Se há coisa que não se esgota neste mundo são os argumentos. Há sempre argumentos para tudo, é sempre possível encontrar uma justificação, mesmo para o injustificável, sobretudo quando é preciso resolver um problema que nos atormenta. Depois, lá virá o tempo em que se perguntará “como foi possível?”, mas nessa altura já desbotaram os argumentos então tão viçosos e sobram apenas as culpas ou as acusações, raramente os remorsos. Entre os inúmeros argumentos que hoje se adiantam para justificar que se reduzam as pensões – impensável, como sabemos, há bem poucos anos – é o de que os que estão hoje a trabalhar e a descontar para pagar as pensões dos já reformados não terão, quando for a sua vez, nada de parecido. Logo, é injusto. Logo, reduz-se. Ou seja, se daqui a 10 ou 15 anos eu não vou poder receber o que a minha mãe recebe hoje, então o melhor é tirar-lhe já o que lhe foi atribuido de acordo com as regras que cumpriu, a ver se chegará também para mim, ao menos assim ficamos as duas iguais e, a essa operação de recolhe, baralha e volta a dar, há quem chame argumento de justiça entre gerações. Entenda-se o raciocínio: se o que tem hoje 100 ficar hoje com 50, o “bolo” tem menos desgaste e dará para equilibrar por todos os vindouros ao sistema. Justiça, chamam a isto. Acontece que também não sabemos se daqui a 15 anos podemos sustentar os belos hospitais que temos hoje, que tratam os velhos até tarde, não, vai ver que ninguém garante isso aos jovens de hoje, então o melhor é começar já a cortar na saúde dos idosos, se gastarem menos talvez sobre para nós. Podemos argumentar nesta linha até ao infinito, dividir e dividir até nos parecer equilibrado com tudo o que queremos garantir para nós próprios daqui a 10 ou 15 anos, tirando já, à cautela aos que hoje sustentamos. Só que, daqui a 15 anos, os que tão lampeiramente fizeram tais raciocínios vão encontrar outros argumentos para lhes estragar os planos, seja porque tiraram aos pais sem que isso lhes tivesse assegurado fosse que pensão fosse, - porque sabe-se lá como o mundo evoluirá neste entretanto – seja porque, oxalá!, foi possível entretanto recuperar fontes de riqueza, inventar, superar e voltar a viver bem. Mas, nessa altura, os velhos a quem se tirou já não estarão cá para se alegrar com tanta abundância, e partilhar dela. Lembrem-se, sobretudo, do velho e sempre renovado argumento: “Filho és, pai serás, assim como fizeres, assim acharás”:
Do melhor!. Está tudo dito, uma verdadeira lição de sabedoria e bom-senso que tanta falta faz. Que pena este texto não ser lido em voz alta ao governo, aos parlamentares, quem sabe alguma "imberbice" que por ali abunda maturasse mais um pouco poupando-nos à vilania que, inexorávelmente, mina as vontades...
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ResponderEliminarRealmente o argumento usado é incorrecto, apesar da decisão ser boa. O argumento a usar devia ser este: vai-se cortar nas reformas existentes porque tambem se corta nas novas reformas. Agora, não daqui a 15 ou 20 anos. Tão simples como isto. Se há direitos adquiridos de quem já se reformou, tambem os há de quem se reforma agora, pois, a existirem, começaram no momento em que se começou a descontar.
ResponderEliminarCara Suzana Toscano,
ResponderEliminarO seu texto lembrou-me um argumento que ouvi vezes sem conta quando entrei no curso. Na altura combati a praxe enquanto prática indigna entre colegas e numa instituição que é a Universidade.
Como justificavam na altura os meus colegas todas as humilhações que cometiam aos recém-chegados?
"Se me fizeram a mim também tenho o direito de fazer aos outros!"
A natureza humana tem destas coisas, os psicólogos devem conhecer estas leis, que como a gravidade nos empurram para o chão sempre que tropeçamos.
