A Revista Economia e Segurança Social, dirigida pela nossa 4republicana Margarida, promove umas interessantissimas “Conversas sobre Respostas Sociais” que juntam um largo grupo de pessoas, curiosas ou sabedoras, num dos auditórios da Gulbenkian.
A 4ª conversa foi hoje, com o tema "LONGEVIDADE E SAÚDE" dedicada às questões de como envelhecer com saúde e a importância do envelhecimento activo para contribuir para uma longa vida saudável. Os 3 oradores (Amália Botelho, Prof. da Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa, Miguel Gouveia, Professor da Catolica Lisbon School of Business and Economics e João Lobo Antunes, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa) dividiram-se entre aspectos económicos, riscos e respostas do sistema de saúde e questões éticas, com destaque especial para a tão polémica questão do “racionamento”.
O certo é que se passou o tempo quase sem dar por isso e mais tempo ficaríamos a ouvir e perguntar, tal foi o ritmo e interesse do debate.
É muito interessante tomarmos consciência de que se prepara a velhice como se devem preparar outras fases da vida, se a queremos viver nas melhores condições possíveis, não só de saúde física mas sobretude de saúde mental ou seja, com plena capacidade de fruir o tempo de vida que nos foi dado viver.
A este propósito, não posso deixar de apresentar o meu ponto de vista e, já agora, o que considero um inexplicável silêncio neste (novo) campo do saber. É que há milhares de teorias, seminários, livros e colóquios que nos ensinam a tratar das crianças, a lidar com os filhos, com a sua psicologia e evolução, que nos preparam para os problemas com o objectivo de sermos bons pais e, por esse caminho, termos uns filhos saudáveis de corpo e de espírito. Pois bem. Não há quem nos ensine a cuidar de uma pessoa velha, não há quem nos guie para lhes entender a maneira de reagir, as mutações psicológicas, nem sequer coisas tão simples como os convencer (ou desistir) de tomar os remédios, de se alimentar como lhes convém mais (ou não?), como teimar ou como respeitar, enfim, mil pequenas coisas que nos criam problemas, dúvidas de consciência tantas vezes e outras tantas nos merecem remoques, ressentimentos e até alguns gestos cruéis por parte daqueles a quem tanto queremos.
É difícil ser filho adulto de um pai ou mãe idosos, entre os registos da memória e os inúmeros clichés que dão como certos pressupostos que logo vemos invertidos, simplesmente porque o cuidador passa a ser o cuidado, instala-se a confusão e o que parecia um simpes gesto de amor pode tornar-se numa guerra surda e numa sucessão de desaires. Faz-me falta saber mais, deve haver teorias e teses e estudos, mas onde estão? O meu pai ficava zangado quando lhe perguntávamos se estava melhor, ou se falávamos da doença ou das dificuldades, dizia “não tens mais nada sobre o que falar? Estou melhor, e estou farto de que me falem só em doenças, farto de doenças estou eu”. Outro exemplo é que há pessoas de idade que precisam que os oiçam, já não se interessam pelo que os outros vivem, ou pelo que acontece, gostam de falar das suas memórias, de as repetir uma e outra e outra vez, e isso lhes basta, enquanto há outros que querem que lhes preencham as horas, lhes tragam novidades que depois ficam a saborear, nas horas de solidão, ou a contar ao telefone a quem quer que se lembre de lhes falar. Mil exemplos me ocorrem,e todos temos as mesmas dúvidas, há dias uma amiga, a quem contava uma peripécia com a minha ãe, respondeu-me a troçar “já exerceste a tua tiraniazinha sobre ela?”fiquei chocada, mas depois reflecti nisso e o facto é que o nosso impulso de impor, de resolver as coisas à nossa maneira, pode muito bem ser visto assim, como uma tirania, ou seja, a desconsideração da vontade do outro.
Enfim, um mundo novo que os nossos velhotes nos abrem, uma prova à nossa capacidade de adaptação a eles, ou a deles a nós, um equilíbrio delicado e exigente sobre o qual muito pouco nos dizem. Mas que faz muita falta, isso faz.
Obrigada à Margarida e à sua Revista pela excelente inciativa dos Ciclos de Conversas, e muitos parabéns pelo previsível e confirmado sucesso.
fiz há dias 82 anos. por vários erros médicos e debilidade física estive para morrer em todas as décadas.
ResponderEliminarfiz quanto pude para minimizar os factores ambientais. 16 h diárias de trabalho e vida espartana. andar a pé ou de bicicleta. a partir dos 30: sopa de hortaliça; salada; fruta; peixe e carne cozida, grelhada ou assada; azeite, iogurte de soja.
escrevo e publico livros; tenho um blogue de arte; conduzo a minha 'metáfora'; cozinho.
