A poderosa história de Os
Miseráveis está aí em nova versão fílmica: um retrato da tremenda miséria
humana, da lei injusta e atroz, da justiça cruel, dos trabalhos forçados, da
desumanidade indigna. Calhou ter acabado de ler ainda há bem pouco outro livro
notável, Os Pilares da Terra, romance histórico cuja acção é
passada no século XII inglês. Também um tremendo retrato da sociedade e da
opressão. De gente sem direitos à mercê de quem se arrogava tê-los por inteiro.
O homem lobo do homem, em toda a sua rudeza e bestialidade.
Mas, num caso e noutro, também a revelação da
generosidade, do combate pela liberdade, da compaixão pelo semelhante.
Dura e trágica foi a vida das classes pobres
através dos tempos. Sujeitas à fome, à incompreensão, desprotegidas face à
prepotência e até às própria leis que as penalizava, indefesas às calamidades,
à fome e à doença, pese, nas sociedades ocidentais, alguma guarida dos
conventos, ou nas misericórdias portuguesas, ou na assistência familiar, ou na
caridade de uns poucos, que iam mitigando dores, mas abrangiam uma ínfima parte
dos necessitados. Gente, pessoas como nós, cuja vida era tortura e a morte era
alívio. Até que a protecção social tenha começado a ser uma das preocupações do
Estado.
A entrada da
protecção social nas funções do Estado foi uma das grandes conquistas da
civilização e tudo deve ser feito para que dure e perdure. E só pode perdurar
se o Estado Social for sustentável. O que quer dizer que tem que escolher
prioridades. Querer ir a tudo e tudo abranger é o caminho da derrocada. E a via
mais rápida de provocar novos miseráveis.
Os Miseráveis, um
livro que li em miúdo, que me emocionou e que procuro recordar em todos os
filmes ou musicais que posso. Uma obra monumental do espírito humano.
Fazer uma análise adequada de 'Os Miseráveis' é impossível neste espaço, pela dimensão e potencialidades da obra.
ResponderEliminarNote-se, contudo, a semelhança entre o sujeito que é condenado às galés por ter roubado um pão e a arraia-miúda que tem de ir a tribunal, hoje, por furtos semelhantes. Enquanto isso, os ladrões da banca e da política andam por aí soltos como passarinhos (exceto o Oliveira).
Depois alguém que reflita sobre a brutal descrição da cloaca parisiense e que a compare, metaforicamente como o Vitor, o Hugo, assim pretendeu, com a nossa enorme cloaca que vegeta, essencialmente, na capital deste reino fedorento.
Completamente de acordo, caro Drº Pinho Cardão.
ResponderEliminarSem dúvida, caro Pinho Cardão, a sustentabilidade do que nos proporciona uma vida de algum bem estar e tranquilidade social é obrigação de todos os que nos governam. Por isso mesmo é indispensável saber em que medida é que o "nosso" estado social contribuiu e contribui para a derrocada financeira com que nos debatemos, por mim duvido muito que tenha sido a causa, embora umas das consequências tenha provavelmente que ser o enfraquecimento das prestações sociais que deviam ser asseguradas.Acontece que não há mais onde ir buscar, ou não há onde seja tão rápido ir buscar, mas que isso não significa que seja essa a origem dos males que nos afligem, acho que não é.
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