Quanto ao problema propriamente dito que o país atravessa houve durante décadas uma má gestão do sistema de pensões. Quem se reformou limitou-se a decidir em função das regras. Mas já diz o ditado que quando a esmola é muita o santo desconfia. Será que enquanto cidadão activos os agora reformados pugnaram por uma solução justa e razoável? Ou, tal como os filhos, simplesmente seguiram o caminho fácil?
Cumprimentos, IMdR
Caro Oscar Maximo,
ResponderEliminarVeja bem como as coisas são!, o seu argumento vem fazer, justamente, jus ao título do post...
Embora não sendo especialista na matéria, permita-me que discorde do seu argumente, começando por lhe dizer que esta “estória” das pensões é demonstrativa da incompetência (para não dizer sacanice) de quem vê os reformados como números…
Uma coisa é fundamentar com os habituais estudos periódicos (o ultimo acho que foi feito em 2005), que a partir de 2015, 2016, 2017…, é preciso reformar o sistema sob pena de se tornar insustentável, sendo que eu prefiro que essa reforma passe pelo aumento das taxas (exclusivamente para aquele fim), do que pelo empobrecimento...
Coisa diversa é pretender reformar o sistema, ainda por cima pelo empobrecimento!, porque sim...
Quando eu me reformar (já me faltam poucos anos), faço contas à vidinha, sei à partida que vou com determinado valor que oscilará, com certeza, por variadas razões alheias à vontade dos governos (como a inflação por exemplo, que tanto atinge uns como outros, pela sua correção ou não etc.) mas nunca porque alguém se lembra de me tirar o que é meu, por direito próprio…
Cps.
Parece-me correctíssima a dedução que apresenta, Srª. Drª Suzana.
ResponderEliminarEsta rapaziada que nos está a governar e a regorgitar estas decisões maradas, deve achar-se criadora do mundo. Ou então, lá nas suas atarracadas cabecinhas, o mundo não existia... apareceu agora, de surpreza, só para eles brincarem aos governantes.
Raisparta esta gentinha maluca que dispõe das vidas dos mais frágeis que ainda para mais, foram os que produziram o que existe, e sem apelo nem agravo, atiram-nos para o monte, como se de lixo se tratasse.
Raisparta!
Como diz a Suzana, argumentos é o que mais existe, para tudo e mais alguma coisa. E, se correm o risco de falhar, uns pós de tecnocracia ajudam a iludir e a convencer quem já de si é tecnocrata.
ResponderEliminarO corte nas reformas de quem já não se encontra em idade de encontrar alternativas e criou justas expectativas quanto ao seu modo de vida é das coisas mais indignas a que vimos assistindo. Envergonham o governo e qualquer cidadão de boa vontade. Sobretudo e quando não foram efectuados os cortes na despesa pública inútil e que há muito urgia fazer. Uma vergonha.
Porque é que não vão dizer isto ao PR e aos juízes do tribunal constitucional?? Não sei se "não há dinheiro" é argumento que chegue para a questão das reformas.
ResponderEliminarPara a questão das reformas DELES e para os subsídios dos funcionários públicos chamavam-lhe ilegal, agora que chegou aos mais fracos foi despromovido para "argumento"? A verdade é que desde que há cerca de ano e meio o PR começou a brincar com isto e o TC a dar festivais de ignorância que a coisa era previsível.
Mas não é dentro do princípio da igualdade EXIGIDO pelo PR e pelo TC em defesa de causa própria? Que "argumentos" dão eles agora?
Caro jotaC,
ResponderEliminar1) Penso que se refere ao Relatório técnico de sustentabilidade da segurança social. Este relatório que o meu amigo pode consultar no link acima termina com o seguinte:
(...) No último triénio assistiu-se a uma significativa deterioração dos equilíbrios do Subsistema Previdencial, passando de uma situação de superávit para uma situação de défice em 2004. O fraco crescimento da economia portuguesa nos últimos anos contribuiu decisivamente para o agravamento da situação financeira (...) o seu sentido global aponta, em qualquer caso, para a necessidade de continuar o processo de reforma da segurança social, em ordem a defender a sua sustentabilidade no longo prazo.
