terça-feira, 23 de abril de 2013

Requiem pela Austeridade?...

1. Tivemos ontem um considerável naipe de notícias, de fontes insuspeitas, que nos dão conta de uma rápida mudança de percepção em relação à política económica dominante na zona Euro, ao longo dos últimos 3 anos, à qual foi dado, para o bem e para o mal, o nome de Austeridade.
2. Tomei a liberdade de seleccionar as seguintes fontes, das várias que encontrei:

- Declaração do Presidente da Comissão Europeia

- Declaração de Bill Groos, gestor do PIMCO, maior fundo de investimento em obrigações, à escala mundial

- Edição do F. Times de 22 do corrente

3. O Presidente da CE, sempre atento ao desenrolar dos acontecimentos, emitiu uma curiosa confissão, dizendo que “a política de austeridade atingiu o limite”, acrescentando ainda que “a Europa não soube, colectivamente, explicar aos cidadãos o que estava em jogo na resposta à crise” - esta última expressão equivalendo a uma velada confissão de culpa, pois ninguém mais do que o Presidente da CE teria, supostamente, obrigação de se aperceber (a tempo) dessa omissão explicativa/colectiva...
4. Bill Gross foi bem mais duro, lançando o que a imprensa rotulou de “contundente” ataque aos esforços que o UK e a zona Euro estão prosseguindo para reduzir os défices públicos através de medidas de austeridade, afirmando “Tem de se gastar dinheiro para haver crescimento económico”...(percebo bem a sua preocupação, não deve ser nada agradável gerir fundos de obrigações neste ambiente de deserto de yields...)...
5. Na edição do F. Times de ontem encontrei uma notícia, desenvolvida, com o seguinte título (pág.4) “Eurozone anti-austerity camp in the ascendance”, onde é referido, entre outros episódios, o abalo nas hostes da Austeridade resultante do infausto estudo de Rogoff e Reinhart e acrescentado que a própria Alemanha estará agora mais receptiva a flexibilizar os objectivos de défices orçamentais para 2013...
6. Ao mesmo tempo que estas notícias vão surgindo, os mercados vão denotando uma tranquilidade olímpica, inclusivamente o mercado da dívida pública portuguesa: a taxa de juro implícita na cotação da dívida a 10 anos (yield) caiu ontem abaixo de 6%, registando o valor mais baixo desde 24 de Janeiro, e hoje volta a cair, para um nível já inferior a 5,8%, tocando níveis não vistos desde Outubro de 2010 (8 meses antes do fim do delírium socrático)...
7. Decididamente, os tempos já não estão de feição para a Austeridade, que certamente irá tirar umas férias prolongadas enquanto os mercados estiverem dispostos a aceitar o novo status quo (em boa parte graças à intervenção dos mais influentes bancos centrais, mais recentemente do Bank of Japan como já aqui referi)...
8. Resta esclarecer, no nosso caso, alguns pequenos detalhes, antes de a Austeridade poder "meter férias", a saber: (i) como se vai fechar o assunto da 7ª Revisão do PAEF – ainda em aberto, como se sabe; (ii) como se vai ultrapassar a “vexata questio” da Reforma da Despesa Pública, prometida à “Troika” e (até há pouco) condição de sucesso do PAEF; e (iii) como irão ser conduzidas as 5 avaliações (pelo menos), além da 7ª, que ainda faltam até conclusão do PAEF, pois apesar desta mudança de discurso e de opinião de alguns responsáveis, a verdade é que continuaremos a necessitar dos fundos da celerada “Troika”...
9. Detalhes esses que os habituais comentadores de serviço aos "media" certamente resolverão numa pebnada, sem dificuldade, invocando que os tempos mudaram, Austeridade "jamais"....

16 comentários:

  1. Anónimo13:26

    Caro Tavares Moreira, as notícias que nos trás não são mais do que a oportunidade para o ADN Lusitano poder sair do espartilho onde foi enfiado (e muito bem) a reboque das circunstâncias. Podem voltar os gastos à doida e os olhos de rico em carteira de pobre. Para a cultura Portuguesa dos tempos actuais um ambiente de poupança, trabalho de formiguinha, acautelar o futuro não servem.

    Uma das coisas que sempre me fez imensa confusão na situação Portuguesa foi a curiosa ideia de que o objectivo era alcançar 3% de deficit orçamental que, parece-me, posteriormente foi revisto para 0,5%. A mim esta história não me faz qualquer sentido e de onde vejo a coisa o objectivo deveria ser, sim, ter superavit orçamental. Mas não, o ADN Português não serve para essas coisas.