«...um equilíbrio delicado e exigente sobre o qual muito...»
ResponderEliminarRetive este pequeno trecho porque é sobre o equilíbrio que todos e cada um, necessitamos encontrar nas relações que estabelecemos com todos, quer sejam familiares ou não, que mais tenho reflectido.
Tudo faz parte de tudo, e tudo influência tudo. E o equilibrio em tudo, é o "elemento" fundamental, que nos permite manter emocionalmente bem, e proporcionar conforto aos nossos idosos.
Trata-se no mínimo, de lhes retribuirmos os cuidados que tiveram conosco enquanto crianças, durante a adolescência e já na idade adulta.
O nosso desalento e aquilo que consideramos falta de paciência para escutarmos repetidamente as suas memórias, advem da consciência que temos do términus de uma existÊncia que nos é cara e pela qual sentimos possuir uma dívida de gratidão, que não tem preço, portanto, impossível de saldar.
Parabéns à nossa Amiga, Drª Margarida.
Este tema merece que se lhe dedique toda a atenção possível, para que os conhecimentos e experiências de uns, possam ser difundidos e venham a ser de grande utilidade para quem cuida e para quem é cuidado.
Quero deixar também uma palavra de amizade e de apreço ao nosso amigo Floribundus, não só pelas metas que ultrapassou, mas pela forma como se sabe manter activo e pelo prazer que sabe retirar das suas actividades.
ResponderEliminarE ainda pela sapiência que demonstra possuir, ao mencionar(-se) metáfora de si próprio.
Parabéns, jóvem Floribundus!
Ontem foi, de facto, muito bom. Parabéns à Revista, à sua Directora e à Ordem.
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarObrigada pela referência ao Ciclo de Conversas sobre Respostas Sociais, em particular a que decorreu ontem sobre Longevidade e Saúde. O que faz destas Conversas momentos de aprendizagem, conversa, reflexão e sensibilização são muito especialmente os participantes. Obrigada Suzana por acompanhar o Ciclo.
Também gostei da Conversa de ontem, despertaram-me a atenção todas as intervenções e aprendi bastante. Reforcei a convicção de que estamos pouco sensibilizados para o tema, sabemos pouco, estamos mal informados, temos muito para fazer. A longevidade coloca novos problemas e novos riscos e reclama, por isso mesmo, novos comportamentos e respostas. Temos que nos adaptar à nova realidade, o que implica novas atitudes a todos os níveis. Penso que não estamos, enquanto colectivo, preparados para lidar com a nova realidade. O que é importante é que à boa notícia de que vamos viver mais tempo corresponda uma vida digna e com qualidade. O grande desafio é que se previnam as desigualdades de acesso a este bem-estar. A longevidade deve ser para todos.
Caro Floribundus
ResponderEliminarParabéns pela sua longevidade, já nos tínhamos apercebido da sua vitalidade. É um excelente exemplo de envelhecimento activo e saudável. O Caro Floribundus mantém-se jovem, é o mais importante. Faz inveja a muita gente nova!
Caro Bartolomeu
O mundo seria diferente se os seus sentimentos pelos mais velhos fossem partilhados por todos. Mas a realidade não é essa. Mas a verdade, também, é que muitos querem ajudar e acarinhar os seus mais velhos e não podem, não sabem, não têm condições para, estão distantes. Como nos podemos organizar para que não seja assim? As gerações mais novas devem preocupar-se com a longevidade, em breve deixarão de o ser. Obrigada pelas suas simpáticas palavras, é muito bem- vindo às Conversas.
Caro Tonibler
Ainda bem que gostou, é sempre bem-vindo. Temos que nos esforçar para que as próximas Conversas continuem a ser do seu agrado.
Não tenho dúvida de que continuarão a ser excelentes, Margarida!
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarAcabei de prestar apoio à minha mãe durante 1 mês e deparei-me com tanta situação nova que tentava resolver da melhor maneira, mas nem sempre conseguindo, que me levou a pensar que todos devíamos ter uma cadeira de gerontologia no liceu ou faculdade, uma vez que todos temos pais e seremos velhos também. Também eu pratiquei a "tiraniazinha do dia", vi aborrecimento da mãe e senti o seu olhar de desalento, a sensação de fim de vida e não soube reverter/apaziguar nada! talvez porque se vá pensando que um dia também seremos assim e a falta de paciência se apodere de nós, como antídoto ao inevitável. Enfim, vidas!...