1. Achei particularmente curiosa a forma como um porta-voz da CT/RTP qualificou uma entrevista do Presidente do CA da dita empresa, na qual não afastou, embora não admitindo expressamente, a possibilidade de utilização do dispositivo legal do despedimento colectivo no âmbito da anunciada reestruturação da mesma empresa: “terrorismo empresarial”, foi a expressão utilizada.
2. Não se esperaria, como é óbvio, um aplauso da CT em relação a um projecto que pretende reduzir os encargos de funcionamento da empresa, uma heresia dessas seria indesculpável...mas o estilo da reacção define uma filosofia que há muito se instalou no sector público empresarial e que exclui a legitiidade de medidas de reestruturação que colidam com direitos económicos instalados, pois estes constituem conquistas irreversíveis...
3. ...e se a empresa não puder pagar os encargos correntes da exploração mais os investimentos necessários para manter a actividade/prestação do serviço, isso não nos diz respeito, estão aí os contribuintes, que pagarão sempre o que for preciso para que os direitos permaneçam intocáveis...
4. Mas notemos que na dialética que suporta essa filosofia isto até faz sentido: se considerarmos obrigação do Estado, enquanto titular da empresa, assegurar que esta cumpra as suas obrigações, então o Estado terá de mobilizar, independentemente do respectivo custo, os recursos necessários para esse fim quando os da empresa estiverem esgotados...por isso também a oposição visceral a qq ideia de privatização...
5. E é assim que esta boa gente considera absolutamente normal e legítimo que os nossos impostos continuem a pagar os défices de exploração da RTP e de outras empresas, sem se preocuparem em saber se o custo do serviço que prestam é justificado pela utilidade social do mesmo (já nem digo se é desejado pelo mercado, para não me "pegarem fogo")...
6. ...pois a utilidade social é também um dado axiomático: ninguém tem o direito de a questionar (só produzimos o que é socialmente útil, por definição) pelo que o pagamento forçado por terceiros desconhecidos, que "beneficiam", ainda que contra vontade, de tal serviço, também é inquestionável...
7. E não vai ser fácil erradicar este estado de coisas, que fazem parte deste magnífico e querido Estado que tanto nos conforta e com tanta devoção pagamos - qualquer tentativa de modificação séria será considerada “terrorismo empresarial” e justificará greves por tempo indeterminado e outras formas de luta...
8. É claro que nas empresas do sector privado a situação é inteiramente diferente, pois se trata de uma segunda divisão da economia portuguesa, que trabalha para o mercado e está sujeita à concorrência (há excepções, é certo)...se os seus produtos/serviços não tiverem procura, paciência...
9. Só mesmo a falta de dinheiro poderia alterar este "status quo" se os nossos impostos não fossem tão elásticos como infelizmente se comprova que são...
Faltou, caro Tavares Moreira, referir que a falta de procura da empresa privada se deve exclusivamente à má gestão de vigaristas que usavam o lucro para fugir aos impostos.
ResponderEliminarClaro, Tonibler, claro, considerei esse ponto uma componente tão trivial do problema - quase um axioma, também - que até nem me preocupei em explicita-lo.
ResponderEliminarMas fez bem em lembrar, nestas coisas não há nada como por os pontos nos ii..., como dizia o "poeta"!
Tem faltado coragem para, com racionalidade e frontalidade, desmantelar toda essa retórica esteriotipada. Quem cala consente.
ResponderEliminarÉ preciso mudar, sem medo, olhos nos olhos, públicamente, dizer o que deve ser dito a quem deve ser dito. Só assim é possível mudar.
Caro António Barreto,
ResponderEliminarNão posso deixar de lhe dar razão, embora não devamos esquecer que o dia tem 24 horas e, para quem tem a responsabilidade política de acudir a quase tudo ao mesmo tempo, num País desorganizado e numa economia devastada pela incompetência, ter ainda disponibilidade para fazer essa pedagogia, é capaz de ser pedir muito...
Esta retórica
estereotipada, como bem a caracteriza, aproveita-se da ignorância da generalidade dos cidadãos para deles abusar até ao limite do absurdo...
E, depois de lhes "irem ao bolso" de uma forma despudorada, ainda têm a ousadia de impor aos mesmos cidadãos sacrifícios incontáveis, com as greves selvagens que a que quase diariamente estamos assistindo!
É um País verdadeiramente virado do avesso...
Mas como explicar que em 19 meses nada de relevante tenha sido feito para acabar com o desperdicio de 250 milhões de euros por ano na RTP ?
ResponderEliminarComo se admite que a RTP continue a receber além da taxa do audiovisual e da publicidade , subsidios adicionais ?
Pois, boas perguntas, para a RTP e para a administração pública toda.
ResponderEliminarComo é que se admite que os custos de pessoal no estado não tenham já caído para metade, depois de 19 meses? Se a culpa é do presidente da república então que seja dito com clareza.
Caro Paulo Pereira,
ResponderEliminarAbsolutamente de acordo com a sua observação! E se acrescentar uma dezena de anos, pelo menos, em cima desses 19 meses, estarei ainda mais de acordo!
A RTP é um deplorável exemplo de consumo excessivo de recursos. Embora reconhecendo algum esforço por parte das últimas gerências no sentido de diminuir a dimensão dos desequilíbrios e dos excessos a que se habituaram, a verdade é que muito ficou por fazer, esperemos que a anunciada reestruturação produza um resultado que se veja, acabando com os extras das indemnizações compensatórias, a taxa do audio-visual deveria ser mais do que suficiente...
Mas não estou absolutamente certo de que assim venha a ser...