    É o que há. Um dos erros da moeda única foi supôr que todos os países tinham a mesma abordagem ao dinheiro e às finanças públicas. A realidade é distinta e como sempre sucede prevalece sobre quaisquer boas intenções que alguém possa ter. Há paises que só sabem viver num ambiente de inflacção e desvalorização. Portugal parece-me ser um deles...

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  2. Anónimo14:57

    Esta nova onda vem mesmo a calhar. Temos eleições à vista.

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  3. Vi hoje ao almoço, em rodapé nas tv, temos que, numeros oficiais:

    em 2012 -> Divida a 126% PIB
    -> Deficit em 6,4.

    (isto com os imopstos e cortes nos subsidios, etc etc etc)

    Isto não é mais que apenas e só o resultado das aqui tão louvadas politicas "Au-Histericas".


    Entretanto, sauda-se agora a aparente inversão de politicas. É caso para dizer : já não era sem tempo. Melhora tarde que nunca.

    Finalizando, apenas me é dificil entender esta tão imediata "aderencia" ás politicas que agora se apontam, quando nos ultimos anos, bastaria passar por aqui:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/


    para concluir o que hoje se louva (com 2 anos de atraso no minimo)

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  4. Ah, o regresso do estado, esse motor da economia... Alguém percebeu entretanto porque é que faliu? O Krugman explica?

    E ainda refila o caro Pinho Cardão com os swaps. Este pessoal nem a nota de 10 euros que tem na mão percebe, quanto mais os swaps...

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  5. Caro Tonibler,
    é provavel que o pessoal não perceba a nota de 10 euros que tem na mão...

    ...mas em contas de mercearia, dá para imaginar quanto é que 3000 milhoes de Swaps dariam em "bifes todos os dias"!

    Ainda assim, parece-me que o Krugman não explica o que é uma nota de 10 Euros. Lendo-o, apenas se percebe que ele explica há 2 anos pelo menos....aquilo que Tavares Moreira descreve no post de hoje.

    Basicamente são 2 anos perdidos, num caminho errado...digamos que 2 anos "au-histericos" que nos afundaram ainda mais.

    E isto, caro Tonibler, não necessita de explicações profundas sobre teorias economissistas ou produtos de alto-risco. Isto é algo cada vez mais obvio e impossivel de não ver!

    (eu não sei explicar como é que um submarino é feito, e como funciona...mas se o vir continuamente a descer...mesmo sem perceber porque, tenho a certeza que vai memo bater no fundo do mar! chame-lhe intuição, instinto e apenas senso comum...mas lá que vai bater no fundo, lá isso vai!)

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  6. Caro Tavares Moreira,

    Parece que uma parte dos ex-austeristas percebeu que a receita fiscal desce com a austeridade (esta malta é um bocadinho lenta pelos vistos ) e a despesa fiscal aumenta com os subsidios de desemprego e outros subsidios á pobreza.

    E parece que afinal os mercados estão mais preocupados com a balança externa do que com a interna.

    aqui estaria uma excelente oportunidade para relançar o tal choque fiscal de 2002.

    quanto ao PAEF deve ter o mesmo caminho que o da irlanda ou o da espanha ou o da grecia.

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  7. Caro Pedro,

    Nao queira ofender ninguém nem era dirigido para si o dos 10 euros. Na realidade era dirigido ao Krugman, que é prova viva que a pretenção da família Nobel para que o nome do seu famoso antepassado não seja usado pelo Banco da Suécia em pantominices anti-cientificas é plenamente justificada. E olhe que já falei com ele pessoalmente e nunca me pareceu tão pouco entendedor do fenómeno económico.

    No resto, acho que Tavares Moreira lhe vai responder sobre ele andar a repetir as coisas do Krugman.

    Se entendeu o meu comentário como ofensivo, peco desculpa.

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  8. Bom, quem gasta o que não tem de algum lado lhe vem.
    A questão é se e quando deixa de vir.
    Mas isso não é coisa que rale o pessoal. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas.
    E, no fim, há uns que estão sempre a levar. Precisamente aqueles que o pessoal diz querer proteger.

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  9. Bem, este tem sido um caminho recheado de sucessos...

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  10. Parece que ganhámos um novo "crescimentista".