Se o meu amigo tiver a paciência de consultar o valor de crescimento do PIB nacional que serviu de base às projecções de sustentabilidade ficará em estado de choque. Já na altura era evidente que a sustentabilidade era insustentável.
2) Nos últimos anos os ministros da segurança social foram:
Governos Guterres: Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso
Governo Barroso: Bagão Félix
Governo Santana Lopes: Fernando Negrão
Governos Sócrates: Vieira da Silva e Helena André
Governo Passos Coelho: Mota Soares (m.) e Marco António Costa (s.e.)
Suponha o meu amigo que tem de passar uma procuração a uma das pessoas acima para gerirem as suas poupanças. O meu amigo estaria descansado? Eu só num caso de uma Secretária de Estado, que tentou pôr ordem na casa, mas que para nossa desgraça ficou por pouco tempo.
A segurança social é um ministério que por tradição (e salvo raras excepções) é controlado pela máquina partidária (como o demonstra a lista acima). Decerto está ao corrente de algumas pontas do iceberg que entretanto vieram a público (veja por exemplo esta nota de Tavares Moreira.). Eu pergunto: o que se passará e passou e que nós não sabemos?...
3) Finalmente permita-me sugerir ao meu amigo o notável serviço público prestada por Margarida de Aguiar nos "Olhos nos olhos": Programa 1, infelizmente o link do Programa 2 não está acessível.
Caro Pinho Cardão,
Compreendo que hoje esteja mais ansioso. Vamos juntos torcer pelo mesmo resultado ;)
No entanto queria perceber o seguinte. O rendimento líquido dos reformados é sustentável ou não na situação actual de emergência? Devem ou não os reformados ser chamados a contribuir para uma reforma sustentável do País?
O meu ponto é apenas este -- porque estamos de acordo que há muita gordura inútil no estado que não foi atacada e eu adicionaria que bastantes oportunidades de criar riqueza sustentável que não foram exploradas.
Cumprimentos, IMdR
Caro Jotac, deve haver inúmeros argumentos a conflituar em cima da mesa de quem tem que decidir, mas é bom irmos lembrando que alguns são bem mais graves que outros.
ResponderEliminarCaro Óscar Máximo, as reformas antigas tªem tido exatamente o mesmo tratamento das mais "novas",o que agora está em causa é uma alteração diferente a coberto da tal "justiça".
Caro Ilustre mandatário, quando trabalhei no Ministériod a Educação, no início da década de 90, ainda havia muitos pais por esse país fora que não deixavam os filhos adolescentes irem à escola, mandavam-nos trabalhar no campo, ou ser pastores e um dos argumentos que mais ouviam os que iam tentar convencê-los era precisamente "eu também comecei a trabalhar com aidade do rapaz," por isso é como digo, há sempre argumentos mas uns não podem ser aceites de maneira nenhuma, seja para o svelhos seja para osnovos, procurando pseudo equilíbrios que são puras prepotências.
Caro Tonibler, parece-me extraordinária essa fixação no Pr e no TC, e se tivesse havido corte nos subsídios, não haveria tema das pensões? A sério?
Caro Mandatário, os reformados pagam impostos como toda a gente, a questão é saber se devem ter uma contribuição disfarçada de "reforma estrutural" cujo fundamento é, a meu ver, inaceitável. Mesmo quando há guerras e emergências os velhos e as crianças costumam ser especialmente protegidos, pelo menos tanto quanto possível.
Cara Suzana, se o ministro das finanças me der essa desculpa eu aceito. Aliás, entre achar que o PM quer perder as eleições e que é um perverso sádico que procura a miséria dos velhinhos ou que foi forçado pelo estado, leia-se orgãos hierarquicamente superiores, a chegar a este ponto, não me parece haver grandes dúvidas.
