segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

FMI está (quase) isolado na preocupação com o excesso fiscal? Como foi possível?

1. No relatório “Article IV Consultation and Sith Review...”, divulgado na última 6ª Feira, o FMI alerta, muito justamente na minha opinião, para o nível excessivo que a carga fiscal passou a apresentar em Portugal com o OE para 2013.
2. No parágrafo 22 desse relatório, o Fundo lembra que o desproporcionado recurso ao aumento da receita fiscal no esforço de ajustamento em 2013 (cerca de 80%), torna imperativo procurar uma melhor combinação de medidas do lado da receita e da despesa na continuação do programa.
3. E, no parágrafo 23, salienta que representando as despesas com salários e com prestações sociais (pensões + outras prestações) cerca de 2/3 da despesa total, será incontornável, caso se pretenda reduzir a despesa pública de forma permanente, contemplar esses capítulos.
4. No mesmo parágrafo 23 e referindo-se mais especificamente à matéria da fiscalidade, é salientado que o rácio entre a receita fiscal e o PIB podia considerar-se até 2012 mais ou menos adequado ao nível de desenvolvimento económico do País mas que, com o agravamento que se vai verificar em 2013, esse rácio passa a ser excessivo, pelo que quaisquer medidas que impliquem novo agravamento não serão recomendáveis...
5. Esta posição e preocupação do FMI, com as quais concordo plenamente, contrastam com a rápida mudança que entre nós se verificou ao nível dos “opinion-makers”, em geral, que há cerca de 2 meses, ou menos, se mostravam muito indignados e se ergueram num imenso coro de protestos contra o agravamento dos impostos, clamando que o Governo se tinha esquecido da redução da despesa...
6. ...mas que, subitamente, após a divulgação do mais que famoso relatório técnico do FMI contendo recomendações (menu de opções) para a redução permanente da despesa pública, esqueceram os impostos e passaram a ter como exclusivo alvo das suas ferozes críticas as ditas recomendações para a redução da despesa que, segundo alguns, até atentam contra a soberania nacional...
7. E assim encontramo-nos na caricata situação de o FMI aparecer hoje quase isolado quando expressa a sua mais do que justificada preocupação com a excessiva da carga fiscal em Portugal...
8. Como foi possível o escol dos nossos “opinion-makers” ter mudado a sua posição em 180 graus, esquecendo a indignação contra os impostos e a insuficiente redução da despesa...para passar agora a manifestar-se ferozmente contra a redução da despesa, é não só um bom tema para reflexão, mas também motivo de grande cepticismo quanto ao futuro desempenho da economia...
9. Como é que o “País” virou assim do avesso em tão pouco tempo?

8 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira,

    Bastam alguns pontos concretos para se perceber que tudo o que o FMI propõe será classificado pelo presidente da república como inconstitucional, trará Manuela FL à televisão apelar à queda do governo, fará outras personalidades subtidais do PSD por a cabeça de fora para lutarem contra tais iniquidades e ataques à soberania nacional. Como é que o FMI aparece agora a falar sozinho? Pelas mesmas razões.

    Na realidade, ao menu de opções do FMI continua a faltar a opção mais provável, a de "Quit!" porque a boa parte do país já percebeu que não vale a pena andar a sacrificar-se para que os mesmos de sempre não sejam afectados e que, como sempre, vão retocar a maquilhagem quando aparece a conta.

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  2. Lá está, o FMI considera a situação em 2012 como razoável, ou seja um deficit real de 6,5% é razoável, tal como acontece na Irlanda e Espanha, sem falar na Grécia.

    A asneira é a tentativa da Troika / Governo em reduzir o deficit de 6% para 4,5% através de um aumento colossal de impostos.

    Esta asneira teve já como efeito reduzir ainda mais o consumo e o investimento, que terá como efeito um aumento do desemprego e redução da receita fiscal.



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  3. A "esquerda" antigamente era "contra a burguesia"... Entretanto os tempos mudaram e a dita esquerda (e todo aquele núcleo central, generoso, e bem intencionado "socialmente"...) aburguesou-se, trabalha para o estado (ou anda à volta dele), tem pretensões, mas tudo isso desde que não lhes toquem no "pacote"...
    Os pobres, os que precisam, os que padecem da iniquidade do "sistema" (como também alerta o FMI), são os esquecidos, os invisíveis, os do salário mínimo e das reformas miseráveis... Esses não fazem greve nem reclamam. Talvez apenas o FMI os veja... Qualquer solução que não passe por manter os direitos "adquiridos" (pelos que estão melhor no meio da "desgraça"), não dá, não serve, é inaceitável; põe a soberania em risco...

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  4. Os pobres são cada vez mais dado o colossal aumento do desemprego e do numero de desempregados sem qualquer subsidio de desemprego , que é mais de 50% deles.

    A receita actual Troika / Governo aumenta a pobreza de forma inaceitável numa sociedade moderna.

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  5. Mas qual FMI?

    A «coisa» fala a tantas vozes que é difícil perceber o que quer que seja.

    Quanto ao famoso relatório, toda a gente sabe que foi ditado pelo Moedas, Rosalino e cia.

    Além do mais, está demonstrado por A + B que muitos dos dados que contém estão ultrapassados ou são mentirosos.

    Ora, quem colabora na mentira mentiroso é... já dizia o meu avô.

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  6. Caro Tonibler,

    Estou quase a chegar ao ponto de, com todo o fair-play, lhe sugerir que no final dos seus Posts passe a acrescentar, na senda do famoso Catão, senador romano, a expressão "Delenda est Bethleem"..."Belém deve ser destruido"!
    Mas o seu 2º parágrafo encerra uma dura dose de realismo, cumpre-me reconhecer, ou não se chamasse o Snr. Tonibler!

    Caro Paulo Pereira,

    Tenho de lhe rogar o favor de não se precipitar nas suas sempre doutas conclusões...o que o FMI considera razoável não é uma situação (obscura expressão, de conteudo indefenível) mas sim e apenas o nível da carga fiscal quando tido em conta o grau de desenvolvimento económico do País...
    E em 2013 já essa consideração se altera, para passar a ser menos razoável...
    Concluindo com uma recomendação de não agravamento da carga fiscal, em especial a que incide sobre o rendimento.
    Consequentemente, não está em discussão o nível do défice, nem nominal nem real (o que é?) que o ilustre Comentador vem questionar não sei a que propósito (lá terá as suas razões, mas eu não consigo enxerga-las)...

    Caro Luis M Ferreira,

    O seu 2º parágrafo encerra algumas verdades insofismáveis, para as quais o prório FMI chama atenção, no seu relatório de recomendações para a reforma da despesa pública, e talvez por isso seja tão vilipendiado...
    A Federação dos SMO tem um imenso poder, não tenhamos dúvidas...

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  7. CaroTavares Moreira, que assim fique subentendido, cada comentário meu termine com destruam Belém!

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  8. Ok, Tonibler, assim fica entendido, a interpretação dos seus comentários ficará facilitada!
    Mas fique tranquilo, que o PR não vai destituir governo nenhum!

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