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  11. Caro Zuricher,

    Receio bem que esteja carregado de razão neste comentário...
    Recordo-me da "festança" com que foi assinalada, a nível oficial sobretudo, a entrada de Portugal no Euro - no pelotão da frente, dizia-se na altura, com grande vaidade...
    Impressionou-me bastante a inconsistência de tais celebrações, numa altura em que já se tornava bem visível o descarrilamento da economia fruto de uma política profundamente insensata de que ficou celbrizada pela expressão "atirar dinheiro para cima dos problemas"!
    Fartei-me, nessa altura, de escrever e perorar em público, alto e bom som, avisando dos riscos que estavamos a correr...sem qq resultado, pois a inconsistência oficial, fortemente apoiada pelos "media" e pela legião dos "opinion makers" politicamente correctos, cresceu e tornou-se avassaladora, levando tudo à sua frente e atirando o País para o buraco em que hoje se acha mergulhado e de que dificilmente sairá em boas condições...

    Caro Ferreira de Almeida,

    Vamos a ver o que sucede a esta onda...não existe qq garantia de que vá subsistir, há aqui muito fogo fátuo...

    Caro Pedro,

    Não há "aderência" (ficava melhor adesão, se me permite)nenhuma a esta aparente mudança de políticas e muito menos uma saudação, a não ser de tipo filantrópico, que também se pode gastar...
    Quanto ao resto, não deixo de assinalar os lampejos de mente verdadeiramente brilhante dos seus Posts, como já lhe disse, embora me pareça que o ilustre Comentador adopta um estilo letal, de disparo em todas as direcções, não escolhe o alvo, não deixa escapar ninguém...
    Que perigo, que perigo!

    Caro Paulo Pereira,

    Palavras não eram ditas (as do seu comentário) e eis que é divulgada a informação sobre a execução orçamental até Março, revelando uma apreciável subida da receita fiscal (bem sei que fortemente impulsionda pelo IRS, mas suspeito que a receita do IRS tb será de natureza fiscal)...
    E agora, quid juris?

    Caro Pinho Cardão,

    Suspeito que essa viagem do pau vai ser de pouca dura...

    Caro Nuno,

    Tiro completamente fora do alvo, as leituras em diagonal tb dão esse resultado...
    Mas não tem qq problema, não me preocupo nada com o epíteto, aliás sempre tenho aqui demonstrado uma grande simpatia pessoal pelos Crescimentistas, apesar de discordar radicalmente das suas excelentes teses...

    Caro Carlos Monteiro,

    Essas proverbiais bonomia e boa disposição, além do apurado sentido de humor, parecem continuar em boa forma e são sempre bem-vindas!

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  12. Caro Tavares Moreira,

    Se reparar no documento da DGO a receita fiscal anda mais ou menos a par com a despesa fiscal.

    Parece até que temos um multiplicador, o tal do FMI e o JMK, um pouco acima de 1,1.

    Isto da macroeconomia é como o algodão !

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  13. Caro Paulo Pereira,

    Não me diga que a despesa fiscal atingiu, só nestes 3 meses, qualquer coisa como € 8.381 milhões, ou seja o valor da receita fiscal!
    A ser verdade isso é verdadeiramente "aterrador" (não me recordo de um episódio destes), o que se terá passado para que em benefícios fiscais (principal componente dessa despesa) tenha sido atribuída uma verba tão gigantesca?
    Não lhe chamaria algodão apenas, muito mais uma verdadeira implosão fiscal!

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  14. Caro Tavares Moreira,

    expliquei mal sobre as contas do 1ºtrim :

    a) aumento da receitas fiscal é de 5,2 %

    b) o aumento da despesa efectiva é de 5,3%


    Conclusão : a receita acompanha a despesa quase 1:1

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  15. Ok, Paulo Pereira, percebo que queria dizer Despesa efectiva" e saiu-lhe "despesa fiscal". São coisas normais, que acontecem a qualquer um, mas olhe que me pregou um "baita" susto...
    Ainda fui ao boletim da execução orçamental de Março, tentar encontrar alguma informação sobre dese pesa fiscal, mas em vão...perguntei a mim próprio, onde é que o ilustre P.P. foi buscar esta gigantesca despesa fiscal?
    Quanto ao que refere, considero especialmente desfavorável a evolução da depesa efectiva mas, como bem sabe, ela tem a marca inconfundível TC, um "brand" que ainda vai dar muito que falar...

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  16. Caro Tavares Moreira ,

    Mais uma leitura à EO (AC + SS) e veja que o TC não tem nada a ver com o aumento da despesa corrente de 9,2% !

    o que aumenta mais são subsidios, juros e transferencias.

    De qualquer modo , o que eu queria demonstrar é que o aumento da receita fiscal é provocado por um aumento da despesa publica.

    Ou como diria o mestre : Income = Spending

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