ResponderEliminarNunca uma acção de um governo foi tão castigada por um PR como o deste, o PR que tem a assinatura dele em TODOS os pormenores da falência do estado, um governo que anda há 2 anos a mexer-se para todos os lados sem poder e, no dia em que se mexe para cima, é culpa dele porque se mexe para cima, desculpe lá mas não faz sentido nenhum.
Argumentos há sempre. Mas nem todos com a mesma validade. A verdade é que os reformados de hoje descontaram bem menos do que estarão a usufruir. No sistema socialista em que não há capitalização mas sustentação dos reformados de um determinado momento com os contribuintes desse mesmo momento (é o sistema solidário), foi possível descontar pouco ontem para os poucos reformados de ontem. Hoje o problema está criado (os reformados de hoje são demasiados face aos contribuintes de hoje) e amanhã nem falar...
ResponderEliminarÉ um perfeito esquema de Ponzzi.
Que cairá sobre os últimos.
Esta opção, sendo difícil, poderá ser apenas um atenuar dos problemas que aí virão. Mas não resolve nada. Atenua e adia, apenas.
Há que alterar profundamente o modelo. Uma proposta:
http://existenciasustentada.blogspot.pt/2010/11/11-estado-social.html
Caro Tonibler, apoio os seus pontos de vista. Foi o PR quem 1º colocou a falsa questão da falta de equidade entre funcionários públcos (cerca de 600 mil) e os "outros" (cerca de 4,5 milhões). Como todos sabemos, essa equidade nunca existiu e sabemos bem quem era o grupo beneficiado dessa comparação. O TC consagrou os pontos de vista do PR. Por duas vezes e mais uma (a da TSU) o Governo teve que encontrar alternativas (obviamente de menor qualidade e mais dificeis) para compensar as medidasa orçamentais que foi forçado a abandonar. Estamos agora a chegar à necessidadae de cortes em áreas que seriam impensáveis há dois anos. Mas também, deixe que lhe diga, só quem não fez contas a sério sobre a real situação Portugesa é que tinha ilusões sobre o alcance dos cores que seriam necessários. Resumindo: o PR é muito responsável pelo que está a acontecer. E se agora o PR parece dar algum apoio ao Governo isso dever-se-á, em grande medida, ao facto da visita que Passos Coelho e Gaspar fizeram ao PR num famoso sábado a seguir à última decisão do TC. Parece que foram para entregar as chaves da barraca...
ResponderEliminarAcrescento algumas sugestões para não termos que cortar tão fundo nas pensões: 1 - privatizar a RTP/RDP (medida difícil porque o CDS - e não só - se opõe)- façamos pressão pública para que isso ocorra!; 2 - reduzir significativamente o nº de deputados e concomitantemente o número de gabinetes, assessores dos grupos parlamentares e da administração da AR; 3 - reduzir o nº de membros dos executivos municipais a exemplo das empresas públicas, e concomitantemente, o número de assessores, motoristas e secretárias; 4 - exigir maior pressão e resultados do Governo para a redução das margens de lucro das parcerias público-privadas. São alguns contributos que permitiriam reduzir significativamente a despesa pública e evitar cortes tão duros nas reformas.
ResponderEliminarIsto, sem contar, caro Francisco, que o ministro das finanças que foi chamado a Belém foi aquele que NÃO foi apanhado numa fraude contabilística publicamente publicitada. Infelizmente, parece que prefere acabar com o cargo que deixá-lo.
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarReproduzo um comentário que o nosso Caro Bartolmeu fez num post que escrevi há umas semanas sobre pensões:
"No princípio dos tempos, habitava em algumas zonas do norte um povo bárbaro designado por Cântabros.
