos FP, comecem pelo setor empresarial do Estado, aquele que enterra o país, não o que «dá lucro».

    7) Por último, este relatório, provavelmente, vai impedir a reforma do Estado como dever ser, porque criou uma tal onda que o governo construiu uma TSU II.

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  11. O Problema é a Ideologia! é liberal? talvez. É legitima? foi a eleições ou não apelidavam o Passos de liberal! ele próprio afirmava da necessidade de um choque liberal.

    Alguns não estão de acordo. Ok mas temos de esperar pelas próximas eleições.

    Eu estou de acordo com a metodologia do Relatório e discussão. Afinal o que queríamos? o posso, quer e mando!!!????

    Estamos cansados de tanta polémica, politiquice, etc. Fico com a ideia que as pessoas têm pouco que fazer.... ideia ou certeza!!

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  12. Caro Pinho Cardão,

    Não existem orçamentos equilibrados em lado nenhum, porque é que deveriam existir em Portugal , numa recessão ?

    Numa recessão a taxa de poupança do sector privado aumenta , o que reduz a receita fiscal.

    Se o governo e o FMI não tentassem ignorar o que é macroeconomia elementar não vinham com tantas propostas sem pés nem cabeça.

    Nos anos 80 o FMI ainda tinha gente que sabia de economia, hoje parece que sabem pouquinho.

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  13. Ó Agitador, (1) vai aprender a ler e (2) a estruturar um pensamento.

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