Este povo, quando os seus velhos deixavam de poder garantir a sua subsistência, sacrificava-os, cabendo ao filho mais velho, cumprir a tarefa de lançar o pai ao pêgo de um rio afluente do Minho, conhecido por Poço Portucales.
Conta a lenda que certo filho, cumprindo a tradição, pegou um dia no pai às costas e dirigiu-se ao local referido. Pelo caminho, o pai perguntou-lhe onde pretendia leva-lo. O filho respondeu que estavam quase a chegar ao seu destino.
«Então o ancião, serenamente retorqui-lhe:- Bem sei onde me levas, meu filho. Levas-me onde levei o teu avô e onde te há-de levar o teu filho.
O filho meditou alguns instantes nas palavras do pai. Ajeitou o pai nas suas costas, voltou-se e tomou o caminho de casa.»
Provávelmente, nasceu naquele dia, com aquele filho e aquele pai, o conceito de Segurança Social..."
Caros,
ResponderEliminarNum sistema capitalista, a segurança social é fundamental para manter o nivel de consumo elevado e para que os jovens entrem no mercado de trabalho mais rapidamente o que faz aumentar a produtividade.
Sem segurança social, o consumo dos mais velhos seria reduzido e manteria uma força de trabalho demasiado idosa na economia.
Nunca esquecer que as pensões são gastas de volta na economia.
Cara Suzana Toscano,
ResponderEliminarO actual sistema de reformas é insustentável. Este problema é mais visível num país sobre intervenção externa. Mas este problema é o problema central da Europa enquanto região com estado social, liberdade e economia. Terá de haver um novo pacto social e caso não haja não tenha a mínima dúvida que serão os mais fracos os prejudicados, enquanto este tema for adiado.
Por isso parece-me estranho que não haja uma análise comparativa entre abonos e descontos para um rendimento no activo ou reformado e se tente propor uma solução justa e razoável. Que sejam os próprios reformados a fazer tal análise. Os detalhes técnicos dessa solução (CES, impostos, sobre-taxas ou aproximações entre sistemas) são pouco importantes -- na prática o que conta para o indivíduo é o rendimento líquido.
A demagogia, instabilidade e não análise séria deste tema prejudicará os mais fracos.
Cara Margarida de Aguiar,
A sua citação é pouco plausível. Em primeiro lugar porque a Cantábria fica muito longe do Rio Minho e seus afluentes. Em segundo, porque os Celtas e os Cântabros, em particular, tinham uma relação com a morte e a vida muito diferente da nossa. Por exemplo o suicídio ritual, a morte e matar em batalha era um honra. Este modo de pensar contrasta muito com o do cristão onde a decisão da morte é algo que normalmente é decidido por deus e não pelo indivíduo.
Por outro lado os relatos de senicídio são pouco comuns e normalmente associados a casos extremos. A "segurança social" entendida com um respeito pelos anciãos é parte integrante da natureza humana, é alias comprovadamente observada em primatas e especula-se que terá alguma base "biológica".
Cumprimentos, IMdR
Aposto que o filho do ancião do Bartolomeu era funcionário público! Afinal, ainda hoje são os únicos anciãos que interessam...
ResponderEliminarDiz a lenda que esta pungente imagem Catábrica que o Bartolomeu nos fez chegar foi assistida por um romano jorg sampayus que a transcreveu, com comentário final "vita est ultra debitum". Depois chorou tanto que se afogou no local.
ResponderEliminarBriancai, nobres senhores, brincai... porque a "coisa" está mais para o lado da lenda dos Cântabros, que para os lados da sustentabilidade.
ResponderEliminarE se um dia, os filhos fizerem o actor de misericórdia de nos lançar a um pêgo profundo de um rio caudaloso, ainda podemos dar-nos por muito contentes. Mas o mais provávell é que fiquemos a apodrecer numa qualquer berma de estrada, pasto dos cães famintos, ou então putrefactos, enxameadores de pestes negras, como num passado não tão distante quanto isso, já aconteceu.
Parece-vos dantesco o cenário que traço?
Julgais-me louco, por o descrever.
Mas mais loucos estamos todos, porque não queremos ver e entender os sinais que já tão claramente se deliniam perante o nossos olhar.
E, mais loucos ainda, porque, vendo-o, não decidimos uma solução colectiva para o resolver.
Notícias da Cantábria do Sul...
ResponderEliminar"mais de 80% de todas as pensões acima de 2500 euros são auferidas por funcionários públicos, enquanto que os pensionistas originários do sector privado representam apenas cerca de 20% do total.
Ou seja, todos os milhares de empresas privadas, nacionais e multinacionais, dos bancos às cervejeiras, da loja da esquina ao potentado económico, não conseguem produzir senão um quinto dos pensionistas que auferem um rendimento confortável."
Estamos a falar em 80% de quê e em 20% de quê, Tonibler?
ResponderEliminarNo universo geral qual é o nº total dos pensionistas que recebe a cima de €2.500?
Mas também, ou em simultâneo, podemos estar a falar de um número de pensionistas do sector privado, que descontou pelo mínimo, apesar de serem gerentes, ou donos da sua própria empresa. Ao passo que no público, o ordenado real tem de ser declarado e por conseguinte, o cálculo da pensão é feito sobre esse valor.
Há cerca de 3 000 000 de pensões na SS, uns 60$ por velhice e 40% por invalidez e sobreviviencia.Do 1 700 000 que são por velhice, 12000 são superiores a 2500€ mensais e 1000 superiores a 5000€.
ResponderEliminarHá 600 000 pensões da CGA, das quais 450 000 por reforma. Destas 50 000 são superiores a 2500€ mensais e 5500 são superiores a 5000€.
O que é perfeitamente normal, caro Bartolomeu, atendendo que os besuntas devem trabalhar para o bem-estar dos senhores. Esse é o real propósito da república portuguesa, perpetuar o feudalismo.
Ora caro Tonibler, nem parece seu!
ResponderEliminarNão pode partir desse raciocínio para chegar a esta conclusão. Experimente pelo mesmo tipo de atividade similar e aí sim, as suas conclusões terão toda a fundamentação...
Agora meter no mesmo saco, motoristas, limpa chaminés, escriturários, investigadores, Prof.s, médicos, engenheiros, generais etc., e achar a média, não me parece curial...
Portugal e os portugueses têm que decidir se querem ter um sistema de pensões socialista, capitalista ou um mix dos dois.
ResponderEliminarO sistema vigente é socialista, redistributivo e deficitário: as pensões actuais são financiadas pelas contribuições atuais, com um fundo de estabilização que serve para isso mesmo, estabilizar a SS no curto e médio, mas não longo, prazo.
Quem diz "mas eu descontei toda a vida" está (implicitamente) a defender um sistema capitalista, com uma conta em seu nome, onde a parte dos descontos afectos à pensão são capitalizados.
Independentemente do sistema que cada um defende, uma pensão de reforma não pode ser simultaneamente superior a: 1) a totalidade dos descontos (actualizados à taxa da inflação e acrescidos dum pequeno juro) distribuída pela esperança média de vida no momento da reforma; e 2) o que um sistema redistributivo defecitário pode à médio prazo suportar.
Queremos trabalhar 40 anos e estar reformados durante 20 ou mais. Descontamos 30% para a SS, que devem bastar para, além das reformas: subsídio de desemprego, doença, licença de maternidade, pensões de invalidez, etc. Bastam umas contas simples para perceber que, não chega para a média dos melhores anos, a média de todos os anos, ou outra média qualquer.
Era bom que, mesmo no sistema solicialista redistributivo vigente, cada um pudesse ver (a preços correntes) quanto descontou, e quanto recebe há quanto tempo e/ou vai receber durante quanto tempo. Suspeito que muitos deixariam rapidamente de ser capitalistas ("mas eu descontei toda a vida").
Caro jotaC, melhor ainda, vamos experimentar pelas empresas falidas e por aquelas que não faliram...
ResponderEliminarNão, a sério, a desculpa é que é que a função pública tem muitos licenciados?? Quase consegue tem razão não fosse haver um local com mais doutores que a função pública: O DESEMPREGO!!
A minha provocação dos besuntas e dos senhores era um provocação, não tinha que vir a correr dizer que é a realidade ;)
Caro Nuno Cruces,
ResponderEliminarEstou consigo em algumas partes do seu comentário.
A verdade é que a SS cuja, génese está na Previdência Social (ex-caixas de previdência) começa por ser, exatamente capitalista (indo ao encontro da sua definição do sistema), pois só tinha reforma quem descontasse para esse fim, e aqui não há dúvidas sobre quem nasceu primeiro - se o ovo se a galinha;
Com a “primavera” marcelista criaram-se “regimes especiais” dando às domésticas e aos rurais a possibilidade de contribuírem, também, para a previdência social (havia apenas as casas do povo para os rurais, uma coisa pobrete…);
Ora estes regimes especiais (permitiam, entre outras coisas, pagar-se de uma só vez a totalidade dos descontos, cerca de três anos, uma insignificância mesmo para a época!), vieram a contribuir para a “sangria” do sistema, logo após o 25 de Abril, uma, uma vez que foram estabelecidos valores mínimos de pensões não havendo correspondência com o valor descontado;
A acrescer a tudo isto, os milhares de compatriotas do ex-ultramar…
E é esta solidariedade que todos sem exceção temos praticado...
Termino, dizendo-lhe: Não tenho culpa de nada, não sei qual é o nosso regime. O que eu sei é que dentro de meia dúzia de anos tenho as condições exigidas por lei para me reformar e têm de me pagar nem que seja em géneros!...
Cps.
PS: Peço desculpa por alguma imprecisão cronológica, mas na substância as coisas correram como digo.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarO meu amigo é demais!, mas digo-lhe aquilo que um médico do sporting que habitualmente fala na TV, quando lhe explicava o funcionamente do primeiro portátil ericsson (muito pequeno e retangular): -Éh pá, explica-me bem isso se não quando te apanhar no hospital levas todas!
Pois eu espero que o meu amigo não tenha que fazer nenhum transplante a esses doutores desempregados...
:)
Caro jotaC, eu não faço transplantes... mas agora não podemos cortar nas reformas dos funcionários públicos porque os podemos apanhar nos hospitais?? Chiça, vivo mesmo num país de aristocratas. Será que se pagarmos com o corpo o estado ficará satisfeito ou acha que não vou conseguir satisfazer os funcionários do estado sem entregar um filho?
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarObviamente que o meu comentário é uma brincadeira à sua perseguição à minha pessoa ;)
A "espiga" toda é que, quando a segurança social foi criada, o país estava em crescimento. Um crescimento lento mas sustentado. O país produzia e exportava e o governo não esbanjava. Os doentes não davam ao estado a despesa que hoje dão, nem em meios de diagnóstico, nem de tratamento, nem de convalescença.
ResponderEliminarPortanto, das duas uma: ou se metemos velhotes em actividade e se atira com alguns médicos para o desemprego, e com uma parte considerável da investigação médica e das indústrias farmaceuticas às urtigas, ou então... o mais provável é que as próximas gerações comecem precocemente a consumir medicamentos, como forma de alimentar esaa máquina gigantesca que são os laboratórios, as fábricas de medicamentos e toda a logística que lhes está adjacente.
Caros,
ResponderEliminarAs pensões da S.Social são actualmente sustentáveis.
O que é insustentável são os subsidios de desemprego e a falta de contribuições dos desempregados.
O problema estão então no desemprego e não nas pensões.
Se o desemprego continuar a crescer qualquer regime de s.social é insustentável.